ANDEMOS DECENTEMENTE

(Rm 13, 13-14)

 

“Como de dia, andemos decentemente; não em orgias e bebedeiras, nem em devassidão e libertinagem, nem em rixas e ciúmes. Mas vesti-vos do Senhor Jesus Cristo e não procureis satisfazer os desejos da carne”.

 

Católico, considera a graça que Deus te concedeu ao colocar-te lá onde “é dia”; não nas trevas do paganismo, do judaísmo, da heresia... mas na Igreja Católica Apostólica Romana, a ÚNICA fundada por Cristo Jesus: “Amemos o Senhor, nosso Deus! Amemos a Igreja! A ele como nosso pai, a ela como nossa mãe; a ele como Senhor, a ela como escrava do Senhor; pois somos filhos de sua escrava” (Santo Agostinho), e: “Onde está Cristo, ali está a Igreja Católica” (Santo Inácio de Antioquia).

O que você, católico, deve fazer para corresponder a um benefício assim tão grande? Deve comportar-se como se costuma comportar quando é de dia: “Caminhar com honestidade”. É próprio de quem se movimenta de dia o vestir-se distintamente, bem comportado, mantendo modos dignos; e é de dia que se caminha... de noite se tropeça. O teu dever, portanto, é este: “Caminhar com honestidade”. “Honestidade” denota o ornamento da virtude; “caminhar” significa progressão, pois que não se deve nunca parar, mas sempre crescer, de bom para melhor: “No caminho da perfeição, não ir adiante é recuar; e não ir ganhando é ir perdendo” (São João da Cruz).

Como de dia, o católico deve andar decentemente... longe de orgias, das bebedeiras, da devassidão e da libertinagem.

Caminhar sem luz pelas trevas da noite é expor-se a tropeçar e cair com risco da vida. O viandante, a quem a noite surpreendeu no povoado, não prossegue sem luz a sua jornada, porque teme, por causa das trevas, errar o caminho que o conduz à cidade desejada.

Somos caminhantes: de dias e de noites se compõe a nossa vida.

É dia, quando nos ilumina o sol da graça; - é noite, quando o pecado nos envolve nas suas trevas.

É dia, quando nos fulgura a luz da verdade; - é noite, quando o erro nos tolda a inteligência e nos põe no caminho da perdição.

Quem anda de dia, vai bem; quem se põe a caminho de noite e sem luz, expõe-se a não dar um passo que não seja uma queda.

O católico deve estar sempre acordado, andando decentemente, de dia: “Há um sono próprio da alma e outro próprio do corpo (...). O sono da alma consiste em esquecer-se de Deus (...). Pelo contrário, a alma que está desperta compreende por quem foi feita (...). Mas, assim como o que dorme (...). ainda que tenha já nascido o sol e já aqueça o dia, não obstante, ele encontra-se como na noite, porque não está desperto para ver já o dia nascido; assim também alguns, estando presente Cristo e pregada a verdade, acham-se no sono da alma (...). A vossa vida e os vossos costumes devem estar despertos em Cristo para que os percebam outros, os pagãos adormecidos, e comecem a dizer convosco em Cristo: Deus, meu Deus, desde que amanhece estou de vigília por  TI” (Santo Agostinho).

Católico, você cumpre inteiramente este dever?

A você, de dia não são convenientes as obras próprias da noite, como as realizam aqueles que não conhecem a Cristo. Tais obras são de duas espécies; algumas pertencem ao concupiscível: como o comer, beber, dormir de modo imoderado que tantas vezes acompanham muitas horrendas lascívias; outras pertencem ao irascível: como são as lutas que se travam para enriquecer, para avantajar-se, para chegar a um alto posto, ações que nunca estão isentas de competição, que é o mesmo que dizer, nestes casos, inveja por causa do bem dos outros. Examine, católico, se por acaso existe em você algumas destas obras tenebrosas, e faça um ato de humildade, porque todas estas obras: “glutonarias, embriaguez, desonestidades, dissoluções, contendas, emulações”, são tais, que diante de pessoas sábias tornam-se humilhantes, e por isso são realizadas mais à vontade durante a noite: “... deixemos as obra das trevas” (Rm 13, 12).

Católico, no lugar de todas estas obras, você deve se revestir de Jesus Cristo, isto é, de um espírito que foi totalmente contrário a tais obras, como bem facilmente podemos verificar.

Mas, o que significa “revestir-se de Jesus Cristo?” Significa imitá-Lo de tal modo que quem olhe para você reconheça em você Jesus Cristo... seu modo de falar, sua conduta, seu modo de trabalhar... do mesmo modo que no palco certos artistas conseguem personificar de modo maravilhoso outras pessoas, a ponto de se transformarem nelas. Trata-se daquela perfeita imitação à qual pelo menos você deve aspirar: “revestir-se”, conforme a expressão hebraica, não é simplesmente cobrir-se, mas sim, cobrir-se com abundância, investir, penetrar: “O espírito do Senhor apoderou-se de Gedeão” (Jz 6, 34), e: “O espírito de Deus, pois, revestiu o sumo sacerdote Zacarias” (2 Cr 24, 20), e também: “Revestiram-se os teus sacerdotes de justiça” (Sl 131, 9). Você deverá, portanto, imitar a Jesus Cristo de tal modo a “revestir-se d’Ele”, isto é, até chegar a imitá-Lo com uma total transformação.

A necessidade de converter-se a uma vida nova é sempre uma exigência para as almas que pelo Batismo se incorporam à Igreja. Deus serve-se às vezes da Escritura Santa para despertar os homens do seu letargo espiritual. Concretamente, o Senhor valeu-se destas palavras inspiradas que, ferindo o coração de Santo Agostinho, o levaram a dar o último passo para romper as ataduras da carne. Assim descreve este fato crucial na sua vida: “Sentia-me ainda cativo das minhas iniquidades e recriminava-me dizendo-me: até quando vou continuar a dizer: Amanhã! Amanhã!? Por que não hoje? Por que não por fim às minhas torpezas neste mesmo momento? (...). De repente ouvi uma voz que repetia muitas vezes: ‘Toma e lê, toma e lê’ (...). Levantei-me (...) e voltei ao lugar onde tinha deixado o códice do Apóstolo. Tomei-o, pois; abri-o e li em silêncio o primeiro capítulo que se me deparou”. Depois de transcrever as palavras destes versículos, acrescenta: “Não quis ler mais, nem era necessário também, pois de repente decidi-me e, como se o meu coração tivesse ficado iluminado por uma luz clara, dissiparam-se todas as trevas das minhas dúvidas”.

 

Pe. Divino Antônio Lopes FP.

Anápolis, 30 de agosto de 2010

 

 

Bibliografia

 

Sagrada Escritura

Pe. Alexandrino Monteiro, Raios de Luz

Santo Inácio de Antioquia, Escritos

São João da Cruz, Subida do Monte Carmelo, Livro I, cap. XI, 5

Santo Agostinho, Enarrationes in Psalmos, 62, 4; Confissões, VIII, 12, 28-29

Edições Theologica

 

 

 

 

 

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