O QUARTO MANDAMENTO DA LEI DE DEUS

(Dt 5, 16)

 

16 Honrar teu pai e tua mãe”.

 

Fórmula catequética

 

Honra pai e mãe.

 

 

QUARTO MANDAMENTO: Honra pai e mãe.

 

“Honra teu pai e tua mãe, para que se prolonguem os teus dias na terra que o Senhor, teu Deus, te dá” (Ex 20,12).

 

“Era-lhes submisso” (Lc 2, 51).

 

O próprio Senhor Jesus recorda a força desse “mandamento de Deus” (Mc 7, 8-13). O Apóstolo ensina: “Filhos, obedecei a vossos pais, no Senhor, pois isso é justo. ‘Honra teu pai e tua mãe’ é o primeiro mandamento com promessas: ‘para seres feliz e teres uma longa vida sobre a terra” (Ef 6, l-3).

 

O quarto mandamento encabeça a segunda tábua. Indica a ordem da caridade. Deus quis que, depois dele mesmo, honrássemos nossos pais, a quem devemos a vida e que nos transmitiram o conhecimento de Deus. Devemos honrar e respeitar todos aqueles que Deus, para o nosso bem, revestiu de sua autoridade.

Esse preceito está expresso sob a forma positiva de deveres a cumprir. Anuncia os mandamentos que seguem e que se referem a um respeito particular pela vida, pelo casamento, pelos bens terrestres, pela palavra dada. Constitui um dos fundamentos da doutrina social da Igreja. O quarto mandamento dirige-se expressamente aos filhos em suas relações com seu pai e sua mãe, porque esta relação é a mais universal. Diz respeito também às relações de parentesco com os membros do grupo familiar. Manda prestar honra, afeição e reconhecimento aos avós e aos antepassados. Estende-se, enfim, aos deveres dos alunos para com seu professor, dos empregados para com seus patrões, dos subordinados para com seus chefes, dos cidadãos para com sua pátria e para com os que a administram ou a governam.

Este mandamento implica e subentende os deveres dos pais, tutores, professores, chefes, magistrados, governantes, de todos os que exercem uma autoridade sobre outros ou sobre uma comunidade.

A observância do quarto mandamento acarreta sua recompensa: “Honra teu pai e tua mãe para teres uma longa vida na terra, que o Senhor Deus te dá” (Ex 20,12). O respeito a esse mandamento alcança, juntamente com os frutos espirituais, frutos temporais de paz e de prosperidade. Ao contrário, a não-observância desse mandamento acarreta grandes danos para as comunidades e para as pessoas.

 

I. A família no plano de Deus

 

NATUREZA DA FAMÍLIA

 

A comunidade conjugal está fundada no consentimento dos esposos. O casamento e a família estão ordenados para o bem dos esposos, a procriação e a educação dos filhos. O amor dos esposos e a geração dos filhos instituem entre os membros de uma mesma família, relações pessoais e responsabilidades primordiais.

Um homem e uma mulher unidos em casamento formam com seus filhos uma família. Esta disposição precede todo reconhecimento por parte da autoridade pública; impõe-se a ela (isto é, não depende da autoridade civil para se constituir) e deve ser considerada como a referência normal, em função da qual devem ser avaliadas as diversas formas de parentesco.

Ao criar o homem e a mulher, Deus instituiu a família humana e dotou-a de sua constituição fundamental. Seus membros são pessoas iguais em dignidade. Para o bem comum de seus membros e da sociedade, a família implica uma diversidade de responsabilidades, de direitos e de deveres.

 

A FAMÍLIA CRISTÃ

 

Uma revelação e atuação específica da comunhão eclesial é constituída pela família cristã, que também, por isso, se pode e deve chamar igreja doméstica. É uma comunidade de fé, de esperança e de caridade; na Igreja ela tem uma importância singular, como se vê no Novo Testamento.

A família cristã é uma comunhão de pessoas, vestígio e imagem da comunhão do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Sua atividade procriadora e educadora é o reflexo da obra criadora do Pai. Ela é chamada a partilhar da oração e do sacrifício de Cristo. A oração cotidiana e a leitura da Palavra de Deus fortificam nela a caridade. A família cristã é evangelizadora e missionária.

