...VEM A HORA...

(Jo 5, 28-29)

 

 

"28 Não vos admireis com isto: vem a hora em que todos os que repousam nos sepulcros ouvirão a sua voz 29 e sairão; os que tiverem feito o bem, para uma ressurreição de vida; os que tiverem praticado o mal, para uma ressurreição de julgamento".

 

 

Existem dois Juízos: Juízo Particular logo após a morte: "E como é um fato que os homens devem morrer uma só vez, depois do que vem um julgamento" (Hb 9, 27), e o Juízo Universal no fim do mundo: "Pois o Filho do Homem há de vir na glória do seu Pai, com os seus anjos, e então retribuirá a cada um de acordo com o seu comportamento" (Mt 16, 27).

Santo Afonso Maria de Ligório escreve: "Não há neste mundo, quando bem se considera, pessoa mais desprezada que Nosso Senhor Jesus Cristo. Respeita-se mais a um aldeão que o próprio Deus; porque se teme que esse aldeão, vendo-se injuriado e oprimido, se vingue, movido por violenta cólera. Mas a Deus se ofende e se ultraja sem receio, como se não pudesse castigar quando quisesse (Jó 22,17). Por isso, o Redentor destinou o dia do juízo universal (chamado com razão, na Escritura, o dia do Senhor), no qual Jesus Cristo se fará reconhecer por todos como universal e soberano Senhor de todas as coisas (Sl 9,17). Esse dia não se chama dia de misericórdia e perdão, mas 'dia da ira, da tribulação e da angústia, dia de miséria e calamidade' (Sf 1,15). Nele o Senhor se ressarcirá justamente da honra e da glória que os pecadores quiseram arrebatar-lhe neste mundo" (Preparação para a Morte, Consideração XXV, Ponto I).

Esse trecho de São João 5, 28-29 fala do Juízo Universal: "Não vos admireis com isto: vem a hora em que todos os que repousam nos sepulcros ouvirão a sua voz e sairão; os que tiverem feito o bem, para uma ressurreição de vida; os que tiverem praticado o mal, para uma ressurreição de julgamento".

São Pio X escreve: "O sétimo artigo do Credo ensina-nos que no fim do mundo Jesus Cristo, cheio de glória e de majestade, há de vir do Céu para julgar todos os homens, bons e maus, e para dar a cada um o prêmio ou o castigo que tiver merecido.

Havemos de ser julgados todos no Juízo Universal por várias razões: 1ª. Para glória de Deus; 2ª. Para glória de Jesus Cristo; 3ª. Para glória dos Santos; 4ª. Para confusão dos maus; 5ª. Finalmente, para que o corpo, depois da ressurreição universal, tenha juntamente com a alma a sua sentença de prêmio ou de castigo.

No Juízo Universal há de manifestar-se a glória de Deus, porque todos hão de reconhecer a justiça com que Deus governa o mundo, embora se vejam às vezes os bons sofrendo e os maus em prosperidade.

No Juízo Universal há de manifestar-se a glória de Jesus Cristo porque, tendo Ele sido injustamente condenado pelos homens, aparecerá então à face do mundo inteiro como Juiz supremo de todos.

No Juízo Universal há de manifestar-se a glória dos Santos, porque muitos deles, que morreram desprezados pelos maus, hão de ser glorificados em presença de todos os homens.

No Juízo Universal, a confusão dos maus será enorme, especialmente a daqueles que oprimiram os justos, e a daqueles que, durante a vida, procuraram ser tidos, falsamente, por homens virtuosos e bons, pois verão manifestados, à vista de todo o mundo, todos os pecados que cometeram, ainda os mais ocultos" (Catecismo Maior, Parte I, cap. VIII).

 

Em Jo 5, 28 diz: "Não vos admireis com isto: vem a hora em que todos os que repousam nos sepulcros ouvirão a sua voz".

