O ESPÍRITO DA IGREJA

(At 20, 24)

 

“... dar testemunho do Evangelho da graça de Deus”.

 

São Paulo conseguiu amar Jesus Cristo até ao desprezo de si mesmo, e o curso da sua vida significa unicamente para ele a possibilidade de cumprir a tarefa que Deus lhe encomendou (cfr 2 Cor 4, 7; Fl 1, 19-26; Cl 1, 24). O Apóstolo concebe a santidade como uma corrida constante e ininterrupta, cheia de amor e de obras, ao encontro do Senhor. Este é o ideal da perfeição cristã que ensinaram, segundo o modelo marcado por São Paulo, os mais destacados Padres da Igreja: “Se se trata da virtude, aprendemos do próprio Apóstolo que a perfeição daquela só tem o limite de não ter nenhum. Este grande homem de elevado espírito, este divino Apóstolo, nunca deixa, ao correr na via da virtude, de ‘tender para o que está diante’ (Fl 3, 13). Deter-se parece-lhe perigoso. Por quê? Porque todo o bem, pela sua própria natureza, carece de limite e só está limitado pelo encontro no seu contrário: assim a vida pela morte, a luz pela obscuridade, e em geral, qualquer bem pelo seu oposto. Tal como o fim da vida é o começo da morte, assim também deixar de correr no caminho da virtude é começar a fazê-lo no caminho do vício” (São Gregório de Nissa).

 

NÃO GUIA O ESPÍRITO SANTO A IGREJA POR FÁCEIS CAMINHOS

 

A Igreja, fundada por Jesus Cristo, para prolongar nos séculos sua obra de salvação, é animada por seu mesmo Espírito. De fato, corroborada pelo DIVINO PARÁCLITO, no mesmo dia de Pentecostes iniciou ela sua carreira pelo mundo, anunciando o Evangelho. Foi no dia de Pentecostes – ensina o Concílio Vaticano IIque começaram os ‘Atos dos Apóstolos’, do mesmo modo que, pela descida do ESPÍRITO SANTO sobre a Virgem Maria, fora Cristo concebido e, pela descida do mesmo Espírito sobre Cristo em oração, fora este impelido a cumprir seu Ministério.

Vive a Igreja, cresce e age no mundo sob o influxo e a guia do ESPÍRITO SANTO, pois Jesus Cristo o enviou da parte do Pai, a fim de  que interiormente realizasse sua obra de salvação e propagasse a Igreja. Tudo o que a Igreja realizou em dois milênios de cristianismo foi feito em virtude deste DIVINO ESPÍRITO que jamais deixou de assisti-la e de infundir-lhe o vigor necessário para o cumprimento de sua missão. Todavia, não guia o ESPÍRITO SANTO a Igreja por fáceis caminhos, isentos de dificuldades e de lutas, mas antes a sustenta para que progrida através das mesmas lutas e dificuldades com serenidade, constância e alegria de sofrer por Jesus Cristo.

Os primeiros Apóstolos que se alegravam “por terem sido dignos de sofrer afrontas... pelo nome de Jesus” (At 5, 41), constituem típico exemplo. Com eles São Paulo que, deixando as Igrejas da Ásia para seguir a inspiração divina que o impelia a outros lugares, dizia: “Agora, constrangido pelo Espírito, vou a Jerusalém, ignorando a sorte que lá me espera. Só sei que, de cidade em cidade, o Espírito Santo me assegura que me esperam em Jerusalém cadeias e perseguições”(At 20, 22-23). Estava consciente de arriscar a vida, mas nem por isso se afastava, “contanto que... dê testemunho do Evangelho da graça de Deus”(At 20, 24).

A força profunda tanto da Igreja nascente como da atual está no deixar-se guiar pelo ESPÍRITO SANTO, como “vinculada” a Ele, alcançando, pela fé neste “vínculo” que a une intimamente ao Espírito, a coragem de testemunhar Cristo e difundir o Evangelho, apesar das oposições e perseguições. Também aqui deve realizar-se a Palavra de Jesus Cristo: “Quando vier o Paráclito que eu enviarei da parte do Pai... ele dará testemunho de mim. Também vós dareis testemunho de mim” (Jo 15, 26-27).

