ESPÍRITO DE AMOR E DE SABEDORIA

(Rm 5, 5)

 

“O amor de Deus foi derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado”.

 

A SABEDORIA “é um dom pelo qual nós, elevando o espírito acima das coisas terrenas e frágeis, contemplamos as eternas, isto é, a Verdade, que é Deus, no qual pomos nossa complacência, amando-O como ao nosso Sumo Bem” (São Pio X).

O amor de que se fala aqui é, ao mesmo tempo, o amor com que Deus nos amaque se manifesta no envio do Espírito Santo –, e o amor que Deus põe nas nossas almas para que O possamos amar. O II Concílio de Orange, citando Santo Agostinho, resume assim este ensinamento: “Amar a Deus é exclusivamente um dom de Deus. Ele próprio, que, sem ser amado, ama, concedeu-nos que O amássemos. Fomos amados quando ainda Lhe éramos desagradáveis, para que nos fosse concedido algo com que agradar-Lhe. Com efeito, o Espírito do Pai e do Filho, a quem amamos com o Pai e o Filho, derrama a caridade nos nossos corações”.

O Pe. Lorenzo Turrado comenta: “Também disse que o fundamento dessa nossa esperança é ‘o amor de Deus derramado em nossos corações por virtude do Espírito Santo, que nos tem dado’ (v. 5). De que amor fala São Paulo? Do amor com que Deus nos ama ou do amor (virtude teologal) com que amamos a Deus? A  expressão ‘derramado em nossos corações’ parece pedir a segunda interpretação, que é a que muitos autores, seguindo a Santo Agostinho, e em cujo sentido citam o texto os concílios Arausicano (c. 17 e 25) e Tridentino (ses 6 c. 7); no entanto, o contexto geral dessa passagem bíblica, particularmente os v. 8-9, está exigindo claramente a primeira interpretação. Claro que não se trata de um amor que ficasse somente numa atitude de benevolência desde fora, mas de um amor com um laço vivente dentro de nós, que é o Espírito Santo, presente em nós a título de dom, que desde o primeiro momento de ‘justificados’ dirigirá toda nossa vida sobrenatural (cf. Rm 8, 8-27; Gl 3, 1-5). Esta presença ativa do Espírito Santo em nós é claro testemunho do amor com que Deus nos ama e prova evidente de que ‘nossa esperança não ficará confundida’. Mas como esta presença não sempre será perceptível e podem chegar momentos de desalento, São Paulo nos v. 6-8, com frases entrecortadas e repetindo de vários modos a mesma ideia, assinala a prova suprema, sempre perceptível, que Deus tem dado  deste amor: a morte de Cristo”.

 

PODEMOS CONTAR SEGURAMENTE COM O AMOR DE DEUS

 

O primeiro e mais excelente dom que o Espírito Santo concede ao homem é a caridade. O cristão não deve desanimar nas tribulações da vida nem perder a esperança, porque pode contar seguramente com o amor de Deus: ‘O amor de Deus foi derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado. Este amor é a fonte de todos os bens: da justificação à santidade, da caridade fraterna à comunhão íntima com Deus, da vida terrena transcorrida na graça e na amizade divina à vida eterna estabelecida num amor indefectível, na visão beatífica. Ninguém mais do que o Espírito Santo, que é amor substancial, pode dar ao homem a convicção profunda de ser amado por Deus e, ao mesmo tempo, movê-lo a retribuir seu amor. Ele impele todos os homens a amar a Deus Pai e nele o mundo e os homens. A caridade é dom e, ao mesmo tempo, fruto do Espírito Santo; dom infundido por ele, fruto levado à plena maturação sob seu influxo. Enquanto dom, indica São Paulo, como o que deve ser preferido e desejado acima de todos os dons: “Eu vos indico um caminho ainda mais excelente... Buscai a caridade” (1 Cor 12,31; 14,1). Enquanto fruto, designa-o como efeito essencial de uma vida cristã renovada pelo Espírito Santo: “O fruto do Espírito é amor” (Gl 5,22). É um fruto único, indivisível, embora com muitos aspectos e qualidades, porque o amor, quando perfeito, traz consigo todas as virtudes. Do perfeito amor de Deus brotam “alegria e paz”; provém a caridade para com o próximo: a “longanimidade, benevolência e bondade”; e, enfim, preciosas qualidades morais: “fidelidade, mansidão e temperança”. No dom do amor estão, portanto, todos os outros dons; este é a síntese do que Deus dá ao homem e do que pode o homem retribuir a Deus. É o AMOR a essência do ser e da santidade de Deus, e é a essência da vida e da santidade do cristão.

