A ÁGUA SE TORNOU DOCE

(Ex 15, 25)

 

 

 "Moisés clamou a Deus e Deus lhe mostrou um pedaço de madeira. Moisés o lançou na água, e a água se tornou doce".

 

Moisés fez Israel partir do mar dos Juncos. Eles se dirigiram para o deserto de Sur, e caminharam três dias no deserto sem encontrar água (Ex 15, 22). Mas quando chegaram a Mara não puderam beber da água de Mara, porque era amarga; por isso chamou-se-lhe Mara (amargo, amargura) (Ex 15, 23). O povo murmurou contra Moisés, dizendo: "Que havemos de beber?" (Ex 15, 24). Moisés clamou a Deus e Deus lhe mostrou um pedaço de madeira. Moisés o lançou na água, e a água se tornou doce.

 

Mara (hebr. marah, "amargo"). Lugar mencionado na narração da estada de Israel no deserto (Ex 15, 23-26). O nome se relaciona com a água salobra da fonte de Mara.

 

Assim que o POVO de ISRAEL saiu do Egito, TERRA da ESCRAVIDÃO, DEPAROU-SE com a PRIMEIRA DIFICULDADE: a falta de ÁGUA, que vai repetir-se em outras ocasiões (cfr. Ex 17, 5-6; Nm 20, 7-11).

Quando um católico VIVEU por muito tempo na ESCRAVIDÃO, isto é, no PECADO, servindo o DEMÔNIO, o MUNDO e a CARNE, não pense ele que depois de CONVERTIDO estará LIVRE das TRIBULAÇÕES; com certeza, pelo DESERTO da VIDA ele encontrará muitas "MARAS", isto é, AMARGURAS: "Tu, meu irmão, que abandonaste o pecado e esperas, com razão, que tenham sido perdoadas as tuas culpas, gozas da amizade de Deus; todavia ainda não estás salvo, nem o estarás enquanto não tiveres perseverado até ao fim (Mt 10, 22). Começaste bem e santamente a vida. Agradece mil vezes a Deus; mas adverte que, segundo disse São Bernardo, não é ao que começa que se oferece o prêmio, mas sim, unicamente, ao que persevera. Não basta correr no estádio; mas impende prosseguir até alcançar a coroa, conforme a expressão do apóstolo (1 Cor 9, 24). Lançaste mão do arado: principiaste a viver bem; portanto, agora mais do que nunca, deves recear e tremer. (Fl 2, 12) Por quê? Porque, se retrocederes (o que Deus não permita) e tornares a trilhar o mau caminho, Deus te excluirá do prêmio da glória (Lc 9, 62). Por conseguinte, evita, fortalecido pela graça de Deus, as ocasiões más e perigosas, frequenta os sacramentos, faze cada dia meditação. Serás feliz se assim continuares até que Nosso Senhor Jesus Cristo venha julgar-te (Mt 24, 46). Não esperes, no entanto, que, por teres resolvido servir a Deus, cessem as tentações e não voltem a combater-te. Considera o que diz o Espírito Santo: 'Filho, quando chegas ao serviço de Deus, prepara a tua alma para a tentação' (Eclo 2, 1). Atende que, então, mais que nunca, deves estar prevenido para o combate, porque nossos inimigos, o mundo, o demônio e a carne, agora mais que nunca, se armarão para te atacar e fazer-te perder tudo o que tiveres conquistado. São Dionísio Cartusiano afirma que, quanto mais uma alma se entrega a Deus, com tanto maior empenho e inferno procura arrebatá-la" (Santo Afonso Maria de Ligório, Preparação para a morte, Consideração XXXI, Ponto I).

Diante da PROVAÇÃO, o POVO de ISRAEL impacientou-se e murmurou contra Moisés: "Que havemos de beber?" (Ex 15, 24).   

Moisés clamou a Deus e Deus lhe mostrou um pedaço de madeira. Moisés o lançou na água, e a água se tornou doce: "Não está dito de que planta era a madeira que adoçou a água amarga, mas os Padres reconhecem nela um símbolo da madeira da cruz de Cristo, que alivia as penas desta vida" (PIB).

Católico, esse mundo é um DESERTO onde surgem em nossa frente MUITA "água amarga", isto é, INÚMERAS PROVAÇÕES. Não imitemos o povo de Israel que se impacientou com Moisés, mas ACEITEMOS TUDO por amor a Deus e pelo nosso crescimento espiritual.

Moisés clamou a Deus e Ele atendeu o seu pedido: "Deus lhe mostrou um pedaço de madeira. Moisés o lançou na água, e a água se tornou doce".

Quando surgirem OBSTÁCULOS no nosso caminho, quando encontrarmos "Águas amargas", PEÇAMOS com confiança a ajuda do Senhor, e Ele ordenará que joguemos no "LAGO AMARGO" de nossa vida, o LENHO da paciência.

Católico, lembre-se continuamente de que a TRIBULAÇÃO é para o nosso bem.

Surpreendido pela noite que caía sobre o seu caminho, Santo Ambrósio bateu a uma porta, pedindo hospitalidade. Foi acolhido; conversando com o chefe de família, veio, a saber, que ali nunca chegava a menor tribulação. O Santo ficou espantado e não quis mais demorar-se, nem sequer para dormir, dizendo: "Fujamos daqui, porque a cólera de Deus está sobre esta casa".

