Do pecado da incontinência

 

I - Necessidade da pureza no padre

 

A incontinência é chamada por Basílio de Seleucia 391 uma peste viva, e por São Bernardino de Sena, o mais funesto de todos os vícios 392; e isso porque, como diz São Boaventura, a impudicícia destrói o germe de todas as virtudes 393. Por isso Santo Ambrósio lhe chama a origem e mãe de todos os vícios 394. De fato, este vício arrasta consigo todos os crimes: ódios, roubos, sacrilégios etc. São Remígio teve pois razão em dizer que por causa deste vício, poucos adultos se salvam 395. E lê-se no Pe. Paulo Segneri 396 que assim como o orgulho encheu o inferno de anjos rebeldes, assim a impudicícia o enche de homens.

Nos outros vícios pesca o demônio ao anzol; neste é à rede, de modo que enche mais o inferno com esta paixão, do que com todas as outras. Assim, para punir a incontinência, há Deus enviado à terra os flagelos mais espantosos: dilúvios de água e de fogo!

Segundo Santo Atanásio 397, é a castidade uma pérola mui preciosa, mas poucas pessoas cá na terra sabem encontrá-la. Ora, se esta pérola convém aos seculares, é absolutamente necessária aos padres. Entre todas as virtudes que o Apóstolo prescreve a Timóteo, recomenda-lhe em especial a castidade 398. Orígenes diz que é a primeira virtude que deve adornar o padre, quando sobe ao altar 399. E, segundo São Clemente de Alexandria, nesta vida, somente são e se podem com verdade dizer sacerdotes os de vida pura 400. Se pois a pureza faz o padre, a impureza de algum modo o há de despojar da sua dignidade, diz Santo Isidoro de Pelusa 401.

Eis a razão por que a santa Igreja, em tantos concílios, em tantas leis e advertências, sempre se tem mostrado ciosa de conservar a castidade nos padres. Inocêncio III publicou o seguinte decreto: “Ninguém seja admitido a uma Ordem sacra, desde que não seja virgem ou duma castidade provada; = Nemo ad sacrum Ordinem permittatur accedere, nisi aut virgo aut probatae castitatis existat (Cap. a multis. De aet. et qual. ord.). E ao mesmo tempo ordenou que os eclesiásticos incontinentes fossem excluídos — ab omnium graduum dignitate. Outro decreto é de São Gregório: “Se alguém se manchar com um pecado carnal, depois de receber alguma Ordem sacra, seja excluído das funções da sua Ordem, e não seja mais admitido a servir ao altar 402”.

Além disto 403, condenou todo o sacerdote réu dum pecado vergonhoso, a dez anos de penitência: durante os três primeiros meses devia dormir no chão duro, viver na solidão, sem nenhuma comunicação com os homens, e privado da sagrada comunhão; depois, durante ano e meio, devia sustentar-se a pão e água; nos anos seguintes, devia continuar o jejum a pão e água, mas só três dias na semana. Em suma, a Igreja olha como monstros os padres que não têm uma vida casta.

 

II - Malícia do pecado de impureza no padre

 

Examinemos primeiro a malícia do pecado dum padre contra a castidade. O padre é o templo de Deus, tanto pelo voto de castidade que fez, como pela unção santa que o consagrou a Deus 404. Assim fala São Paulo de si próprio e dos outros sacerdotes, associados ao seu ministério; o que faz dizer ao cardeal Hugues: Acautele-se o padre de manchar o santuário de Deus, porque ele foi ungido com óleo sagrado 405. O corpo do padre é pois esse santuário do Senhor 406. Conservai-vos casto, escrevia Santo Inácio mártir, como casa de Deus e templo de Jesus Cristo 407. Por isso São Pedro Damião diz que os padres, manchando o seu corpo com ações desonestas, profanam o templo de Deus. Depois ajunta: “Não demudeis os vasos consagrados a Deus, em vasos de desprezo”408. Que se diria se alguém se servisse, à mesa para beber, dum cálice consagrado? Dirigindo-se aos padres, diz Inocêncio II: Visto que eles devem ser santuário de Espírito Santo, que indignidade vê-los escravos da impureza!409 Que horror ver manchado com as ignomínias dos pecados carnais um padre, que por toda a parte devia difundir, a par duma vida luz, o doce odor da pureza: vê-lo imundo e pestilento!410 Foi o que fez dizer a Clemente de Alexandria que os padres impudícos, quanto lhes é possível, mancham o próprio Deus, que habita na sua alma 411.

