O FILHO PRÓDIGO

(Lc 15, 11-32)

 

"11 Disse ainda: 'Um homem tinha dois filhos. 12 O mais jovem disse ao pai: 'Pai, dá-me a parte da herança que me cabe'. E o pai dividiu os bens entre eles. 13 Poucos dias depois, ajuntando todos os seus haveres, o filho mais jovem partiu para uma região longínqua e ali dissipou sua herança numa vida devassa. 14 E gastou tudo. Sobreveio àquela região uma grande fome e ele começou a passar privações. 15 Foi, então, empregar-se com um dos homens daquela região, que o mandou para seus campos cuidar dos porcos. 16 Ele queria matar a fome com as bolotas que os porcos comiam, mas ninguém lhas dava. 17 E caindo em si, disse: 'Quantos empregados de meu pai têm pão com fartura, e eu aqui, morrendo de fome! 18 Vou-me embora, procurar o meu pai e dizer-lhe: Pai, pequei contra o Céu e contra ti; 19 já não sou digno de ser chamado teu filho. Trata-me como um dos seus empregados'. 20 Partiu, então, e foi ao encontro de seu pai. Ele estava ainda ao longe, quando seu pai viu-o, encheu-se de compaixão, correu e lançou-se-lhe ao pescoço, cobrindo-o de beijos. 21 O filho, então, disse-lhe: 'Pai, pequei contra o Céu e contra ti; já não sou digno de ser chamado teu filho'. 22 Mas o pai disse aos seus servos: 'Ide depressa, trazei a melhor túnica e revesti-o com ela, ponde-lhe um anel no dedo e sandálias nos pés. 23 Trazei o novilho cevado e matai-o; comamos e festejemos, 24 pois este meu filho estava morto e tornou a viver; estava perdido e foi reencontrado!' E começaram a festejar. 25 Seu filho mais velho estava no campo. Quando voltava, já perto de casa ouviu músicas e danças. 26 Chamando um servo, perguntou-lhe o que estava acontecendo. 27 Este lhe disse: 'É teu irmão que voltou e teu pai matou o novilho cevado, porque o recuperou com saúde'. 28 Então ele ficou com muita raiva e não queria entrar. Seu pai saiu para suplicar-lhe. 29 Ele, porém, respondeu a seu pai: 'Há tantos anos que eu te sirvo, e jamais transgredi um só dos teus mandamentos, e nunca me deste um cabrito para festejar com meus amigos. 30 Contudo, veio esse teu filho, que devorou teus bens com prostitutas, e para ele matas o novilho cevado!' 31 Mas o pai lhe disse: 'Filho, tu estás sempre comigo, e tudo o que é meu é teu. 32 Mas era preciso que festejássemos e nos alegrássemos, pois esse teu irmão estava morto e tornou a viver; ele estava perdido e foi reencontrado!"

 

 

Em Lc 15, 11-13 diz: "Disse ainda: 'Um homem tinha dois filhos, O mais jovem disse ao Pai: ' Pai, dá-me a parte da herança que me cabe'. E o pai dividiu os bens entre eles, Poucos dias depois, ajustando todos os seus haveres, o filho mais jovem partiu para uma região longínqua e ali dissipou sua herança numa vida devassa".

Estamos perante uma das parábolas mais belas de Jesus Cristo, em que nos é ensinado uma vez mais que Deus é um Pai bom e compreensivo, como está em 2 Cor 1, 3: "Bendito seja o Deus e Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai das misericórdias e Deus de toda consolação".

No versículo 11 diz: "Um homem tinha dois filhos". Esse homem é Deus. O Cônego Duarte Leopoldo escreve: "O pai de família é Deus", e João Paulo II diz: "O pecado, tão detalhadamente descrito na parábola do filho pródigo, consiste na rebelião contra Deus, ou ao menos no esquecimento ou indiferença para com Ele e para com o seu amor", e São Josemaria Escrivá também diz: "Recordemos a parábola do filho pródigo, que Jesus nos contou para que entendêssemos o amor do Pai que está nos céus".