O Espírito Santo, Espírito de AMOR, ilumina e inflama ao mesmo tempo a mente e o coração, a inteligência e a vontade. Infunde, assim, no cristão, um conhecimento mais íntimo e saboroso de Deus e de seus mistérios. É o dom da SABEDORIA que não se baseia no estudo, mas se funda no AMOR e, através da riqueza do amor, leva a conhecer e experimentar a Deus. Assim como a mãe conhece o filho não por via de raciocínio, mas pela intuição proveniente de seu amor materno, assim o cristão, através da caridade, chega ao conhecimento intuitivo de Deus, conhecimento que tira do amor luz e força de penetração. É um dom do Espírito Santo, por ser fruto da caridade infundida por Ele no fiel, e por ser participação de sua sabedoria infinita. Rezava São Paulo pelos efésios, para que fossem “corroborados pelo Espírito... radicados e fundados na caridade, para chegarem a compreender... a largura e o comprimento, a altura e a profundidade e conhecer a caridade de Cristo que excede a toda compreensão” (Ef  3, 16-19). O mistério do amor infinito de Cristo, como todos os outros mistérios divinos, não pode ser aprofundado sem particular influxo do Espírito Santo, sem sermos “corroborados” por ele e “radicados e fundados na caridade”.

Deste modo, o dom da SABEDORIA enriquece imensamente a vida de oração: o orante mergulha em Deus e nos seus mistérios, experimenta-os e os saboreia não só através da luz da fé, mas também através do AMOR. O influxo da SABEDORIA, porém, não para aqui, mas envolve toda a vida do cristão, ensinando-o a ver Deus em todas as coisas e todas as coisas em Deus. É um saber, um julgar, todo segundo Deus; portanto, não segundo os critérios humanos, mas segundo os critérios divinos. É a SABEDORIA anunciada pelo Apóstolo: “Uma sabedoria não deste mundo... uma sabedoria envolta em mistério”, revelada “mediante o Espírito”, fruto de seus “ensinamentos” interiores; sabedoria que “o homem natural não compreende” porque as coisas de Deus se julgam só por meio do Espírito” (1 Cor 2, 6-14).

 

Oração

 

Ó Espírito Santo, fazeis de medianeiro entre Deus e a alma. Sois vós que moveis com ardentes desejos a alma e a fazeis abrasar-se no fogo soberano que está tão perto dela! Quem dirá vossas misericórdias para com a alma, ó Senhor? Sede bendito e louvado para sempre, por vosso grande amor por nós! Ó Deus meu e criador meu! É possível haver alguém que não vos ame? Ai! Infeliz de mim! Sou eu mesmo (a) o (a) que durante tanto tempo não vos amou!

Coisa maravilhosa e digna de muita ponderação! Desde que entendeis, ó Senhor, que uma alma é toda vossa – vossa sem outro interesse ou preocupação, ou motivo pessoal, senão só porque sois o seu Deus e vos ama, - a ela vos comunicais incessantemente por inumeráveis meios e modos, como convém Aquele que é a mesma Sabedoria... Haverá ainda alguma outra coisa a desejar? Ó Senhor, como são desproporcionados nossos desejos às vossas maravilhas! Em que baixo lugar ficaríamos se désseis apenas o que ousamos pedir!

 

Pe. Divino Antônio Lopes FP (C)

Anápolis, 09 de junho de 2014

 

 

Bibliografia

 

Sagrada Escritura

São Pio X, Catecismo Maior, 915

II Concílio de Orange, De gratia, cân. 25

Pe. Gabriel de Santa Maria Madalena, Intimidade Divina

Edições Theologica

Santa Teresa de Jesus, Escritos

Pe. Lorenzo Turrado, Bíblia comentada

Pe. Juan Leal, A Sagrada Escritura (texto e comentário)

Santo Agostinho, Escritos

 

 

 

 

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Pe. Divino Antônio Lopes FP. “Espírito de amor e de sabedoria”

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