Santo Ambrósio tinha toda razão: "Quando não há dores, a alma apega-se aos bens do mundo como se fosse criada só para eles. Quando não há dores, a alma reza pouco ou nada, e quase se persuade de não precisar mais de Deus. Quando não há tribulação, o homem se enche de soberba e ilude-se de ser privilegiado sobre qualquer outro, e despreza os que sofrem e não socorre os que têm necessidade. Quando não há nada em que pensar, as nossas paixões tornam-se mais furiosas, e facilmente nos lançam nos pecados de impureza" (Pe. João Colombo).

  Adolfo Tanquerey escreve: "A paciência é uma virtude cristã que nos faz suportar com igualdade de alma, por amor de Deus e em união com Jesus Cristo, os sofrimentos físicos ou morais" (Compêndio de Teologia Ascética e Mística, 1088).

Todos nós sofremos suficientemente para sermos santos, se o soubermos fazer corajosamente e por motivos sobrenaturais; muitos, porém, não sofrem senão queixando-se, praguejando, amaldiçoando até por vezes a Providência.

Santa Ludvina, por exemplo, esteve doente durante trinta e oito anos; santificou-se nos seus sofrimentos; nisto ela demonstrou e exercitou a paciência. No fim da vida, vieram alguns soldados, insultaram-na e ameaçaram-na, mas ela suportou as afrontas sem alterar-se; nisto demonstrou e exerceu a mansidão.

Santo Afonso Maria de Ligório escreve: "A paciência produz uma obra perfeita". Isso quer dizer que não existe coisa mais agradável a Deus do que sofrer com paciência e paz todas as cruzes por Ele enviadas. É próprio do amor, fazer a pessoa que ama semelhante à pessoa amada. Dizia São Francisco de Sales: 'Todas as chagas do Redentor são outras tantas palavras que nos ensinam como devemos sofrer por Ele. Esta é a sabedoria dos santos, sofrer constantemente por Jesus; assim ficaremos logo santos'. Quem ama o Salvador deseja ser como Ele, pobre, sofredor e desprezado. São João viu todos os santos vestidos de branco, segurando palmas nas mãos. A palma é o símbolo do martírio; mas nem todos os santos foram martirizados. Por que então todos seguram palmas? Responde São Gregório que todos os santos foram mártires ou pela espada ou pela paciência. E acrescenta: 'Nós podemos ser mártires sem a espada, se guardarmos Paciência'. O mérito de uma pessoa que ama Jesus Cristo consiste em amar e sofrer. Eis o que Deus fez Santa Teresa entender: 'Pensa, minha filha, que o mérito consiste no gozar? Não. O mérito consiste em sofrer e amar. Veja minha vida cheia de dores. Acredite, minha filha, aquele que é mais amado por meu Pai recebe dele cruzes maiores; ao sofrimento corresponde o amor. Veja estas minhas chagas, as suas dores nunca chegarão a tanto. Pensar que meu Pai admite alguém na sua amizade sem o sofrimento é um absurdo...' Mas acrescenta Santa Teresa: 'Deus não manda nenhum sofrimento sem pagá-lo imediatamente com algum favor'. São três as principais graças que Jesus faz às pessoas amadas por Ele: a primeira, não pecar; a segunda, que é, maior, o fazer boas obras; a terceira, que é a maior de todas, sofrer por seu amor. Dizia Santa Teresa que quando alguém faz algum bem a Deus, o Senhor lhe paga com alguma cruz. Eis porque os santos agradeciam a Deus ao receberem os sofrimentos. São Luís, Rei da França, falando da escravidão que sofreu na Turquia, diz: 'Eu me alegro e fico muito agradecido a Deus mais pela paciência que me concedeu na minha prisão do que se tivesse conquistado a terra inteira'. Santa Isabel, rainha da Hungria, tendo perdido seu esposo, foi expulsa do lugar onde morava com seu filho. Sem abrigo e abandonada por todos, dirigiu-se a um convento dos franciscanos e mandou cantar um hino de ação de graças a Deus pelo favor que Ele lhe concedia ao fazê-la sofrer por seu amor" (A Prática do amor a Jesus Cristo, Capítulo V).

Santa Catarina de Sena dá-nos três razões para termos paciência: "Para gozardes um dia o prêmio devido pelos sofrimentos, peço que useis as armas da paciência. Mas se vos parece difícil suportar tantas situações adversas, lembrar-vos-ei três coisas que vos ajudarão a ser paciente. Em primeiro lugar, pensai como a vida é breve. Nem do dia de amanhã estais seguro. Além disso, relativamente às dificuldades do passado, nós não mais as sofremos. Resta-nos apenas tolerar o momento presente fugaz. Em segundo lugar, considerai as vantagens do sofrimento. Diz São Paulo (Rm 8, 18) que não há comparação entre as dificuldades presentes e o prêmio da glória. Em terceiro lugar, pensai nos males que sobrevêm aos que padecem na ira e na impaciência: tristezas nesta vida e o castigo eterna na outra. Rogo-vos, irmão caríssimo: Tende paciência!" (Carta 18, 2).

Aceitemos com PACIÊNCIA as dificuldades e provações, e nossa vida se tornará "DOCE": "Persuadamo-nos que neste vale de lágrimas não pode ter a verdadeira paz interior senão quem recebe e abraça com amor os sofrimentos, tendo em vista agradar a Deus" (Santo Afonso Maria de Ligório, A Prática do amor a Jesus Cristo, Capítulo V).

 

 

Pe. Divino Antônio Lopes FP.

Anápolis, 05 de agosto de 2008

 

 

 

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Pe. Divino Antônio Lopes FP. "A água se tornou doce"

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