 

Chegará o último dia do mundo, Terrível cataclismo cairá sobre a terra. Os homens ficarão tomados de pavor e correrão alucinados. A terra será um grande cemitério: "Enfim, uma vez terminado o prazo prefixado pela sabedoria de Deus para a duração do mundo, daqueles inúmeros e vários prodígios e presságios horríveis, que consumarão de temor e tremor os homens ainda vivos, um dilúvio de fogo se alastrará pela terra afora, destruindo tudo, sem que coisa alguma escape às suas chamas devoradoras" (São Francisco de Sales, Filotéia, Parte I, cap. XIV), e: "A vinda do divino Juiz será precedida de maravilhoso fogo do céu (Sl 96, 3), que abrasará a terra e tudo quanto nela exista (2 Pd 3,10). Palácios, templos, cidades, povos e reinos, tudo se reduzirá a um montão de cinzas. É mister purificar pelo fogo esta grande casa, contaminada de pecados. Tal é o fim que terão todas as riquezas, pompas e delícias da terra. Mortos os homens, soará a trombeta e todos ressuscitarão (1Cor 15, 52)" (Santo Afonso Maria de Ligório, Preparação para a Morte, Consideração XXV, Ponto I).

Soará então a trombeta e se ouvirá o chamado: "Levantai-vos, mortos, e vinde ao juízo". A alma de cada homem se unirá ao próprio corpo: "A alma do condenado sentirá renovar-se o seu tormento, e mesmo aumentar, com a recuperação do corpo. Será um padecimento intolerável, acompanhado de muita confusão e vergonha. Quero que entendas quanto se enganam os pecadores neste mundo" (Santa Catarina de Sena, O Diálogo, 14. 3. 3), e: "Quando considero o dia do juízo, estremeço. Parece-me ouvir a terrível trombeta que chama: Levantai-vos, mortos, e vinde ao juízo"(São Jerônimo).

Será o dia mais solene e grandioso da história da humanidade; todos os homens, desde o começo do mundo, estarão reunidos para o juízo: "Depois deste incêndio universal, todos os homens hão de ressuscitar, ao som da trombeta do arcanjo, e comparecerão em juízo todos juntos, no vale de Josafá. Mas - ah - bem diversa será a sua situação: uns terão o corpo revestido de glória e esplendor e outros se horrorizarão de si próprios" (Idem), e: "Assim que os mortos ressuscitarem, farão os anjos que se reúnam todos no vale de Josafá para serem julgados (Jl 3,14) e separarão ali os justos dos réprobos (Mt 13, 49). Os primeiros ficarão à direita; os condenados, à esquerda. Profunda mágoa sente quem se vê separado da sociedade ou da Igreja. Quanto maior será a dor de ver-se banido da companhia dos Santos! Que confusão experimentarão os ímpios, quando, apartados dos justos, se sentirem abandonados! Disse São João Crisóstomo que, se os condenados não tivessem de sofrer outras penas, essa confusão bastaria para dar-lhes os tormentos do inferno. Haverá filhos separados de seus pais; esposos, de suas esposas; amos, de seus servos. (Mt 24,40). Dize-me, meu irmão, em que lugar crês que te acharás então? Queres estar à direita? Abandona, portanto, o caminho que conduz à esquerda.