No versículo 12 diz que o filho mais jovem pediu ao Pai a parte da herança que lhe cabia. E o pai dividiu os bens entre eles.

O filho mais jovem que pede ao Pai a parte da sua herança é figura do homem pecador que se afasta de Deus por causa do pecado. O Cônego Duarte Leopoldo escreve: "Diz o Evangelho que este filho era o mais moço, porque o pecador é leviano, inconstante e irrefletido como a mocidade".

A herança, segundo o Cônego Duarte Leopoldo, "... são os dons naturais e sobrenaturais, os bens da alma e do corpo", e João Paulo II escreve: "Este filho, que recebe do pai a parte da herança que lhe toca e deixa a casa paterna para esbanjar essa herança numa terra longínqua 'vivendo dissolutamente,' em certo sentido é o homem de todos os tempos, a começar por aquele que foi o primeiro a perder a herança da graça e da Justiça original. Neste ponto a analogia é muito vasta. Indiretamente a parábola estende-se a todas as rupturas da aliança de amor: a toda a perda da graça e todo o pecado".

No versículo 13 diz que o filho mais jovem partiu para uma terra longínqua, e ali dissipou sua herança numa vida devassa.

O filho mais novo quer ser feliz a seu modo, por sua conta, sem contar com o seu pai, e por isso abandona-o e parte para um país longínquo. O Pe. Francisco Fernándes-Carvajal escreve: "Para o judeu, um país longínquo era a terra de gentios e pagãos. O egoísmo toma a dianteira ao amor: nisso consiste o pecado. E o pai não quis retê-lo à força", e o Cônego Duarte Leopoldo escreve: "Essa região longínqua é o país do pecado, para onde se retira o pecador a fim de não mais ouvir a voz de seu Pai, as suas recriminações, os seus sábios conselhos. O pecador não quer ser importunado; sedento de liberdade, da liberdade do vício, dissipa no esquecimento de Deus e da sua fé, toda a sua fortuna de graças - primeiro a graça santificante, depois as virtudes de uma educação cristã, a inteligência, o brio, o pudor, muitas vezes o seu dinheiro e quase sempre a saúde", e o Pe. João Colombo também escreve: "Fora do olhar paterno, sem freio e sem comedimento, o filho mais novo cometeu todas as torpezas e satisfez o capricho de todas as paixões".

No versículo 13 diz ainda: "... o filho dissipou os seus bens". Estas palavras revelam um sentido quando o pecador é cristão, pois seria inexato afirmar que todas as obras do pecador são más. Muitos pecadores têm uma conduta exterior irrepreensível. Há muitos que praticam o bem. Suas obras não são todas más. Mas são desperdiçadas, perdem-se para o céu, pois o mérito sobrenatural é inerente ao estado de graça. O Monsenhor Georges Chevrot escreve: "Essa fortuna que o cristão dissipa é a sua parte na herança do próprio Deus. O cristão pecador já não é senão um ramo separado do tronco. Ao sair da casa paterna, o filho mais novo leva consigo a sua liberdade: leva-lhe o cadáver".

Em Lc 15, 14-16 diz: "E gastou tudo. Sobreveio àquela região uma grande fome e ele começou a passar privações. Foi, então, empregar-se com um dos homens daquela região, que o mandou para seus campos cuidar dos porcos. 'Ele queria matar a fome com as bolotas que os porcos comiam, mas ninguém lhas dava".

No versículo 14 diz que o filho pródigo gastou tudo, e o mesmo começou a passar fome. Ele foi buscar a liberdade no mundo, mas encontrou a escravidão, deixou a casa paterna, para tornar-se escravo de mundo. O filho mais moço, ao sair de casa prometia a si mesmo coisas muito felizes fora dos limites da fazenda, mas começou a passar fome. A satisfação acabou-se depressa! Veio a seguir a solidão e a indignidade. João Paulo II escreve: "Vem a solidão e o drama da dignidade perdida, a consciência da filiação divina deitada a perder".

