|
|||
JESUS CAMINHA SOBRE AS ÁGUAS E PEDRO COM ELE (Mt 14, 22-33)
“22 Logo em seguida, forçou os discípulos a embarcar e aguardá-lo na outra margem, até que ele despedisse as multidões. 23 Tendo-as despedido, subiu ao monte, a fim de orar a sós. Ao chegar a tarde, estava ali, sozinho. 24 O barco, porém, já estava a uma distância de muitos estádios da terra, agitado pelas ondas, pois o vento era contrário. 25 Na quarta vigília da noite, ele dirigiu-se a eles, caminhando sobre o mar. 26 Os discípulos, porém, vendo que caminhava sobre o mar, ficaram atemorizados e diziam: ‘É um fantasma!’ E gritaram de medo. 27 Mas Jesus lhes disse logo: ‘Tende confiança, sou eu, não tenhais medo’. 28 Pedro, interpelando-o, disse: ‘Senhor, se és tu, manda que eu vá ao teu encontro sobre as águas’. 29 E Jesus respondeu: ‘Vem’. Descendo do barco, Pedro caminhou sobre as águas e foi ao encontro de Jesus. 30 Mas, sentindo o vento, ficou com medo e, começando a afundar, gritou: ‘Senhor, salva-me!’ 31 Jesus estendeu a mão prontamente e o segurou, repreendendo-o: ‘Homem fraco na fé, por que duvidaste?’ 32 Assim que subiram ao barco, o vento amainou. 33 Os que estavam no barco prostraram-se diante dele dizendo: ‘Verdadeiramente, tu és o Filho de Deus!”
Em Mt 14, 22 diz: “Logo em seguida, forçou os discípulos a embarcar e aguardá-lo na outra margem, até que ele despedisse as multidões”.
Após o milagre da multiplicação dos pães, Nosso Senhor pediu que os discípulos entrassem no barco e atravessassem o lago de Tiberíades, também chamado de Mar da Galiléia e lago de Genesaré, e O aguardasse na outra margem enquanto Ele despedia as multidões. Jesus Cristo, o Bom Pastor, não faz acepção de pessoas; ama e cuida de todos com atenção e bondade. Os sacerdotes têm o dever de seguir o exemplo do Senhor, cuidando dos pobres e ricos, sem fazer acepção de pessoas: “Apascentai o rebanho de Deus que vos foi confiado, cuidando dele” (1 Pd 5, 2). É preciso cuidar de todo o rebanho e não apenas de uma parte. Nosso Senhor ordenou que os discípulos atravessassem o lago e que O esperasse na outra margem; esse lago possui doze quilômetros de largura, largura máxima. Cristo Jesus não lhes disse quem O levaria ou se era para alguém buscá-lO.
Em Mt 14, 23 diz: “Tendo-as despedido, subiu ao monte, a fim de orar a sós. Ao chegar a tarde, estava ali, sozinho”.
São João Crisóstomo escreve: “Querendo dar uma prova contundente da veracidade do que havia acontecido, ordenou aos que haviam presenciado o milagre da multiplicação dos pães que se afastassem d’Ele. Ele, por sua parte, se retirou ao monte para rezar, porque estando presente, podiam pensar que o milagre havia sido uma fantasia e não teria acontecido realmente” (Homilia in Matthaeum, hom. 49, 3), e: “Quando disse que subiu sozinho para rezar, não devemos referir-nos Àquele que com cinco pães saciou a cinco mil homens, mas àquele que, depois de saber da morte de João, se retirou ao silêncio; não porque queria o evangelista dividir a pessoa do Senhor, mas somente as obras, que são próprias da divindade e as que são da humanidade” (São Jerônimo), e também: “É necessário ter presente que quando o Senhor realiza grandes coisas despede as multidões, dando-nos a entender com este proceder, que jamais devemos buscar o aplauso popular nem fazer que a multidão nos siga. Também nos ensina que não devemos confundir-nos continuamente com ela, nem afastarmos sempre dela, mas que devemos praticar sucessivamente as duas coisas. Por isso segue: ‘E logo que despediu a multidão, subiu sozinho ao monte’, fato que nos diz que o silêncio é bom para a oração. Por isso caminhou para o deserto e permaneceu ali em oração a noite inteira, para dar-nos a entender que devemos buscar ocasiões e os lugares tranquilos para rezarmos” (São João Crisóstomo, Homilia in Matthaeum, hom. 49, 3), e ainda: “Parece haver uma contradição entre o que nos diz São Mateus, isto é, que depois de despedidas as multidões, foi quando o Senhor subiu sozinho para rezar, e entre o que escreve São João, que nos indica que subiu o Senhor antes de que fossem despedidas as multidões. Porém, como disse o próprio São João, que Ele foi ao monte para evitar que o povo o aclamasse rei, é certamente