O ESPÍRITO SANTO NOS APÓSTOLOS E EM NÓS

(At 1, 5)

 

“Pois João batizou com água, mas vós sereis batizados com o Espírito Santo dentro de poucos dias”.

 

“João batizou com água”. O batismo de João era simples rito exterior de penitência, rito que não conferia a graça do ESPÍRITO SANTO. Os Apóstolos já haviam recebido de Jesus aquela graça, no batismo (Jo 3, 22-26), e depois da ressurreição (Jo 20, 22); mas deviam recebê-la mais copiosamente em Pentecostes, como num batismo renovado e mais solene, do ESPÍRITO SANTO.

A EFUSÃO do ESPÍRITO SANTO se põe em paralelo com o batismo de São João Batista. As águas de São João Batista representam os dons do ESPÍRITO e sua FORÇA, dentro da qual vão ficar submergidos os Apóstolos.

“... sereis batizados com o Espírito Santo”. Com razão se chamou o livro dos Atos dos Apóstolos de o Evangelho do Espírito Santo. Quase não há uma página dos Atos dos Apóstolos em que se não fale d’Ele e da ação pela qual guia, dirige e anima a vida e as obras da primitiva comunidade cristã. É Ele que inspira a pregação de São Pedro (cfr At 4, 8), que confirma na fé os discípulos (cfr At 4, 31), que sela com a sua presença o chamamento dirigido aos gentios (cfr At 10, 44-47), que envia Saulo e Barnabé para terras distantes, a fim de abrirem novos caminhos à doutrina de Jesus Cristo (cfr At 13, 2-4). Numa palavra, a sua presença e a sua atuação dominam tudo.

 

FOI UM VERDADEIRO BATISMO DE FOGO ARDENTE

 

No dia de Pentecostes cumpriu-se nos Apóstolos a promessa do Redentor: “Vós sereis batizados no Espírito Santo” (At 1, 5). Foi um verdadeiro batismo de fogo ardente como o significaram as línguas de fogo que desceram sobre cada um dos Apóstolos: “Repletos do Espírito Santo” (At 2, 4), antes homens fracos  e pecadores, de um momento para outro, foram eles elevados a uma perfeição superior à de todos os santos, foram purificados das manchas do pecado e livres de suas penas; livres de afetos desordenados e inclinações más, experimentaram uma união tão íntima com  Deus, que seus corações ardiam no mais puro e ardente amor. Numa palavra: de homens terrestres que aram, foram transformados em homens celestes.

Ao mesmo tempo outra promessa do Redentor teve seu cumprimento: “Quando vier aquele Espírito da verdade, ensinar-vos-á toda a verdade” (Jo 16, 13). Esses mesmos Apóstolos de que Jesus Cristo, apesar de sua grande bondade e paciência, se queixasse por causa de tão pouca compreensão que neles descobria; esses mesmos Apóstolos que não compreendiam os mais simples ensinamentos do Divino Mestre e tudo interpretavam no sentido material, quando o deviam tomar no sentido espiritual; esses mesmos Apóstolos foram iluminados pelo ESPÍRITO SANTO de tal maneira, que sem estudo e sem o mínimo esforço, adquiriram uma ciência tão perfeita das verdades reveladas, como a nenhum homem foi dado ser igual. Prova disto é a eloquência, a precisão e profundidade com que eles, pescadores incultos e iletrados que eram, falam e escrevem; a exatidão e a justiça com que aplicam e interpretam os passos mais difíceis dos livros santos.

Cumpriu-se ainda esta outra promessa do Redentor: “Quando, porém, vier o Consolador, o espírito da verdade que procede do Pai, que eu vos enviarei do Pai, ele dará testemunho de mim. E também vós dareis testemunho, porque estais comigo desde o princípio” (Jo 15, 25-27). “Recebereis a virtude do Espírito Santo que descerá sobre vós, e sereis minhas testemunhas em Jerusalém, em toda a Judéia e Samaria, e até as extremidades da terra” (At 1, 8). Esses mesmos Apóstolos que na ocasião da Paixão covardemente fugiram, deixando seu Divino Mestre entregue aos seus ferozes inimigos; esses Apóstolos, dos quais o mais corajoso deixou-se intimidar pela garrulice (tagarelice) de uma criada, e negou seu Divino Mestre; esses Apóstolos, repentinamente são tomados de um zelo ardente, de converter o mundo inteiro e de levar o Evangelho para toda a parte, desprezando perigos, sujeitando-se a toda sorte de sofrimento, sentindo-se felizes em poderem sofrer vexames por amor a Jesus Cristo, e por amor de Jesus encontraram eles o triunfo do martírio. Era o Paráclito, o ESPÍRITO CONSOLADOR que lhes comunicava uma alegria antes nunca experimentada: o prazer inefável de sofrer com Cristo, de com Cristo serem glorificados.