Está claro que aquele que joga Deus fora vive no vazio e na miséria, como escreve Santo Afonso Maria de Ligório: "Perdido Deus, tudo está perdido".

Neste momento da parábola, vemos as tristes consequências do pecado. Com essa fome, fala-nos da ansiedade e do vazio que sente o coração do homem quando está longe de Deus: pelo pecado o homem perde a liberdade dos filhos de Deus e submete-se ao poder de Satanás. O cônego Duarte Leopoldo diz: "No país do pecado, nessa região longínqua do esquecimento de Deus, nunca deixa de haver fome, esse vazio imenso de uma alma a quem tudo falta, quando lhe falta Deus. E o pecador padece então os horrores da indigência: nada há que lhe possa matar a fome devoradora".

Aquele que abandona o caminho de Deus para seguir as máximas do mundo, viverá mergulhado no vazio e na tristeza, a exemplo do filho pródigo. Somente em Deus encontrara-se a verdadeira felicidade, como escreve Santa Teresa dos Andes: "Deus é o único Bem que nos pode satisfazer... Encontro tudo nele".

No versículo 15 diz que o filho pródigo foi pedir emprego a um senhor daquela região, e ele o mandou cuidar dos porcos. O Cônego Duarte Leopoldo diz: "O dono da fazenda é o demônio: os porcos são as paixões. Sob a tirania de um senhor sem entranhas, o pecador apascenta em seu coração um rebanho de paixões imundas. Um sem número de pensamento de crime grunhem dentro do seu coração, pedindo-lhe pasto e alimento".

Está claro que o filho pródigo teve que dedicar-se a guardar porcos, a pior das humilhações para um judeu. O porco era um animal impuro para os judeus e para outros povos do antigo Oriente.

Sobre o versículo 15, João Paulo II escreve: "Mas esta fuga de Deus tem como consequência para o homem uma situação de confusão profunda sobre a sua própria identidade, ao lado de uma amarga experiência de empobrecimento e desespero ... o filho pródigo, depois de tudo, começou a passar necessidade e viu-se obrigado , ele, que tinha nascido em liberdade, a servir um dos habitantes daquela região".

No versículo 16 diz que ele queria matar a fome com a comida dos porcos, mas ninguém lhas dava.

Veja só o que acontece com a pessoa que abandona a Deus; a mesma vive só e amargurada.

O patrão do filho pródigo foi um duro senhor, que nem sequer lhe permitia saciar-se com a comida que os porcos comiam. O filho procurava conquistar a liberdade, mas ficou submetido a um duro tirano. Está claro que a liberdade está ligada ao amor e não ao pecado: "... quem comete pecado, é escravo do pecado" (Jo 8,34).

O Cônego Duarte Leopoldo escreve: "As bolotas, alimento dos porcos, simbolizam os crimes, os pecados de que se alimenta o pecador. Devora-o a fome do vício; tudo lhe serve, ainda o que há de mais desprezível; a tudo se atira faminto e desesperado, mas... a tanto chegou a sua degradação que já nem esse alimento lhe é concedido para satisfazer o apetite de pecado", e: "Aquele filho fugido de uma casa rica guardava os porcos e tinha fome: às escondidas estendia as mãos ao cocho... Desejava encher a barriga com a comida dos porcos, e ninguém lhas dava, nem sequer um punhado" (Pe. João Colombo), e também: "Os críticos, incapazes de respeitar uma obra-prima, pensam que esta sequência da parábola é forçada. Que ajudante de fazenda, dizem eles, não teria nesse caso um pouco de bolotas da ração dos porcos a fim de alimentar-se a si próprio? Não há dúvida, mas isso seria não perceber a intenção do narrador. Cristo quer fazer-nos tocar com o dedo a horrível solidão do pecador. Caiu abaixo dos animais que guarda. O proprietário preocupa-se com a alimentação dos seus porcos, mas ninguém se ocupa dele, ninguém pensa em dar-lhe de comer. Para o patrão, a gordura de seus porcos é mais preciosa do que a vida de seu empregado. O filho pródigo é abandonado por todos" (Monsenhor Georges Chevrot).

