NÃO SABEIS QUE O ESPÍRITO SANTO HABITA EM VÓS?

(1 Cor 3, 16-17)

  

"Não sabeis que sois um templo de Deus e que o Espírito de Deus habita em vós? Se alguém destrói o templo de Deus, Deus o destruirá. Pois o templo de Deus é santo e esse templo sois vós".

 

 

Católico, lembre-se continuamente de que o Espírito Santo é Deus: "Ananias, por que encheu Satanás o teu coração para mentires ao Espírito Santo, retendo parte do preço do terreno? Porventura, mantendo-o não permaneceria teu e, vendido, não continuaria em teu poder? Por que, pois, concebeste em teu coração esse projeto? Não foi a homens que mentiste, mas a Deus" (At 5, 3-4).

Milhões de pessoas tratam o Espírito Santo como se Ele fosse uma criatura, ou pior, um objeto. Esses, fingindo falar em línguas, em profetizar... afirmam que são cheios do "espírito"; usam continuamente o nome do Espírito Santo para exaltarem suas VAIDADES e PAIXÕES.

Tratemos o Espírito Santo com RESPEITO, porque somos o seu templo: "Não sabeis que sois um templo de Deus e que o Espírito de Deus habita em vós? Se alguém destrói o templo de Deus, Deus o destruirá. Pois o templo de Deus é santo e esse templo sois vós" (1 Cor 3, 16-17), e: "Que sentimentos de júbilo deveriam encher-nos os corações ao pensarmos que dentro em nós vive e reside o Espírito Santificador, aquele que renovou a face da terra!" (Pe. Luis Bronchain).

Edições Theologica comenta: "Estas palavras aplicam-se tanto a cada cristão, como à Igreja inteira. A imagem do cristão como templo de Deus, utilizada com frequência por São Paulo (cfr 1 Cor 6,19-20; 2 Cor 6,16), manifesta a habitação da Santíssima Trindade na alma em graça".   Leão XIII recorda, "por meio da graça de Deus habita na alma justa como num templo, de modo íntimo e singular" (Divinum illud munus, n. 10). Embora por vezes se atribua ao Espírito Santo (cfr Jo 14, 17; l Cor 6,19), realmente tem lugar pela presença de toda a Trindade, já que todas as operações divinas que terminam fora do próprio Deus devem ser referidas à única natureza divina.

O próprio Jesus Cristo revelou este mistério sublime, de que nunca teríamos podido suspeitar: "O Espírito da verdade (...) permanece ao vosso lado e está em vós (...) Se alguém Me tem amor, guardará a Minha palavra, e Meu Pai ama-lo-á e viremos a ele e faremos morada nele" (Jo 14, 17-23). Ainda que se trate de algo que, enquanto estivermos na terra, não se pode entender nem expressar com plena clareza, ajuda a obter alguma luz o considerar que "as Pessoas divinas habitam na criatura inteligente enquanto presentes nela de nodo imperscrutável, por ela são atingidas por via de conhecimento e amor" (Santo Tomás de Aquino, Suma Teológica, I, q.43, a.3), "de modo, porém, absolutamente íntimo e singular, que transcende a natureza humana" (Pio XII, Mystici Corporis, Dz-Sch, n. 3815).

A consideração desta maravilhosa realidade ajuda a cair na conta da transcendência que tem o viver em graça de Deus, e o profundo horror que há de ter-se ao pecado mortal, que "destrói o templo de Deus", privando a alma da graça e amizade divinas.

Além disso, mediante esta habitação, a criatura humana começa a gozar uma antecipação do que será a visão beatífica no Céu, já que "esta admirável união só na condição e estado se diferencia daquela em que Deus enche os bem-aventurados beatificando-os" (Leão XIII, Divinum illud munus, n. 11), e: "Ó poder do Pai Eterno, ajudai-me! Sabedoria do Filho, iluminai os olhos do meu intelecto! Doce clemência do Espírito Santo, abrasai-me, uni a vós meu coração..." (Santa Catarina de Sena, Orações e elevações, pp. 31-34), e também: "Vinde, Santo Espírito! Vinde, Deus amor! Enchei meu coração, infelizmente vazio de todo bem. Abrasai-me, a fim de que vos ame. Iluminai-me, para que vos conheça. Atraí-me, para que encontre em vós minhas delícias! Possuí-me, para que goze de vós" (Santa Gertrudes, Exercícios 2, pp. 80-82. 86).