Neste mundo, têm-se por felizes os príncipes e os ricaços, e se desprezam os Santos, os pobres e os humildes. Ó cristãos fiéis, que amais a Deus, não vos aflijais por viverdes tão atribulados e vilipendiados neste mundo. 'Vossa tristeza se converterá em gozo' (Jo 16, 20). Então verdadeiramente sereis chamados bem-aventurados e tereis a honra de ser admitidos à corte de Cristo. Em que celestial formosura resplandecerá um São Pedro de Alcântara, que foi injuriado como apóstata; um São João de Deus, escarnecido como louco; um São Pedro Celestino, que, renunciando ao Pontificado, morreu num cárcere! Que glória alcançarão tantos mártires entregues outrora à crueza dos verdugos!  Que horrível figura, pelo contrário, fará um Herodes, um Pilatos, um Nero e outros poderosos da terra, condenados para sempre! Ó amigos e cortejadores deste mundo! Ide para o vale, naquele vale vos espero. Ali, sem dúvida, mudareis de parecer; ali, chorareis vossa loucura. Infelizes! Tendes de representar um brevíssimo papel no palco deste mundo e preferis o de réprobos na tragédia do juízo universal! Os eleitos serão colocados à direita, e para maior glória - segundo afirma o Apóstolo - serão elevados aos ares, acima das nuvens, e esperarão com os anjos a Jesus Cristo, que deve descer do céu (1Ts 4,17). Os réprobos, à esquerda, como reses destinadas ao matadouro, aguardarão o Supremo Juiz, que há de tornar pública a condenação de todos os seus inimigos.

Abrem-se, enfim, os céus e aparecem os anjos para assistir ao juízo, trazendo os sinais da Paixão de Cristo, disse Santo Tomás. Singularmente resplandecerá a Santa Cruz. 'E então aparecerá o sinal do Filho do homem no céu; e todos os povos da terra chorarão' (Mt 24,30). 'Como, à vista da cruz, - exclama Cornélio a Lápide - hão de gemer os pecadores que desprezaram sua salvação eterna, que tanto custou ao Filho de Deus'. 'Então - diz São João Crisóstomo - os cravos se queixarão de ti; as chagas contra ti falarão; a cruz de Cristo clamará contra ti'.

Os santos Apóstolos serão assessores deste julgamento e todos aqueles que os imitaram, e com Jesus Cristo julgarão os povos. Ali também assistirá a Rainha dos Anjos e dos homens, Maria Santíssima. Aparecerá, enfim, o Eterno Juiz em luminoso trono de majestade. 'E verão o Filho do homem, que virá nas nuvens do céu, com grande poder e majestade' (Sb 3,7-8). À sua presença chorarão os povos (Mt 24, 30). A presença de Cristo trará aos eleitos inefável consolo, e aos réprobos, aflições maiores que as do próprio inferno - disse São Jerônimo. Dai-me o castigo que quiserdes; mas não me mostreis naquele dia o vosso rosto indignado. São Basílio disse: 'Esta confusão excede toda a pena'. Cumprir-se-á então a profecia de São João: os condenados pedirão às montanhas que caiam sobre eles e os ocultem à vista do Juiz irritado (Ap 6,16)" (Santo Afonso Maria de Ligório, Preparação para a Morte, Consideração XXV, Ponto II).

Em dado momento, aparecerá no céu a Cruz, sinal de nossa redenção. Regozijar-se-ão e aplaudirão os justos. Tremerão os maus.

Aparecerá a Santíssima Virgem que é a Rainha dos Céus e da Terra e a mãe do Juiz. Por último aparecerá Jesus Cristo, "o Filho do homem, na sua Majestade e todos os anjos com Ele, e se sentará sobre o trono" (Mt 25, 31), e: "Considera a majestade com que o soberano Juiz há de aparecer em seu tribunal, cercado de anjos e santos e tendo diante de si, mais brilhante que o sol, a cruz, como sinal de graça para os bons e de vingança para os maus" (São Francisco de Sales, Filotéia, Parte I, cap. XIV), e também: "Por ocasião do juízo final, o Verbo encarnado virá com divina majestade para repreender o mundo. Não mais se apresentará pobrezinho, na forma como nasceu da Virgem numa estrebaria, entre animais, para morrer depois no meio de ladrões. Naquela ocasião, ocultei nele o meu poder e permiti que suportasse penas e dores como homem. A natureza divina se unira à humana e foi enquanto homem que sofreu para reparar vossas culpas. No juízo final, não será assim, pois virá com poder a fim de julgar. As criaturas humanas estremecerão e ele a cada um dará a sentença conforme o merecimento. Tua língua não consegue exprimir o que sucederá aos condenados. Para os bons, Jesus será motivo de temor santo e alegria imensa" (Santa Catarina de Sena, O Diálogo, 14. 3. 3).

