NÃO TENHAIS MEDO, PEQUENINO REBANHO

(Lc 12, 32)

 

“Não tenhais medo, pequenino rebanho, pois foi do agrado do vosso Pai dar-vos o Reino!”

 

Teofilacto escreve: “O Senhor chama pequenino rebanho aos que querem ser seus discípulos, porque nesta vida os santos são pequenos em virtude de sua pobreza voluntária, e: “O Senhor também chama pequenino rebanho aos escolhidos, já os comparando com o maior número de condenados, ou então, por seu amor e humildade” (São Beda), e também: “Depois que o Senhor eliminou o cuidado das coisas temporais dos corações de seus discípulos, agora os livra do temor que procede dos cuidados pelas coisas supérfluas, dizendo: ‘Não tenhais medo” (Glosa).

“Não tenhais medo, pequenino rebanho”.

Depois de repreender a exagerada preocupação pelas coisas terrenas e ensinar por a atenção e confiança em Deus que sustenta não só os homens, mas também os animais; coloca aqui um argumento do maior ao menor, para mover os seus ouvintes a afastar todo temor e ansiedade por estas coisas caducas. Se Deus determinou dar-nos o seu reino... o que mais podemos desejar? Como vai permitir que nos falte o necessário para vivermos?

Ele chama de pequenino rebanho, ou ao grupo de apóstolos somente, como entendem alguns; ou também aos discípulos, como acredita Teofilacto; ou todos os escolhidos como diz São Beda; ou, segundo Eutímio, a todos os fiéis em geral. Esta última sentença é mais confiável, porque estas palavras parecem ditas aos mesmos a quem se dirigem as anteriores, a todos os ouvintes, e na pessoa deles, a todos aqueles que acreditavam.

Não se pode admitir o que dizem alguns que mostra Jesus Cristo aqui como pastor, pois chama rebanho a seus discípulos; porque, ainda que Ele tenha sido o Bom Pastor que deu a vida por suas ovelhas (Jo 10, 14; 1 Jo 3, 16), mas nesse lugar parece não chamá-los seu rebanho, mas de seu Pai. E a razão porque diz que não haveriam de temer, é porque tem como bom patrão e pastor ao Pai celestial, quem não só tem vontade de dar-lhes o necessário sustento, mas também o reino dos céus. Não só providencia o alimento e a veste deles que são suas ovelhas, mas de todos os animais e até dos lírios do campo (Lc 12, 24-27).

Não se encontra nenhum autor que trate do que é mais particular desta passagem: porque chama Jesus Cristo aqui rebanho aos seus discípulos, mais ainda, pequenino rebanho, juntando metáforas que não parecem coerentes. Que relação tem o rebanho com o reino? Havendo usado o exemplo de uns animais em cuja espécie se podia entender todos os demais viventes, aplica esta imagem do rebanho a seus discípulos, como se dissesse: Mantendo Deus tantos e tão grandes rebanhos de todas as classes, não temais vocês, que sois um rebanho de homens, filhos seus e rebanho pequenino. Com maior providência cuidará Deus do rebanho dos homens que são seus filhos; é mais fácil manter um rebanho reduzido do que um grande.

Às vezes se faz também aqui alusão ao proceder dos pastores, os quais, para engordar mais alguns bezerros, os apartam dos demais formando um pequeno rebanho para pastar em campos mais férteis e com maior cuidado. O mesmo se diz que fará Deus com seus filhos: “O Senhor é meu pastor, nada me faltará. Em verdes pastagens me faz repousar” (Sl 22, 1-2). Finalmente, alimentando a todos os homens e fazendo sair seu sol sobre bons e maus, promete em particular aos que o temem que não lhes faltará coisa alguma: “... nenhum bem falta aos que procuram a Deus” (Sl 33, 11).

“... pois foi do agrado do vosso Pai dar-vos o Reino!”

O Pe. Gabriel de Santa Maria Madalena escreve: “Embora poucos, indefesos, perseguidos, são sempre os discípulos de Cristo cercados pelo amor do Pai que os escolheu por filhos e os destinou à participação de seu reino eterno. Para eles é sua graça, sua proteção onipotente! Quanto mais nele se refugiarem, tanto mais fortes serão”.

 

Pe. Divino Antônio Lopes FP.

Anápolis, 26 de setembro de 2010

 

 

Bibliografia

 

Sagrada Escritura

Catena Aurea

Pe. José Caballero, Comentário do Evangelho de São Lucas

Pe. Gabriel de Santa Maria Madalena, Intimidade Divina, 297, 1

 

 

 

 

 

Este texto não pode ser reproduzido sob nenhuma forma; por fotocópia ou outro meio qualquer sem autorização por escrito do autor Pe. Divino Antônio Lopes FP.
Depois de autorizado, é preciso citar:
Pe. Divino Antônio Lopes FP. “Não tenhais medo, pequenino rebanho”
www.filhosdapaixao.org.br/escritos/comentarios/escrituras/escritura_0318.htm