TEMPLOS DO ESPÍRITO SANTO

(1 Cor 3, 16)

 

“Não sabeis que sois um templo de Deus e que o Espírito Santo de Deus habita em vós?”

 

Estas palavras aplicam-se tanto a cada católico, como à Igreja inteira. A imagem do católico como templo de Deus, utilizada com frequência por São Paulo (cfr 1 Cor 6, 19-20; 2 Cor 6, 16), manifesta a habitação da Santíssima Trindade na alma em graça. Com efeito, recorda o Papa Leão XIII, “por meio da graça, Deus habita na alma justa como num templo, de modo íntimo e singular”. Embora por vezes se atribua ao Espírito Santo (cfr Jo 14, 17; 1 Cor 6, 19), realmente tem lugar pela presença de toda a Trindade, já que todas as operações divinas que terminam fora do próprio Deus devem ser referidas à única natureza divina.

O próprio Jesus Cristo revelou este mistério sublime, de que nunca teríamos podido suspeitar: “O Espírito da verdade (...) permanece ao vosso lado e está em vós (...) Se alguém me tem amor, guardará a minha palavra, e meu Pai amá-lo-á e viremos a ele e faremos morada nele” (Jo 14, 17-23). Ainda que se trate de algo que, enquanto estivermos na terra, não se pode entender nem expressar com plena clareza, ajuda a obter alguma luz o considerar que “as Pessoas divinas habitam na criatura inteligente enquanto presentes nela de modo imperscrutável, por ela são atingidas por via de conhecimento e amor” (Santo Tomás de Aquino), “de modo, porém, absolutamente íntimo e singular, que transcende a natureza humana” (Pio XII).

A consideração desta maravilhosa realidade ajuda a cair na conta da transcendência que tem o viver na graça de Deus, e o profundo horror que há de ter ao pecado mortal, que “destrói o templo de Deus”, privando a alma da graça e amizade divinas.

Além disso, mediante esta habitação, a criatura humana começa a gozar uma antecipação do que será a visão beatífica no céu, já que “esta admirável união só na condição e estado se diferencia daquela em que Deus enche os bem-aventurados beatificando-os” (Papa Leão XIII).

A presença da Trindade na alma em graça convida a procurar uma intimidade mais pessoal e direta com Deus, a quem em todo o momento podemos buscar no fundo de nossas almas: “Frequenta o convívio do Espírito Santo – o Grande Desconhecido – que é quem te há de santificar. Não esqueças que és templo de Deus. – o Paráclito está no centro da tua alma: ouve-O e segue docilmente as suas inspirações” (São Josemaría Escrivá).

 

O ESPÍRITO SANTO É DEUS

 

Pentecostes é bem motivado porque a Igreja Católica Apostólica Romana distingue com grande solenidade a Festa do DIVINO ESPÍRITO SANTO. Pentecostes é o dia das núpcias (casamento, matrimônio) da Igreja Católica com o ESPÍRITO DIVINO, o dia de sua proclamação solene e oficial como o reino de Deus sobre a terra. Não só a Igreja, mas com ela todos nós devemos festejar com RESPEITO, DEVOÇÃO, ALEGRIA e GRATIDÃO o dia de Pentecostes, lembrados da palavra do Apóstolo São Paulo que diz: “Não sabeis que sois um templo de Deus e que o Espírito Santo de Deus habita em vós?” (1 Cor 3, 16). Pelo Batismo fomos transformados em santuários do ESPÍRITO SANTO; e seus santuários seremos enquanto o PECADO MORTAL não tiver expulsado o DIVINO HÓSPEDE da nossa alma. O dia de Pentecostes chama para nossa lembrança esta grande verdade, digna da nossa consideração. Demos a nossa atenção a duas perguntas: 1.º Sabemos avaliar a dignidade que há em sermos templos do ESPÍRITO SANTO? 2.º Conhecemos os nossos deveres que daí para nós resultam?

O ESPÍRITO SANTO é Deus. Como Deus Ele está em todo lugar: “O Espírito do Senhor enche o orbe, e este, que contém todas as coisas tem conhecimento até duma voz” (Sb 1, 7).

Ser TEMPLO do ESPÍRITO SANTO quer dizer que a alma do justo é a morada predileta do DIVINO ESPÍRITO. Não há nisto uma grande distinção?