indubitável que para alimentar a tanta gente, o Senhor teria que descer do monte à planície. Por conseguinte, não há contradição entre São Mateus que disse: ‘Que subiu sozinho ao monte para rezar’, e São João que escreve (Jo 6, 15) ‘quando compreendeu o Senhor, que a multidão iria agarrá-Lo para O proclamar rei, se retirou sozinho para a montanha’. Porque a razão que tinha para rezar, não excluía a que tinha para retirar-se, posto que o mesmo Senhor nos ensina que devemos recorrer sempre à oração... O que escreve São Mateus anteriormente (Mt 14, 22) – que o Senhor mandou que seus discípulos entrassem no barco e em seguida, depois de haver despedido as multidões, subiu sozinho à montanha para rezar – não está em oposição com a narração de São João, que nos apresenta o Salvador afastando-se, desde logo, só havia a montanha, nas palavras (Jo 6, 16): ‘E ao cair a tarde, desceram os discípulos ao mar e subiram no barco’. Por que, quem não vê que São Mateus não faz mais que recapitular o que o Senhor mandou antes de afastar da montanha e que São João o expõe depois quando foi praticado pelos discípulos?” (Santo Agostinho, De Consensu Evangelistarum, 2, 47), e: “Ou também, está sozinho pela tarde, para manifestar-nos sua solidão durante a paixão, sendo abandonado pelos que n’Ele acreditavam” (Santo Hilário, In Matthaeum, 14), e também: “Sobe também sozinho à montanha, porque as multidões não o podiam seguir às coisas elevadas” (São Jerônimo). O dia tinha sido intenso, como tantos de Jesus: “Já devia ter caído o sol. Jesus, depois daquele dia de trabalho, de solicitude pelos que o tinham seguido, sentiu uma imensa necessidade de rezar. Subiu a um monte vizinho e ali permaneceu sozinho, noite adentro, em diálogo com seu Pai do céu” (Pe. Francisco Fernández Carvajal). O Senhor não quis rezar na planície, lugar onde passam muitas pessoas e onde tem barulho, mas subiu ao monte, longe de tudo e de todos, num lugar silencioso. Os sacerdotes devem imitar o exemplo de Cristo Jesus para não caírem nas heresias das obras. Quantos hoje, mergulham na atividade e se esquecem da própria vida espiritual: “É mister, contudo, advertir que o Sacerdote cairá num gravíssimo perigo de erro, se, atraído e arrastado por um zelo menos ordenado, descurando a sua própria santificação, se entregar com ardor excessivo às obras exteriores do seu ministério, por louváveis que sejam” (Pio XI, Encíclica “Ad Catholici Sacerdotii”, 58), e: “... devem ser chamados a melhores sentimentos quantos presumam que se possa salvar o mundo por meio daquela que foi justamente designada como a ‘heresia da ação’: daquela ação que não tem os seus fundamentos nos auxílios da graça, e não se serve constantemente dos meios necessários à obtenção da santidade, que Cristo nos proporciona” (Pio XII, Exortação “Menti Nostrae”, 60). Não olhemos para a oração como se a mesma fosse um peso, e sim, como uma necessidade para permanecermos de pé: “A oração a sós de Jesus, entre a atividade de um trabalho e outro, ensina-nos a necessidade deste recolhimento da alma cristã, que ocorre a falar com seu Pai Deus, entre os afazeres quotidianos da vida” (Edições Theologica), e: “O cuidado da vida espiritual deve ser considerado pelo sacerdote como um dever que infunde alegria e ainda como um direito dos fiéis que procuram nele, consciente ou inconscientemente, o homem de Deus...” (Diretório para o ministério e a vida do presbítero, 39). O sacerdote que não cuida de sua vida espiritual é um recipiente vazio: “Que verdade isto não é! Como é profundamente verdadeiro! Sim, queridos Irmãos, deveis ser santos, não deveis ser uns padres quaisquer, padres vulgares. De outro modo, para bem pouco serve o vosso zelo e os vossos sofrimentos. As ovelhas fugirão de vós e perder-se-ão em grande número. Faz mais um santo só com uma palavra, que um homem vulgar com uma série de discursos. As palavras de um sacerdote santo ferem, abalam o sentimento, transfiguram as almas e renovam-nas de um modo extraordinário, porque nascem da graça, da oração e da penitência, vêm cheias da graças de Deus. Talvez um sábio possa imitá-las habilmente, mas Deus só fala através da boca de um santo (Mt 10, 20)” (Servo de Deus Eduardo Poppe).
