EIS QUE ESTOU À PORTA E BATO

(Ap 3, 20)

 

“Eis que estou à porta e bato: se alguém ouvir minha voz e abrir a porta, entrarei em sua casa e cearei com ele, e ele comigo”.

 

O Senhor bate à porta do nosso coração... Ele não força, mas respeita a nossa liberdade: “... se alguém ouvir minha voz e abrir a porta, entrarei...”.

A imagem de Cristo a chamar à porta é das mais belas e enternecedoras da Bíblia. Recorda o Cântico dos Cânticos, onde o esposo exclama: “Abre-me, irmã minha, amada minha, imaculada minha! Que está a minha cabeça coberta de orvalho e os meus cabelos de geada da noite” (Ct 5, 2). É um modo de expressar a vontade divina que nos chama a uma intimidade maior, e o faz de mil formas ao longo da nossa vida. Há que estar à escuta e abrir as portas a Cristo.

O Senhor espera a nossa correspondência ao seu apelo, e quando nos esforçarmos em responder reavivando a vida interior, chega a produzir-se o gozo inefável da intimidade com Ele.

São Josemaría Escrivá escreve: “A princípio custará. É preciso esforçar-nos por dirigir-nos ao Senhor, por agradecer a sua piedade paternal e concreta para conosco. A pouco e pouco, o amor de Deus torna-se palpável – embora isto não seja coisa de sentimentos -, como se se recebesse uma estocada na alma. É Cristo que nos persegue amorosamente: Eis que estou à porta e chamo (Ap 3, 20). Como anda a tua vida de oração? Não sentes às vezes, durante o dia, desejos de falar devagar com Ele? Não Lhe dizes: logo vou contar-te isto e aquilo; logo vou conversar sobre isso contigo? (...). A oração torna-se contínua, como o bater do coração, como as pulsações. Sem essa presença de Deus não há vida contemplativa. E sem vida contemplativa de pouco vale trabalhar por Cristo, porque em vão se esforçam os que constroem se Deus não segura a casa”.

Quantas vezes Jesus Cristo, Esposo Celeste, bate à porta do nosso coração com suas divinas inspirações e tapamos os nossos ouvidos para não ouvi-Lo!

O que dizer de uma pessoa que tapa os ouvidos para não ouvir a Cristo Jesus? Por maior que seja diante dos homens, é um ignorante diante de Nosso Senhor: “Por mais perfeito que seja alguém entre os filhos dos homens, se lhe falta a Sabedoria que vem de ti, de nada valerá” (Sb 9, 6).

A alma que não possui Cristo não pode produzir bons frutos: “Ai da alma se lhe falta Cristo que a cultive com diligência para que possa germinar os bons frutos do Espírito! Deserta, coberta de espinhos e de abrolhos, terminará por encontrar, em vez de frutos, a queimada. Ai da alma, se seu Senhor, o Cristo, nela não habitar! Abandonada, encher-se-á com o mau cheiro das paixões e virará moradia dos vícios” (São Macário).

Quantas vezes escutamos no nosso interior umas vozes “misteriosas” que nos chamam para a virtude e nos convidam à oração... que nos repreendem por nossas faltas e que nos admoestam sobre o perigo que estamos correndo de perder a graça santificante!

É Deus que nos fala, é Deus à porta do nosso coração, desejoso de entrar nele para de lá dirigir todas as nossas ações... e não Lhe abrimos a porta!

Temos sido duros! Descorteses! Ingratos!

Deus é o Senhor do nosso coração... Quantas vezes O expulsamos dele para o abrir ao inimigo de nossa salvação!

Quantas vezes veio o Senhor nos aconselhar nas horas de dúvidas e não Lhe demos a mínima atenção... tapamos os ouvidos para suas admoestações.

Não é Ele o nosso Salvador? Sim. E porque é o nosso Salvador bate tantas vezes à porta do nosso coração para que Lhe demos hospedagem, a fim de tratar conosco altos assuntos da salvação da nossa alma. Somos, porém, mais desumanos para com Ele que os habitantes de Belém, pois nem sequer nos dignamos dizer-Lhe que não há lugar, mas conservamos fechadas as portas, sem darmos a menor atenção ao seu pedido: “Sim, meu Jesus, vinde nascer pela vossa graça em meu pobre coração! Eu não me animaria a pedir-Vos esta graça, se não soubesse que Vós mesmo me inspirais o pensamento de vo-la rogar. Ó Senhor, sou aquele que com os meus pecados Vos tenho tantas vezes expulso cruelmente da minha alma” (Santo Afonso Maria de Ligório).

