É PRECISO NUTRIR A ALMA
(Jo 6, 51)

 

 

“Eu sou o pão vivo descido do céu. Quem comer deste pão viverá eternamente”.

 

Alcuino escreve: “E por isso não morre o que come este pão, porque ‘Eu sou o pão vivo que desceu do céu”, e: “Com este fim se encarnou; e não foi primeiro só homem e depois tomou a divindade, como disse Nestório, mentindo” (Teofilacto), e também: “Também o maná desceu do céu, porém o maná era sombra e este pão é a realidade” (Santo Agostinho), e ainda: “Minha vida é a que vivifica. Por isso segue: ‘Se alguém comer deste pão, viverá’, não só na vida presente por meio da fé e da santidade, mas ‘viverá eternamente’. E o pão que eu darei é a minha carne para a vida do mundo” (Alcuino).

Uma vida que não é alimentada acaba perecendo. Ninguém discute, a não ser um louco, a necessidade da nutrição. Mesmo a vida intelectual pede a alimentação que é dada pelo estudo e pela leitura. Uma inteligência não alimentada ou não cultivada é uma inteligência que se vai apagando e ficando embotada.

Nada há, pois, de estranho que a vida espiritual também necessite a sua alimentação. Nosso Senhor não disse que “aquele que não come a minha carne e não bebe o meu sangue não tem a vida em si?”

A Santíssima Eucaristia é, pois, o principal alimento da vida sobrenatural. Não é, porém, o único. Há ainda a oração e a leitura espiritual.

A Eucaristia é alimento da alma: “Afirmo que temos de participar do sacramento da eucaristia, porque ele é o alimento da alma e sem esse alimento não podemos viver na graça” (Santa Catarina de Sena), e: “Vós, Senhor Onipotente, todas as coisas criastes para a glória de vosso nome, e aos filhos dos homens destes alimento e bebida, a fim de vos louvarem. A nós, porém, destes a  graça de um alimento e de uma bebida espiritual e a graça da vida eterna por obra de Jesus, vosso servo...” (Didaquê), e também: “Dai-vos, Senhor, a mim, e isto me basta; porque fora de vós nada me consola. Não posso estar sem vós, e se não vindes a mim, não posso viver. Por isso, é-me necessário chegar-me a vós frequentemente e receber-vos como o remédio de minha salvação para que, privado deste alimento celeste, não venha a desfalecer no caminho” (Tomás de Kempis), e ainda: “Pão dulcíssimo, curai o paladar de meu coração para experimentar a suavidade de vosso amor. Curai-o de toda enfermidade, a fim de que não experimente outra doçura fora de vós, não busque outro amor, não ame outra beleza. Pão puríssimo que encerrais em vós todo afeto e o sabor de toda suavidade, que sempre nos restaurais e jamais deixais de existir, de vós se alimente meu coração e vossa doçura sacie o íntimo de minha alma. De vós se alimente, em plenitude, o Anjo; alimente-se de vós, segundo sua capacidade, o homem peregrino, a fim de que, fortificado por este alimento, não desfaleça no caminho” (Santo Anselmo), e: “A Eucaristia é a carne do nosso Salvador Jesus Cristo, carne que sofreu pelos nossos pecados, mas que o Pai, por sua bondade, ressuscitou” (Santo Inácio de Antioquia).

Santa Catarina de Sena, desde a idade de vinte anos, só se alimentava com a Sagrada Eucaristia. Não comia nem um pedaço de pão sequer e nunca sentia fraqueza. A comunhão avivava em seu coração o fogo do amor e recebia consolações inefáveis. Se intentava provar algum alimento sofria agudas dores e não podia retê-lo.

Santa Ludvina viveu vinte e cinco anos sem mais alimento que a comunhão semanal. Para certificarem-se que isso se devia ao Santíssimo Sacramento, deram-lhe uma vez a partícula sem consagrar. Ora, em pouco tempo a sua fraqueza foi tão grande que esteve às portas da morte. Deram-lhe então a Sagrada Comunhão e imediatamente recuperou as forças.

Católico, além de receber dignamente a Santíssima Eucaristia, é preciso rezar muito e fazer com frequência uma leitura espiritual.

Milhões de católicos possuem tempo para ler jornais e romances; mas não reservam nenhum horário por dia para fazer uma leitura espiritual.

Lêem revistas e sabem os nomes de artistas, de esportistas e de recordistas. Como é que ignoram os nomes dos Profetas e dos Apóstolos? Como é que nunca lêem um capítulo do Santo Evangelho, uma Epístola de São Paulo, um Documento pontifício ou a Vida e as Obras dos Santos?

Esses católicos mundanos e relaxados possuem uma vida espiritual raquítica, elementar e fraca. Eles nunca dão à alma uma dose de alimento espiritual ou de bebida que flui para a vida eterna. É preciso lembrá-los de que a vida tem que ser cultivada como um jardim é cultivado.

É preciso adubar e regar... é preciso podar e selecionar.

Qual é o cuidado que temos para nutrir a nossa alma?

Católico, cuide com zelo de sua alma imortal: “O alimento da alma é Deus. A alma só de Deus pode viver e nada mais a satisfaz, senão Deus” (São João Maria Vianney), e: “Se Deus nos deu uma alma, é para que façamos alguma coisa com ela... Podemos fazer com ela o que quisermos: deixá-la branca como a neve ou negra como o carvão” (Pe. Ronald Knox).

 

 

Pe. Divino Antônio Lopes FP.

Anápolis, 22 de fevereiro de 2010

 

 

 

Bibliografia

 

Sagrada Escritura

Pe. Francisco Alves, Tesouro de exemplos

Santa Catarina de Sena, Cartas

Pe. Roberto Sabóia de Medeiros, Meditações

Didaquê

Catena Aurea

Tomás de Kempis, Imitação de Cristo

Santo Anselmo, Orações

Santo Inácio de Antioquia, Smirn. 7

São João Maria Vianney, Escritos

 

 
Este texto não pode ser reproduzido sob nenhuma forma; por fotocópia ou outro meio qualquer sem autorização por escrito do autor Pe. Divino Antônio Lopes FP.
Depois de autorizado, é preciso citar:
Pe. Divino Antônio Lopes FP. “É preciso nutrir a alma”
www.filhosdapaixao.org.br/escritos/comentarios/escrituras/escritura_0287.htm