As relações dentro da família acarretam uma afinidade de sentimentos, de afetos e de interesses, afinidade essa que provém sobretudo do respeito mútuo entre as pessoas. A família é uma comunidade privilegiada, chamada a realizar uma carinhosa abertura recíproca de alma entre os cônjuges e também uma atenta cooperação dos pais na educação dos filhos.

 

II. A família e a sociedade

 

A família é a célula originária da vida social. É a sociedade natural na qual o homem e a mulher são chamados ao dom de si no amor e no dom da vida. A autoridade, a estabilidade e a vida de relações dentro dela constituem os fundamentos da liberdade, da segurança e da fraternidade no conjunto social. A família é a comunidade na qual, desde a infância, se podem assimilar os valores morais, tais como honrar a Deus e usar corretamente a liberdade. A vida em família é iniciação para a vida em sociedade.

A família deve viver de maneira que seus membros aprendam a cuidar e a responsabilizar-se pelos jovens e pelos velhos, pelos doentes ou deficientes e pelos pobres. São numerosas as famílias que, em certos momentos, não são capazes de proporcionar essa ajuda. Cabe então a outras pessoas, a outras famílias e, subsidiariamente, à sociedade prover às suas necessidades: “A religião pura e sem mácula diante de Deus, nosso Pai, consiste nisto: visitar os órfãos e as viúvas em suas tribulações e guardar-se livre da corrupção do mundo” (Tg 1,27).

A família deve ser ajudada e defendida pelas medidas sociais apropriadas. Quando as famílias não são capazes de desempenhar suas funções, outros organismos sociais têm o dever de ajudá-las e de apoiar a instituição familiar. De acordo com o princípio da subsidiariedade, as comunidades mais amplas cuidarão de não usurpar seus poderes ou de interferir na vida da família.

A importância da família para a vida e o bem-estar da sociedade acarreta uma responsabilidade particular desta última no apoio e no fortalecimento do casamento e da família. Que o poder civil considere como dever grave reconhecer e proteger a verdadeira natureza do casamento e da família, defender a moralidade pública e favorecer a prosperidade dos lares.

A comunidade política tem o dever de honrar a família, de assisti-la, de lhe garantir sobretudo:

— o direito de se constituir, de ter filhos e de educá-los de acordo com suas próprias convicções morais e religiosas;

— a proteção da estabilidade do vínculo conjugal e da instituição familiar;

— a liberdade de professar a própria fé, de transmiti-la, de educar nela os filhos, com os meios e as instituições necessárias;

— o direito à propriedade privada, à liberdade de empreendimento, ao trabalho, à moradia, à emigração;

— de acordo com as instituições dos países, o direito à assistência médica, à assistência aos idosos, aos abonos familiares;

— a proteção da segurança e da saúde, sobretudo em relação aos perigos, como drogas, pornografia, alcoolismo etc.;

— a liberdade de formar associações com outras famílias e, assim, serem representadas junto às autoridades civis.

O quarto mandamento ilumina as outras relações na sociedade. Em nossos irmãos e irmãs vemos os filhos de nossos pais; em nossos primos, os descendentes de nossos avós; em nossos concidadãos, os filhos de nossa pátria; nos balizados, os filhos de nossa mãe, a Igreja; em toda pessoa humana, um filho ou filha daquele que quer ser chamado “nosso Pai”. Assim, nossas relações com o nosso próximo são reconhecidas como de ordem pessoal. O próximo não é um “indivíduo” da coletividade humana; ele é “alguém” que, por suas origens conhecidas, merece atenção e respeito individuais.

As comunidades humanas são compostas de pessoas. Seu bom governo não se limita à garantia dos direitos e ao cumprimento dos deveres, assim como à fidelidade aos contratos. Relações justas entre patrões e empregados, governantes e cidadãos supõem o mútuo e natural bem-querer que convém à dignidade das pessoas humanas preocupadas com a justiça e a fraternidade.

 

III. Deveres dos membros da família

 

DEVERES DOS FILHOS

 

A paternidade divina é a fonte da paternidade humana; é o fundamento da honra devida aos pais. O respeito dos filhos, menores ou adultos, pelo pai e pela mãe alimenta-se da afeição natural nascida do vínculo que os une e é exigido pelo preceito divino.

