ARREPENDER-SE DOS PECADOS

(Lc 15, 17)

 

“Quantos empregados de meu pai têm pão com fartura, e eu aqui, morrendo de fome!”

 

Que é a Contrição? Contrição (do vocábulo latim conterere, contritum, que significa esmagar) é uma DOR de ter ofendido a Deus, com propósito firme de não o ofender mais para o futuro. Segundo a etimologia, Contrição é, pois, um como esmagamento do coração, prostrado pela impressão de uma DOR muito viva de ter magoado a Deus pelo pecado: “Sempre a Contrição tem sido necessária para se alcançar o perdão dos pecados. É ela que prepara o homem caído depois do Batismo a receber o perdão” (Concílio de Trento). E, com efeito, quem haveria de perdoar àquele que o tivesse ofendido e não manifestasse arrependimento algum? Pode acontecer que Deus perdoe os pecados sem a Confissão quando esta é impossível; mas não pode perdoá-los sem a Contrição ou a DOR de tê-los cometido.

A Contrição para ser REAL deve abranger a um tempo o PASSADO e o FUTURO. Quanto ao PASSADO, é a DOR de ter ofendido a Deus. Para o FUTURO, é a vontade firme de não o ofender mais; entende-se facilmente que o arrependimento verdadeiro encerra forçosamente a vontade de não pecar mais.

A DOR dos pecados consiste num desgosto e numa detestação sincera da ofensa feita a Deus: “Entre os atos do penitente, a contrição vem em primeiro lugar. Consiste numa dor da alma e detestação do pecado cometido, com a resolução de não mais pecar no futuro” (Catecismo da Igreja Católica; Concílio de Trento).

A DOR é de duas espécies: PERFEITA ou de CONTRIÇÃO; IMPERFEITA ou de ATRIÇÃO: “Quando brota do amor de Deus, amado acima de tudo, a contrição é perfeita (contrição de caridade). Esta contrição perdoa as faltas veniais e obtém também o perdão dos pecados mortais, se incluir a firme resolução de recorrer, quando possível, à confissão sacramental” (Catecismo da Igreja Católica; Concílio de Trento), e: “A contrição chamada imperfeita (ou atrição) também é um dom de Deus, um impulso do Espírito Santo. Nasce da consideração do peso do pecado ou do temor da condenação eterna e de outras penas que ameaçam o pecador (contrição por temor). Este abalo da consciência pode ser o início de uma evolução interior que será concluída sob a ação da graça, pela absolvição sacramental. Por si mesma, porém, a contrição imperfeita não obtém o perdão dos pecados graves, mas predispõe a obtê-lo no sacramento da penitência” (Catecismo da Igreja Católica; Concílio de Trento).

A DOR PERFEITA é o desgosto de ter ofendido a Deus, porque Deus é infinitamente bom e digno, em si mesmo, de ser amado sobre todas as coisas.

Chama-se PERFEITA a DOR de CONTRIÇÃO por duas razões: 1.ª Porque se refere exclusivamente à bondade de Deus, e não ao nosso proveito ou prejuízo. 2.ª Porque nos faz alcançar imediatamente o perdão dos pecados, ficando-nos, porém, a obrigação de nos confessarmos.

A DOR PERFEITA não nos alcança o perdão dos pecados independentemente da confissão, porque sempre inclui a vontade de se confessar.

A DOR IMPERFEITA ou de ATRIÇÃO é aquela pela qual nos arrependemos de ter ofendido a Deus como a nosso supremo Juiz, isto é, por temor dos castigos que merecemos e nos esperam nesta ou na outra vida, ou pela própria fealdade do pecado.

A DOR, para ser boa, deve ter quatro condições: deve ser INTERNA, SOBRENATURAL, SUMA e UNIVERSAL.

DOR INTERNA: Quer dizer que deve estar no coração e na vontade, e não só nas palavras. A DOR deve ser INTERNA porque a vontade, que se afastou de Deus com o pecado, deve voltar para Deus, detestando o pecado cometido.

DOR SOBRENATURAL: Quer dizer que deve ser excitada em nós pela graça do Senhor, e que a devemos conceber levados por motivos que procedem da Fé. A DOR deve ser SOBRENATURAL porque é sobrenatural o fim a que se dirige, isto é, o perdão de Deus, a aquisição da graça santificante e o direito à glória eterna.

A DIFERENÇA entre a DOR SOBRENATURAL e a NATURAL. Quem se arrepende por ter ofendido a Deus infinitamente bom e digno em si mesmo de ser amado, por ter perdido o Paraíso e merecido o inferno, ou então pela malícia intrínseca do pecado, tem DOR SOBRENATURAL, porque estes são os motivos fornecidos pela Fé. Quem, ao contrário, se arrepende só pela desonra ou castigo que lhe vem dos homens, ou por algum prejuízo puramente temporal, teria DOR NATURAL, porque se arrependeria só por motivos humanos.