O ESPÍRITO SANTO opera em seus fiéis as mesmas maravilhas que operou nos Apóstolos, santificando-os, iluminando-os e fazendo-os fortes e invencíveis.

O ESPÍRITO SANTO santificou-nos descendo pela primeira vez em nossa alma no santo Batismo, fazendo-nos filhos de Deus. De nossa alma Ele fez seu templo no qual habita com a sua graça. Esta permanência do ESPÍRITO SANTO em nós, que não na essência, mas somente no grão difere daquela que constitui a felicidade dos Santos no céu, se bem que seja obra da Santíssima Trindade (Jo 14, 23), não obstante, é atribuída de um modo particular ao ESPÍRITO SANTO, cujo caráter pessoal é a caridade e por isso é que não pode residir senão na alma do justo. O ESPÍRITO SANTO dá ao justo os sete dons que o torna dócil às divinas inspirações, e que o conservam fiel à graça e à prática das virtudes.

O ESPÍRITO SANTO ilumina e abre o imenso horizonte das verdades sobrenaturais à nossa inteligência, que, oprimida pelo peso da matéria, em vão procuraria afastar as trevas que a rodeiam. O ESPÍRITO SANTO eleva a alma simples e ignorante ao conhecimento maravilhoso das coisas espirituais. Não só no dia de Pentecostes, mas em todos os tempos da Igreja verificaram-se as palavras do Profeta: Eu derramarei o meu espírito sobre toda a carne; e vossos filhos e vossas filhas profetizarão: os vossos velhos serão instruídos por sonhos e os vossos jovens terão visões. Não há de se admirar: “Quando o Espírito do Senhor se apoderar de ti, tu profetizarás e ficarás mudado em outro homem” (1 Sm 10, 6). O Espírito do Senhor, afugentando as trevas e iluminando-nos com sua luz, comunica à nossa inteligência a inteligência do próprio Jesus Cristo.

Quando por obra do ESPÍRITO SANTO possuirmos “a caridade de Cristo que excede todo o entendimento” e compreendermos qual seja a largura, o comprimento, a altura e profundidade (Ef 3, 18), nela acharemos uma fonte indeficiente (inextinguível, que não padece falta) de consolações e de recursos sem fim. O que faltava à nossa pobre natureza será compensado pela onipotência  de Deus; cumprir-se-ão em nós as promessas divinas, sendo, pois, o ESPÍRITO SANTO, o Paráclito, que dá vigor à vida, e o que parecia impossível à nossa condição natural, Ele o realizará pela sua graça.

 

Oração

 

Espírito Santo, concedei-me o dom do conselho tão necessário em tantos passos melindrosos da vida, para que sempre escolha o que vos agrade, siga em tudo a vossa divina graça e, com bons e caridosos conselhos, socorra ao próximo. Amém.

 

Pe. Divino Antônio Lopes FP (C)

Anápolis, 25 de junho de 2014

 

 

Bibliografia

 

Sagrada Escritura

Pe. Juan Leal, A Sagrada Escritura

São Josemaría Escrivá, Cristo que passa, n.º 127

Pe. João Batista Lehmann, Euntes... Praedicate!

São Bernardo de Claraval, Escritos

Santo Tomás de Aquino, Suma Teológica, p. 3, q. 38, 6, 2

Frei Ambrósio Johanning, Alimento da alma devota, ano de 1910

Edições Theologica

Bíblia Sagrada, Pontifício Instituto Bíblico de Roma

 

 

 

 

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Pe. Divino Antônio Lopes FP. “O Espírito Santo nos Apóstolos e em nós”

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