O respeito pelos pais (piedade filial) é produto do reconhecimento para com aqueles que, pelo dom da vida, por seu amor e por seu trabalho puseram seus filhos no mundo e permitiram que crescessem em estatura, em sabedoria e graça. “Honra teu pai de todo o coração e não esqueças as dores de tua mãe. Lembra-te que foste gerado por eles. O que lhes darás pelo que te deram?” (Eclo 7,27-28).

O respeito filial se revela pela docilidade e pela obediência verdadeiras. “Meu filho, guarda os preceitos de teu pai, não rejeites a instrução de tua mãe... Quando caminhares, te guiarão; quando descansares, te guardarão; quando despertares, te falarão” (Pr 6,20-22). “Um filho sábio ama a correção do pai, e o zombador não escuta a reprimenda” (Pr 13,1).

 

Enquanto o filho viver na casa de seus pais, deve obedecer a toda solicitação dos pais que vise ao seu bem ou ao da família. “Filhos, obedecei em tudo a vossos pais, pois isso é agradável ao Senhor” (Cl 3, 20). Os filhos têm ainda de obedecer às prescrições razoáveis de seus educadores e de todos aqueles aos quais os pais os confiaram. Mas, se o filho estiver convicto em consciência de que é moralmente mau obedecer a tal ordem, que não a siga.

Quando crescerem, os filhos continuarão a respeitar seus pais. Antecipar-se-ão aos desejos deles, solicitarão de bom grado seus conselhos e aceitarão suas justas admoestações. A obediência aos pais cessa com a emancipação dos filhos, mas o respeito, que sempre lhes é devido, não cessará de modo algum, pois (tal respeito) tem sua raiz no temor de Deus, um dos dons do Espírito Santo.

O quarto mandamento lembra aos filhos adultos suas responsabilidades para com os pais. Enquanto puderem, devem dar-lhes ajuda material e moral nos anos da velhice e durante o tempo de doença, de solidão ou de angústia. Jesus lembra este dever de reconhecimento (Mc 7, 10-12).

 

“O Senhor glorificou o pai nos filhos e fortaleceu a autoridade da mãe sobre a prole. Aquele que respeita o pai obtém o perdão dos pecados; o que honra sua mãe é como quem junta um tesouro. Aquele que respeita o pai encontrará alegria nos filhos e no dia de sua oração será atendido. Aquele que honra o pai viverá muito, e o que obedece ao Senhor alegrará sua mãe” (Eclo 3, 2-6).

“Filho, cuida de teu pai na velhice, não o desgostes em vida. Mesmo se seu entendimento faltar, sê indulgente com ele, não o menosprezes, tu que estás em pleno vigor... É como um blasfemador aquele que despreza seu pai, e um amaldiçoado pelo Senhor aquele que irrita sua mãe” (Eclo 3,12.16).

O respeito filial favorece a harmonia de toda a vida familiar e diz respeito também às relações entre irmãos e irmãs. O respeito aos pais ilumina todo o ambiente familiar. “Coroa dos anciãos são os netos” (Pr 17, 6). “Suportai-vos uns aos outros na caridade, com toda humildade, doçura e paciência” (Ef 4, 2).

Os cristãos devem uma gratidão especial àqueles de quem receberam o dom da fé, a graça do Batismo e a vida na Igreja. Pode tratar-se dos pais, de outros membros da família, dos avós, dos pastores, dos catequistas, de outros professores ou amigos. “Evoco a lembrança da fé sem hipocrisia que há em ti, a mesma que habitou primeiramente em tua avó Lóide e em tua mãe Eunice e que, estou convencido, reside também em ti” (2 Tm 1, 5).

A graça que santifica as relações entre esposos, aperfeiçoa também e sobrenaturaliza os deveres de respeito, amor e obediência que os filhos devem a seus pais.

 

a. Mostra-nos em nossos pais representantes de Deus e da sua autoridade; depois de Deus, é a eles que devemos a vida, a conservação e a boa direção desta vida. E assim, o nosso respeito para com eles vai até à veneração: admiramos neles uma participação da paternidade divina, da sua autoridade, das suas perfeições, e é o próprio Deus que neles veneramos.

O respeito aos pais mostra-se na sincera veneração, quando se fala com eles e deles com reverência. Seria falta de respeito desprezá-los, gritar-lhes ou ofendê-los de qualquer maneira, ou ter vergonha deles: “Com obras, com palavras e com toda a paciência, honra teu pai, para que caia sobre ti a bênção” (Eclo 3, 9), e: “Honra teu pai e tua mãe; maldito aquele que não respeita o pai e a mãe” (Dt 5, 16).

