DEUS AMOROSO! DEUS EXIGENTE!

(Mt 16, 24)

 

“Se alguém quer vir após mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me”.

 

Jesus Cristo não obriga ninguém a segui-Lo: “Ninguém é forçado, mas também ninguém é excluído de seguir a Jesus Cristo. Para segui-Lo de fato, é necessário querer seriamente; o mero desejo é de todo insuficiente. Deves renunciar não só às coisas ilícitas e perigosas, mas também ao próprio juízo, às desordenadas inclinações e à própria vontade. É este o primeiro passo para a perfeição”.

Será que já fizemos algum progresso? Será que já esvaziamos o nosso coração de tudo aquilo que não agrada a Deus?

Sabemos que tudo passa nesse mundo... tudo acaba... tudo morre. É grande estupidez conservar no coração aquilo que atrapalha a nossa união com Deus... aquilo que obstaculiza a nossa caminhada para o céu.

“Negue-se a si mesmo”. E negar-se a si mesmo o que é? É dizer “não” aos gostos e inclinações do nosso coração. Negar-se a si mesmo é não guiar-se alguém pelos conselhos de sua natureza depravada, mas pelos ditames da razão alumiada com a luz da fé. Negar-se a si mesmo é não dar ouvido às vozes que do interior se levantam, pedindo prazeres e deleites sensuais e satisfação completa de todos os apetites desordenados (cfr. Pe. Alexandrino Monteiro, Raios de luz).

Santo Agostinho escreve: “Parece dura e pesada a ordem do Senhor; quem quiser segui-lo, tem de renunciar a si mesmo. Mas não é duro nem pesado o que ordena, pois ele próprio nos ajuda a cumprir seu preceito”.

Disse Nosso Senhor: “E tome a sua cruz”. Sob a palavra cruz entendem-se as contrariedades corporais e espirituais.

“Tome a sua cruz”. Eis a condição sem a qual não se pode seguir a Cristo.

A cruz não falta a ninguém; é tomá-la e seguir com ela a Jesus até a morte.

Cruz é tudo que nos contraria ou torna a vida difícil. São as dores do corpo, tédio e agonia da alma, reveses da fortuna, estragos do tempo, prejuízos do inimigo, tudo, enfim, que nos aflige, tudo que nos arranca lágrimas e amargura o coração.

Devemos abraçar essas cruzes com alegria, pois são mimos com que Deus nos visita.

“Tome a tua cruz” – nos diz a todos Jesus Cristo – porque o discípulo não é mais que seu mestre, nem o servo mais que seu senhor; porque se foi necessário que Jesus a carregasse para entrar na sua glória, muito mais nos é necessário a nós levá-la para podermos entrar numa glória, que só o combate nos fará merecer.

Seguir a Cristo levando com Ele a nossa cruz, é preciso para salvar a nossa alma.

A salvação é o maior dos bens, a posse do mundo inteiro é nada em sua comparação; é um bem cuja perda não se pode reparar.

Por outro caminho, não salvaremos a nossa alma, se não estivermos prontos a sacrificar, através da cruz, a vida temporal. Quem, para salvar a vida temporal, nega a Cristo, perde a vida da alma; e quem sacrifica a vida temporal por Cristo, alcança a vida eterna – a salvação da alma.

Tomemos, pois, a cruz, porque nela está a salvação e a vida, a felicidade e a glória eterna (cfr. Pe. Alexandrino Monteiro, Raios de luz).

Santo Agostinho escreve: “Que significa: Tome a sua cruz? Quer dizer: suporte tudo o que custa, e então me siga. Na verdade, quem começar a seguir meus exemplos e preceitos, encontrará muitos que o criticam, que o impeçam, que tentem dissuadi-lo, mesmo entre os que parecem discípulos de Cristo. Andavam com Cristo os que proibiam os cegos de clamar por ele. Tu, portanto, no meio de ameaças, de carinhos ou proibições, sejam quais forem, se quiseres seguir a Cristo, transforma tudo em cruz: suporta, carrega e não sucumbas!”

O Frei Pedro Sinzig escreve: “Tomarás a cruz, se aceitares com paciência e resignação todos os sofrimentos, que venham diretamente de Deus, quer por intermédio dos homens ou das circunstâncias. Isto não quer dizer que não possas reagir nunca, dentro de certos limites, contra uma injustiça. Deves, porém, saber que nada faz sem que Deus o permita e reserve prêmio e castigo para mais tarde. O que não terias negado a Jesus, se tivesse estado no Calvário, não Lho negues agora”.

Disse Jesus Cristo: “E siga-me”. Sigamos-Lhe como o soldado segue o oficial, o filho ao pai... perseverante assim até a morte.

“E siga-me!” Seguir a Cristo é acompanhá-Lo por onde quer que Ele vá, ou seja para o Tabor, ou seja para o Calvário, ou seja pelo caminho desafogado dos mandamentos, ou pelo estreito dos conselhos.

Seguir a Cristo é ser cristão; o que segue a Cristo é de Cristo; o que segue o mundo é do mundo; porém, seguir a Cristo é seguir a verdade, seguir o mundo é seguir o erro! Em seguir a Cristo está a felicidade.

Mas para seguir a Cristo, para ser seu discípulo, é necessário viver a sua vida e estar animado do seu Espírito: Se alguém não tem o espírito de Cristo, diz São Paulo, este não é d’ele (Rm 8,9).

Se não seguirmos a Cristo, não nos confessamos seus discípulos. Mas quem se envergonha de ser discípulo de Jesus, verá que também Jesus se envergonhará d’Ele diante de seu Pai.

Sigamos, pois, a Cristo. Enquanto O seguirmos, vamos pelo caminho do céu. Se fugirmos da cruz, fugimos de Cristo; porque não se encontra a Cristo sem cruz!

Se o caminho do Calvário nos assusta, animemo-nos com as palavras de São Paulo: “Tudo posso naquele que me conforta!” (Fl 4,13).

É impossível ser amigo de Jesus Cristo vivendo na mordomia, no comodismo e no egoísmo: “O cristão que se poupa, que calcula para dar a Deus o mínimo indispensável, de modo a não lhe ser traidor, que vive procurando antes fugir da cruz que carregá-la, antes defender-se que renunciar-se, antes salvar a própria vida que sacrificá-la, não é discípulo de Cristo. Se não nos é dado testemunhar nosso amor e nossa fé com o martírio do sangue, devemos, todavia, testemunhá-los abraçando com generoso coração todos os deveres que o seguimento de Cristo impõe, sem recuar perante o sacrifício” (Pe. Gabriel de Santa Maria Madalena).

 

Pe. Divino Antônio Lopes FP.

Anápolis, 03 de janeiro de 2013

 

 

 

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Pe. Divino Antônio Lopes FP. “Deus amoroso! Deus exigente!”

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