AS LÁGRIMAS DE CRISTO

(Lc 19, 41)

 

"E, como estivesse perto, viu a cidade e chorou sobre ela".

 

 

Jesus Cristo chorou três vezes durante a sua vida. A primeira vez chorou junto à sepultura de Lázaro (Jo 11, 35); e aquelas lágrimas eram silenciosas e denotavam amizade.

A segunda vez chorou sobre Jerusalém, a cidade deicida: e eram lágrimas de verdadeiro e sentido patriotismo, lágrimas provocadas pela grande dor que Jesus experimentava ao pensar no extermínio daquela cidade santa (Lc 19, 41).

A terceira vez chorou Jesus, no Calvário, ao considerar a triste sorte da humanidade pecadora (Hb 5, 7).

Nosso Senhor chorou, mas antes d'Ele, choraram os profetas. O pranto deles era um prenúncio e uma figura do pranto do Filho de Deus, que viria salvar a humanidade.

Era preciso que o Redentor viesse, e era preciso que Ele chorasse sobre os nossos pecados e nos alcançasse o perdão divino.

"E, como estivesse perto, viu a cidade e chorou sobre ela".

O Pe. João Colombo escreve: "Se alguém tivesse ousado interrogar Jesus sobre a razão por que chorava, indubitavelmente tê-lo-ia ouvido responder: "Choro porque os homens pecaram; choro porque os homens não querem acolher o meu amor".

Mas, diante do olhar divino de Jesus não se estendia apenas Jerusalém, mas toda a história do mundo. O Seu pranto não parou apenas sobre os judeus de dura cerviz, mas desceu também sobre nós, que havemos pecado e que não queremos acolher o seu amor".

Nosso Senhor chorou também sobre nós: viu as nossas pobres almas ingratas, e as suas pupilas se encheram de lágrimas.

Chorou sobre a nossa juventude:

Que não quer saber de Sua Doce amizade, mas que corre desesperadamente atrás das máximas do mundo.

Que foge da vida de piedade, mas que está pronta para contar piadas imorais e a perder tempo com a lama do mundo.

Que trilha o caminho da impureza, usando roupas imorais e namorando escandalosamente.

Que afirma não possuir tempo para ler a Sagrada Escritura, mas que tem tempo para olhar revistas pornográficas.

Chorou sobre os homens casados:

Que não participam mais da Santa Missa nem aos domingos e dias santos de guarda, mas encontram tempo para jogarem cartas e passarem horas nas portas dos botecos.

Que vivem no pecado mortal, engordando Satanás em suas almas imortais.

Que vivem a trair as esposas com pecados vergonhosos.

Chorou sobre as mulheres casadas:

Que passam o tempo todo a perambular pelas ruas, sem se preocuparem com a formação espiritual dos filhos.

Que empregam muitas horas para assistirem as novelas pornográficas, e não ensinam os filhos a rezarem nem as mais simples orações.

Que compram ou mandam confeccionar roupas escandalosas para suas filhas, colocando-as desde pequenas, no caminho da perdição.

Que abortam os seus filhos.

Que traem os maridos.

O Pe. João Colombo escreve: "Chorou sobre o nosso orgulho, sobre a nossa ânsia de prazeres e de honras. E Ele humilhou-se tanto e sofreu tão acerbamente! Chorou sobre as nossas vinganças, e Ele morreu proferindo a palavra do perdão. Chorou sobre os nossos maus olhares, sobre os nossos discursos obscenos, sobre os nossos atos baixos e vergonhosos: e Ele era tão santo, tão inocente, acima de qualquer pecado!... Se aos menos ouvíssemos a sua queixa e a meditássemos! Mas, ao contrário, o nosso coração ficou e fica duro a ponto de nunca conhecer o tempo da visita do Salvador. Jesus visita-nos com frequência, passa perto de nós; e nós estamos tão distraídos pelo rumor da terra, que não o percebemos. Visita-nos com as carícias, quando abençoa o trabalho da terra e o trabalho da oficina; e nós não somos nem sequer um pouco agradecidos. Visita-nos pelo remorso da consciência, por uma boa palavra de um amigo, pela frase acerba do pregador: e nós abusamos. Nem mesmo hoje nos convertemos a Ele, hoje em que Ele clama mais à nossa alma, com angústia profunda e com amor desolado: 'Jerusalém, minha cidade, lança para longe o teu manto de ignomínia, abandona as orgias que te seduziram, e volta ao teu Senhor".

Católico, Jerusalém é a imagem da nossa alma.

Não deixemos mais o Senhor chorar sobre ela. Afastemos de nossa vida tudo aquilo que causa desgosto ao Senhor que morreu na cruz para nos salvar.

O Senhor é bondoso e compassivo, mas é também justo: "A misericórdia de Deus é infinita; mas os atos dela, ou seja, os de comiseração, são finitos. Deus é clemente, mas também é justo" (Santo Afonso Maria de Ligório, Preparação para a Morte, Consideração XVII, Ponto I).

Cristo Jesus chorou sobre Jerusalém. Chorou vendo os palácios e o templo que seriam arrasados até o chão, mas, sobretudo chorou vendo o coração de tantos homens repletos, qual um sepulcro, de corrupção e de miséria: "O Senhor explica a razão da Sua dor ao profetizar a destruição da Cidade Santa que Ele tanto amava: não ficará pedra sobre pedra e os seus moradores serão esmagados, profecia que se cumpriu no ano 70, quando Tito arrasou a cidade e destruiu o Templo" (Edições Theologica).

Católico, não seja ingrato e perverso, mas busque o Senhor enquanto é tempo: "Procurai o Senhor enquanto pode ser achado, invocai-o enquanto está perto" (Is 55, 6).

 

Pe. Divino Antônio Lopes FP.

Anápolis, 19 de junho de 2007

 

 

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Pe. Divino Antônio Lopes FP. "As lágrimas de Cristo"

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