O Pe. João Colombo escreve: "O Espírito Santo, a terceira Pessoa da Santíssima Trindade, igual ao Pai e ao Filho, Deus com o Pai e com o Filho, habita em nós, hóspede da nossa alma. Imaginai que grande graça e que profundo mistério! Mas quantos que nunca pensam nisto. Quantos deixam o divino Paráclito abandonado num cantinho do seu coração, como certos pobres pais mal vistos em casa pela nora e mal suportados por jovens filhos!"

Católico, temos deveres preciosos para com o Espírito Santo.

 

1. "Não extingais o Espírito" (1 Ts 5, 19).

2. "Não entristeçais o Espírito Santo" (Ef 4, 30).

3. "(Não) resistis ao Espírito Santo!" (At 7, 51).

 

 

OS DEVERES PARA COM O ESPÍRITO SANTO

 

 

1. "Não extingais o Espírito" (1 Ts 5, 19).

 

Durante a última perseguição aos católicos na Armênia, uma companhia de soldados turcos chegou à igrejinha de uma aldeia abandonada. A golpes de machado demoliram as portas, e ali entraram urrando.

Vagava ainda pela nave o perfume do incenso e parecia que ressoava o eco da última prece; um velho e um menino rezavam. E por que também eles não haviam partido?

Foram escoltados, e, quando tentavam fugir, foram trucidados à porta do templo.    Todas as cruzes foram quebradas, todas as imagens foram profanadas: o altar foi desmantelado, e nos degraus de mármore, aqueles ímpios sentaram-se para bivacar.    Que profanação diabólica!

Não menos trágica, porém, é a profanação que expulsa o Espírito Santo, não de um templo inanimado, não de uma igreja feita de pedra e cal, mas de um templo vivo: da própria alma!   " Toda vez que se comete um pecado mortal, abafa-se o fogo do Espírito Santo que está dentro de nós.   Onde há o espírito do mundo e do demônio, não pode estar o Espírito de   consolação e da verdade. Sobretudo, onde há o espírito imundo  da sensualidade, aí não pode habitar o Espírito de Deus. Ó cristãos! Não abafeis em vós o Espírito Santo, e nem o abafeis nos outros com os vossos escândalos!" (Pe. João Colombo).

São João Crisóstomo escreve: "O Espírito Santo é como uma lâmpada: apaga-se pelo sopro do vento ou por falta de azeite" (Comment. In Tess. V, 19). O que significa o vento? "O mundo, o espírito mundano, o amor às coisas terrenas. Devemos desapegar-nos do mundo, porque o Espírito Santo assim o quer. O espírito mundano se opõe ao Espírito de Deus... Portanto, afastemos os pensamentos, os juízos, os desejos mundanos; fora também com o espírito sensual ou demasiadamente humano!" (Bem-aventurado José Allamano, A Vida Espiritual, Capítulo 33).

Não permitamos, pois, que o vento, o espírito do mundo extinga o Espírito Santo. Cuidemos, ao mesmo tempo, que não se apague em nós por falta de azeite. Que significa o azeite? "As boas obras, as virtudes. São elas que mantêm vivo em nós o Espírito. Falta de azeite é prometer ser sempre obediente, humilde, mas depois, no momento de mostrar obediência e humildade, erguer-se com toda a própria soberba. As virgens insensatas do Evangelho, que não traziam óleo nas suas lâmpadas, não foram admitidas ao banquete do esposo (cf. Mt 25, 1-13). Isto vale para nós, que devemos crescer continuamente e ao mesmo tempo corresponder à graça. Sim, correspondência à graça, para que não nos seja retirada e não se extinga em nós o amor, que é o Espírito Santo" (Idem).

 

2. "Não entristeçais o Espírito Santo" (Ef 4, 30).

 

Sem chegarmos ao excesso de extinguir em nós o Espírito Santo pelo pecado mortal, podemos amargurar de muitos modos a sua permanência no nosso coração.

O Pe. João Colombo escreve: "Antes de tudo, pelo pecado de língua. Ele desceu sobre os Apóstolos no cenáculo sob o símbolo de uma língua de fogo, para nos ensinar que toda palavra que vai contra o amor de Deus o ofende. Quão pouca sinceridade há na vida de muitos cristãos: nas suas relações familiares, nos negócios, e, até na Confissão, onde eles quereriam dizer e não dizer, acusar-se e escusar-se! Enquanto isso, o Espírito Santo, que é Espírito de verdade, é amargurado".