E disso se lamenta o Senhor: Os sacerdotes calcaram aos pés a minha lei e profanaram os meus santuários, e Eu era manchado no meio deles 412. Pois que, exclama Ele! Vejo-me desonrado pela incontinência dos meus padres, porque, faltando à castidade, profanam os meus santuários, isto é, os seus corpos, que eu consagrei ao meu culto, e onde venho muitas vezes fazer a minha morada! Foi também o que fez compreender São Jerônimo nestas palavras: “Manchamos o corpo de Cristo, quando nos aproximamos indignamente do altar”413.

Além disto, o padre imola a Deus sobre o altar o Cordeiro sem mancha, o Filho do próprio Deus; por este motivo ainda, diz São Jerônimo, deve ser de tal modo casto, que se abstenha não só de toda a ação desonesta, mas até do menor olhar pouco honesto 414. São João Crisóstomo ensina igualmente que o padre deve ser muito puro, para tomar lugar no Céu entre os Anjos 415. Noutra parte acrescenta que a mão do padre, que há de tocar a carne de Jesus Cristo, deveria resplandecer em pureza mais que o sol 416.

Onde se poderia encontrar, pergunta Santo Agostinho, um homem bastante ímpio que se atrevesse a tocar o Sacramento do altar com as mãos cheias de imundícia?417

Mas há ainda uma coisa muito mais horrível, — é que os padres ousem subir ao altar e tocar o corpo de Jesus Cristo, depois de se terem manchado com pecados obscenos, como diz São Bernardo 418. Ai, padres do Senhor, exclama Santo Agostinho! Tomai cuidado para que essas mãos que se banham no sangue do Redentor, derramado outrora por vosso amor, não venham a manchar-se no sangue sacrílego do pecado 419.

Demais, Cassiano observa que os padres não devem somente tocar a carne do Cordeiro sagrado, mas alimentar-se dela, o que os obriga a uma pureza mais que angélica 420. Segundo Pedro Comestor, quando o padre pronuncia, com os lábios manchados do vício vergonhoso, as palavras da consagração, é como se escarrasse no rosto do Salvador; e quando mete na sua boca impura o Corpo sagrado e o Sangue precioso, é como se os lançasse na lama 421. Mais ainda, diz São Vicente Ferrer, esse desgraçado comete crime mais horrível do que se lançasse uma hóstia consagrada numa sentina 422.

Ó Padre! Exclama aqui São Pedro Damião, vós que deveis sacrificar a Deus o Cordeiro sem mancha, não vades antes imolar-vos ao demônio por vossas impurezas!423 O mesmo santo chama aos padres impudicos vítimas do demônio, vítimas de que o inimigo das almas faz as suas delícias no inferno 424. É necessário ajuntar que o padre impuro não se perde só; arrasta consigo muitos outros. Segundo São Bernardo, a incontinência dos eclesiásticos é a perseguição mais funesta que a Igreja sofre. Sobre estas palavras de Ezequias — eis que no seio da paz a minha amargura é amaríssima 425 — escreve ele gemendo: Foi a dor da Igreja amarga na morte dos mártires, mais amarga na guerra, que lhe moveram os hereges, amaríssima na corrupção dos seus membros.

Está em paz a Igreja, e não tem paz: está em paz da parte dos pagãos, em paz do lado dos hereges, mas não por certo da parte dos seus filhos 426. Os filhos dilaceram as entranhas da sua mãe 427. Na verdade a Igreja sofreu cruelmente da parte dos tiranos, que pelo martírio lhe arrebataram tantos fiéis; depois sofreu ainda mais cruelmente da parte dos hereges, que com o veneno do erro inficionaram muitos dos seus súditos; mas o seu maior sofrimento, a sua maior perseguição é a que lhe advém dos seus filhos, desses eclesiásticos indignos, que por seus escândalos dilaceram as entranhas maternais! — Que vergonha, exclama também São Pedro Damião, ver escravo da luxúria aquele que devia pregar a castidade!

