SALVAÇÃO GARANTIDA? SERÁ?

(1 Cor 4, 4)

 

“Verdade é que a minha consciência de nada me acusa, mas nem por isto estou justificado; meu juiz é o Senhor”. 

 

Milhões colocam uma Bíblia debaixo do braço e gritam em cada esquina do bairro onde moram que já estão salvos.

Milhares recebem a “chave” do céu e se gabam de que já possuem um “cantinho” seguro na Eternidade Feliz.

Centenas pagam um altíssimo dízimo e dizem para todos os vizinhos que possuem a salvação garantida.

Muitos outros que são adúlteros, traficantes, ladrões, charlatães, mentirosos, caluniadores... só porque “enrolam” a língua em uma reunião, já se acham no direito de estarem salvos.

Esses são enganados pelos próprios “líderes”, e assim, confiantes que já estão salvos, não fazem nenhum progresso na vida espiritual... vivem paralisados na lama do pecado.

Como Satanás é esperto! Quanta ilusão!

O Grande São Paulo Apóstolo não falava assim, mas com humildade dizia: “Verdade é que a minha consciência de nada me acusa, mas nem por isto estou justificado; meu juiz é o Senhor” (1 Cor 4, 4).

É bom lembrar de que São Paulo Apóstolo era um Santo, e não mentiroso e charlatão.

 

Lúcio Navarro escreve sobre a ilusão dos protestantes nesse assunto.

Uma das ilusões protestantes é julgar que, para estarmos na graça de Deus, é preciso primeiro que disto estejamos convencidos. Já o próprio Leibnitz, filósofo protestante, chamava a atenção para o contra-senso em que os reformados caem neste ponto: “Se o crer-se justificado se requer para a justificação e consequentemente precede a justificação, neste caso deve crer-se justificado quem não está justificado ainda; deve, portanto, crer uma coisa falsa” (Sistema teológico; Mogúncia; 2.ª edição, pág. 62).

Nós valemos diante de Deus o que valemos realmente; não o que pensamos que valemos. Não é o fato de me julgar justo que me torna justo, nem o fato de me ter na conta de um pecador que me faz mais pecador do que sou realmente.

Não foi enchendo-se da convicção de que estava salvo, que o publicano da parábola (Lc 18, 10-14) conseguiu a purificação de sua alma, mas apenas humilhando-se e tendo-se na conta de um desprezível pecador; e não consta no Evangelho que ele tivesse a certeza, nem ao menos a mínima idéia, de que estava na graça de Deus naquela hora. Se havia certeza, era no outro, no fariseu que voltou para casa ainda mais pecador do que antes.

— Mas a certeza que ele tinha era diferente da nossa, porque era baseada nas obras, dirão os protestantes.

— Perfeitamente de acordo. A dele era certeza baseada nas obras que praticava sem ter a virtude interior, mas sim, com verdadeiro espírito de ostentação. Mas, ou certeza por causa das obras feitas com orgulho e presunção, ou certeza porque alguém não se julga obrigado às obras para salvar-se, o que é fato é que a parábola mostra que a gente pode facilmente enganar-se nesta matéria.

E o que lemos no Evangelho é que muitos que crêem firmemente em Jesus Cristo, que chegam mesmo a profetizar e a fazer prodígios em seu nome e que por isto estão certos, certíssimos da salvação, sofrerão uma decepção tremenda no dia das contas, serão rejeitados por causa de suas OBRAS que não agradaram a Deus: “Muitos me dirão naquele dia: Senhor, Senhor, não é assim que profetizamos em teu nome, e em teu nome expelimos os demônios, e em teu nome realizamos muitos prodígios? E eu então lhes direi em voz bem inteligível: Pois eu não vos conheci; apartai-vos de mim, os que obrais a iniquidade” (Mt 7, 22 -23).

Suponhamos que um homem tem dois criados: ambos o servem com boa vontade; mas um está sempre cheio de si, convencido de que o patrão está bem satisfeito com ele e de que receberá com toda a certeza a recompensa prometida pelo patrão aos servos que realizam bem  seu trabalho; o outro está sempre desconfiado, sempre temeroso de que o patrão tenha alguma coisa a reclamar sobre o seu serviço, ou de que talvez não mereça a recompensa almejada. Isto faz com que este último valha menos perante o patrão ou perca o seu direito à recompensa? Ao contrário, com este receio sobre o valor do seu trabalho, está mais apto a caprichar, a fazer tudo com perfeição do que o outro que está convencido de que tudo quanto faz é uma maravilha que agrada imensamente ao seu patrão. Isto se dá com a maioria na vida espiritual, onde a humildade é a virtude mais apta para conquistar as graças de Deus.

