PARA PASSAR O JORDÃO

(Js 3, 16)

 

 

 "As águas que vinham de cima pararam e formaram uma só massa a uma grande distância, em Adam, cidade que fica ao lado de Sartã; ao passo que as águas que desciam em direção ao mar de Arabá, o mar Salgado, ficaram inteiramente separadas. O povo atravessou defronte de Jericó".

 

 

Ora, quando o povo deixou suas tendas para passar o Jordão, os sacerdotes que levavam a Arca da Aliança estavam à frente do povo (Js 3, 14). Assim que os transportadores da Arca chegaram ao Jordão e que os pés dos sacerdotes que transportavam a Arca se molharam nas bordas das águas - pois o Jordão transborda pelas suas margens durante toda a ceifa (Js 3, 15). "As águas que vinham de cima pararam e formaram uma só massa a uma grande distância, em Adam, cidade que fica ao lado de Sartã; ao passo que as águas que desciam em direção ao mar de Arabá, o mar Salgado, ficaram inteiramente separadas. O povo atravessou defronte de Jericó" (Js 3, 16). Os sacerdotes que transportavam a Arca da Aliança de Deus detiveram-se no seco, no meio do Jordão, enquanto todo o Israel passava pelo seco, até que toda a nação acabou de atravessar o Jordão (Js 3, 17).

 

O Frei Luis Arnaldich escreve: "Destaca o hagiógrafo a grandeza do milagre anotado que era a época da colheita da cevada (março-abril), em cuja estação o rio Jordão transborda pelo descongelamento das neves que cobrem o monte Hermón. As águas interromperam seu curso a uns vinte e cinco quilômetros ao norte de Jericó, formando uma barreira sólida até que todo Israel passasse o Jordão. As águas seguiram seu curso até o mar Morto. Os israelitas não viram o dique ou muro de águas que se formou 'a muita distância' ao norte, em 'Adam, a cidade que está junto a Sartã, disse o texto masorético. A cidade de Adam (1 Rs 7, 46) se identifica com tell el-Damiyeh, a uns vinte e cinco quilômetros ao norte de Jericó, e a dois quilômetros da margem oriental do Jordão, na convergência de Yaboc, onde se encontra hoje a ponte ed-Damiyeh, na estrada de Naplusa a es-Salt. Sartã (1 Rs 4, 12; 7, 46) se identifica com Qam Sartabeh, da parte oriental da montanha de Efraim, que em forma de cunha se adentra na concha jordânica, frente a ed-Damiyeh. Em tempos talmúdicos era este lugar um dos lugares preferidos para anunciar o novilúnio. Esta sentença tradicional tem recebido um contratempo principalmente pelos estudos de N. Glueck, que corrige o texto masorético como segue: 'Desde Adam até a fortaleza (mesad, em vez de missad, lado) de Saetã'. Este último lugar, segundo ele, deve procurar em tell es-Saidiyeh, a dezoito quilômetros ao norte de ed-Damiyeh. A história recorda outras duas ocasiões em que o desmoronamento da parte oriental da montanha de Efraim caiu sobre o leito do rio, interceptando o curso das águas. Tal fenômeno aconteceu, segundo o historiador árabe Nuwairi, na noite de 6 para 7 de dezembro de 1267, na região de ed-Damiyeh. Entretanto isso aconteceu em consequência do desmoronamento da montanha pelas chuvas torrenciais de inverno, a do ano 1927, deveu-se a um terremoto. Que igual fenômeno aconteceu no exato momento em que os israelitas se dispunham a passar o rio Jordão, não o afirma nem nega o texto sagrado. Ainda que fosse assim, não é menos certo que tudo foi previsto, querido e provocado por Deus, com a assistência dos agentes naturais dóceis à sua palavra", e: "O povo guiado por Josué, sucessor de Moisés, revive os prodígios do Êxodo. O autor sagrado narra a passada do Jordão em tom litúrgico e festivo, como se o povo fora em uma grande procissão precedida pela Arca em sua entrada na terra prometida. Acentua deste modo, a ação de Deus na tomada de posse da terra e a alegria do povo ao experimentar sua proximidade. Se a passagem do mar Vermelho foi o momento culminante da libertação da escravidão do Egito, chegada ao fim pelo Senhor; a tomada da terra e a passagem do Jordão, aconteceu graças à proteção divina. Quando saíram do Egito, a presença de Deus se manifestava mediante seu anjo e com a coluna de nuvem que os acompanhava (cfr. Ex 14, 19), agora essa função é desempenhada pela Arca da Aliança, que é prova do compromisso que foi estabelecido entre Deus e o povo" (EUNSA).

 

Católico, para chegar à terra prometida, o povo de Israel teve que atravessar o rio Jordão.  

A nossa VIDA é um "RIO VORAGINOSO"; também nós precisamos atravessá-lo para entrarmos na "terra prometida", isto é, no CÉU.

Infeliz do católico que fica ESTACIONADO à beira do "rio" da VIDA, com medo de enfrentá-lo; esse jamais chegará à "terra prometida", isto é, ao CÉU: "Não há dúvida: quem quiser ganhar sua alma para a vida eterna deve perseverar no bem, sem se assustar com a aspereza das provações" (Pe. Gabriel de Santa Maria Madalena), e: "Sem a perseverança não alcançarás a coroa da glória, que é dada aos verdadeiros lutadores" (Santa Catarina de Sena, Carta 47, 2), e também: "A vida é muito curta para que nós a encurtemos ainda mais com a nossa visão temerosa e mesquinha" (Disraeli), e ainda: "O Céu é a posse de Deus. No céu contempla-se a Deus, adora-se e ama-se a Ele. Mas para chegar ao céu é preciso desprender-se da terra" (Santa Teresa do Andes, Diário 58).