Católico, como você tem coragem de abandonar a Deus para seguir o mundo? Lembre-se de que o mundo é um palhaço assassino que atrai para matar. Você chama essas pessoas que te cercam de amigo: será que as mesmas te ajudarão nas horas de dificuldades? Cuidado, o coração do homem é um abismo e cheio de falsidade.

Em Lc 15, 17-19 diz: "E caindo em si, disse: 'Quantos empregados de meu pai tem pão com fartura, e eu aqui, morrendo de fome! Vou-me embora, procurar o meu pai e dizer-lhe: Pai, pequei contra o céu e contra ti; já não sou digno de ser chamado teu filho. Trata-me como um dos teus empregados".

O versículo 17 diz que o filho "caiu em si"; longe da casa paterna, sente fome. E a sua miséria não parece ter fim, longe do Pai encontrou somente vazio e decepção. Então, "caindo em si", decidiu-se a iniciar o caminho do regresso. Pensou de novo as coisas. Assim começa também toda a conversão, todo o arrependimento: caindo em si, fazendo uma paragem, considerando aonde o levou a sua má aventura desde que saiu da casa paterna até à lamentável situação em que agora se encontra.

E você católico, já caiu em si ou vai continuar vivendo no chiqueiro do mundo inimigo de Deus e do Evangelho? É preciso parar e voltar para Deus enquanto é tempo: "Procurai o Senhor enquanto pode ser achado" (Is 55, 6).

O filho pródigo "caiu em si". O Cônego Duarte Leopoldo diz: "Aqui, a cena se transforma. A dor, o sofrimento é muitas vezes a voz de Deus que nos chama", e: "Não há dúvida de que, ao entrar em si, o filho vê em primeiro lugar e quase que exclusivamente a sua miséria. Ainda não enxerga a malícia do pecado: ainda é cedo para isso. Vê-la-á mais tarde. Agora vê somente a sua indigência e o seu sofrimento: Morro de fome. Não compreendemos a gravidade do pecado senão depois de nos termos convertido e, muitas vezes, vários anos depois de convertidos" (Monsenhor Georges Chevrot).

No versículo 17 diz ainda: "Quantos empregados de meu Pai tem pão com fartura, e eu aqui, morrendo de fome".

O Cônego Duarte Leopoldo diz: "Quantos não tinham, como eu, os mesmos direitos ao amor de Deus, que não tinham recebido tantas graças, tantos benefícios, que eram mais pobres, mais doentes, que tinham menos luzes, quantos gozam da abundância das consolações da graça, e eu morro de fome ao serviço do demônio, apascentando os animais imundos!"

No versículo 18 diz que o filho pródigo resolveu procurar o seu pai e dizer-lhe: Pai, peguei contra o céu e contra ti.

O Pe. Francisco Fernández-Carvajal diz: "O filho pródigo resolve desandar o andado... resolve voltar".

O filho continua com saudades do bem-estar que tem os servos na casa de seu Pai, e pouco a pouco adquirem força na sua alma outros sentimentos: o calor do lar, a recordação insistente do rosto do seu pai e o carinho filial. A dor torna-se mais nobre e mais sincera aquela frase preparada: Pai, pequei contra o Céu e contra ti. São Josemaria Escrivá comenta: "De certo modo, a vida humana é um constante regresso à casa do Pai por meio do sacramento do perdão", e: "O arrependimento sincero, a verdadeira contrição é sempre seguida do bom propósito, de resoluções firmes e enérgicas" (Cônego Duarte Leopoldo).

No versículo 19 diz: "Já não sou digno de ser chamado seu filho. Trata-me como um dos teus empregados".