Respeitar os pais é tratá-los com estima e atenção, demonstrando-lhes o carinho por meio de fatos. Não basta um respeito meramente exterior; é necessário que os sentimentos interiores concordem com as palavras e as ações.

 

Não respeita seus pais o filho que:

1. Fala mal deles ou os despreza;

2. Lhes lança em rosto os seus defeitos;

3. Lhes dirige palavras altaneiras, ou os injuria ou se ri deles;

4. Os trata com palavras e ações como se estivessem ao mesmo nível;

5. Não lhes dá as provas usuais de boa educação.

 

b. A sua dedicação, bondade e solicitude para conosco aparecem como um reflexo da providência e da bondade divina, e o nosso amor filial torna-se assim mais puro e intenso; vai até à dedicação mais absoluta, a tal ponto que nos sentimos dispostos a nos sacrificarmos por eles, e, em caso de necessidade, a darmos a vida para salvar a deles; prestarmos-lhes, pois, toda a assistência corporal e espiritual de que necessitam, em toda a extensão dos nossos recursos.

 

c. Vendo neles representantes da autoridade divina, não hesitamos em lhes obedecer em todas as coisas, a exemplo de Nosso Senhor Jesus Cristo que, durante trinta anos esteve sujeito a Maria e a José. Esta obediência não tem outros limites senão os que o próprio Deus traçou: devemos obedecer a Deus antes que aos homens e, por conseguinte, no tocante ao bem da nossa alma e em particular à questão da vocação, é ao nosso confessor que devemos obedecer, depois de lhe havermos submetido a nossa situação de família. Nisto imitamos a Nosso Senhor Jesus Cristo que, no momento em que sua mãe lhe pergunta por que é que Ele os deixara, responde: “Não sabíeis que me cumpre ocupar-me nas coisas do serviço de meu Pai?” (Lc 2, 49). Assim se encontram salvaguardados todos os direitos e deveres respectivos.

 

Pecam contra a obediência devida aos pais:

1. Aqueles que repelem formalmente uma determinação justa, simplesmente por vir da autoridade paterna;

2. Os que desobedecem no que se refere ao bom governo do lar;

3. Os que se expõem a cometer pecados graves por não seguirem as ordens paternas;

4. Os que desprezam as suas ordens quando prescrevem a obediência às leis de Deus.

 

Há, no entanto, dois casos em que os filhos podem, sem pecar, desobedecer aos pais:

1. Quando ordenam coisas contrárias à Lei de Deus; p.ex., mentir, faltar à Missa de preceito, assistir a um espetáculo imoral, etc.;

2. Em relação à escolha de estado, quer por os pais se oporem ao que, reta e licitamente, queiram seguir, quer por os pais os quererem obrigar a escolher determinado estado. Todos podem dispor da sua vida como preferirem.

 

DEVERES DOS PAIS

 

A fecundidade do amor conjugal não se reduz só à procriação dos filhos, mas deve se estender à sua educação moral e à formação espiritual. O papel dos pais na educação é tão importante que é quase impossível substituí-los. O direito e o dever de educação são primordiais e inalienáveis para os pais.

Os pais devem considerar seus filhos como filhos de Deus e respeitá-los como pessoas humanas. Educar os filhos no cumprimento da Lei de Deus, mostrando-se eles mesmos obedientes à vontade do Pai dos Céus: “Se Deus lhes dá filhos, recebem-nos da sua mão como um depósito sagrado, amam-nos não somente como parte de si mesmos, mas como filhos de Deus, membros de Jesus Cristo, futuros cidadãos do céu; cercam-nos duma dedicação, duma solicitude de cada instante; dão-lhes educação cristã, esmerando-se em formar neles as próprias virtudes de Cristo Nosso Senhor; neste intuito, exercem a autoridade que Deus lhes deu, com prudência, delicadeza, força e doçura. Não esquecem que, sendo representantes de Deus, devem evitar aquela fraqueza que tende a amimar os filhos, aquele egoísmo que desejaria gozar deles sem os formar no trabalho e na virtude. Com o auxílio de Deus e dos educadores, que escolhem com o maior cuidado, fazem deles homens e cristãos, e exercem assim uma espécie de sacerdócio, no seio da família; assim poderão contar com a bênção de Cristo e com a gratidão dos filhos” (Adolfo Tanquerey, Compêndio de Teologia Ascética e Mística, 592).