O Pe. João Colombo escreve: "São as águas da labuta cotidiana, são as águas das tribulações que neste mundo se sucedem sem nunca acabar, são as águas das doenças que nos ferem ou aos nossos entes queridos, e da morte que, pouco a pouco, faz um vácuo em torno do nosso pobre coração".

Católico, somos todos PROVADOS aqui na terra, todos sofremos: "É preciso sofrer e todos  têm de sofrer; seja justo ou pecador, cada um deve carregar sua cruz" (Santo Afonso Maria de Ligório, A Prática do amor a Jesus Cristo, Capítulo V).

Não desesperemos diante das "ÁGUAS CAUDALOSAS" do "rio" da VIDA.

Se os soldados e o povo de Josué tiveram a Arca da Aliança, nós católicos temos algo infinitamente maior e mais divino: a Santíssima Eucaristia: "Com a Eucaristia, o homem atravessa seguro a vida, e toca a margem bem-aventurada da terra prometida: o Paraíso" (Pe. João Colombo).

O católico que recebe com frequência a Santíssima Eucaristia, passa pelo "RIO VORAGINOSO" dessa VIDA sem se "AFOGAR" nem ser "ARRASTADO" pelas correntezas.

O Catecismo Romano ensina: "Não se contentem os fiéis de receber o Corpo do Senhor uma única vez cada ano, para se submeterem à determinação do decreto. Persuadam-se, antes, de que é preciso fazer mais vezes a Comunhão Eucarística. Todavia, não se pode dar a todos uma norma determinada, se é mais aconselhável comungar todos os meses, todas as semanas, ou todos os dias. Ainda assim, temos por muito certa a regra de Santo Agostinho: 'Faze por viver de tal modo, que possas comungar todos os dias" (Parte II, Capítulo IV, 58), e: "Mas recomenda vivamente aos fiéis que recebam a Santa Eucaristia nos domingos e dias festivos, ou ainda com maior frequência, até todos os dias" (Catecismo da Igreja Católica, 1389).

 

Católico, a passagem do rio Jordão permanece na tradição da Igreja como uma imagem antecipada do Batismo: "O Batismo é prefigurado na travessia do Jordão, pela qual o povo de Deus recebe o dom da terra prometida à descendência de Abraão, imagem da vida eterna. A promessa desta herança bem-aventurada realiza-se na nova aliança" (Catecismo da Igreja Católica, 1222).                                             

Sobre a travessia do rio Jordão, Orígenes escreve: "No Jordão, a arca da aliança era o guia do povo de Deus. A fileira dos sacerdotes e levitas pára, e as águas, como que em reverência aos ministros de Deus, refreiam seu curso e amontoam-se, abrindo caminho livre para o povo de Deus. Não te admires de que estes fatos, acontecidos com o povo antigo, se refiram a ti, a ti, cristãos, que pelo sacramento do batismo atravessaste o rio Jordão; a palavra divina te promete coisas ainda maiores e mais elevadas; oferece-te a travessia pelos ares. Escuta o que Paulo diz acerca dos justos: 'Seremos arrebatados nas nuvens, ao encontro de Cristo nos ares, e assim estaremos com o Senhor para sempre'. Não há nada que amedronte o justo; todas as criaturas o servem. Ouve ainda como pelo Profeta Deus lhe promete: 'Se passares pelo fogo, a chama não te queimará, porque eu sou o Senhor, teu Deus'. Todo lugar acolhe o justo e toda criatura lhe presta o devido serviço. E não julgues que estas coisas se deram antigamente e que em ti, que as escutas, nada de semelhante acontece; todas se perfazem em ti de modo místico. De fato, tu que, abandonando há pouco as trevas da idolatria, desejas aproximar-te da lei divina, deixas primeiro o Egito. Ao te inscreveres no número dos catecúmenos e começares a obedecer aos preceitos da Igreja, atravessaste o mar Vermelho e, colocado nas paradas do deserto, entregas-te diariamente à audição da lei divina e à contemplação do rosto de Moisés, já sem véu pela glória do Senhor. Se então te achegares à fonte do místico batismo e, na presença dos sacerdotes e levitas, fores iniciado naqueles veneráveis e magníficos mistérios, conhecidos por aqueles a quem de direito, então pelo ministério sacerdotal, passando o Jordão, entrarás na terra prometida; nesta, depois de Moisés, acolher-te-á Jesus e ele próprio se fará teu guia na nova caminhada. Tu, porém, lembrado de tantas e tão grandes maravilhas de Deus: o mar que se dividiu para ti, a água do rio que parou, voltado para eles dirás: 'Que houve, ó mar, por que fugiste? E tu, Jordão, que voltaste para trás? Montes, por que saltais como cabritos e as colinas como cordeirinhos?' A palavra divina responderá: 'Diante da face do Senhor abalou-se a terra, diante da face do Deus de Jacó, que muda pedra em lago e o rochedo em fontes de água" (Das Homilias sobre o livro de Josué).

 

 

Pe. Divino Antônio Lopes FP.

Anápolis, 11 de agosto de 2008

 

 

 

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Pe. Divino Antônio Lopes FP. "Para passar o Jordão"

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