PROPÓSITO DE NUNCA MAIS PECAR

(Lc 15, 18)

 

“Vou-me embora, procurar o meu pai”.

 

1. QUE É O PROPÓSITO?

 

O propósito consiste em uma vontade determinada de nunca mais cometer o pecado, e de empregar todos os meios necessários para evitá-lo.

Para ser um bom propósito, esta resolução dever ter principalmente três condições: deve ser absoluta, universal e eficaz.

O bom propósito deve ser absoluto: Quer dizer que o propósito deve ser sem condição alguma de tempo, de lugar ou de pessoas.

O bom propósito deve ser universal: Quer dizer que devemos ter a vontade de evitar todos os pecados mortais, tanto os que já tenhamos cometido no passado como os que poderíamos cometer ainda.

O bom propósito deve ser eficaz: Quer dizer que é necessário termos uma vontade decidida de perder todas as coisas antes que cometer um novo pecado, de fugir das ocasiões perigosas de pecar, de destruir os maus hábitos e de satisfazer a todas as obrigações lícitas contraídas em consequência dos nossos pecados.

O Catecismo da Igreja Católica ensina: “O movimento de volta a Deus, chamado conversão e arrependimento, implica uma dor e uma aversão aos pecados cometidos e o firme propósito de não mais pecar no futuro. A conversão atinge, portanto, o passado e o futuro; nutre-se da esperança na misericórdia divina”.

 

2. NATUREZA E NECESSIDADE DO FIRME PROPÓSITO

 

O firme propósito, muito diferente dessas veleidades (vontade imperfeita), de que o inferno está cheio, desses desejos estéreis, que nos deixam sempre os mesmos, é uma decisão enérgica, uma resolução tomada de mudar de vida, por mais que isso custe, de ser para o futuro solidamente virtuosos, ainda que seja necessário constrangermo-nos e sacrificar muitas repugnâncias. A alma, depois desse firme propósito, não diz: “Eu bem quisera não recair”; mas diz com energia: “Assim o quero; é uma resolução formal; se fosse a recomeçar, preferiria perder tudo, sofrer tudo, a cometer o pecado de que me tornei culpada”. É finalmente uma deliberação, como a que toma um homem do mundo, de não fazer certa coisa que arriscaria a sua fortuna, a sua honra, a sua liberdade e a sua vida. Assim compreendido, o firme propósito é inerente à contrição e confunde-se com ela, pois que o pesar do passado encerra necessariamente a vontade de fazer o contrário. Os motivos de uma são essencialmente os motivos do outro, de sorte que sem firme propósito não pode haver verdadeira contrição, por conseguinte nem sacramento, nem justificação. Deus não pode perdoar o pecado senão quando se está resolvido a não recair, e seria fazer-lhe uma nova ofensa, dizer-lhe: “Acuso e arrependo-me”, quando no fundo do coração se está disposto a renovar o pecado, se se apresentar a ocasião, diz Lactâncio.

Entremos aqui em nós mesmos: quantas confissões, na nossa vida, sem resolução séria, sem decisão tomada de nos corrigirmos; de outra sorte, seríamos sempre os mesmos!

 

3. CARACTERES E SINAIS DO FIRME PROPÓSITO

 

O firme propósito deve, como a contrição, ser: 1.º UNIVERSAL, isto é, estender-se a todos os pecados sem exceção. Com Deus, é tudo ou nada; mas deve aplicar-se principalmente aos pecados habituais, isto é, àqueles a que o coração tem uma afeição que o faz recair facilmente e sem grande resistência, que até o leva a buscar as ocasiões de cometê-los. Está ali o verdadeiro perigo da alma, o lado fraco da praça que temos a defender do Demônio; para esse ponto, por conseguinte, deve tender principalmente o nosso firme propósito. 2.º O firme propósito deve ser SUMO, isto é, superior a todas as inclinações até extingui-las, a todas as dificuldades até vencê-las, se o serviço de Deus o exigir. Deus deve prevalecer a tudo: é este o seu direito. 3.º O firme propósito deve ser PRÁTICO, isto é, descer da resolução geral aos meios de atingir o fim proposto: o primeiro é a oração, canal da graça, sem a qual nada podemos; o segundo é a vigilância sobre o que se diz e se faz, sobre o que se ouve e se vê, sobre os nossos pensamentos, as nossas intenções, as nossas faltas mais frequentes, mormente sobre a nossa paixão dominante; e esta vigilância deve ter por objeto principal separarmo-nos das ocasiões de pecado e castigarmo-nos depois de cada queda. O terceiro meio é a mortificação, única que pode fazer voltar à ordem a nossa má natureza, terminar a sua distração e extinguir a paixão, recusando-lhe o que a lisonjeia. 4.º O firme propósito deve ser PERSEVERANTE. Não vale nada querer o bem por certo tempo; é preciso querê-lo para sempre: “Quem recusa a Deus um só instante de sua vida, não pode agradar-lhe” (São Próspero).

Examinemos se o nosso firme propósito tem esses quatro caracteres.

Monsenhor Cauly escreve: “O firme propósito é a resolução bem decidida de não tornar a cair nos pecados que se tem cometido e que foram confessados com arrependimento. Não é, pois, simples intenção, mero desejo; mas sim, determinação enérgica de não mais pecar. Para ser sincero e verdadeiro, o firme propósito, como a contrição, deve ser: 1. INTERIOR, isto é, no coração e na vontade e não unicamente nos lábios. 2.º UNIVERSAL, isto é, deve abranger todos os pecados mortais sem exceção, especialmente aqueles em que caímos mais facilmente. 3.º SOBERANO, isto é, superior a todos os vínculos, até os partirmos, superior a todas as dificuldades até as vencermos corajosamente. 4.º PRÁTICO, isto é, ter sua aplicação circunstanciada e seus meios de execução; este último sinal será a pedra de toque e real prova da existência verdadeira do firme propósito”.

 

Pe. Divino Antônio Lopes FP (C)

Anápolis, 10 de abril de 201

 

 

Bibliografia

 

Sagrada Escritura

Monsenhor Cauly, Curso de Instrução Religiosa

São Pio X, Catecismo Maior

M. Hamon, Meditações para todos os dias do ano

Lactâncio, Escritos

São Próspero, Escritos

Catecismo da Igreja Católica, 1490

 

 

 

 

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Pe. Divino Antônio Lopes FP. “Propósito de nunca mais pecar”

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