Instituto Missionário dos Filhos e Filhas da Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo e das Dores de Maria Santíssima

 

09 de Setembro

São Pedro Claver, Missionário Jesuíta

 No dia 21 de Setembro de 1851 o Papa Pio IX fez ao orbe católico a seguinte declaração:

“Cremos que Pedro Claver, o Apóstolo dos negros, o servo dos escravos pretos, é Santo do céu e junto ao Pai intercessor de todos, particularmente daqueles por quem mais se interessou, dos mais pobres entre os pobres escravos negros”.

Este Santo original de Verdu, na Espanha, onde nasceu em 1581, de pais nobres e de excepcionais virtudes, revelou bem cedo um talento extraordinário. Fez os estudos no colégio dos Jesuítas em Barcelona e entrou na Companhia de Jesus em 1602. Feito o noviciado, estudou filosofia num colégio da ilha de Maiorca onde encontrou um excelente mestre da vida espiritual na pessoa do santo Irmão Afonso Rodriguez, o mesmo que mais tarde, em 1825, foi beatificado por Leão XII. Em 1610 Pedro Claver foi mandado pelos superiores como missionário a Cartagena, cidade e porto da Colômbia. Foi providencial essa determinação, que em Pedro Claver deu um Anjo da guarda aos pobres escravos negros, oriundos da África e vendidos na América.

Terminados os estudos teológicos, Pedro Claver ordenou-se, para imediatamente começar a espinhosa missão de Missionário dos escravos.

O semblante rejuvenescia-lhe e radiava de alegria, quando vinha notícia da chegada dum navio portador de negros. E em que estado chegavam! Algemados como criminosos, famintos, esfarrapados e em péssimas condições higiênicas.

Quando um navio atracava no porto, o humilde Jesuíta ia levar a bordo tudo o que a caridade cristã lhe tinha dado para os pobres infelizes: frutas, pão, tabaco, vinho, etc. Se não lhe entendiam a língua, o olhar traduzia-lhe eloqüentemente os sentimentos: sentimentos humanos, cristãos, paternais. A caridade de Pedro Claver falava-lhes uma língua, que nunca de ninguém tinham ouvido, e assim conseguiu abrandar o ódio e a ferocidade, que reinavam nos corações daquelas infelizes criaturas. Para todos era pai, e mãe, principalmente para os doentes, que chegavam em condições simplesmente indescritíveis.

Do navio os escravos eram levados a barracas imundas, insuficientes e mais apropriadas para agasalhar animais do que gente. Lá ficavam os desgraçados sem tratamento, encurralados, famintos, seminus, numa promiscuidade de idade e de sexo, expostos aos olhares curiosos e irreverentes do populacho, até o dia da venda na praça pública.

A imundície, o ar pestilento, o calor, as imprecações de uns, os gemidos de outros, as doenças etc., etc., transformavam em verdadeiro inferno o albergue dos escravos. Era esta a sorte de mais de 12.000 negros africanos que anualmente aportavam em Cartagena, para serem vendidos a patrões brancos. Pedro Claver visitava-os diariamente, levava-lhes roupa, remédios, mantimentos e tudo mais que almas caridosas lhe tinham oferecido para os pobres negros. Por este caminho se lhe abriram de par em par as portas dos corações dos deserdados da humanidade, e fácil lhe era fazê-los conhecer os princípios da doutrina cristã. Numa parede do rancho pendurou um quadro, que representava Jesus morrendo na cruz e um sacerdote que, apanhando num cálice o sangue que corria das sagradas chagas, com o mesmo sangue batizava um negro ajoelhado ao lado. O quadro apresentava mais alguns negros, cujos semblantes traduziam alegria e satisfação, por terem recebido o batismo, ao passo que ainda outros, que não quiseram ser batizados, eram feios e rodeados de maus e nojentos espíritos. Diante desse quadro o incansável missionário ensinava aos negros a fazer o sinal da cruz, rezar o Pai- Nosso, a Ave-Maria e outras orações. Nessas reuniões lhes explicava as verdades da religião, a existência, bondade, misericórdia e justiça de Deus, o amor de Jesus Cristo, sua sagrada Paixão e Morte e preparava-os para a recepção do Batismo. que lhes administrava com a maior solenidade possível.

Só Deus sabe quanta paciência, quantos sacrifícios e quanto heroísmo eram necessários da parte de Pedro Claver, para cristianizar aqueles homens selvagens, brutos, destituídos em grande parte de sentimentos nobres.

A este trabalho Claver dedicou-se durante 40 anos em cumprimento de um voto que fizera. Calcula-se em 350.000 o número de escravos por ele batizados.

Os escravos, por sua vez, tinham-lhe um amor e veneração filiais. Comoventes eram as cenas que se davam, quando os pobres negros, vendidos para outros lugares, se despediam do amado pai e protetor.

O número dos doentes era sempre muito elevado, devido às condições climatéricas do lugar. Cartagena era insalubre, e os filhos da África com isso muito sofriam. A doença que mais os vitimava era a lepra. Aos atacados por esse terrível mal Pedro Claver dispensava um carinho especial. A princípio sua natureza sentia uma repugnância quase invencível por essa doença e suas vítimas. Para vencer o nojo, o santo missionário recorria à penitência mais severa. Castigava a própria carne, zurzindo-a com duras vergastadas e obrigava-se a se mesmo a beijar as asquerosas chagas dos doentes.

