CAMINHO DO CÉU E CAMINHO DO INFERNO
(Mt 7, 13-14)

 

“Entrai pela porta estreita, porque largo e espaçoso é o caminho que conduz à perdição. E muitos são os que entram por ele. Estreita, porém, é aporta e apertado o caminho que conduz à Vida. E poucos são os que o encontram”.

 

É pura ilusão querer se salvar percorrendo o caminho largo... somente o caminho estreito conduz ao céu; Jesus Cristo não engana ninguém: “Vossa doutrina é esta: pobreza voluntária, paciência nas injúrias, pagar o mal com o bem, ser pequenino, humilde, pisado e abandonado pelo mundo... em tribulações do mundo e do Demônio, visíveis e invisíveis, e perseguições da própria carne, a qual, como rebelde, sempre quer revoltar-se contra seu Criador e repelir o Espírito Santo. Ora, está é vossa doutrina: suportar com paciência, resistir com as armas do amor, e também do ódio contra o mal. Ó doce e suave doutrina! És aquele tesouro que Cristo escolheu para si e deixou aos discípulos. Isto deixou como maior riqueza que podias deixar... Que eu me revista de vós, ó Cristo Homem, isto é, das vossas penas e opróbrios, e só assim me alegrarei” (Santa Catarina de Sena).

Às vezes alguns dizem quando estão com raiva: inferno é aqui mesmo. Esta vida é um inferno!

Milhões de pessoas também afirmam o mesmo, mas não em momento de raiva, mas sim, com toda convicção. Quanta ilusão!

O Inferno existe. A sua existência não depende da aprovação das pessoas; principalmente daquelas que fogem da cruz e desejam viver comodamente: “Não é estranho que o homem se insurja contra este pensamento da condenação eterna e queira escapar a esta verdade temerosa do inferno” (Mons. Tihamer Tóth).

Todo o mundo gostaria de viver numa perfeita felicidade e numa paz muito grande. Queria ter o céu nesta vida. Sempre imaginam um lugar de uma felicidade sem penas. Ou então pensam em inventar remédios que façam a gente viver sempre e livre de todas as doenças e sofrimentos. Pura ilusão! Aqui todos têm que sofrer, e sofrer muito: justos e pecadores: “É preciso sofrer e todos têm de sofrer; seja justo ou pecador, cada um deve carregar sua cruz” (Santo Afonso Maria de Ligório). Em vão trabalham milhões de pessoas para “construir” o céu aqui na terra. Esses covardes e tíbios querem viver na “poltronice” nesse mundo; por isso sonham em ter um céu nesta vida.

Mas tudo isto é impossível. Este mundo, por pior que seja, não é o inferno. O coração do homem por mais perverso que seja não é ainda um coração de condenado, tem alguma bondade oculta, e com ela a esperança do perdão. Felicidade completa neste mundo ninguém consegue. Ainda que houvesse no mundo um lugar maravilhoso, o homem levaria para lá as angústias e as maldades de seu coração.

Cremos na vida eterna. Nossa fé na palavra divina nos dá a segurança que este mundo passa, mas que nossa vida não termina com a morte: continuam nossas almas a viver e viverão eternamente: “A alma não morre com o corpo: é imortal” (Pablo Arce e Ricardo Sada).

 O próprio Deus, que pode tudo, não vai destruir nossa alma, nem mesmo para castigá-la. Porque não ia criá-la assim com uma vida imortal para depois acabar com ela. Deus não se arrepende do que faz. Por isso Deus não pode destruir nossa alma, porque a fez para ser eterna: “Deus fez o homem imortal” (Sb 2, 23).

A eternidade dura sempre, e esta vida em comparação não dura quase nada. Assim, a parte mais importante de nossa vida é a eternidade.

Porém a vida na terra tem muita importância, porque nela é que se decide a eternidade. Infeliz daquele que jogar o tempo fora: “O tempo é a duração de  nossa vida. O tempo é o preço com que se compra a eternidade feliz. O tempo é a ruína e a salvação de muitos. O tempo é um bem para aquele que o emprega no exercício da virtude, e um mal para quem o desperdiça no vício” (Pe. Alexandrino Monteiro).

Nós estamos em caminho. Esta vida é uma viagem. Não temos aqui uma morada permanente, estamos indo para a casa onde vamos ficar sempre: “Porque não temos aqui cidade permanente, mas estamos à procura da cidade que está para vir” (Hb 13, 14). Porém qual será nossa morada na outra vida? Porque a vida eterna pode ser boa, ou ser má, pode ser a recompensa ou o castigo, o céu ou o inferno.

Como há dois lugares para onde se pode ir, também há dois caminhos por onde seguir. Neste mundo podemos tomar o caminho do céu ou o caminho do inferno.

O caminho do céu é fazer o bem, cumprir o dever; o caminho do inferno é fazer o mal, viver no pecado.