Os pais são os primeiros responsáveis pela educação de seus filhos. Dão testemunho desta responsabilidade, em primeiro lugar pela criação de um lar no qual a ternura, o perdão, o respeito, a fidelidade e o serviço desinteressado são a regra. O lar é um lugar apropriado para a educação das virtudes. Esta requer a aprendizagem da abnegação, de um reto juízo, do domínio de si, condições de toda liberdade verdadeira. Os pais ensinarão os filhos a subordinar as dimensões físicas e instintivas às dimensões interiores e espirituais. Dar bom exemplo aos filhos é uma grave responsabilidade para os pais. Sabendo reconhecer diante deles seus próprios defeitos, ser-lhes-á mais fácil guiá-los e corrigi-los:

 

“Aquele que ama o filho usará com frequência o chicote; aquele que educa seu filho terá motivo de satisfação” (Eclo 30,1-2). “E vós, pais, não deis a vossos filhos motivo de revolta contra vós, mas criai-os na disciplina e correção do Senhor” (Ef 6, 4).

 

O lar constitui um ambiente natural para a iniciação do ser humano na solidariedade e nas responsabilidades comunitárias. Os pais ensinarão os filhos a se precaverem dos comprometimentos e das desordens que ameaçam as sociedades humanas.

Pela graça do sacramento do matrimônio, os pais receberam a responsabilidade e o privilégio de evangelizar os filhos. Por isso os iniciarão desde tenra idade nos mistérios da fé, da qual são para os filhos os primeiros arautos. Associá-los-ão desde a primeira infância à vida da Igreja. A experiência da vida em família pode alimentar as disposições afetivas que por toda a vida constituirão autênticos preâmbulos e apoios de uma fé viva.

A educação para a fé por parte dos pais deve começar desde a mais tenra infância. Ocorre já quando os membros da família se ajudam a crescer na fé pelo testemunho de uma vida cristã de acordo com o Evangelho. A catequese familiar precede, acompanha e enriquece as outras formas de ensinamento da fé. Os pais têm a missão de ensinar os filhos a orar e a descobrir sua vocação de filhos de Deus. A paróquia é a comunidade eucarística e o centro da vida litúrgica das famílias cristãs; ela é um lugar privilegiado da catequese dos filhos e dos pais.

Os filhos, por sua vez, contribuem para o crescimento de seus pais em santidade. Todos e cada um se darão generosamente e sem se cansar o perdão mútuo exigido pelas ofensas, pelas rixas, pelas injustiças e pelos abandonos. Sugere-o a mútua afeição. Exige-o a caridade de Cristo.

Durante a infância, o respeito e a afeição dos pais se traduzem inicialmente pelo cuidado e pela atenção que dedicam em educar seus filhos, em prover suas necessidades físicas e espirituais. Na fase de crescimento, o mesmo respeito e a mesma dedicação levam os pais a educá-los no reto uso da razão e da liberdade.

Como primeiros responsáveis pela educação dos filhos, os pais têm o direito de escolher para eles uma escola que corresponda às suas próprias convicções. Este direito é fundamental. Os pais têm, enquanto possível, o dever de escolher as escolas que melhor possam ajudá-los em sua tarefa de educadores cristãos. Os poderes públicos têm o dever de garantir esse direito dos pais e de assegurar as condições reais de seu exercício.

Quando se tornam adultos, os filhos têm o dever e o direito de escolher sua profissão e seu estado de vida. Assumirão essas novas responsabilidades na relação confiante com os pais, cujas opiniões e conselhos pedirão e receberão de boa vontade. Os pais cuidarão de não constranger seus filhos nem na escolha de uma profissão nem na de um consorte. Este dever de discrição não os impede, muito ao contrário, de ajudá-los com conselhos prudentes, particularmente quando estes têm em vista constituir uma família.

Alguns não se casam, para cuidar dos pais ou dos irmãos e irmãs, para se dedicar mais exclusivamente a uma profissão ou por outros motivos louváveis. Podem contribuir muito para o bem da família humana.