 

III - Consequências funestas da impureza

 

Examinemos agora os estragos que o pecado

desonesto causa na alma, e principalmente

na alma do padre.

 

1. A cegueira do Espírito

 

Primeiro que tudo, o pecado cega o espírito, e faz-lhe perder de vista Deus as verdades eternas. Segundo Santo Agostinho, a castidade faz que os homens vejam a Deus 429. Pelo contrário, o primeiro efeito do vício impuro é a cegueira do espírito, cujas consequências no sentir de Santo Tomás são: cegueira do espírito, ódio a Deus, apego à vida presente, horror à vida futura ou desesperação de salvação 430. A impudicícia, ajunta Santo Agostinho, rouba-nos o pensamento da eternidade. A primeira coisa que faz o corvo, quando encontra um cadáver, é arrancar-lhe os olhos, o primeiro mal que a incontinência faz à alma é tirar-lhe a luz das coisas divinas. Quantos exemplos desta triste verdade! Vêde Calvino, primeiro inclinado para a vida eclesiástica, pastor de almas 431, tornado depois, por essa paixão infame, o chefe duma heresia; Henrique VIII, primeiro defensor da Igreja, depois seu perseguidor; Salomão, que começa por ser um santo, e acaba por idólatra! O mesmo acontece de contínuo aos sacerdotes impuros. Caminharão como cegos, porque pecaram contra o Senhor 432. Desgraçados! No meio das luzes das missas que celebram, das orações que recitam, dos funerais a que assistem, permanecem cegos, como se não acreditassem, nem na morte que os espera, nem no juízo em que hão de prestar contas, nem no inferno que será a sua herança! Parecem feridos desta terrível maldição: Que o Senhor te faça louco, cego e delirante, de modo que andes às apalpadelas, como o cego nas trevas, e não possas trilhar o caminho direito 433. Esse lamaçal infecto em que estão engolfados, a tal cegueira os reduz, que depois de terem abandonado a Deus, — que os havia sublimado acima dos astros, — não pensam mais em prostrar-se a seus pés, a solicitar-lhe perdão: Não terão o pensamento de voltar para o seu Deus; porque o espírito de fornificação está no seio deles, e não conheceram o Senhor 434. Como diz São João Crisóstomo, nada mais pode alumiá-los, nem as advertências dos superiores, nem os conselhos dos bons amigos, nem o temor dos castigos, nem o perigo de serem desonrados 435. E será para a admirar que eles não vejam mais? Caiu sobre eles o fogo, e não viram mais o sol 436. Que fogo, pergunta o Doutor angélico, senão o da concupiscência?437. Depois, noutra parte diz: O vício da carne extingue o juízo da razão. Os prazeres impuros não deixam mais na alma sentimento senão para os deleites carnais. Pela sua deleição brutal faz este vício perder ao homem até a razão 438, a ponte, como diz São Jerônimo, de o tornar pior que uma besta. Donde resultará que o padre impudico, cego pelas suas impudicícias, nenhuma atenção prestará, nem aos ultrajes que faz a Deus com a sua conduta sacrílega, nem ao escândalo que dá aos outros; chegará mesmo a celebrar missa com pecado na alma. Que admira? Quem perdeu a luz facilmente se deixa ir a toda a espécie de mal.

Se se quer encontrar a luz, é necessário aproximar de Deus, diz o Salmista 439. Mais que nenhum outro vício, porém, a impudicícia afasta o homem de Deus, diz Santo Tomás 440. Por isso o impudico se torna semelhante a um bruto, incapaz para o futuro de compreender as coisas espirituais. Não compreende o homem animal as coisas do espírito de Deus 441. Nada lhe faz impressão, nem o inferno, nem a eternidade, nem a dignidade sacerdotal: Non percipit. Segundo Santo Ambrósio, começará talvez a duvidar da fé: “Desde que uma pessoa começa a entregar-se à luxúria, começa a afastar-se da verdadeira fé”442.