Perguntaram um dia a uma santa se ela estava na graça de Deus. Ela respondeu o seguinte: “Se eu estou na graça de Deus, que Deus me conserve neste estado; se não estou, que Deus me ponha nele”. Deixou, por acaso, de ser o que realmente era diante de Deus por ter falado desta maneira?

O matuto, movido por aquela fé viva e inabalável que caracteriza o camponês, se arrepende profundamente de seus pecados; faz o firme propósito de jamais cometê-los, ajudado pela graça divina e com aquela força de vontade com que tantas vezes os homens do campo superam os da cidade. Confessa humildemente seus pecados ao sacerdote no Sacramento da Penitência, e quantas vezes não andou a pé léguas e léguas para fazer esta confissão! Depois recebe a sua comunhão com viva fé e santo recolhimento. Mas se lhe perguntarmos: Sua confissão foi bem feita? Ele responderá: Para mim, foi; para Deus, eu não sei. Na sua simplicidade, inspirado por Deus que revela aos pequeninos o que oculta aos sábios e prudentes, demonstra, sem saber disto, um mesmo sentimento de humildade, de desconfiança de si próprio, que demonstrou o Apóstolo São Paulo. Se todo o cristão para se salvar, para estar bem com Deus, deve ter forçosamente a certeza de que está na graça, ninguém deveria tê-la melhor do que São Paulo. Entretanto São Paulo fala assim: “Nem ainda eu me julgo a mim mesmo; porque de nada me acusa a consciência; mas nem por isso me dou por justificado; pois o Senhor é quem me julga. Pelo que, não julgueis antes do tempo, até que venha o Senhor, o qual não só porá às claras o que se acha escondido nas mais profundas trevas, mas descobrirá ainda o que há de mais secreto nos corações; e então cada um receberá de Deus o louvor” (1 Cor 4, 3-5).

Pelas palavras do Apóstolo se vê que o importante é servir a Deus, fazer o bem, conservar a fé e a boa consciência. Quanto ao julgamento, pertence a Deus. E, enquanto nós estamos sujeitos a enganos ao julgarmos a nós mesmos (pois ninguém é juiz em causa própria), Deus é quem conhece, como diz o Apóstolo: o que há de mais secreto nos corações. Ele penetra as mais íntimas profundezas das nossas almas, infinitamente melhor do que nós mesmos. E os seus julgamentos são diversos dos nossos: “Senhor... os teus juízos são um abismo profundo” (Sl 35, 6-7), e: “Ó profundidade das riquezas da sabedoria e da ciência de Deus! Quão incompreensíveis são os seus juízos, e quão inescrutáveis, os seus caminhos!” (Rm 11, 33).

Não devemos, portanto, inverter a ordem das coisas, nem querer precipitar os acontecimentos. Tenhamos a preocupação de servir a Deus, com a maior perfeição que for possível; o testemunho da boa consciência virá naturalmente depois. Não é o fato de nos julgarmos bem com Deus que fará com que realmente o estejamos; ao contrário, é do fato de estarmos realmente bem com Deus, que nascerá a doce tranquilidade da consciência, a suave sensação de que Deus habita em nós.

 

Milhares de pessoas, orientadas pelos seus “líderes” não fazem mais penitência nem praticam boas obras, porque afirmam de “pés juntos” que já estão salvas, que basta o coração parar para entrarem “sossegadamente” no Céu.

Pobres ignorantes: “Nesta ocasião, tive notícias dos prejuízos e estragos que faziam os luteranos... Parecia-me que mil vidas daria eu para salvação de uma só alma das muitas que ali se perdiam” (Santa Teresa de Jesus, Caminho de perfeição, capítulo I, 2).

 

 

Pe. Divino Antônio Lopes FP.

Anápolis, 23 de janeiro de 2009

 

 

 

 

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Pe. Divino Antônio Lopes FP. "Salvação garantida? Será?"

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