Quem é o ESPÍRITO SANTO? A Sagrada Escritura e  o próprio Jesus Cristo nos esclarecerão sobre sua natureza. Não é o ESPÍRITO SANTO aquele espírito, a terceira Pessoa da Santíssima Trindade que nos princípios da criação pairava sobre as águas, vivificando, coordenando e aformoseando o universo ainda em confusão? “Pela palavra de Deus foram firmados os céus, e pelo espírito de sua boca criados seus exércitos” (Sl 32, 6). É o ESPÍRITO SANTO que perscruta as profundezas da divindade: “Quem é o homem que sabe o que existe no homem, senão o espírito do homem que nele está? Assim também o que pertence a Deus, ninguém o sabe senão o Espírito de Deus” (1 Cor 2, 11). É o ESPÍRITO SANTO que desvendou aos profetas as coisas vindouras: “Não foi jamais pela vontade humana que as profecias se produziram; mas inspirados pelo Espírito Santo falaram os santos homens de Deus” (2 Pd 1, 21). Foi o ESPÍRITO SANTO que em sua sabedoria preparou o mundo para a vinda da Mãe Imaculada do Salvador.

Iluminado pelo ESPÍRITO SANTO, o profeta Isaías eleva sua voz e diz ao mundo: “Eis que a virgem conceberá e dará à luz um filho e será chamado seu nome Emmanuel” (Is 7, 14). Foi o ESPÍRITO SANTO que no Antigo Testamento formou os protótipos de Maria Santíssima, conhecidos pela escada misteriosa de Jacó, pelo velo de Gedeão, pela arca da aliança e nas pessoas de Eva, de Judite e Ester. Foi o ESPÍRITO DIVINO que em sua onipotência criou a alma e o corpo do Salvador: “O Espírito Santo virá sobre ti, e a virtude do Altíssimo te cobrirá com sua sombra” (Lc 1, 35). Foi o ESPÍRITO de Deus que na primeira Festa de Pentecostes manifestou seu poder nos Apóstolos e nos primeiros cristãos: “Todos ficaram cheios do Espírito Santo e começaram a falar em várias línguas, conformo o Espírito Santo lhes dava se exprimissem” (At 2, 4), e: “Fazei penitência e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo para remissão dos vossos pecados; e recebereis o dom do Espírito Santo” (At 2, 38). É o ESPÍRITO SANTO que ainda opera na Igreja de Jesus Cristo, preservando-a de cair em erro, apesar da fraqueza humana dos seus membros: “Eu rogarei ao Pai, e ele vos dará outro Paráclito, para que fique eternamente convosco; o Espírito da verdade a quem o mundo não pode receber” (Jo 14, 16), e: “Mas o Paráclito, o Espírito Santo, que o Pai há de enviar em meu nome, ele vos ensinará todas as coisas e vos fará lembrar tudo o que eu vos tenho dito” (Jo 14, 26). O ESPÍRITO SANTO tem a mesma natureza divina do Pai e do Filho e como eles é eterno, todo-poderoso, infinito, onisciente e santíssimo.

E o Apóstolo a nós se dirige perguntando-nos: “Não sabeis que sois um templo de Deus e que o Espírito Santo de Deus habita em vós?” (1 Cor 3, 16).

Não sabeis a que dignidade Deus vos elevou, transformando-vos em TEMPLOS vivos do ESPÍRITO SANTO?

Como se deve entender que o ESPÍRITO SANTO habita de uma maneira especial na alma do justo? Não é por sua natureza, certamente, que a alma merece esta distinção. É por uma graça especial que ela possui esta dignidade. Uma vez santificada nos sacramentos do batismo e da penitência, o ESPÍRITO SANTO nela erigiu o trono que é a graça santificante. Com esta graça conferiu-lhe o esplendor das virtudes divinas e morais. E pelo ESPÍRITO SANTO, que na alma do justo esplende a luz da fé, fulgura a estrela da esperança e arde a lâmpada da caridade. Nas virtudes da prudência, da moderação, da justiça e fortaleza deu-lhes o apoio de outras tantas colunas indestrutíveis. Com tudo isto a revestiu de uma beleza sem par, de uma formosura que encanta os anjos do céu. Grandioso e belo era o templo de Salomão. Mais bela, mil vezes mais admirável, é, pois, a alma no esplendor da graça santificante. Que dignidade esta dá ao justo de ser em verdade o TEMPLO do ESPÍRITO SANTO!

O santo mártir Leônidas beijava o peito de seu filhinho Orígenes, homenageando desta maneira o TEMPLO do ESPÍRITO SANTO.