Ocupará o posto que lhe corresponde como Rei dos reis e Chefe de todos os chefes de Estado e presidentes que houve na história do mundo.

Vem para que se descubra o que fez cada um: "Segundo grande número de teólogos todos os pecados dos justos serão conhecidos. Deus saberá, no entanto, apresentar as faltas dos justos como hábil alfaiate sabe disfarçar um rasgão numa roupa" (Spirago), e: "Também serão conhecidas as faltas dos justos. De outro modo como se conheceria a correspondência à graça e a grandeza da misericórdia de Deus? Na igreja fala-se do pecado de Davi, da negação de São Pedro, das faltas de Madalena, e nem por isso se lhe rouba parte da sua felicidade no céu" (Deharbe).

Vem para elevar publicamente os bons, premiando a virtude, para confundir em público os maus, castigando seus vícios, suas injustiças e seus pecados.

Em cada alma humana se verá publicamente neste dia o filme da vida que levou. Ali tudo estará a descoberto: o bem e o mal, o oculto e o público. Momentos de vergonha para uns e de alegria para outros.

Os filhos verão as vidas de seus pais, a esposa a do esposo, todos a de todos.

Enviará então Jesus os seus anjos para que separem os bons dos maus, como o pastor separa os cordeiros dos cabritos: "À vista deste sinal e por determinação de Jesus Cristo, separar-se-ão os homens em duas partes: uns se acharão à sua direita e serão os predestinados; outros à sua esquerda e serão os condenados. Separação eterna! Jamais se encontrarão de novo juntos. Então se abrirão os livros misteriosos das consciências: nada ficará oculto. Clara e distintamente há de ver-se nos corações duns e de outros tudo o que fizeram de bom e de mau - as afrontas a Deus e a fidelidade a suas graças, os pecados e a penitência. Ó Deus, que confusão duma parte e que consolação da outra" (Idem), e: "Começará o julgamento, abrindo-se os autos do processo, isto é, as consciências de todos (Dn 7,10). Os primeiros testemunhos contra os réprobos serão do demônio, que dirá - segundo Santo Agostinho: 'Justíssimo juiz, sentencia, que são meus aqueles que não quiseram ser teus'. A própria consciência dos homens os acusará depois (Rm 2, 15). A seguir, darão testemunho, clamando vingança, os lugares em que os pecadores ofenderam a Deus (Hab 2, 11). Virá, enfim, o testemunho do próprio Juiz que esteve presente a quantas ofensas lhe fizeram (Jr 29, 23). Disse São Paulo que naquele momento o Senhor 'porá às claras o que se acha escondido nas trevas' (1Cor 4,5). Descobrirá, então, ante os olhos de todos os homens as culpas dos réprobos, até as mais secretas e vergonhosas que em vida eles ocultaram aos próprios confessores (Na 3, 5). Os pecados dos eleitos, no sentir do Mestre das Sentenças e de outros teólogos, não serão manifestados, mas ficarão encobertos, segundo estas palavras de Davi: 'Bem-aventurados aqueles, cujas iniquidades foram perdoadas, e cujos pecados são apagados' (Sl 31,1). Pelo contrário - disse São Basílio - as culpas dos réprobos serão vistas por todos, ao primeiro relancear dos olhos, como se estivessem representadas num quadro. Exclama Santo Tomás, 'Se no horto de Getsêmani, ao dizer Jesus: Sou eu, caíram por terra todos os soldados que vinham para o prender, que sucederá quando, sentado no seu trono de Juiz, disser aos condenados: 'Aqui estou, sou aquele a quem tanto haveis desprezado!" (Santo Afonso Maria de Ligório, Preparação para a Morte, Consideração XXV, Ponto     III).