Ainda existe a casa de que ele fugiu para tão longe... Ainda existe o seu pai. Ele já não pode dizer-se seu filho. Tornou-se indigno de lhe usar o nome, mas seu pai não mudou... esse pai que por excesso de bondade não tentou retê-lo, esse pai cujo coração ele despedaçou e cujos bens dissipou, a quem afligiu e desonrou. O filho pródigo arruinou-se, perdeu tudo. Ninguém estendeu a mão para socorrê-lo, todos lhe deram as costas sem piedade. Nada mais lhe restava no mundo a não ser esse pai cujo carinho ele retribuiu com o mal.

Católico, não se desespere diante das suas fraquezas e ingratidões; lembre-se de que existe um Pai que está pronto para perdoar um coração arrependido: "Deus espera o pecador, afim de que se arrependa e desse modo lhe perdoe e o salve" (Is 30, 18).

Em Lc 15, 20-21 diz: "Partiu, então, e foi ao encontro do Pai. Ele estava ainda ao longe, quando seu pai viu-o, encheu-se de compaixão, correu e lançou-se-lhe ao pescoço, cobrindo-o de beijos. O filho, então, disse-lhe: 'Pai, pequei contra o Céu e contra ti; já não sou digno de ser chamado teu filho".

Quando o filho decide regressar à casa paterna e trabalhar na fazenda como um servo, o pai, profundamente comovido ao ver as condições em que retorna, corre ao seu encontro e demonstra-lhe prodigamente o seu amor: Lançou-lhe os braços ao pescoço e cobriu-o de beijos. Acolhe como filho imediatamente. São Josemaría Escrivá diz: "Pode-se falar com mais calor humano? Pode-se descrever de maneira mais gráfica o amor paternal de Deus pelos homens? Perante um Deus que corre ao nosso encontro, não nos podemos calar e temos de dizer-lhe com São Paulo: Abba, Pai! Pai, meu Pai!, porque, sendo Ele o Criador do universo, não se importa de que não o tratemos com títulos altissonantes, nem reclama a devida confissão do seu poder. Quer que lhe chamemos Pai, que saboreemos essa palavra, deixando a alma inundar-se de alegria", e: "A misericórdia de Deus sai  ao encontro  do pecador, cai-lhe nos braços e dá-lhe o beijo da paz" (Cônego Duarte Leopoldo), e também: "O pai tem pressa de reconquistar o objeto da sua ternura: joga-se ao pescoço do filho, aperta-o de encontro ao peito, sem se importar com o odor de chiqueiro que exalam as suas vestes sórdidas... o Pai aperta o filho em seus braços e cobre-o de beijos" (Monsenhor Georges Chevrot).

Muitas pessoas se desesperam diante de seus pecados; dizem que não serão mais perdoados por Deus, que já está tudo perdido, que já estão condenadas... e assim, perdem a fé, deixam a oração, os sacramentos e outras cometem o suicídio. Esta não é a solução. Nada de desespero! Confie em Deus, arrependa de seus pecados e Ele te perdoará, como escreve Santo Afonso: "Deus chega até a assegurar que, quando o pecador se arrepende, ele risca da memória as ofensas, como se nunca houvessem existido", e o mesmo santo ainda diz: "Logo que nos arrependemos, Deus nos responde prontamente e logo nos perdoa".

No versículo 21 diz que o pai correu ao encontro do filho. Sabemos que Deus ama o filho que está arrependido; com certeza Ele lançará sobre o mesmo o laço da sua misericórdia, como escreve São João da Cruz: "Tu, Senhor, voltas com alegria e amor a levantar o que te ofende..."

Em Lc 15, 22 diz: "Mas o pai disse aos seus servos: 'Ide depressa, trazei a melhor túnica e revesti-o com ela, ponde-lhe um anel no dedo e sandálias nos pés".

O pai pediu que lhe vestisse com a melhor túnica. A túnica representa para Santo Agostinho a veste da graça santificante, que perderam Adão e Eva (encontraram-se nus), e que não tinham aquele que foi rejeitado nas bodas do grande Rei (Mt 22, 11).