 

IV. A família e o Reino

 

Embora os vínculos familiares sejam importantes, não são absolutos. Da mesma forma que a criança cresce para sua maturidade e autonomia humanas e espirituais, assim também sua vocação singular, que vem de Deus, se consolida com mais clareza e força. Os pais respeitarão este chamamento e favorecerão a resposta dos filhos em segui-lo. É preciso convencer-se de que a primeira vocação do cristão é a de seguir Jesus. “Aquele que ama pai ou mãe mais do que a mim não é digno de mim. E aquele que ama filho ou filha mais do que a mim não é digno de mim” (Mt 10,37).

Tornar-se discípulo de Jesus é aceitar o convite de pertencer à família de Deus, de viver conforme a sua maneira de viver: “Aquele que fizer a vontade de meu Pai que está nos Céus, esse é meu irmão, irmã e mãe” (Mt 12,50).

Os pais aceitarão e respeitarão com alegria e ação de graças o chamamento do Senhor a um de seus filhos de segui-lo na virgindade pelo Reino, na vida consagrada ou no ministério sacerdotal.

 

V. As autoridades na sociedade civil

 

O quarto mandamento ordena também que honremos todos aqueles que, para nosso bem, receberam de Deus uma autoridade na sociedade. Este mandamento ilumina os deveres daqueles que exercem a autoridade, bem como os daqueles que por esta são beneficiados.

 

DEVERES DAS AUTORIDADES CIVIS

 

Aqueles que são investidos de autoridade devem exercê-la como um serviço. “Aquele que quiser tornar-se grande entre vós, seja aquele que serve” (Mt 20, 26). O exercício de uma autoridade é moralmente limitado por sua origem divina, por sua natureza racional e por seu objeto específico. Ninguém pode mandar ou instituir o que é contrário à dignidade das pessoas e à lei natural.

O exercício da autoridade visa tornar manifesta uma justa hierarquia de valores, a fim de facilitar o exercício da liberdade e da responsabilidade de todos. Que os superiores exerçam a justiça distributiva com sabedoria, levando em conta as necessidades e a contribuição de cada um e tendo em vista a concórdia e a paz. Zelem para que as regras e disposições que tomarem não induzam em tentação, opondo o interesse pessoal ao da comunidade.

Os poderes políticos devem respeitar os direitos fundamentais da pessoa humana. Exercerão humanamente a justiça no respeito pelo direito de cada um, principalmente das famílias e dos deserdados.

Os direitos políticos ligados à cidadania podem e devem ser concedidos segundo as exigências do bem comum. Não podem ser suspensos pelos poderes públicos sem motivo legítimo e proporcionado. O exercício dos direitos políticos está destinado ao bem comum da nação e da comunidade humana.

 

DEVERES DOS CIDADÃOS

 

Aqueles que estão sujeitos à autoridade considerarão seus superiores como representantes de Deus, que os instituiu ministros de seus dons: “Sujeitai-vos a toda instituição humana por causa do Senhor... Comportai-vos como homens livres, não usando a liberdade como cobertura para o mal, mas como servos de Deus” (1 Pd 2,13.16). A leal colaboração dos cidadãos inclui o direito, e às vezes o dever, de apresentar suas justas reclamações contra o que lhes parece prejudicial à dignidade das pessoas e ao bem da comunidade.

É dever dos cidadãos colaborar com os poderes civis para o bem da sociedade, num espírito de verdade, de justiça, de solidariedade e de liberdade. O amor e o serviço à pátria derivam do dever de gratidão e da ordem de caridade. A submissão às autoridades legítimas e o serviço do bem comum exigem que os cidadãos cumpram seu papel na vida da comunidade política.

A submissão à autoridade e a co-responsabilidade pelo bem comum exigem moralmente o pagamento de impostos, o exercício do direito de voto, a defesa do país:

 

“Dai a cada um o que lhe é devido: o imposto a quem é devido; a taxa a quem é devida; a reverência a quem é devida; a honra a quem é devida” (Rm 13,7).

 

Os cristãos residem em sua própria pátria, mas como residentes estrangeiros. Cumprem todos os seus deveres de cidadãos e suportam todas as suas obrigações, mas de tudo desprendidos, como estrangeiros... Obedecem às leis estabelecidas, e sua maneira de viver vai muito além das leis... Tão nobre é o posto que lhes foi por Deus outorgado, que não lhes é permitido desertar.