Ofende-o também toda palavra insincera. Nos primeiros tempos do Cristianismo, quando o Espírito Santo vivia numa intimidade sensível com a Igreja nascente, um homem de nome Ananias, com sua mulher Safira, venderam um campo e levaram só uma parte do ganho a São Pedro, dizendo-lhe que era todo o preço. Mas Pedro disse tristemente: "Ananias, por que quiseste dizer o que é falso? Mentiste ao Espírito Santo. E tu, Safira, por que concordaste com teu marido para amargurar o Espírito Santo?" (At 5, 3-4).

Em geral, os atos que contristam o Espírito Santo são todos aqueles a que, com demasiada desenvoltura, chamamos pecados veniais. Certos discursos de murmuração, certas palavras levianas, certas imprecações de impaciência, não causam prazer ao Deus que habita em nós. Esse jovem que desperdiça tantas horas na ociosidade, que dá inteira liberdade aos seus olhos, que na igreja mantém uma atitude aborrecida e distraída, não sabe que contrista o Espírito Santo?

Não o sabe aquela mulher que só cuida de adornar os cabelos ou o vestido sem seriedade, que não vela sobre a alma de seus filhos para que cresçam inocentes, bastando-lhe somente que sejam sadios no corpo?

Não o sabem todos esses católicos que vivem uma vida tíbia, sem entusiasmo pelo bem, sem fervor pela oração, sem amor à Eucaristia? Não sabem que o Espírito Santo que está neles se contrista e geme?

O Bem-aventurado José Allamano escreve: "Como se pode entristecê-lo? É só o pecado que entristece o Espírito Santo. São os pecados veniais e a falta de correspondência à graça, ou seja, quando o ofendemos e quando não fazemos tudo aquilo que deveríamos fazer. Os 'pecadinhos', os defeitos, mormente se habituais, fazem com que o Espírito Santo não se sinta à vontade em nós. Devemos cortar generosamente os nossos defeitos. Outras vezes não o ofendemos com pecados veniais deliberados, mas admitimos as imperfeições; neste caso também o entristecemos, porque ele deseja a nossa perfeição, quer ver em nós a plenitude da graça... às vezes não sabemos elevar-nos... Se recebêssemos fervorosamente o Espírito Santo, seríamos todos transformados em apóstolos verdadeiros e santos! Por isso, não entristeçamos o Espírito Santo com o pecado venial e as meias-vontades. Abandonemo-nos em suas mãos, demos-lhe liberdade de ação e sigamo-lo docilmente, para que opere a nossa santificação" A Vida Espiritual, Capítulo 33).

 

3. "(Não) resistis ao Espírito Santo!" (At 7, 51).

 

O Espírito Santo não está em nós como coisa morta, porém viva. E faz-se sentir de dois modos: impelindo-nos ao bem ou repelindo-nos do mal.

a) Impelindo-nos ao bem. O diácono Filipe caminhava pela branca estrada que de Jerusalém desce a Gaza. E eis que uma nuvem de pó se levanta ao longe, e ao seu ouvido chega o ruído de um carro que se aproximava. Então o Espírito lhe disse: "Filipe, alonga o passo e chega depressa àquele carro". O diácono não resistiu, mas logo obedeceu. E achou ali nada menos do que um ministro de Candace, rainha dos Etíopes, o qual precisava de alguém que lhe ensinasse a verdadeira religião. Filipe converteu-o, e, parando o carro perto de uma fonte, batizou-o (At 8, 26s.).

O Pe. João Colombo escreve: "Quantas vezes o hóspede das nossas almas nos convida docemente a fazermos o bem, e os seus esforços ficam vãos porque nós lhe resistimos! Quantas vezes Ele nos tem dito, como a Filipe na estrada de Gaza cheia de sol: 'Aproxima-te daquela família, ajuda-a no que puderes, dize-lhe uma boa palavra de religião e de esperança'; e nós, ao invés, sacudimos os ombros".

b) E nem tão pouco quando Ele vos repele do mal. Um duque de Milão, Ludovico, o Mouro, por traição caiu na mão dos Franceses, a 10 de Abril de 1500; definhou por dez anos numa escura masmorra do castelo de Loches, onde na parede deixou escritas com a ponta de um prego estas palavras: "Aquele que não está contente".

Muitos católicos, escreve o Pe. João Colombo "... se quiserem ser sinceros, no término do seu dia poderiam repetir essas desconsoladas palavras: 'Eu sou aquele que não está contente'. Mas quem é que lhes difunde no coração este tédio da melancolia? É o Espírito Santo. E por quê? Para os repelir do mal em que vivem".

 

 

Pe. Divino Antônio Lopes FP.

Anápolis, 22 de julho de 2008

 

 

 

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Pe. Divino Antônio Lopes FP. "Não sabeis que o Espírito Santo habita em vós?"

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