Em Mt 14, 24-25 diz: “O barco, porém, já estava a uma distância de muitos estádios da terra, agitado pelas ondas, pois o vento era contrário. Na quarta vigília da noite, ele dirigiu-se a eles, caminhando sobre o mar”.
O barco já estava bem distante da margem do lago quando iniciou um violento vendaval: “Do alto do monte, Jesus vê os Apóstolos já longe da margem, e percebe o momento em que a barca, batida pelas ondas, porque o vento lhes era contrário, passou a estar em perigo. Pôde divisar a pobre embarcação no meio do lago, pois era plenilúnio e a Páscoa estava já próxima” (Pe. Francisco Fernández Carvajal), e: “Aquele vento é figura das tentações e da perseguição que padecerá a Igreja por falta de amor. Porque, como diz Santo Agostinho, quando se esfria o amor, aumentam as ondas e a nave soçobra. Contudo, o vento, a tempestade, as ondas e as trevas não conseguirão que a nave se afaste do seu rumo e fique destroçada” (Santo Tomás de Aquino, Comentário sobre São João), e também: “O Senhor permitiu que os seus discípulos corressem perigo para que se tornassem pacientes, e não lhes acudiu imediatamente, mas deixou-os no perigo toda a noite, a fim de os ensinar a esperar com paciência e para que não se acostumassem a receber imediatamente o socorro nas tribulações” (Teofilacto, Enarratio in Evangelium Marci, ad loc.).
São Jerônimo escreve: “Com razão se retiraram os apóstolos com certo medo, pois temiam naufragar se o Senhor estivesse ausente. Por isso segue: ‘E quando veio a noite, o barco no meio do mar era arremessado pelas ondas”, e: “Veja aqui outra vez os discípulos expostos à tempestade; porém, na primeira tinham o Salvador ao lado deles dentro do barco, mas agora estão sozinhos; desta maneira vão pouco a pouco aprendendo a sofrer com valor todos os contratempos” (São João Crisóstomo, Homilia in Matthaeum, hom. 50, 1), e também: “Quando o Senhor permanecia na montanha rezando, se levantou um vento contrário, agitou o mar e pôs em perigo a vida dos apóstolos até a chegada de Jesus” (São Jerônimo), e ainda: “E permitiu que passassem toda a noite em perigo, para que desta maneira, levantassem mais o coração dos discípulos com o temor e suscitasse neles um grande desejo de ter sempre presente o Senhor para que os socorressem continuamente. Por isso, o Senhor, não os ajudou imediatamente: ‘Mas na quarta vigília” (São João Crisóstomo, Homilia in Matthaeum, hom. 50, 1), e: “Porque o tempo se dividia pelas sentinelas e vigias militares. Ao dizer, pois, o evangelista, que chegou o Senhor na quarta vigília, nos manifesta que toda a noite estiveram em perigo os discípulos” (São Jerônimo), e também: “Desta maneira lhes ensina o Senhor a não buscar uma rápida solução aos males que nos sobrevenham, e a sofrê-los com valentia quando vierem. Quando os discípulos acreditavam que se haviam salvo do naufrágio, aumentou o medo. Por isso segue: ‘E quando o viram se perturbaram’, etc. Tal é o procedimento do Senhor: adverte com as coisas mais difíceis, sempre que vai pôr fim a algum mal. Porque não querendo provar por mais tempo o justo e finalizando os seus combates, aumentam as dificuldades