O esposo infiel será afastado da esposa fiel, ou vice-versa.

Dirá Jesus aos bons: "Vinde, benditos de meu Pai, possuí o reino que vos está preparado" (Mt 25, 34). Voltando-se aos que tremem, à sua esquerda, lhes dirá: "Apartai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno, que foi preparado para o demônio e para seus anjos" (Mt 25, 41).

Gritarão os condenados: "Insensatos que fomos, julgamos uma loucura e estupidez a vida honrada dos bons... Enganamo-nos no nosso caminho, vivendo na mentira e na ilusão...", e: "Em si mesmo, meu Filho não terá diferenças, pois sendo Deus, é imutável. Ele é uma só coisa comigo. Pela glória da ressurreição, até sua natureza humana não padece mudanças. Mas os condenados não o verão assim. Olha-lo-ão com vista obscurecida e horrível, como lhes é próprio. O olho doentio, mesmo diante do sol, somente vê escuridão, ao passo que o olho sadio vê apenas luz. Não que o sol, em sua luz, transforme-se diante do cego ou daquele que possui bons olhos. O defeito está na cegueira. O mesmo acontece com os condenados. Verão o Ressuscitado em escuridão, na confusão, no ódio. Repito: não por imperfeição da majestade divina, que virá julgar o mundo, mas por causa da própria cegueira. Grande é o ódio dos condenados, pois já não amam o bem. Blasfemam continuamente contra mim! Queres saber por que já não podem desejar o bem? É porque, no fim desta vida, vincula-se o livre arbítrio. Com o cessar do tempo, já não se merece mais. Quem termina esta  existência no pecado  mortal, por direito divino fica para sempre apegado ao ódio, obstinado no mal, a roer-se interiormente. Seus sofrimentos irão aumentando sempre, especialmente por causa das demais pessoas que por sua causa irão para a condenação" (Santa Catarina de Sena, O Diálogo, 14. 3. 3).

Dissolve-se a concentração. "Estes irão para o suplício eterno e os justos para a vida eterna" (Mt 25, 46), e: "Escuta atentamente a sentença formidável que o soberano Juiz pronunciará contra os maus: Ide, malditos, para o fogo eterno, que foi preparado para o diabo e seus anjos. Pondera bem estas palavras, que os hão de esmagar por completo: Ide. Esta palavra já nos está anunciando o abandono completo em que Deus deixará a sua criatura, expulsando-a  de sua presença e não a contando mais no número daqueles que lhe pertencem. Ide, malditos. Ó minha alma, que maldição esta! Ela é universal, pois encerra todos os males, e ela é irrevogável, porque se estende a todos os tempos, por toda a eternidade. Ide, malditos, para o fogo eterno. Considera, ó minha alma, essa eternidade tremenda. Ó eternidade de penas eternas, quão horrível és tu!

Escuta também a sentença que decidirá sobre a sorte feliz dos bons: Vinde, dirá o Juiz. Ah! Esta é a doce palavra de salvação, pela qual o nosso divino Salvador nos há de chamar a si, para receber-nos, bondoso, entre seus braços. Vinde, benditos de meu Pai. Ó bênção preciosa e incomparável, que encerra em si todas as bênçãos! Possui o reino que vos está preparado desde a criação do mundo. Ó meu Deus, que graça! Possuir um reino que nunca terá fim!" (São Francisco de Sales, Filotéia, Parte I, cap. XIV).

Vivamos de tal modo que no fim da vida possamos ouvir a sentença dos bons: "Vinde, benditos de meu Pai, para o Reino que vos está preparado".

 

Em Jo 5, 29 diz: "... e sairão; os que tiverem feito o bem, para uma ressurreição de vida; os que tiverem praticado o mal, para uma ressurreição de julgamento".

 

Santo Tomás de Aquino escreve: "Os bons receberão uma glória, porque os santos terão os seus corpos glorificados por quatro qualidades:

A CLARIDADE. Lê-se: 'Os justos resplandecerão como o sol no reino de seu Pai' (Mt 13, 43).

