MANDOU MATAR À ESPADA

(At 12, 1-2)

 

“Nessa mesma ocasião o rei Herodes começou a tomar medidas visando a maltratar alguns membros da Igreja. Assim, mandou matar à espada Tiago, irmão de João”.

 

 

 I

DERRAMOU O SANGUE POR CRISTO

 

O rei Herodes é o terceiro príncipe que aparece com este nome no Novo Testamento. Era neto de Herodes, o Grande, que edificou o novo Templo de Jerusalém e ordenou a matança dos inocentes (Mt 2, 16), e sobrinho de Herodes Antipas, tetrarca da Galiléia no tempo da morte do Senhor. Herodes Agripa I tinha sido muito favorecido pelo imperador Calígula, que lhe ampliou gradualmente os territórios sob o seu domínio e lhe permitiu usar o título de rei. Agripa I conseguiu reinar, sobretudo, o que constituiu o reino de seu avô, de modo que a Judéia — regida por governadores romanos até ao ano 41 — voltou a ser parte dos domínios que Roma lhe reconhecia. Era homem refinado e diplomático, dedicado tão intensamente a consolidar o seu poder, que se tinha convertido em mestre da intriga e do oportunismo. Por motivos preferentemente políticos, praticava o Judaísmo com certo rigor.

O martírio de São Tiago, o Maior, deve ter acontecido no ano 42 ou 43. São Tiago é o primeiro mártir entre os doze Apóstolos e o único cuja morte se menciona no Novo Testamento. A Liturgia das Horas diz sobre ele: “Filho de Zebedeu e irmão do apóstolo João, tinha nascido em Betsaida. Foi testemunha dos principais milagres operados pelo Senhor, e morto por Herodes cerca do ano 42. É venerado com culto especial em Compostela (Espanha) onde se ergue a célebre basílica a ele dedicada”, e: “Foi o primeiro dos Apóstolos que morreu por Jesus Cristo, o primeiro  dentre eles que tingiu com o seu sangue a cidade santa. Converteu o seu algoz abraçando-o; e sua morte, dando ocasião à dispersão dos Apóstolos, levou a pregação do Evangelho por toda a terra” (M. Hamon).

São João Crisóstomo escreve: “O Senhor permite esta morte  para fazer ver aos homicidas que estes acontecimentos não fazem os cristãos retroceder nem deter-se” (Hom. sobre Act, 26).

 

II

IMITEMOS A SÃO TIAGO, O MAIOR

 

1. Na  fortaleza. São Tiago, o Maior, não se intimidou diante das ameaças dos inimigos, mas enfrentou a todos com coragem, valentia e fortaleza; ele, Apóstolo do Senhor, derramou o sangue pelo Mestre: “Ostentar o nome de cristão e ser covarde são coisas incompatíveis: ou se deixa de ser cristão ou se deixa de ser covarde. E a coragem, a suave e a forte firmeza da coerência no dia-a-dia, é uma característica que o dom da fortaleza nos comunica” (Dom Rafael Llano Cifuentes).

O dom da fortaleza sustenta-nos nos perigos, nos temores e tentações, e faz-nos triunfar das dificuldades que se opõem à nossa salvação.

O que dizer do católico que foge quando é ameaçado, que treme diante de uma crítica e que se esconde quando é perseguido? É covarde, fraco e medroso: “Todo o medo é uma fraqueza imprópria de um filho de Deus” (Idem).

   

Pedro Riu era um menino de treze anos, filho do mártir Agostinho Riu, da Coréia. Desejoso de imitar a fortaleza do pai, apareceu diante do tribunal e disse:

- Eu também sou cristão.

Levado a juízo, confessou sua fé com ânimo tranquilo, tanto que um dos verdugos, admirado de sua tranquilidade, enterrou-lhe na carne seu cachimbo de metal feito brasa, arrancando-lhe um pedaço de carne.

- Continuarás sendo cristão? – Perguntou-lhe.

- Certamente – respondeu. – Pensas que por isto vou renunciar a Jesus Cristo?

O pagão, cheio de ira, tomou com umas tenazes uma brasa e, com voz ameaçadora, disse-lhe:

- Abre a boca!

- Está aberta – replicou o mártir, abrindo-a quanto podia.

O verdugo ficou um momento atônito, mas logo reagiu e introduziu-lhe na boca o carvão incandescente, retirando-o depois quase apagado.

Catorze vezes foi o menino submetido a essa tortura, recebeu seiscentos açoites; aplicada à parte inferior de seu corpo a uma máquina torturadora, foram-lhe arrancadas às pernas e coxas pedaços de carne, que o pequeno mártir tomava em suas próprias mãos  atirava-os com desprezo ao mandarim. Afinal, morreu estrangulado. Isto aconteceu na perseguição dos Bóxers, em 1900.

 

2. Na  perseverança. São Tiago iniciou bem a sua missão e a levou até o fim; por isso foi coroado no céu: “Nos cristãos não se procura o princípio, mas o fim” (São Jerônimo).

Muitos católicos iniciam bem um trabalho missionário, mas o deixam de lado e fogem apavorados diante de qualquer provação. Quanta moleza!

Para se salvar é preciso perseverar até o fim; infeliz daquele que para na metade do caminho: “Sem perseverança não há salvação. Na perseverança no bem até o fim de nossa vida está o princípio da nossa eterna felicidade” (Pe. Alexandrino Monteiro).

 

3. Na  fidelidade. São Tiago não se vendeu para os perseguidores nem traiu a Cristo Jesus vendo a espada que cortaria o seu pescoço.

Milhares de católicos se vendem, calando a boca, diante das perseguições; e quando se vêem em perigo de morte, abandonam a Santa Igreja Católica e passam a persegui-la furiosamente. Quanta infidelidade!

Católico, caso seja preciso, derramemos todo o nosso sangue, morramos queimados, apodreçamos na prisão... mas jamais traiamos a Jesus, nosso Salvador.

 

O Pe. De Tena, velho e doente que só podia andar com o auxílio de uma bengala por causa do reumatismo, foi levado pelos vermelhos de Madri, em 1936. Estando diante do tribunal, quiseram fazê-lo apostatar. Dizem-lhe:

- Jure que Deus não existe.

- Existe, sim; e as provas são estas. – E começou a aduzir provas da existência de Deus.

Com modos ainda piores urgem com ele para que apostate.

- Como hei de negar a Deus, que neste momento nos está vendo?

Um deles, o chefe, levanta-se bruscamente, encosta-lhe o revólver ao peito e grita:

- Negue que Deus existe ou eu o mato.

- O padre, com dificuldade, pôs-se em pé, e meio apoiado à mesa, disse com voz firme: “Creio em Deus Pai todo-poderoso, Criador do céu e da terra!”

O verdugo, desarmado diante de tanta coragem, larga o revólver na mesa, na qual dá um murro, dizendo:

- Não posso matar este homem.

 

 

 

Pe. Divino Antônio Lopes FP.

Anápolis, 17 de março de 2009

 

 

Bibliografia

                   

Bíblia Sagrada

Dom Rafael Llano Cifuentes, Fortaleza

Edições Theologica

São Jerônimo, Ad Fur.

Terceiro Catecismo da Doutrina Cristã

M. Hamon, Meditações para todos os dias do ano

Pe. Francisco Alves, Tesouro de exemplos

São João Crisóstomo, Escritos

Pe. Alexandrino Monteiro, Raios de Luz

Santo Afonso Maria de Ligório, Preparação para a morte

  

 

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Pe. Divino Antônio Lopes FP. "Mandou matar à espada"

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