Vai para o céu quem morre no bem e tem boa morte quem tem boa vida. Quem viver na graça de Deus tem o céu na sua alma; porque mora nele a Santíssima Trindade: “Quando nos batizamos, recebemos a graça santificante pela primeira vez. Deus (o Espírito Santo, por ‘apropriação’) estabelece a sua morada em nós. Com sua presença, comunica à alma essa qualidade sobrenatural que faz com que Deus – de uma maneira grande e misteriosa – se veja em nós e, consequentemente nos ame. E posto que esta graça santificante nos foi ganha por Jesus Cristo, por ela estamos unidos a Ele, compartilhamo-la com Cristo – e Deus, por conseguinte, nos vê como a seu Filho – e cada um de nós se torna filho de Deus” (Pe. Leo J. Trese).  A vida de amizade com Deus que começa neste mundo já é a vida eterna que no outro mundo vai ser mais completa. O caminho do céu são os Mandamentos da lei de Deus. Os 10 mandamentos não foram dados para nos fazer a vida triste e difícil; mas sim, para marcar na nossa vida o caminho que leva até Deus. Quem cumpre a lei de Deus tem o céu na sua alma, tem a paz no coração e a alegria da boa consciência. Isto dá uma felicidade que contenta muito mais a alma que os prazeres todos do mundo. Uma pessoa que sofre muito, mas tem na alma a certeza de estar na graça de Deus, de cumprir seus deveres, é como uma casa toda iluminada numa noite escura e de tempestade. Tudo em redor está triste, mas dentro há luz, calor e alegria. Mas quem procura a felicidade no pecado vive cheio de angústia de consciência e maldade no coração, parece mais com uma casa toda podre, caindo aos pedaços, cheia de urtigas e imundícies, numa manhã muito linda de primavera. Que adiantam a luz, o canto dos pássaros e as flores em redor, se por dentro da casa está aquela sujeira e tristeza? “Ai da alma se lhe falta Cristo, que a cultive com diligência, para que possa germinar os bons frutos do Espírito!” (São Macário).

O inferno tem seu caminho neste mundo e este caminho se chama – pecado. Quanta gente anda por ele. É um caminho largo, mas que conduz à perdição, disse Nosso Senhor. Fazer todos os caprichos, seguir os maus instintos, procurar em tudo o seu prazer, ser imoral, orgulhoso e vingativo. Este caminho atrai os homens porque promete felicidade neste mundo. Ainda que desse felicidade neste mundo, não valia a pena pelo fato de conduzir para a desgraça eterna. Que me adianta andar num automóvel muito cômodo, ouvindo músicas muito bonitas, com todos os prazeres que imaginasse, se este automóvel numa curva do caminho ia rolar no abismo com toda a certeza?

Assim fazem os que procuram neste mundo a felicidade no pecado.

Mas na verdade o caminho do inferno não dá felicidade nem mesmo neste mundo. Não vive feliz com Deus, porque Deus não protege nem abençoa o mau caminho.

Não tem felicidade com os outros, pois quem não cumpre seu dever, quem só procurar satisfazer seus desejos sem ligar aos outros, não pode ser estimado como as pessoas de bem, não vive contente consigo mesmo, porque o remorso não deixa sua consciência em paz. Quem toma o caminho do inferno tem, desde esta vida, no coração, qualquer coisa de que ele vai sofrer no inferno.

É coisa muito importante, portanto, viver no caminho certo que leva ao céu: “... ocupai-vos com tudo o que é verdadeiro, nobre, justo, puro, amável, honroso, virtuoso ou que de qualquer modo mereça louvor... Então o Deus da paz estará convosco” (Fl 4, 8-9).

É verdadeira loucura abandonar a estrada que Cristo nos indicou para seguir aquela outra indicada pelo mundo: “Se o mundo odeia o cristão, porque tu o amas, a ele que te aborrece, e não preferes seguir a Cristo que te remiu e te ama?” (São Cipriano).

Assim como ninguém quer tomar uma estrada errada para uma cidade, da mesma forma ninguém, de bom juízo, deve abandonar a estrada certa da eternidade, que nos foi ensinada por Jesus Cristo: “Quem O segue caminha na  Verdade. Ele é também a Vida; seus seguidores possuem a vida da graça, não padecem fome; ele é o alimento. Nem vivem na escuridão; Jesus é a Luz. Em Cristo não existe mentira”(Santa Catarina de Sena).

O pensamento da vida eterna deve dar-nos desprezo das vaidades do mundo. Tudo passa como sonho, em comparação da vida eterna, os prazeres dos sentidos são ilusões. Este pensamento deve dar-nos o temor de Deus. A vida termina quando menos se espera, e a vida eterna será o inferno se nos alcança em pecado.

Finalmente, este pensamento gera a esperança no céu: Deus nos criou para a vida eterna feliz. A graça de Deus em que vivemos nos dá o começo da felicidade eterna na glória de Deus.

Exemplo: São Francisco Xavier quando estudante vivia cheio de ambições mundanas. Santo Inácio o converteu repetindo-lhe a frase do Evangelho: De que vale ao homem ganhar o mundo inteiro se vem a perder a própria alma?

São Francisco Xavier ficou tão impressionado com o pensamento da vida eterna que se tornou um dos maiores missionários da Igreja. 

 

 

Pe. Divino Antônio Lopes FP.

Anápolis, 07 de novembro de 2009

 

 

 

Bibliografia

 

Sagrada Escritura

Pablo Arce e Ricardo Sada, Curso de Teologia Dogmática

Leituras da Doutrina Cristã

São Macário, Escritos

São Cipriano, Escritos

Pe. Leo J. Trese, A fé explicada

Mons. Tihamer Tóth, A Vida Eterna

Santa Catarina de Sena, O Diálogo; Epistolário

Santo Afonso Maria de Ligório, A prática do amor a Jesus Cristo

Pe. Alexandrino Monteiro, Raios de luz

 

 

 
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Pe. Divino Antônio Lopes FP. “Caminho do Céu e caminho do inferno”
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