O Pai disse: "... ponde-lhe um anel no dedo e sandálias nos pés". Com o anel é-lhe devolvido o poder de selar, é-lhe devolvido a autoridade e todos os direitos; as sandálias declaram-no homem livre, porque os escravos andavam descalços. Santo Agostinho escreve: "O vestido mais precioso converte-o em hóspede de honra, o anel devolve-lhe a dignidade perdida, as sandálias declaram-no livre", e João Paulo II diz: "O amor paterno de Deus inclina-se para todos os filhos pródigos, para qualquer miséria humana, especialmente para a miséria moral. Então, aquele que é objeto da compaixão divina 'não se sente humilhado, mas reencontrado e revalorizado".

O pai devolveu tudo ao filho arrependido. Na confissão, através do sacerdote, Deus devolve-nos tudo o que perdemos por culpa própria: a graça e a dignidade de filhos de Deus. Cumula-nos da sua graça e, se o arrependimento é profundo, coloca-nos num lugar mais alto do que aquele em que estávamos anteriormente.

Em Lc 15, 23-24 diz: "Trazei o novilho cevado e matai-o; comamos e festejemos, pois esse meu filho estava morto e tornou a viver; estava perdido e foi reencontrado!' E começou a festejar".

No versículo 23 fala sobre a festa, tendo como comida, o novilho cevado. O Cônego Duarte Leopoldo diz: "Os judeus usavam de carne muito raramente. O banquete em que se servia um novilho e dos melhores do rebanho, indicava bem a alegria que reinava na casa", e: "Dá nossa miséria tira riqueza; da nossa debilidade, fortaleza. O que não nos há de preparar então, se não o abandonamos, se frequentamos a sua companhia todos os dias, se lhe dirigimos palavras de carinho confirmadas com as nossas ações, se lhe pedimos tudo, confiados na sua onipotência e na sua misericórdia? Se prepara uma festa para o filho que o traiu, só por tê-lo recuperado, o que não nos outorgará a nós, se sempre procuramos ficar a teu lado?"

E no versículo 24 diz: "... meu filho estava morto e tornou a viver; estava perdido e foi reencontrado".

O Monsenhor Georges Chevrot escreve: "O filho pródigo entende enfim donde é que volta... só agora é que está convertido. Não estava convertido quando morria de fome. Não estava convertido quando sofria no caminho do retorno. É nos braços de seu pai que se realiza a sua conversão".

O filho pródigo está convertido, não deve mais falar-lhe da sua ingratidão passada nem da sua conduta indigna: que nunca mais a mencione! Ele não tem outra coisa a fazer senão deixar-se amar e nunca mais abandonar seu pai. Ele, o filho pródigo foi encontrado, estava morto e tornou á vida.

Católico, se você está morto espiritualmente, isto é, com o pecado mortal na alma, se está vivendo longe de Deus, percorrendo o caminho largo das paixões e do vício, arrependa-se de seus pecados, procure um sacerdote e faça uma sincera confissão, e com certeza a sua volta para os braços do Pai será festejada: "Se consegue achá-la, em verdade vos digo, terá maior alegria com ela do que com as noventa e nove que não se extraviaram" (Mt 18,13).

Você sabe que Deus é rico no perdão: "... Deus é rico em misericórdia" (Ef 2,4), por isso, não abuse de Sua misericórdia: "Judas se condenou, porque se atreveu a pecar confiando na clemência de Jesus Cristo" (São João Crisóstomo), chore os seus inúmeros pecados e aproxime de Deus com sinceridade, e Ele te perdoará: "... coração contrito e esmagado, ó Deus, tu não desprezas" (Sl 50,19).

Em Lc 15, 25-27 diz: "Seu filho mais velho estava no campo. Quando voltava, já perto de casa ouviu músicas e danças. Chamando um servo, perguntou-lhe o que estava acontecendo. Este lhe disse: 'É teu irmão que voltou e teu pai matou o novilho cevado, porque o recuperou com saúde".

Quando a parábola parece ter terminado, surge um novo personagem: o filho mais velho. No versículo 25 diz que ele estava voltando do campo e perto da casa ouviu músicas e danças. Era justamente a festa pela volta de seu irmão mais novo, que estava morto e tornou a viver; que estava perdido e foi reencontrado.

