CRISTO JESUS SUPORTOU A CRUZ

(Hb 12, 2)

 

“... com os olhos fixos naquele que é o autor e realizador da fé, Jesus, que, em vez da alegria que lhe foi proposta, suportou a cruz, desprezando a vergonha, esse assentou à direita do trono de Deus”.

 

Para entrar no Céu é preciso seguir a Deus sem se distrair... com os olhos fixos na Luz Eterna chegaremos ao porto desejado. Quem caminha unido ao Senhor permanecerá de pé diante das tempestades furiosas: “Sobrevêm muitas ondas e fortes procelas; mas não tememos afundar, pois estamos firmes sobre a pedra. Enfureça-se o mar, não tem forças para dissolver a pedra; ergam-se as vagas, não podem submergir o navio de Cristo... Cristo comigo, a quem temerei? Mesmo que as ondas se agitem contra mim, mesmo os mares, mesmo o furor dos príncipes: tudo isto me é mais desprezível que uma aranha” (São João Crisóstomo).

Aquele que deixa de olhar para Jesus Cristo para fixar os olhos nas coisas caducas desse mundo cairá no abismo, porque longe de Deus a alma se obscurece: “... a alma, sem a presença de seu Deus e dos anjos que nela jubilavam, cobre-se com as trevas do pecado, de sentimentos vergonhosos e de completa ignomínia” (São Macário).

O cristão há de fixar o seu olhar em Jesus, como o atleta que, uma vez começada a carreira, não se deixa distrair por nada que seja alheio ao seu propósito de chegar à meta: “Se te queres salvar olha para o rosto do teu Cristo. Ele é iniciador da fé num duplo sentido. Primeiro, ao ensiná-la com a sua pregação, e depois porque a imprime no coração. Ele é também por um duplo motivo a consumação da fé, porque a confirma com os seus milagres e porque a premia” (Santo Tomás de Aquino).

Ao chamar a Cristo “iniciador” da fé, refere-se a que Nosso Senhor mostrou aos cristãos o caminho que devem seguir. Ele é o capitão e guia de todos os fiéis. Ele é o campeão que corre à frente e abre caminho, marcando o ritmo.

Cristo é o “iniciador” da fé, é a causa da nossa fé, é o primeiro objeto que cremos e, como autor da graça, quem infunde em nós essa virtude. Talvez, o título de “iniciador” indique também que Cristo é para o cristão – e para o cosmos – princípio e fim, alfa e ômega (cfr. Ap 1, 17; 2, 8; 22, 13). No mesmo sentido, Jesus é “consumador” da fé, já que nos levará à perfeição na nossa fé e a transformará na perfeição da glória. Coroará em nós a sua mesma obra, visto que se cremos, é porque Ele nos move a crer, e se somos glorificados é porque Ele nos ajudou a permanecermos fiéis até ao fim.

O exemplo de Cristo é perfeito durante toda a sua vida e sobressai especialmente na Paixão: “Na Paixão de Cristo há que considerar três coisas: em primeiro lugar, o que evitou, a seguir o que sofreu, e em terceiro lugar o que mereceu. Quanto ao primeiro, diz que deixou de lado ‘o gozo que lhe era oferecido’, ou seja, o gozo ou a felicidade daqui da terra, como quando O buscava a multidão para O fazer rei e Ele fugiu para o monte desprezando essa honra (...). Ou então, porque desejando a felicidade da vida eterna como prêmio ‘suportou a cruz’. E esta é a segunda coisa, ou seja, que sofreu na cruz. Nisto torna manifesta a crueza da dor, porque foi cravado pelas mãos e os pés, e a baixeza e o opróbrio desta morte, porque era uma morte ignominiosa (...). A terceira coisa, ou seja, o que mereceu, é estar sentado à direita do Pai. Assim que a exaltação da humanidade de Cristo foi o prêmio da sua paixão” (Santo Tomás de Aquino).

Cristo é iniciador da fé na sua morte de cruz, e consumador dela na sua glorificação. Só aqueles que participam dos padecimentos do Senhor serão glorificados com Ele (cfr. Rm 6, 8). A vida cristã começa e culmina em Cristo.

Qualquer sofrimento de Cristo teria bastado para a nossa redenção. Mas o Senhor aceitou por amor a morte ignominiosa da cruz: “Sem morrer nem sofrer, ele bem podia salvar-nos, é o que mais se admira. Mas não! Escolheu uma vida de aflições e desprezos e uma morte cruel e vergonhosa. Morreu numa cruz destinada aos criminosos... Podendo remir-nos sem sofrer, por que desejou escolher a morte de cruz? Para nos mostrar seu amor” (Santo Afonso Maria de Ligório).

 

Pe. Divino Antônio Lopes FP.

Anápolis, 06 de junho de 2012

 

Bibliografia

 

Sagrada Escritura

Edições Theologica

Santo Tomás de Aquino, Comentário sobre Hebreus, ad loc.

Santo Agostinho, Epístola 194, 5, 19

Santo Afonso Maria de Ligório, A prática do amor a Jesus Cristo

São João Crisóstomo, Homilias

São Macário, Escritos

 

 

 

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Pe. Divino Antônio Lopes FP. “Cristo Jesus suportou a cruz”

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