DOR SUMA: A DOR deve ser SUMA porque devemos considerar e odiar o pecado como o maior de todos os males, uma vez que é ofensa a Deus, o sumo Bem.

Para ter DOR dos pecados não é necessário chorar, como às vezes se chora pelas desgraças desta vida; mas basta que no íntimo do coração se deplore mais o ter ofendido a Deus do que qualquer outra desgraça.

DOR UNIVERSAL: Quer dizer que se deve estender a todos os pecados mortais cometidos; porque quem não se arrepende, ainda que seja de um só pecado mortal, continua sendo inimigo de Deus.

O Monsenhor Cauly também comenta sobre as qualidades da Contrição: “Para ser boa, a Contrição deve ter quatro qualidades: Deve ser: 1.º Interior. 2.º Universal. 3.º Soberana. 4.º Sobrenatural. A) INTERIOR, isto é, a Contrição deve existir realmente no coração e não consistir simplesmente em palavras e sinais exteriores. E de fato, quem cometeu o pecado foi o coração; logo, é do coração igualmente que tem de vir o arrependimento. B) UNIVERSAL, isto é, a Contrição deve compreender quando menos, todos os pecados mortais sem excetuar (fazer exceção) um só. A razão é que a ação do sacramento deve estender-se sobre todos os pecados que constituem sua matéria, e um deles não pode ser perdoado sem o outro. É impossível ser no mesmo tempo amigo e inimigo de Deus e, portanto, quem não tivesse arrependimento nem firme propósito para um pecado, não podia receber o perdão de nenhum. Tendo o penitente só pecado veniais que acusar, deveria ter quando menos a Contrição dos maiores, daqueles que são mais voluntários. C) SOBERANA, isto é, a dor do pecado deve ser maior que qualquer outra tristeza, porque, de fato, o pecado é o maior dos males. Isto não quer dizer que essa dor, para ser verdadeira, se deve externar por gemidos e lágrimas, e ser necessariamente sensível. Mas cumpre ficarmos interiormente mais magoados pela desgraça de termos ofendido a Deus do que por outra qualquer desgraça. D) SOBRENATURAL, isto é, a Contrição não deve basear-se sobre motivos naturais ou humanos, como a perda da reputação, as consequências desastradas que o pecado acarretasse para nossa saúde ou nossa fortuna; mas deve ser sobrenatural de dois modos: 1.º Na ORIGEM. 2.º Nos MOTIVOS. Na ORIGEM: deve vir de Deus, não de nós mesmos e ser excitada em nós pelo Espírito Santo a quem a pedimos. Nos MOTIVOS, isto é, as razões de nosso arrependimento serão aquelas que a fé nos aponta. 1.º A infinita bondade de Deus que o pecado ofende. 2.º Os sofrimentos e a morte de Jesus Cristo na Cruz, causados por nossas faltas. 3.º A perda da graça santificante e do Céu que teria sido a recompensa da nossa santidade, enquanto o pecado no-lo tira e nos torna, pelo contrário, dignos das penas do Inferno, seu justo castigo”.

Para ter DOR dos pecados é preciso pedi-la de todo o coração a Deus e excitá-la no coração com a consideração do grande mal que se fez pecando.

Para excitar a detestar os pecados, considere: 1.º O rigor da infinita justiça de Deus, e a deformidade do pecado que enfeou a alma e que a tornou merecedora das penas eternas do inferno. 2.º Que perdeu a graça, a amizade e a qualidade de filho de Deus e a herança do Paraíso. 3.º Que ofendeu ao Redentor que morreu para salvar o homem, e que os pecados foram a causa da sua morte. 4.º Que desprezou o Criador, o Deus Eterno, que voltou as costas ao sumo Bem, digno de ser amado entre todas as coisas, e servido fielmente.

Quem se confessa deve ter empenho em ter verdadeira DOR dos pecados, porque esta é a coisa mais importante de todas; e, se falta a DOR, a confissão não é válida.

 

Pe. Divino Antônio Lopes FP (C)

Anápolis, 12 de abril de 2016

 

 

Bibliografia

 

Sagrada Escritura

São Pio X, Catecismo Maior

Catecismo da Igreja Católica

Concílio de Trento

Denzinger

Monsenhor Cauly, Curso de Instrução Religiosa

Pe. Leo J. Trese, A fé explicada

M. Hamon, Meditações para todos os dias do ano

 

 

 

 

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Pe. Divino Antônio Lopes FP. “Arrepender-se dos pecados”

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