O Apóstolo nos exorta a fazer orações e ações de graça pelos reis e por todos os que exercem autoridade, “a fim de que levemos uma vida calma e serena, com toda piedade e dignidade” (l Tm 2,2).

 

As nações mais favorecidas devem acolher, na medida do possível, o estrangeiro em busca da segurança e dos recursos vitais que não pode encontrar em seu país de origem. Os poderes públicos zelarão pelo respeito do direito natural que põe o hóspede sob a proteção daqueles que o recebem.

Em vista do bem comum de que estão encarregadas, as autoridades políticas podem subordinar o exercício do direito de imigração a diversas condições jurídicas, principalmente com respeito aos deveres dos migrantes para com o país de adoção. O migrante é obrigado a respeitar com gratidão o patrimônio material e espiritual do país que o acolhe, a obedecer às suas leis e a dar sua contribuição financeira.

O cidadão é obrigado em consciência a não seguir as prescrições das autoridades civis quando estes preceitos são contrários às exigências da ordem moral, aos direitos fundamentais das pessoas ou aos ensinamentos do Evangelho. A recusa de obediência às autoridades civis, quando suas exigências são contrárias às da reta consciência, funda-se na distinção entre o serviço a Deus e o serviço à comunidade política. “Dai a César o que é de César e a Deus o que é de Deus” (Mt 22, 21). “É preciso obedecer antes a Deus que aos homens” (At 5, 29):

Se a autoridade pública, exorbitando de sua competência, oprimir os cidadãos, estes não recusem o que é objetivamente exigido pelo bem comum; contudo, é lícito defenderem os seus direitos e os de seus concidadãos contra os abusos do poder, guardados os limites traçados pela lei natural e pela lei evangélica.

A resistência à opressão do poder político não recorrerá legitimamente às armas, salvo se ocorrerem conjuntamente as seguintes condições:

1. em caso de violações certas, graves e prolongadas dos direitos fundamentais;

2. depois de ter esgotado todos os outros recursos;

3. sem provocar desordens piores;

4. que haja uma esperança fundada de êxito;

5. se for impossível prever razoavelmente soluções melhores.

 

A COMUNIDADE POLÍTICA E A IGREJA

 

Toda instituição se inspira, ainda que implicitamente, numa visão do homem e de seu destino, da qual deduz os critérios de seus juízos, sua hierarquia de valores, sua linha de conduta. A maior parte das sociedades tem referido suas instituições a uma certa preeminência do homem sobre as coisas. Só a religião divinamente revelada reconheceu claramente em Deus, Criador e Redentor, a origem e o destino do homem. A Igreja convida os poderes políticos a referir seu julgamento e suas decisões a esta inspiração da Verdade sobre Deus e sobre o homem.

 

As sociedades que ignoram esta inspiração ou a recusam em nome de sua independência em relação a Deus são levadas a procurar em si mesmas ou a tomar de uma ideologia os seus referenciais e os seus objetivos e, não admitindo que se defenda um critério objetivo do bem e do mal, arrogam a si, sobre o homem e sobre seu destino, um poder totalitário, declarado ou dissimulado, como mostra a história.

 

A Igreja, que em razão de seu múnus e de sua competência, não se confunde de modo algum com a comunidade política, é ao mesmo tempo sinal e salvaguarda do caráter transcendente da pessoa humana. A Igreja respeita e promove a liberdade política e a responsabilidade dos cidadãos.

Faz parte da missão da Igreja emitir juízo moral também sobre as realidades que dizem respeito à ordem política, quando o exijam os direitos fundamentais da pessoa ou a salvação das almas, empregando todos os recursos – e somente estes – que estão de acordo com o Evangelho e com o bem de todos, conforme a diversidade dos tempos e das situações.

 

 

Pe. Divino Antônio Lopes FP.

Anápolis, 25 de janeiro de 2008

 

Bibliografia

Catecismo da Igreja Católica

Adolfo Tanquerey, Compêndio de Teologia Ascética e Mística

Ricardo Sada e Alfonso Monroy – Curso de Teologia Moral

 

 

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Depois de autorizado, é preciso citar:

Pe. Divino Antônio Lopes FP. “O quarto mandamento da Lei de Deus”

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