para que seus méritos sejam maiores; assim ocorreu com Abraão, a quem mandou como última prova, a imolação de seu filho” (São João Crisóstomo, Homilia in Matthaeum, hom. 50, 1), e ainda: “Todavia, enquanto Jesus reza na altura, a barquinha é agitada no meio do mar por grandes ondas, e posto que as ondas sobem, também a barquinha pode submergir-se. Temos representada a Igreja pela barquinha e o mundo pelo mar tempestuoso” (Santo Agostinho, Sermones, 75, 3), e: “Quando alguém tem uma vontade perversa, levanta uma perseguição contra a Igreja; esta é a grande onda que agita a barquinha” (Idem., Sermones, 75, 7), e também: “Frequentemente a Igreja está submetida ao peso da aflição e parece como abandonada por algum tempo por Deus” (Rábano), e ainda: “Chegou o Senhor onde estavam os discípulos temerosos devido à tempestade, à quarta vigília da noite, é dizer, ao finalizar a noite, porque cada vigília compreende três horas e a noite compõe-se de quatro vigílias” (Santo Agostinho, Sermones, 75, 7), e: “A primeira vigília foi a da lei, a segunda a dos profetas, a terceira a da vinda corporal e a quarta será a da volta da glória” (Santo Hilário, In Matthaeum, 14), e também: “Na quarta vigília da noite (isto é, quase ao terminar a noite), o Senhor virá a finalizar os tempos (depois de passada a noite da iniquidade) a julgar os vivos e os mortos. Mas já veio de uma maneira maravilhosa. Porque se levantavam as ondas e as pisoteava; e por mais poderosas que se levantem as potestades do mundo, sua cabeça ficará esmagada sob os pés daquele que é nossa cabeça” (Santo Agostinho, Sermones, 75, 7), e ainda: “E quando o Senhor voltar, encontrará fatigada a sua Igreja e rodeada dos males que levantarão o Anticristo e o espírito do mundo. E os costumes do Anticristo empurrarão aos fiéis todos os tipos de tentações. Terão medo até da vinda de Cristo pelo temor que lhes infundirá o Anticristo com as falsas imagens e fantasias que lhes porá à vista; porém o Senhor, que é tão bom, afastará deles esse medo, dizendo: ‘Sou eu’ e repelirá com a fé em sua vinda o iminente perigo” (Santo Hilário, In Matthaeum, 14). Aquele que verdadeiramente reza não consegue ficar inativo, mas está sempre pronto a ajudar aqueles que necessitam de sua ajuda. Quando soprarem ventos contra o barco da nossa vida, não nos desesperemos, mas esperemos confiantemente no Senhor e Ele nos ajudará: “Ó Cristo, se eu abandonar todas as coisas e a mim mesmo com elas, renuncio a ser meu e começo a ser vosso. Só gostarei então de pensar em vós, de falar de vós e de vos agradar em tudo” (Luiz da Ponte, Meditações). O Coração do Senhor está cheio do verdadeiro amor; por isso, Ele está sempre pronto a ajudar os Apóstolos: três da madrugada! Coloquemos no nosso coração o verdadeiro amor, e então não mediremos esforços para ajudar aqueles que necessitam da nossa colaboração: “... a caridade é prestativa” (1 Cor 13, 4).
Em Mt 14, 26-27 diz: “Os discípulos, porém, vendo que caminhava sobre o mar, ficaram atemorizados e diziam: ‘É um fantasma!’ E gritaram de medo. Mas Jesus lhes disse logo: ‘Tende confiança, sou eu, não tenhais medo”.