Não é Jesus Cristo o bom Pastor? E quantas vezes Ele nos quis desviar com as suas inspirações dos errados caminhos por onde temos andado; e nós, surdos aos seus brados, continuamos a mergulhar em nossos vícios correndo grande risco de sermos “devorados” pela fera infernal: “O bom Pastor, que deu a vida por todos os homens, a ninguém exclui de seu rebanho; é o homem que se exclui quando repele conscientemente a mensagem de Cristo: julga-se então por si mesmo ‘indigno da vida eterna’. Todavia, devem os fiéis estender sempre as mãos aos irmãos incrédulos, obstinados ou fugitivos e favorecer, por todos os modos, sua entrada ou regresso ao único redil” (Pe. Gabriel de Santa Maria Madalena).

Não é Ele nosso amigo? E quantas vezes Ele bateu à porta do nosso coração para nos visitar, para comunicar-nos os segredos do Céu, para informar-nos das tramas armadas pelo demônio que trabalha para nos seduzir! E tapamos os ouvidos para sua voz... desprezamos as suas inspirações!

Infeliz daquele que despreza a amizade de Nosso Senhor... esse caminhará nas trevas. Jesus Cristo é o melhor amigo: “Quem escolheu a Jesus por amigo pôs-se à sombra de boa árvore... Quem entrou na amizade com Jesus pôs-se no caminho da salvação, porque ser amigo de Jesus é ser amigo de Deus, do bem... da virtude” (Pe. Alexandrino Monteiro).

Quanta dureza de coração! Fechar a porta a um amigo é renunciar à sua amizade... e não ser amigo de Jesus é ser seu inimigo: “Os que não estão unidos com Jesus Cristo pela fé, pela esperança e pela caridade, estão contra Ele... O Senhor é incisivo ao exigir uma posição perante a sua Pessoa e o seu Reino. O cristão não pode contemporizar e, querendo ser cristão, admitir ideias ou proposições que não estão de acordo com o depósito da Revelação e com o que o Magistério da Igreja nos ensina” (Edições Theologica).

Abramos a porta do nosso coração quando nela bater Jesus Cristo. Deixemo-Lo entrar; porque n’Ele vem a salvação. Ouçamos os seus conselhos: se seguirmos os seus conselhos jamais erraremos: “Fazei, ó Senhor, que eu busque essas pastagens para desfrutá-las com todos os cidadãos do céu... encha-se de ardor o meu desejo das coisas celestes: amar assim já é pôr-se a caminho” (São Gregório Magno).

Quando ouvirmos a voz interna que nos chama ao recolhimento do espírito, não a desprezemos. É Jesus Cristo que deseja entrar, é um amigo que nos vem cumprimentar com as mãos cheias de benefícios. É um médico experimentado que vem curar nossas enfermidades.

Se trilhamos caminhos errados e colocamos em risco nossa salvação, é porque tapamos os ouvidos para a sua voz.

Se tivéssemos aberto as portas do coração a esse divino Sol, não andaríamos tão frios e fracos na virtude!

Jesus Cristo é a luz do mundo! Se lhe tivéssemos aberto as portas da nossa alma, com certeza as trevas já teriam desaparecido. Com a luz de suas inspirações já estaríamos bem avançados no caminho da virtude... próximos ao cume da santidade.

Não temamos a presença de Nosso Senhor. A paz entra com Ele. Quando ia à casa de algum de seus amigos, na Judéia, a primeira saudação era: “A paz esteja convosco!” “Dai-me, pois, a paz, Senhor! Para poder dá-la aos outros, primeiro a tenha eu; que a possua eu, primeiro! Arda em mim o fogo, para que o possa acender nos outros” (Santo Agostinho).

Assim Nosso Senhor entra em nossa alma imortal: enche-a de paz e alegria, expulsando dela temores e receios.

Demos, pois, atenção ao toque da sua inspiração. Quantas vezes no nosso interior se ouve essa voz: “Deixa este caminho! Foge dessa companhia! Não leias esse livro! Não fales com essa pessoa! Emenda-te deste vício! Pratica esta virtude!”

É a voz do bom Pastor. É Ele que fala ao nosso coração. É Ele que nos aconselha o bem e nos desvia do mal.

Abramos a porta do nosso coração e seremos salvos!

 

Pe. Divino Antônio Lopes FP.

Anápolis, 14 de agosto de 2011

 

Bibliografia

 

Sagrada Escritura

Pe. Alexandrino Monteiro, Raios de luz

Edições Theologica

São Josemaría Escrivá, Cristo que passa, n.º 8

São Macário, Escritos

Santo Afonso Maria de Ligório, Meditações

Pe. Gabriel de Santa Maria Madalena, Intimidade Divina

Santo Agostinho, Sermão 357, 2-3

 

 

 

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Pe. Divino Antônio Lopes FP. “Eis que estou à porta e bato”

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