Ó, quantos desgraçados padres, transviados por este vício, acabaram por perder a fé! Assim como a luz do sol não pode penetrar num vaso cheio de terra, assim a luz divina não brilha numa alma habituada aos pecados da carne: o habitudinário levará consigo para a sepultura os seus vícios. Os seus ossos se hão de encher dos vícios da sua juventude (os vícios da juventude são os vícios vergonhosos), vícios que dormirão com ele no pó 443.

Como esta alma desgraçada acabará por se esquecer de Deus, no meio das suas impurezas, também Deus a esquecerá, e permitirá que ela fique abandonada nas suas trevas: Visto que me esqueceste, e me atiraste para trás das costas, arrasta tu também o estigma da tua perversidade e das tuas abominações 444. São Pedro Damião explica assim: Os que lançam a Deus para trás das costas são os que se deixam arrastar pela luxúria 445.

Conta o Pe. Cataneo 446 que um pecador, que vivia em relações criminosas, foi advertido por um amigo para que emendasse a vida, se não queria condenar-se. Ele porém respondeu-lhe: “Meu amigo, por uma tal mulher bem se pode ir para o inferno”. Sem dúvida, para lá foi esse miserável, porque foi morto. — Um outro, e era padre, surpreendido em casa duma dama, a quem pretendia seduzir, foi obrigado pelo marido dela a ingerir um veneno. De regresso a sua casa, deitou-se no leito e contou a um amigo a desgraça que lhe tinha acontecido. O amigo, vendo-o prestes a expirar, exortou-o a confessar-se sem demora, mas ele respondeu-lhe: “Não, não posso confessar-me; só tenho um favor a pedir-te, — dize a Senhora N. que morro por amor dela”. Pode ir mais longe a cegueira?

 

2. A obstinação da vontade

 

O segundo efeito do pecado impuro é a obstinação da vontade. Diz São Jerônimo que o que se deixa cair na rede do demônio não se escapa dela facilmente 447. E em Santo Tomás lê-se que nenhum pecado dá tanta alegria ao demônio como o da impudicícia, porque a carne está muito inclinada para este vício; de modo que os que nele caem mui dificilmente se levantam 448. É por isso que São Clemente de Alexandria chama à impudicícia uma moléstia incurável e Tertuliano um vício sem conversão 449. São Cipriano chama-lhe a mãe da impenitência 450. É quase impossível, dizia Pedro de Blois, vencer as tentações carnais, quando se está escravizado pela carne 451.

Conta o Pe. Biderman que um certo jovem caía com muita frequência no pecado da impureza; à hora da morte fez uma confissão, acompanhada de muitas lágrimas, e morreu deixando a todos grande esperança de se ter salvado. No dia seguinte porém o confessor, ao dizer missa por ele, sentiu que lhe puxavam pela casula; voltou-se e viu um fumo negro, donde saíam centelhas de fogo; em seguida ouviu uma voz a dizer-lhe, que era a alma do jovem defunto, que depois de recebida a absolvição dos seus pecados fôra de novo tentado nos últimos momentos; tinha consentido num mau pensamento e se tinha condenado.

O profeta e o sacerdote estão manchados... eis por que o caminho deles será como um atalho escorregadio e coberto de trevas; serão impelidos e cairão 452. Tal é a desgraça final dos padres impudícos: caminham em trevas por uma via escorregadia, e são impelidos pelos demônios e pelo seu mau hábito para o abismo; por isso lhe é quase impossível escapar à ruína. os que se entregam a este vício, diz Santo Agostinho, em breve contraem o hábito, que prestes se torna em necessidade de pecar 453. O gavião, que se repasta sôfrego da carne podre, deixa-se matar pelo caçador, mas não abandona a sua iguaria; é o que acontece ao impudíco de hábito.