Os discípulos tiveram medo ao verem a figura nebulosa que se aproximava e diziam: “É um fantasma!” São Jerônimo escreve: “A confusa gritaria e as vozes incertas, são indício de um grande alvoroço. E, se segundo Marcião e Maniqueu, o Senhor não nasceu de uma Virgem e não era mais que uma aparência, como se explica esse medo dos apóstolos quando creram ver um fantasma?”, e: “Cristo não se deu a conhecer a seus discípulos até o momento em que gritaram. Porque quanto maior fosse o medo, maior seria a alegria ao ver-Lhe presente. Por isso segue: ‘Mas Jesus lhes falou ao mesmo tempo e lhes disse: ‘Tende bom ânimo: sou eu, não temais’; palavras que acalmaram o medo dos discípulos e lhes deram confiança” (São João Crisóstomo, Homilia in Matthaeum, hom. 50, 1), e também: “Ou também se entende pelas palavras dos discípulos ‘que era um fantasma’, que só duvidarão da vinda de Cristo, aqueles que se entregarem ao diabo. E quando Pedro pediu ao Senhor que o socorresse para não perecer entre as ondas, dá a entender nessa tribulação de Pedro, que a Igreja, depois da última perseguição, será ainda purificada com outras tribulações” (Santo Agostinho, Quaestiones Evangeliorum, 1, 15). Edições Theologica comenta: “O impressionante episódio de Jesus a caminhar sobre as águas deve ter feito pensar muito os Apóstolos, e ter ficado gravado vivissimamente entre as suas recordações da vida com o Mestre”, e: “Jesus queria passar adiante para provocar o grito de socorro no meio da tempestade. É assim que, no caminho de Emaús, também finge passar adiante, afim de que os dois discípulos o convidassem a permanecer com eles. É sempre Jesus, terno e misericordioso, oferecendo-nos o apoio da sua Onipotência” (Dom Duarte Leopoldo). Os Apóstolos gritaram, e o Senhor ouviu os seus angustiados gritos e os acalmaram: “Mas Jesus lhes disse logo: ‘Tende confiança, sou eu, não tenhais medo”. Quando nos sentirmos amedrontados, não nos desesperemos, mas gritemos pelo Senhor com um grito de confiança, e Ele que conhece as nossas limitações nos ajudará: “Tende confiança, sou eu, não temais. É a atitude com que Cristo se apresenta sempre na vida do cristão: dando alento e serenidade” (Pe. Francisco Fernández Carvajal), e: “Belas palavras que o Salvador dirige a todos os fiéis, principalmente aos seus sacerdotes, através de todos os séculos. Ele nunca está longe. Durante a tempestade, está rezando na montanha, velando pelos seus. No momento oportuno, à quarta vigília, viera então para serenar as ondas e os ventos. Ah! Senhor, dizei – ‘sou eu’ – a todos os que vos amam, no momento da provação; que esta palavra os tranquilize nas tentações e no perigo! E quando os ímpios, com insolente sucesso, perseguirem a vossa Igreja, dizei-lhe ainda no seu martírio – ‘sou eu’!” (Dom Duarte Leopoldo). Disse Jesus Cristo: “Tende confiança, sou eu, não tenhais medo”. Se Nosso Senhor está conosco: que soprem os ventos das calúnias, que caiam as pedras das perseguições, que vomitem os inimigos contra nós todo tipo de maledicência, mentira e provocações, que nos ameacem de prisão e de morte, etc. Permaneçamos firmes, porque Cristo Jesus é o nosso refúgio seguro: “Cristo comigo, a quem temerei? Mesmo que as ondas se agitem contra mim, mesmo os mares, mesmo o furor dos príncipes: tudo isto me é mais desprezível que uma aranha” (São João Crisóstomo, Homilias). Infeliz daquele que nas horas de grandes provações vira as costas para Deus para se apoiar nas criaturas; esse, com certeza se decepcionará, porque somente em Deus devemos confiar totalmente: “O nosso fim é Deus, fonte de todos os bens, e devemos, como repetimos em nossa oração, confiar unicamente nele e em mais ninguém” (São Jerônimo Emiliani, Carta a seus confrades).
Em Mt 14, 28- 29 diz: “Pedro, interpelando-o, disse: ‘Senhor, se és tu, manda que eu vá ao teu encontro sobre as águas’. E Jesus respondeu: ‘Vem’. Descendo do barco, Pedro caminhou sobre as águas e foi ao encontro de Jesus”.