Visitando os enfermos, às vezes debaixo de chuva torrencial, respondia aos que lhe aconselhavam mais cuidado: “O pescador não deve ter medo da água”.

A Quaresma era o tempo de grandes penitências para o nosso Santo. Para proporcionar aos escravos ocasião de fazerem a Comunhão da Páscoa, Pedro Claver não media sacrifícios. Semanas havia em que diariamente passava 15 horas no confessionário, e não raras vezes acontecia que, exausto de fadiga, pelos negros fosse levado para a cela.

As semanas posteriores à Páscoa eram destinadas à pregação das missões e à visita aos doentes, dos quais muitos recuperavam a saúde maravilhosamente.

A casa do missionário estava sempre aberta para os queridos filhos. Quando voltavam, cansados dos trabalhos, o santo missionário os recebia sempre com muita amabilidade. Conhecia todos, para todos tinha uma palavra de animação e de conforto. Apresentavam-lhe eles as suas dificuldades, queixas e dúvidas, e não havia quem voltasse para a cabana, sem ter recebido do missionário uma prova de afeto paternal, embora não fosse senão um conselho, um aviso, um rosário ou um santinho.

O dia cheio de fadigas era seguido por uma noite de penitências. Quando todos se tinham retirado para suas cabanas, Pedro Claver entregava-se a exercícios da mais rigorosa penitência, oferecendo-se à justiça divina, como vítima de expiação pelos pecados dos filhos prediletos.

A oração era-lhe a ocupação constante, e noites inteiras passava em oração, aos pés do Santíssimo Sacramento. Muitas vezes foi visto em êxtase, com o corpo envolto em uma luz claríssima. Pedro Claver usava constantemente cilício, dormia no chão, servindo-lhe de travesseiro um toco de pau.

Ao servo de Deus não faltaram cruzes e sofrimentos. O companheiro de viagens, um Irmão, era um homem intratável, que além de possuir um gênio esquisito, nutria uma forte antipatia contra Pedro Claver e disso não fazia segredo. Se Pedro Claver queria sair, o Irmão fazia-se de rogado e só depois de muito pedir punha-se-lhe à disposição; se se tratava de um negócio urgentíssimo, o Irmão inventava mil modos e razões para protelá-lo; se o missionário queria rezar, o companheiro enchia a casa de remoques; se voltava para casa, era uma ladainha de exprobações, vitupérios e indiretas ofensivas. Tudo isso o santo homem sofria com uma paciência angélica, dando graças a De as no íntimo do coração, que se lhe oferecia assim ocasião para fazer penitência pelos pecados.

Grande era a luta com os tanganhães, homens desalmados, que, supondo ter no missionário um inimigo, não raras vezes o insultaram e o ameaçaram com a morte. Pedro Claver, longe de se irritar, respondia-lhes com mansidão, conseguindo assim que lhe concedessem franco acesso junto aos míseros escravos.

O tempo que lhe sobrava do trabalho com os míseros escravos, dedicava-o ainda à cura de almas na cidade cujos habitantes o intitularam “Apóstolo de Cartagena”.

A muitos doentes, desenganados pelos médicos, restituiu a saúde instantaneamente: a cegos deu a vista e ressuscitou três mortos. Grande é o número dos enfermos que, agasalhando-se no manto do Santo, ficaram curados imediatamente.

Durante a peste que grassava em 1650, foi Pedro Claver o primeiro que se ofereceu para tratar dos doentes, e era sempre encontrado nos lugares onde mais perigo havia. Prostrado pela terrível doença, não morreu, mas ficou completamente paralítico, tanto que se tornou impossível a celebração da santa Missa e, não podendo fazer outra coisa, do leito dava absolvição a muitos, que o procuravam para confessar-se. Quatro longos anos durou esse estado de provação, agravado ainda pela incúria dos enfermeiros. Pedro Claver sofreu com a maior conformidade, até o dia da festa da Natividade de Nossa Senhora, no ano de 1654, dia que lhe abriu as portas da eterna glória. Morreu na idade de 73 anos.

Foi beatificado em 1851 por Pio IX. Leão XIII canonizou-o em 1888.

Seu nome é ligado ao Sodalício de São Pedro Claver, obra pontifícia em benefício das Missões da África.

REFLEXÕES

Eis a figura de um grande missionário, como a Igreja Católica bem poucos tem possuído. O exemplo de São Pedro Claver deve animar-nos a excitar também em nós o zelo pelas almas e o desejo de poder fazer alguma coisa pela conversão daqueles que ainda estão nas trevas do pecado e na noite do paganismo. Como filhos que somos da Igreja, devemos tomar interesse vivo na obra da Propagação da Fé, certos de não termos meio mais prático de manifestar nossa gratidão a Deus pela graça da fé que nos deu, sem que para este benefício tivéssemos concorrido com algum merecimento nosso. À Missão católica deve pertencer nossa oração e nossa esmola, se estivermos em condições de prestar a nossa contribuição. Católico não deve haver que não procure alistar-se em uma ou outra obra pontifícia pro-Missões, por exemplo, na Obra da Santa Infância ou na Obra da Propaganda da Fé. São grandes os privilégios de que essas obras gozam. Além dessas vantagens, trabalhar pelas Missões, seja direta ou indiretamente, é uma das maiores obras de caridade da fé cristã que se possa imaginar, cuja recompensa será certa e abundante.