Nos versículos 26 e 27, ele pergunta o porquê da festa e o servo informa-o de que estão celebrando o retorno do irmão mais novo, que chegou esfarrapado, que finalmente voltou.

Nós católicos, que acreditamos na misericórdia de Deus, precisamos acolher com alegria as pessoas que desejam com sinceridade aproximarem de Deus, e devemos festejar a volta das mesmas para os braços do Pai Eterno.

Se o filho pródigo voltou para a casa paterna, com certeza, ele não encontrou paz e amor no mundo; porque se o mundo inimigo de Deus fosse um mar de paz e de amor, com certeza todos os mundanos seriam santos canonizados.

Em Lc 15, 28 diz: "Então ele ficou com muita raiva e não queria entrar. Seu pai saiu para suplicar-lhe".

Católico, com certeza o filho mais velho era fiel ao pai. Trabalhava até o cair da noite; quando, segundo a narrativa, a festa já se tinha iniciado, ele ainda estava voltando do campo; mas como está no versículo 28, ele ficou sabendo do motivo da festa, se irritou e não queria entrar, não queria festejar a volta de seu irmão mais novo. O Monsenhor Georges Chevrot escreve: "As mais belas virtudes empalidecem aos olhos de Deus quando a pessoa se orgulha das suas virtudes. E ele não quis entrar. Já não se sente em casa, naquela casa em que se canta e se dança para participar da alegria do pai... Como é grave que este filho obediente se torne incapaz de amar!... esse filho que sempre obedeceu, acaba por contrariar o amor de seu pai". Em 1 Jo 4,20 diz: "Se alguém disser: 'Amo a Deus', mas odeia o seu irmão, é um mentiroso".

Eis, portanto, o véu que nos esconde Deus, que nos impede de aproximarmos d'Ele: o nosso terrível egoísmo, o nosso insuportável amor-próprio, esse eu para o qual nos voltamos a toda a hora, o egoísmo que levou o filho  mais novo a deixar a casa paterna, o egoísmo que impediu o mais velho de nela entrar...

Sobre o aborrecimento do filho mais velho, escreve Santo Agostinho: "O canto, a alegria e a festa não te moveram o coração? O banquete do novilho gordo não te fez pensar? Ninguém te exclui. Tudo em vão: o servo fala, mas o aborrecimento persiste, e ele não quer entrar".

Hoje, infelizmente, em muitas dioceses e paróquias, existem milhares de discípulas do filho mais velho; são principalmente senhoras desocupadas, que andam a bisbilhotar a vida de todos aqueles que entram na igreja; as mesmas atiram pedras e agem com azedume contra aquelas pessoas que antes viviam nas trevas e que agora estão se aproximando de Deus. Essas senhoras se julgam o anjo do Apocalipse, sentam em lugares reservados, sempre duas a duas, apontam os dedos e balançam a cabeça continuamente. Para essas senhoras, ninguém se arrepende nem merece a salvação, somente elas são as santinhas imaculadas.

O pai possui um coração cheio de compaixão e amor; preparou uma grande festa para o filho que havia se convertido, e agora suplica ao filho mais velho que faça parte da mesma.

Em Lc 15, 29-30 diz: "Ele, porém, respondeu a seu pai: 'Há tantos anos que eu te sirvo, e jamais transgredi um só dos seus mandamentos, e nunca me deste um cabrito para festejar com meus amigos. Contudo, veio esse seu filho, que devorou teus bens com prostitutas e para ele matas o novilho cevado!"

No versículo 29 o filho mais velho desabafa com o pai dizendo: "Há tantos anos te sirvo... jamais transgredi um só dos seus mandamentos, e nunca me deste um cabrito para festejar..."

Era verdade o que o filho mais velho dizia, e o pai não o contradiz. O Monsenhor Georges Chevrot escreve: "Em um instante, esse modelo de obediência mostra-se ambicioso, invejoso, avarento, mau e duro".