São Jerônimo escreve: “Quando disse: ‘Sou eu’: não acrescentou quem é Ele; porque, pelo timbre da voz tão conhecida por eles, podiam compreender quem lhes falava no meio das trevas de uma noite tão escura, ou porque podiam conhecer que o que lhes falava era o mesmo que falou a Moisés nestes termos (Ex 3, 14): ‘Dirás isto aos filhos de Israel: O que é, me enviou a vocês’. Pedro deu provas em todas as ocasiões de uma grande fé e com esta fé tão ardente, acreditou (enquanto os demais se calavam), que com o poder de seu Mestre podia fazer o que não podia com suas forças naturais. Por isso segue: ‘E respondeu Pedro: Senhor, se és tu, ordenes que eu vá a ti’. Ordene Senhor, e em seguida as ondas darão segurança ao meu corpo, que é pesado por si, e ele se fará leve”, e: “Porque por mim nada posso, mas por Ti. Conheceu Pedro até onde alcançava seu poder e o daquele por cuja vontade acreditou poder fazer o que não podia a fraca natureza humana” (Santo Agostinho, Sermones, 76, 5), e também: “Olhai quão grande é seu fervor, quão grande é a sua fé; não disse ‘roga’, ‘suplica’, mas, ‘manda’. Porque não somente acreditou que Cristo pudesse andar sobre as águas, mas também fazer com que outros andassem e desejou vivamente ir até Ele, não para fazer ostentação deste prodígio, mas pelo grande amor que tinha a Jesus. Porque não disse: ‘Manda-me andar sobre as águas, mas, manda-me ir a ti’. É evidente que no milagre de andar sobre as águas, se vê o domínio do Senhor sobre o mar; porém, ainda é superior a esse milagre seguinte: ‘E Ele lhe disse: vem. E descendo Pedro do barco, andava sobre as águas” (São João Crisóstomo, Homilia in Matthaeum, hom. 50, 1), e ainda: “Finalmente, Teodoro escreveu, que o corpo do Senhor não tinha peso material e que andava sobre o mar sem peso algum, porém isto é contrário à fé católica. Porque disse Dionísio, que o Senhor caminhava sobre as ondas, não com pés fluentes e sem consistência, mas com pés que tinham um peso corporal e que eram uma carga material sobre as águas” (Rábano), e: “Ou também, o adiantar-se Pedro a todos os que estavam no barco para responder e suplicar ao Senhor que o mandasse ir até Ele sobre as águas, significa o carinho que teria ao Senhor durante sua paixão, onde o seguirá e o acompanhará com desprezo da morte; porém, sua timidez, figura a debilidade que havia de mostrar nesta futura prova, em que o medo da morte o levaria à negação, e seu grito expressa os gemidos de sua penitência” (Santo Hilário, In Matthaeum, 14). O Pe. Francisco Fernández Carvajal escreve: “Pedro ganha confiança e, levado pelo seu amor, que o faz desejar estar quanto antes com o Mestre, faz-lhe um pedido inesperado: Senhor, se és tu, manda-me ir até onde estás por sobre as águas”. Dom Duarte Leopoldo escreve: “Calvino, referindo-se a esta passagem do Evangelho, acusa São Pedro de dois pecados – de infidelidade, por ter dito a Jesus: se és tu, duvidando, portanto: e de presunção por ter querido caminhar sobre as águas como seu Mestre. Os intérpretes católicos refutam a Calvino, mostrando que a dúvida de São Pedro versou toda sobre ser ou não Jesus o vulto que divisava no escuro da noite; mas, tanto que reconheceu ao Divino Mestre, manifestou o discípulo a sua fé, declarando que, a uma ordem do Salvador, se animaria a caminhar também sobre as águas, indo ao seu encontro”. O Apóstolo Pedro não se preocupou com a profundidade do lago de Tiberíades, oscila entre quarenta e cinquenta metros de profundidade; ele queria aproximar o mais rápido possível de Nosso Senhor, seu coração estava ardendo de amor pelo Mestre. Aquele que ama a Cristo de verdade não olha para as dificuldades; mas confiando n’Ele, passa por cima de tudo para estar com o Senhor: “Junto convosco eu enfrento os inimigos, com vossa ajuda eu transponho altas muralhas” (Sl 17, 30), e: “Pouco importam o ambiente, as dificuldades que rodeiam a nossa vida, se sabemos avançar cheios de fé e confiança ao encontro de Jesus que nos espera; pouco importa que as ondas sejam muito altas ou o vento forte; pouco importa que não seja do natural do homem caminhar sobre as águas. Se olhamos para Jesus, tudo nos é possível; e esse olhar para Ele é a virtude da piedade. Se pela oração e pelos sacramentos nos mantemos unidos a Jesus, caminharemos com firmeza” (Pe. Francisco Fernández Carvajal). São Pedro pediu: “Senhor, se és tu, manda que eu vá ao teu encontro sobre as águas”. Nosso Senhor atendeu imediatamente o seu pedido: “E Jesus respondeu: ‘Vem”. O Mestre disse: “Vem”. Então o Apóstolo Pedro “... trocou a segurança da barca pela segurança da palavra do Senhor. Não ficou aterrado às tábuas da embarcação, mas dirigiu-se para onde Jesus estava, a uns poucos metros dos seus discípulos, que contemplam atônitos o Apóstolo por cima das águas embravecidas. Pedro avança sobre as ondas. Sustentam-no a fé e a confiança no seu Mestre; só isso” (Pe. Francisco Fernández Carvajal). Desapeguemo-nos de tudo aquilo que nos rodeia: bens matérias, amizades, vida cômoda, etc., e saiamos ao encontro do Senhor que nos convida com carinho, dizendo: “Vem”. Quantos deixam de caminhar ao encontro do Senhor justamente porque estão apegados às coisas da terra, isto é, colocam a confiança naquilo que é passageiro; esses serão sempre infelizes.