A IMPASSIBILIDADE. Lê-se: 'É semeado na ignomínia, ressurgirá na glória' (1 Cor 15, 43); e: 'Deus tirará toda lágrima dos seus olhos; não haverá mais morte, nem luto, nem gemidos, nem dor' (Ap 21, 4).

A AGILIDADE. Lê-se: 'Os justos resplandecerão, e passarão pela palha com centelhas' (Sb 3, 7).

A SUTILEZA. Lê-se: 'É semeado no corpo animal que ressurgirá em corpo espiritual' (1 Cor 15, 44). Não se queira entender isso como se todo corpo se transformasse em espírito, mas que estará totalmente submisso ao espírito.

Com referência à condição dos condenados, esta é contrária à dos beatificados, porque aqueles sofrerão a pena eterna. Os seus corpos possuirão quatro qualidades más.

Serão OBSCUROS, conforme se lê: 'Os seus rostos serão como fisionomias inflamadas' (Is 13, 8).

Serão PASSÍVEIS, mas jamais corrompidos, pois arderão para sempre no fogo e nunca serão consumidos. Lê-se: 'Os vermes nunca morrerão nos seus corpos, e o fogo neles nunca se extinguirá' (Is 66, 24).

Serão PESADOS, porque as almas estarão como que acorrentadas. Lê-se: 'Para prender os seus reis com grilhões' (Sl 149, 8).

Finalmente, os corpos e as almas serão, de certo modo CARNAIS. Lê-se: 'Os animais apodrecerão nos seus excrementos' (Jl 1, 17)" (Exposição sobre o Credo).

Santo Afonso Maria de Ligório escreve: "Ao clamor pavoroso dessa voz, descerão do céu as almas gloriosas dos bem-aventurados para se unirem a seus corpos, com que serviram a Deus neste mundo. As almas infelizes dos condenados sairão do inferno e se unirão a seus corpos malditos, que foram instrumentos para ofender a Deus. Que diferença haverá então entre os corpos dos justos e os dos condenados! Os justos aparecerão formosos, cândidos, mais resplandecentes que o sol (Mt 13,43). Feliz aquele que nesta vida soube mortificar sua carne, recusando-lhe os prazeres proibidos, ou que, para melhor refreá-la, como fizeram os Santos, a macerou e lhe negou também os gozos permitidos dos sentidos! Regozijar-se-á, então, de haver vivido assim, como se alegrou São Pedro de Alcântara, que pouco depois de sua morte apareceu a Santa Teresa de Jesus e lhe disse: 'Ó feliz penitência, que tamanha glória me alcançou!' Pelo contrário, os corpos dos réprobos serão disformes, negros e hediondos. Que suplício então para o condenado ter de unir-se a seu corpo! 'Corpo maldito - dirá a alma - foi para te contentar que me perdi!' Responder-lhe-á o corpo: 'E tu, alma maldita, tu que estavas dotada da razão, por que me concedeste aqueles deleites, que, por toda a eternidade, fizeram a tua e a minha desgraça?" (Santo Afonso Maria de Ligório, Preparação para a Morte, Consideração XXV, Ponto I), e: "Chegada a hora da sentença, Jesus Cristo dirá aos eleitos estas palavras, cheias de doçura: 'Vinde, benditos de meu Pai, e possuí o reino que vos está preparado desde o princípio do mundo' (Mt 25,34). Quando São Francisco de Assis soube por revelação que era predestinado, sentiu altíssimo e inefável consolo. Que consolação não sentirão aqueles que ouvirem estas palavras do soberano Juiz: 'Vinde, filhos benditos, vinde a meu reino. Já não há mais a sofrer, nem a temer. Comigo estais e permanecereis eternamente. Abençôo as lágrimas que sobre os vossos pecados derramastes. Entrai na glória, onde juntos permaneceremos por toda a eternidade'. A Virgem Santíssima abençoará também os seus devotos e os convidará a entrar com ela no céu. E assim, os justos, entoando gozosos Aleluias, entrarão na glória celestial para possuírem, louvarem e amarem eternamente a Deus.

