NÃO CONTRISTEIS O ESPÍRITO SANTO

(Ef 4, 30)

 

“E não entristeçais o Espírito Santo de Deus, pelo qual fostes selados para o dia da redenção”.

 

O Espírito Santo habita nos corações dos católicos, é Espírito de caridade (Rm 15, 30), que se alegra com o bem e se entristece com o mal (1 Ts 4, 8). A motivação da moral paulina se remonta sempre aos princípios fundamentais da fé e do sobrenatural. “Todos os cristãos possuem o Espírito Santo” (Pe. Juan Leal), como selo de sua especial propriedade de Deus (cf Ef 1, 13-14).

“... para o dia da redenção” é concretamente o dia escatológico, em que Deus reconhecerá os seus e desprezará os estranhos. Se na redenção de Israel, ao sair do Egito, o selo distintivo foi o sangue do cordeiro, agora o selo é o mesmo Espírito de Deus.

Tudo o que possa LESAR a união entre os fiéis “ENTRISTECE” o ESPÍRITO SANTO, que é vínculo de unidade no Corpo místico de Cristo (cfr Ef 4, 3-4).

O ESPÍRITO SANTO habita nas almas dos fiéis desde o Batismo, e essa presença robustece-se com a recepção da Confirmação e dos outros sacramentos. Como ensina o Concílio de Florença, na Confirmação “é dado o Espírito Santo para nos fortalecer, como foi dado aos Apóstolos no dia de Pentecostes, de modo que o cristão possa confessar com audácia o nome de Cristo” (Concílio de Florença). Santo Ambrósio, ao comentar os efeitos da Confirmação, indica que a alma recebe do Espírito Santo “o selo espiritual, o espírito de sabedoria e entendimento, espírito de conselho e fortaleza, espírito de conhecimento e piedade, espírito do santo temor. Selou-te Deus Pai, fortaleceu-te Cristo, o Senhor, deu-te o penhor do Espírito no teu coração”. Por a Confirmação ser um dos três sacramentos que imprimem caráter, esse selo permanece eternamente.

Quando chegou o momento de redimir Israel da escravidão egípcia, o sangue do cordeiro pascal, com que tinham sido aspergidas as portas das casas israelitas, foi o sinal distintivo daqueles que deviam salvar-se. De modo análogo, o selo do Espírito Santo, recebido no Batismo, é o sinal indelével gravado na alma daqueles que são chamados à salvação em virtude da redenção realizada por Cristo.

“O Apóstolo fala aqui da impressão de um sinal que destina para a glória futura, glória que se adquire pela graça, a qual é atribuída ao Espírito santo, porque o Espírito Santo é amor, e precisamente é por amor que Deus nos concede estes dons gratuitos” (Santo Tomás de Aquino).

 

OFENDE-O TODA PALAVRA INSINCERA

 

Mas, sem chegarmos ao excesso de EXTINGUIR em nós o Espírito Santo pelo PECADO MORTAL, podemos amargurar de muitos modos a sua permanência no nosso coração.

Antes de tudo, pelo pecado da língua. Ele desceu sobre os Apóstolos no cenáculo sob o símbolo de uma LÍNGUA de FOGO, para nos ensinar que toda palavra que vai contra o amor de Deus O ofende.

Ofende-O também toda palavra insincera. Nos primeiros tempos do Cristianismo, quando o Espírito Santo vivia numa intimidade sensível com a Igreja nascente, um homem de nome Ananias, com sua mulher Safira, vendeu um campo seu e levaram só uma parte do ganho a São Pedro, dizendo-lhe que era todo o preço. Mas São Pedro disse tristemente: “Ananias, por que quiseste dizer o que é falso? Mentiste ao Espírito Santo. E tu, Safira, por que te uniste com teu marido para amargurar o Espírito Santo?” (At 5, 3-5). O casal morreu na hora (At 5, 7-10).

Quão pouca sinceridade há na vida de muitos católicos: nas suas relações familiares, nos negócios, e, até na Confissão, onde eles quereriam dizer e não dizer, acusar-se e escusar-se! Enquanto isso, o Espírito Santo, que é Espírito da verdade, é AMARGURADO.

Em geral, os atos que contristam o Espírito Santo são todos aqueles a que, com demasiada desenvoltura, nós chamamos PECADOS VENIAIS. Certos discursos de murmuração, certas palavras levianas e certas imprecações de impaciência, não causam prazer ao Deus que habita em nós. O jovem que desperdiça tantas horas na ociosidade, que dá inteira liberdade aos seus olhos, que na igreja mantém uma atitude aborrecida e distraída, não sabe que CONTRISTA o Espírito Santo?

Não o sabe aquela mulher que só cuida de adornar os cabelos ou o vestido sem seriedade, que não vela sobre a alma de seus filhos para que cresçam inocentes, bastando-lhe somente que sejam sadios no corpo?

Não o sabem todos esses católicos que vivem uma vida tíbia (morna, frouxa), sem entusiasmo pelo bem, sem fervor pela oração, sem amor à Santíssima Eucaristia? Não sabem que o Espírito Santo que está neles se CONTRISTA e GEME?

 

Oração

 

Ó Espírito Santo, rompei a minha dureza interior, a preocupação e a perturbação que me impedem de repousar em vós! O que quereis de mim é uma franca, doce, simples e pacífica adesão à vossa vontade, é um abandono a vós, uma entrega em vossas mãos, como branda cera, é um não inquietar-me, pois muitas vezes me atormento como se tudo o que acontece dependesse de mim e não de vós.

 

Pe. Divino Antônio Lopes FP (C)

Anápolis, 15 de junho de 2014

 

 

Bibliografia

 

Sagrada Escritura

Edições Theologica

Concílio de Florença, Decreto Pro Armeniis , Dz-Sch, n. 1319

Santo Ambrósio, De mysteriis, VII, 42

Santo Tomás de Aquino, Suma Teológica, II, q. 63, a.3, ad 1

Pe. Juan Leal, A Sagrada Escritura

Pe. Lorenzo Turrado, Bíblia comentada

Pe. João Colombo, Pensamentos sobre os Evangelhos e sobre as festas do Senhor e dos Santos

Pe. Léonce de Grandmaison, Escritos

 

 

 

 

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Pe. Divino Antônio Lopes FP. “Não contristeis o Espírito Santo”

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