Em Mt 14, 30-31diz: “Mas, sentindo o vento, ficou com medo e, começando a afundar, gritou: ‘Senhor, salva-me!’ Jesus estendeu a mão prontamente e o segurou, repreendendo-o: ‘Homem fraco na fé, por que duvidaste?”
São João Crisóstomo escreve: “Pedro, depois de haver vencido a maior dificuldade, isto é, o andar sobre as águas, se assusta com o que era menos difícil, isto é, a força do vento. Por isso segue: ‘Mas vendo o forte vento teve medo’. Porque assim é a natureza humana. Frequentemente realiza bem as coisas grandes e é digna de repreensão nas insignificantes” (Homilia in Matthaeum, hom. 50, 2), e: “Deixa tomar algum acréscimo à tentação para que aumente sua fé e para que compreenda que sua salvação não foi resultado de sua súplica, mas do poder do Senhor. Ardia em sua alma a fé, porém a fragilidade humana o arrastava ao abismo” (São Jerônimo), e também: “Pedro pôs, desde logo, sua esperança no Senhor e tudo pôde pelo Senhor. Como homem teve medo, porém se voltou ao Senhor. Por isso segue: ‘E como começasse a afundar, gritou’. E podia acaso o Senhor abandonar ao que afundava, ouvindo suas súplicas? Por isso segue: ‘E logo, estendendo o Senhor a mão” (Santo Agostinho, Sermones, 76, 8), e ainda: “Veja como o Senhor vai ensinando pouco a pouco a todos até nas coisas mais elevadas. Antes repreende o mar e agora demonstra mais seu poder andando sobre o mar, mandando a outro andar também e salvando-o quando corria perigo. Por isso diziam d’Ele: ‘Verdadeiramente é Filho de Deus’, coisa que até então não haviam dito” (São João Crisóstomo, Homilia in Matthaeum, hom. 50, 2), e: “O Senhor o olhou e o convidou à penitência, estendeu suas mãos e lhe deu o perdão; desta maneira, o discípulo encontrou a salvação” (Rábano), e também: “Veja aqui a razão porque o Senhor não concedeu a Pedro, que estava tremendo de medo, a força necessária para que chegasse a Ele, mas que o pegou pela mão e o sustentou. Só o que havia” (Santo Hilário, In Matthaeum, 14), e ainda: “Em um só apóstolo (isto é, em Pedro, o primeiro do colégio apostólico e sua cabeça e em quem estava representada a Igreja), nos significam as duas coisas, isto é, a força quando andava sobre as águas e a debilidade quando duvidou. Cada um tem sua tempestade na paixão que o domina. Ama a Deus? Anda sobre as águas e tem a seus pés o temo do mundo. Ama o mundo? Ele te submergirá; porém, quando teu coração estiver agitado pelo prazer, suplica a divindade de Cristo, a fim de vencer as paixões” (Santo Agostinho, Sermones, 76, 4), e: “O Senhor os socorrerá se tiverem confiança, que por sua proteção, serão afastados os perigos das tentações. E isto acontecerá à aproximação da aurora. Porque quando a fragilidade humana, submergida nas aflições, considera suas poucas forças, não vê a seu redor mais que trevas; porém quando levanta sua alma para os favores celestiais, vê de repente a saída do sol, que ilumina toda a vigília da noite” (Remígio). Enquanto São Pedro permanecia com os olhos fixos em Nosso Senhor, Luz do mundo, caminhava tranquilamente e com segurança; mas quando olhou para as ondas agitadas, sentiu medo e começo a se afundar: “Infelizmente, porém, em vez de olhar fixamente para Jesus, e para ele unicamente, Pedro vê as ondas que se aproximam revoltas, temerosas, ameaçadoras; hesita e imediatamente começa a afundar” (Dom Eduardo Leopoldo). Esse mundo é um mar agitado e perigoso. Para atravessá-lo com êxito, fixemos os nossos olhos em Cristo Jesus e não os desviemos para as coisas passageiras da terra, por mais atraentes que sejam. Muitos naufragam na vida espiritual e tornam-se pessoas vazias e incrédulas, justamente porque deixam de olhar para Nosso Senhor, para dar atenção ao lixo oferecido pelo mundo inimigo de Deus e do Evangelho. São João Crisóstomo escreve: “Jesus ensinou a Pedro a conhecer, por experiência própria, que toda a sua fortaleza lhe vinha do Senhor, enquanto de si mesmo só podia esperar fraqueza e miséria” (Hom. sobre São Mateus, 50).