O testemunho que pede Jesus Cristo à sua Igreja é, ao mesmo tempo, testemunho de fé e de amor. Na oração ao pai, pediu pelos seus: “Santificai-os na verdade” (Jo 17, 17), isto é, sejam tão doados e consagrados à verdade do Evangelho, que estejam prontos a gastar a vida e até sacrificá-la pela sua difusão. Mas na mesma oração acrescentou: “Sejam perfeitos na unidade, para que o mundo reconheça que tu me enviaste” (Jo 17, 23). O amor mútuo dos discípulos e a perfeita união que dela deriva devem testemunhar ao mundo que o Filho de Deus fez-se homem e veio trazer aos homens o amor divino; devem testemunhar a veracidade e o valor do cristianismo.

O ESPÍRITO SANTO, que é o Espírito da verdade e de amor, enquanto torna a Igreja capaz de testemunhar e difundir a fé vai corroborando-a e amalgamando-a (mesclar, misturar) interiormente para torná-la perfeita na unidade “para que o mundo creia” (Jo 17, 21). O ESPÍRITO SANTO, diz o Concílio Vaticano II, “para toda a Igreja e para todos e cada um dos fiéis é princípio de unidade”. Onde o Espírito age e os homens não impedem, promove sempre a união dos corações e das mentes, suscita o verdadeiro sentido de fraternidade, continuamente produz e estimula a caridade entre os fiéis.

A fim de colaborar para a união da Igreja, o primeiro e mais importante passo é secundar em si o desenvolvimento daquele amor que o ESPÍRITO SANTO derrama em cada batizado, para que produza frutos de caridade, de concórdia e de paz. Rezar pela união, pela paz universal e deixar fermentar no próprio coração germes de egoísmo, de intolerância, de antipatia, geradores de discórdia, seria verdadeiro contra-senso. Eis porque escreve São Paulo aos primeiros cristãos: “Conjuro-vos... eu, prisioneiro pelo Senhor, que vos comporteis de maneira digna da vocação a que fostes chamados, com toda a humildade, mansidão e longanimidade, suportando-vos mutuamente com caridade, pressurosos em manter a unidade do espírito mediante o vínculo da paz” (Ef 4, 1-3). Coisa não fácil à fraqueza humana, mas em cada fiel está o ESPÍRITO SANTO para sustentar seus esforços, recordar-lhe todos os ensinamentos de Jesus sobre o mandamento do amor... para ajudá-lo a vivenciá-los.

 

Oração

 

Ó Espírito Santo, sois na Igreja o que é a alma no corpo, sois o Espírito que a anima e a vivifica, que salvaguarda a unidade embora produzindo nela efeitos múltiplos e vários, que lhe traz todo vigor e beleza.

Ó Espírito Santo, prometido e enviado pelo Pai e por Jesus Cristo, conferíeis plenitude e intensidade de vida sobrenatural aos primeiros cristãos, os quais, por mais diversos que fossem, por causa do amor que neles derramáveis, tinham um só coração e uma só alma.

Mas, também hoje, continuais na Igreja de modo permanente, ação incessante de vida e de santificação... vós a tornais infalível na verdade... Dais à Igreja maravilhosa fecundidade sobrenatural. Infundis nas virgens, nos mártires e nos confessores virtudes heróicas que são um dos sinais da santidade... Sois o Espírito que trabalha no íntimo das almas com vossas inspirações para tornar a Igreja... pura, imaculada e sem ruga, digna de ser apresentada por Cristo ao Pai no dia do triunfo final. Amém.

 

Pe. Divino Antônio Lopes FP (C)

Anápolis, 02 de julho de 2014

 

 

Bibliografia

 

Sagrada Escritura

Concílio Vaticano II

Bem-aventurado Columba Marmion, Cristo nos seus mistérios

Pe. Gabriel de Santa Maria Madalena, Intimidade Divina

Edições Theologica

São Gregório de Nissa, De vita Moysis, I, 5

Pe. Lorenzo Turrado, Bíblia comentada

Pe. Juan Leal, A Sagrada Escritura

 

 

 

 

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Pe. Divino Antônio Lopes FP. “O Espírito da Igreja”

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