E, quanto a obstinação dos padres, escravos deste vício vergonhoso, é ainda mais invencível que a dos seculares! A razão disto é, ou porque recebem luzes mais abundantes para conhecerem a malícia do pecado mortal, ou porque a impudicícia neles é muito maior crime. De fato, eles não ultrajam somente a castidade, mas a religião, por causa do voto que fizeram; e as mais das vezes ferem também a caridade para com o próximo, porque quase sempre a impudicícia do padre origina grande escândalo nos outros. Refere Dionísio Chartreux que um servo de Deus, levado um dia em espírito pelo seu anjo ao Purgatório, vira lá uma multidão de seculares que expiavam as suas impurezas, mas poucos padres. Perguntou a razão, e foi-lhe respondido que um padre impudíco dificilmente chega a arrepender-se deveras, e por consequência esses padres quase todos se condenam 454.

 

3. A condenação eterna

 

Finalmente, este vício execrável conduz o homem, e sobretudo o padre à condenação eterna. Diz São Pedro Damião que os altares de Deus não recebem outro fogo senão o do amor divino; de modo que todos aqueles que lá sobem, com uma chama impura no coração, devem ser atormentados pelo fogo da vingança divina 455. E ajunta que todas as obscenidades do impudico se hão de demudar um dia em pez que nas suas entranhas alimentará eternamente o fogo do inferno 456.

Ó, que terríveis castigos reserva Deus para os padres impudícos! E a quantos padres este pecado há precipitado no inferno! Diz ainda São Damião: Se o homem do Evangelho, que se tinha apresentado no festim nupcial sem o vestido conveniente, foi por isso condenado às trevas, — que há de esperar aquele que, introduzido na sala do festim celeste, longe de lá brilhar pela riqueza da veste nupcial, se mostra conspurcado com a imundícia abominável de uma luxúria espantosa?457 Conta Barônio que um padre, que tinha passado uma vida licenciosa, viu à hora da morte, durante a sua agonia, uma multidão de demônios que vinham contra ele; então voltou-se para um religioso que lhe assistia e pediu-lhe que intercedesse por ele. Um instante depois, disse-lhe que já estava no tribunal de Deus, e exclamou: Cessai, cessai de orar por mim, são inúteis as vossas preces, estou condenado 458.

Escreve São Pedro Damião que, na cidade de Parma, um padre e uma mulher foram feridos de morte repentina, no momento em que se entregavam ao crime. Nas revelações de Santa Brígida 459 lê-se que um padre impudíco, estando no campo, fôra fulminado por um raio, que só lhe reduziu a cinzas as partes pudendas, e lhe deixou intacto o resto do corpo; prova evidente de que Deus o tinha castigado assim, em razão da sua incontinência. — Em nossos dias morreu também repentinamente um padre no meio do crime; e, para cúmulo de desonra foi exposto à porta duma igreja, no mesmo estado de desnudez, em que tinha sido encontrado em casa da sua cúmplice 460.

Como os padres impudícos desonram a Igreja com os seus escândalos, o Senhor lhes inflige o castigo que merecem, tornando-os os mais vis e desprezíveis de todos os homens. É precisamente o que ele declara pela boca de Malaquias, falando dos padres: Desertastes do caminho, escandalizastes a muitos, a quem ensinastes a lei..., por isso vos humilhei e entreguei ao desprezo de todos os povos 461.

 

IV - Remédios contra a incontinência

 

Muitos remédios indicam os mestres da vida espiritual, contra esta lepra de impureza; mas os dois principais e os mais necessários são a fuga das ocasiões e a oração.

Quanto ao primeiro, dizia São Filipe de Néri que neste combate a vitória é para os poltrões, isto é, para os que fogem à ocasião. Embora o homem empregue todos os outros meios possíveis, se não fugir, está perdido 462.

Quanto ao segundo remédio, que é a oração, devemos estar persuadidos que de nós mesmos não temos força para resistir às tentações da carne. Há de vir-nos de Deus a força, — que ele não concede senão a quem lha suplica. O único baluarte contra esta tentação, diz São Gregório de Nyssa, é a oração 463. E antes dele tinha dito o Sábio: Como eu sabia que não podia possuir este tesouro, se Deus mo não desse, apresentei-me diante do Senhor e pedi-lho 464.

Para maior desenvolvimento sobre os meios de combater o vício impuro, e em especial sobre os dois meios aqui indicados, a fuga das ocasiões e a oração, veja-se a instrução sobre a castidade, na segunda parte desta obra.