Grande verdade esta e tão esquecida pelos próprios católicos! Muitos deles são como aqueles doze homens que São Paulo conheceu em Éfeso. À sua pergunta: “Quando abraçastes a fé recebestes o Espírito Santo? Eles lhes responderam: Nem mesmo ouvimos se há Espírito Santo!” (At 19, 2). Devemo-los desculpar, porque, tendo eles recebido apenas o batismo de São João, ainda não eram cristãos. Nós, porém, somos batizados, e, portanto, TEMPLOS do ESPÍRITO SANTO. Quantos há que não se lembram da dignidade que possuem! Quantos não transformaram o TEMPLO da sua alma em um covil abjeto (desprezível) e vil!

Os deveres do católico, sendo ele TEMPLO do DIVINO ESPÍRITO SANTO! “Santo é o templo de Deus que sois vós” (1 Cor 3, 17). Com estas palavras o Apóstolo frisa bem os deveres que o católico tem para com o ESPÍRITO SANTO.

1.º Um santuário, residência de Deus não deve ser profanado.  Em certa ocasião os Filisteus tinham se apoderado da Arca da Aliança, levaram-na à cidade de Azot, e colocaram o santuário do Senhor ao lado da imagem de Dagon. Esta profanação provocou a justiça de Deus que infligiu ao povo desrespeitador  graves e  repetidos castigos (1 Sm 5, 1-6). Profanação maior é  EXPULSAR o ESPÍRITO SANTO da sua morada, que é a alma, e pôr em seu lugar o ídolo do pecado. Não são poucos aqueles que assim procedem; e não por certo, somente aqueles que não conhecem o ESPÍRITO SANTO e d’Ele nunca ouviram falar.

2.º Longe de ver ser profanado o TEMPLO de Deus, cuidado do católico deve ser adorná-lo e tratá-lo com todas as honras. Admirável foi o zelo de Salomão na construção de um templo ao Altíssimo. Os cedros e ciprestes do Líbano haviam de fornecer suas madeiras preciosas; ouro e mármore em quantidade foram empregados na ornamentação interior do edifício que era uma das maravilhas do mundo.

Que é o templo de Salomão comparado com a alma do justo? Se ela já possui a graça santificante, dádiva do ESPÍRITO SANTO, sua beleza deve ser por nós cultivada e conservada com o auxílio do mesmo ESPÍRITO.   O ESPÍRITO SANTO opera em nós constantemente, iluminando-nos, animando-nos e fazendo com que em nossa alma robusteça a fé, a esperança e a caridade, e se desenvolva cada vez as virtudes morais com a nossa própria cooperação. O ESPÍRITO de Deus move-nos a cumprirmos sempre fielmente os nossos deveres de estado e observar fielmente os mandamentos da lei de Deus. É a esta voz do ESPÍRITO da verdade e não à das nossas paixões que devemos dar ouvido. Assim é que ornamentamos o TEMPLO do ESPÍRITO SANTO.  Assim cumpriremos o nosso sagrado dever para com o DIVINO HÓSPEDE, certos de que não nos será negado saborear seus deliciosos frutos que são estes: a caridade, a paz, a paciência, a benignidade, a bondade, a longanimidade, a mansidão, a fé, a modéstia, a continência e a castidade (Gl 5, 22).

 

Oração

 

Espírito Santo, concedei-me o dom da sabedoria afim de que eu cada vez mais goste das coisas divinas e, abrasado no fogo do vosso amor, prefira com alegria as coisas do céu a tudo o que é mundano, e me una para sempre a Jesus Cristo, sofrendo tudo neste mundo por seu amor. Amém.

 

Pe. Divino Antônio Lopes FP (C)

Anápolis, 26 de junho de 2014

 

 

Bibliografia

 

Sagrada Escritura

Pe. Juan Leal, A Sagrada Escritura

Pe. Lorenzo Turrado, Bíblia comentada

Santo Tomás de Aquino, Suma Teológica, I, q. 43, a. 3

Pe. João Batista Lehmann, Euntes... Praedicate!

Papa Leão XIII, Divinum illud munus, n. 10

Pio XII, Mystici Corporis, Dz-Sch, n. 3815

São Josemaría Escrivá, Caminho, n. 57

Frei Ambrósio Johanning, Alimento da alma devota, ano de 1910

Edições Theologica

 

 

 

 

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Pe. Divino Antônio Lopes FP. “Templos do Espírito Santo”

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