Jesus, o Bondoso Senhor, não recusa ajuda àquele que Lhe pede com confiança: “Jesus estendeu a mão prontamente e o segurou...” Peçamos ao Senhor! Não sintamos vergonha de recorrer a Cristo Jesus! Ele sabe o quanto somos frágeis e miseráveis e nos sustentará com suas Santas Mãos: “Repouso tranquilo e firme segurança para os fracos, só nas chagas do Salvador! Ali permaneço seguro porque ele é poderoso para salvar. O mundo agita, o corpo dificulta, o demônio arma ciladas; não caio, estou firme na rocha” (São Bernardo de Claraval). Cristo Jesus estendeu a mão “prontamente” para o Apóstolo Pedro, isto é, com rapidez, sem embaraço. Não deixemos para depois o bem que pudermos fazer hoje; sejamos prontos a socorrer quem necessita da nossa ajuda. Nosso Senhor, depois de repreender a Pedro, disse-lhe: “Homem fraco na fé, por que duvidaste?” São João Crisóstomo comenta: “Quando falta a nossa cooperação cessa também a ajuda de Deus. Daí a repreensão ‘homem de pouca fé’. Por isso quando Pedro começou a temer e a duvidar, começou também a afundar-se até que, de novo, cheio de fé, gritou: ‘Senhor, salva-me!” (Hom. sobre São Mateus, 50), e: “Jesus Cristo não chama São Pedro de incrédulo e presunçoso. Chama-lhe somente homem de pouca fé, porque temeu um instante, depois de ter confiado muito” (Dom Duarte Leopoldo).
Em Mt 14, 32-33 diz: “Assim que subiram ao barco, o vento amainou. Os que estavam no barco prostraram-se diante dele dizendo: ‘Verdadeiramente, tu és o Filho de Deus!”
Dom Duarte Leopoldo comenta: “Sob a impressão do perigo a que acabavam de escapar, à vista deste mar tranquilo depois da tempestade, lançam-se eles aos pés de Jesus, e, com profunda emoção, reconhecem a sua divindade. Os apóstolos instruídos, Pedro fortalecido na fé, os demais passageiros esclarecidos por um grande milagre, eis o fruto desta noite de provações. É sempre assim: a Providência, quando nos manda trabalhos e tribulações, só tem em vista o bem da nossa alma”, e: “Se, pois, a um só sinal do Senhor se acalma o mar (coisa que acontece algumas vezes e por casualidade, depois de violentas tempestades) e os que iam no barco, confessam que o Senhor é verdadeiramente Filho de Deus. Por que pregava Ario que Ele era somente uma criatura?” (São Jerônimo), e também: “Nada tem de mais maravilhoso do que, subindo o Senhor no barco, cessara o vento. Porque em todos os corações em que está o Senhor presente por sua graça, bem rápido se acalmam todos os combates” (Rábano), e ainda: “Também a tranquilidade do vento e do mar ao subir o Senhor no barco, figura a paz e a tranquilidade que o Senhor concederá à sua Igreja depois de sua volta gloriosa, e então verá com mais claridade, com razão dirão todos cheios de admiração: ‘Verdadeiramente tu és o Filho de Deus’. Então todos confessarão publicamente, que o Filho de Deus voltou, não com a humildade de seu corpo, mas com sua glória celestial, para dar paz à sua Igreja” (Santo Hilário, In Matthaeum, 14), e: “Porque nos indica também que sua glória será então mais clara para aqueles que caminham agora pela fé e então verão o Senhor em si mesmo” (Santo Agostinho, Quaestiones Evangeliorum, 1, 15). Depois de suportarmos, com a ajuda de Nosso Senhor, terríveis provações, aproximemo-nos do Santíssimo Sacramento, e, de joelhos, O agradeçamos por nos proteger durante o combate.
Pe. Divino Antônio Lopes FP. Anápolis, 20 de maio de 2007
Veja também:
|
|||
|
|||
|