O filho mais velho disse: "Há tantos anos que te sirvo..." É uma resposta que esconde mal toda uma série de mágoas inconfessáveis. É como se ele dissesse: se me fosse possível voltar atrás, não seria tão ingênuo... Aproveitaria ao máximo, como o mais novo... Nunca reclamei do meu trabalho, estava fora todo o tempo, trabalhei em dobro depois da partida do extraviado, para que a produção agrícola não sofresse com a sua ausência, e tu não tiveste a menor atenção comigo. Nunca me deste um cabrito sequer para que o repartisse com os meus amigos,

No versículo 30, ele mostra todo o seu desprezo para com o irmão mais novo quando diz: "... esse seu filho".

O filho mais velho procura a palavra que pode ferir mais cruelmente o coração do pai. Ele evita cuidadosamente dizer "meu irmão", mas diz, "... esse seu filho", esse que devorou os teus bens com as prostitutas, este que gastou nosso dinheiro que ganhamos com tanto sacrifício. O Monsenhor Georges Chevrot falando sobre o filho mais velho diz: "Parecia tão bem, esse filho mais velho! Sim, mas não basta parecer, é necessário ser: e nem sempre se é o que se parece ser".

Católico, a misericórdia de Deus é tão grande que escapa a compreensão do homem: e este é o caso do filho mais velho, que considera excessivo o amor do pai para com o filho mais novo, a sua inveja não o deixa compreender as manifestações de amor que o pai mostra ao recuperar o filho perdido, nem compartilhar a alegria da família.

Por outro lado, devemos considerar que se Deus tem compaixão dos pecadores, quanto mais terá dos que se esforçam por permanecer fiéis a Ele, como escreve Santa Teresa do Menino Jesus: "Por que, pois temer? O bom Deus, infinitamente justo, que se dignou perdoar com tanta misericórdia as culpas do filho pródigo, não será também justo comigo que estou sempre junto d'Ele?"

Em Lc 15, 31-32 diz: "Mas o pai lhe disse: 'Filho, tu estás sempre comigo, e tudo o que é meu é teu. Mas era preciso que festejássemos e nos alegrássemos, pois esse teu irmão estava morto e tornou a viver; ele estava perdido e foi reencontrado!"

No versículo 31 o pai corrige a impropriedade da linguagem do mais velho: "Filho, tu estás sempre comigo". Sempre te tratei como filho. Minha alegria era ver-te perto de mim. O Cônego Duarte Leopoldo diz: "Sempre bom, ouve o pai, cheio de doçura, as queixas do filho mais velho. Ele o ama também, e muitíssimo, pois toda a sua fortuna lhe pertence sem reserva. Mas não é possível conter a alegria sensível que experimenta ao ter recuperado o filho perdido. Assim ama Novo Senhor ao justo que sempre lhe permanece fiel, e a sua alegria pela conversão do pecador em nada diminui os privilégios da alma inocente e pura".

No versículo 32 o pai continua a falar ao filho mais velho, que está irritado e carrancudo: "... era preciso que nos festejássemos e nos alegrássemos, pois esse teu irmão estava morto e tornou a viver; ele estava perdido e foi reencontrado".

Católico, que contradição entre o coração magnânimo do Pai e a mesquinhez do filho mais velho! É a imagem do justo que se torna cego a ponto de não compreender que servir a Deus e gozar da sua amizade e presença é uma festa contínua, que, no fundo, servir é reinar.

Deus espera de nós uma entrega alegre, sem tristeza, pois: "Deus ama aquele que dá com alegria" (2 Cor 9, 7).

Católico, os pecadores que escutavam a Jesus Cristo partiram especialmente contentes e reconfortados para as suas casas, com desejos de voltar à casa paterna. Entenderam bem o que o Mestre queria dizer na parábola.

 

 

Pe. Divino Antônio Lopes FP.

Anápolis, 11 de setembro de 2007

 

 

 

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Pe. Divino Antônio Lopes FP. "O filho pródigo"

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