Os réprobos, ao contrário, dirão a Jesus Cristo: 'E nós, desgraçados, que será feito de nós?' E o Juiz Eterno dir-lhes-á: Já que desprezastes e recusastes minha graça, apartai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno (Mt 24, 34). Apartai-vos de mim, que nunca mais vos quero ver nem ouvir. Ide, ide, malditos, que desprezastes minha bênção. Mas para onde, Senhor, irão estes desgraçados? Ao fogo do inferno, para arder ali em corpo e alma. E por quantos séculos? Por toda a eternidade, enquanto Deus for Deus.

Depois desta sentença - diz Santo Efrém - os réprobos despedir-se-ão dos anjos, dos santos e da Santíssima Virgem, Mãe de Deus. 'Adeus, justos; adeus, cruz; adeus, glória; adeus, pais e filhos; jamais nos tornaremos a ver! Adeus, Mãe de Deus, Maria Santíssima'. Nesse instante, abrir-se-á na terra um imenso abismo e nele cairão conjuntamente demônios e réprobos. Verão como atrás deles se fechará aquela porta que nunca mais se há de abrir. Nunca mais durante toda a eternidade!

Ó maldito pecado! A que triste fim levarás um dia tantas pobres almas! Ai das almas infelizes às quais aguarda tão deplorável fim" (Idem).

 

São Jerônimo, exímio doutor da Igreja e um dos santos mais penitentes, abandonara todos os atrativos e magnificências de Roma, para se esconder em um deserto da Palestina. Outra coisa não fazia em seu retiro que estudar as escrituras, rezar e mortificar-se com rigorosas penitências. Costumava bater no peito com uma pedra dura para implorar de Deus piedade. Outros monges que o visitavam perguntavam o porquê de tanta e rigorosa penitência. Então o santo dizia-lhes: todos os momentos parece-me ouvir a trombeta que um dia soará no Vale de Josafá com esta voz: Levantai-vos, mortos, vinde ao julgamento!

E você católico, que só procura ouvir a doce trombeta do prazer, do bem estar da vida terrena, não será também julgado?

 

O imperador romano Teodósio numa festiva ocorrência, ordenou que todos os cárceres fossem abertos e se libertassem todos os prisioneiros. Satisfeito pela generosa ação, exclamou:

Oh! Pudesse eu abrir também todas as sepulturas e dar a vida aos mortos! Mas não. Este poder só o tem o Supremo Senhor, que no último dia do mundo chamará a todos, do pó à vida, e como justo Juiz pedirá contas a todos. Foi Ele mesmo quem o afirmou: "Chegará a hora de todos os mortos ouvirem a voz do Filho de Deus" (Jo 5, 28).

 

Foi levado à presença de Júlio César um soldado com graves acusações, e que havia servido em outros tempos no exército do grande chefe romano na província da Espanha. Vendo-se em perigo de ser condenado, diz o soldado a César:

 - Não te lembras, ó César, que andando por terras da Espanha estiveste um dia morto de sede e de calor sentado debaixo de uma árvore e que um soldado teu foi buscar-te água para beberes?

- Sim, recordo, mas não eras tu; esse não era cego dum olho!

- Senhor, era eu mesmo, e tinha então os dois olhos. Perdi depois um ao teu serviço.

César fitando atentamente reconhece-o e premia-o.

Católico, quem não quererá dar um copo de água ao menor dos seus semelhantes? Esse será recompensado! Praticai o bem, e com mais segurança vos apresentareis perante o tribunal do Supremo Juiz!

 

 

Pe. Divino Antônio Lopes FP.

Anápolis, 15 de abril de 2008

 

 

 

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