SEDE LUZEIROS

(Rm 12, 11-12)

 

“Sede zelosos e diligentes, fervorosos de espírito, servindo sempre ao Senhor, alegres por causa da esperança, fortes nas tribulações, perseverantes na oração”.

 

Deus não aceita SOLDADO fraco, mole e frouxo no seu exército: “Sê firme...” (Js 1, 6). Não aceita CATÓLICO medroso, indeciso e  inconstante no seu batalhão: “Sê corajoso” (Js 1, 6). Também não aceita SEGUIDOR assustado, tremente e choramingo na sua companhia: “Não temas e não te apavores” (Js 1, 9).

Deus quer SOLDADO VIOLENTO no seu exército, batalhão e companhia: “O Reino dos Céus sofre violência, e violentos se apoderam dele” (Mt 11, 12).

Explicação sobre ser VIOLENTO: “Essa força não se manifesta na violência contra os outros; é fortaleza para combater as nossas debilidades e misérias, valentia para não mascarar as nossas infidelidades, audácia para confessar a fé, mesmo quando o ambiente é contrário” (São Josemaría Escrivá), e: “O Reino dos Céus não pertence aos que dormem e vivem dando-se todos os gostos, mas aos que lutam contra si mesmos” (Clemente de Alexandria).

O católico deve ser LUZ... LUZEIRO. Deve reconhecer a sua grandeza!

Os RICOS gabam-se das suas terras e dos castelos... das grandes heranças que esperam: e o católico possui não terra, mas céu, não castelos derrocados, mas a cidade divina construída de pedras preciosas, heranças não passageiras, mas eternas.

Os SÁBIOS se ensoberbecem pela sua inteligência, mas, no entanto, não chegam a conhecer senão poucas coisas criadas: o católico tem uma luz na qual, um dia, verá e compreenderá os mistérios de Deus.

Os NOBRES decantam a antiguidade e o valor da sua linhagem: o católico é da linhagem de Deus: “... somos de raça divina” (At 17, 29).

Os PRÍNCIPES se gloriam se alguma vez o Rei transpôs a soleira da sua casa: mas o Espírito Santo habita dentro da alma do verdadeiro católico, em dulcíssima e estável moradia... Deus está em nós!

“Sede zelosos...” Eis as obras a que se deve consagrar a pessoa zelosa:

1. Deve ser cuidadosa em advertir os pecadores. Quem não avisa as pessoas a respeito dos seus desmandos mostra que também anda fora do caminho: “Quando eu disser ao ímpio: ‘Ó ímpio, certamente hás de morrer’ e tu não o desviares do seu caminho ímpio, o ímpio morrerá por causa da sua iniquidade, mas o seu sangue o requererei de ti” (Ez 33, 8).

2. A pessoa zelosa deve evangelizar. Foi pela pregação, diz São Paulo, que o mundo se converteu à fé de Jesus Cristo. É também pela pregação que a fé e o temor de Deus se conservam entre os fiéis.

3. Deve visitar os enfermos. É uma obra de caridade muito agradável a Deus e útil à salvação das almas.

Santo Agostinho diz que o “zelo é uma consequência do amor”; não, porém, de um amor qualquer, mas de um amor intenso. A chama do ZELO só brilha se há amor ardente. Antes, segundo o mesmo Santo, o ZELO não se distingue do amor: “O zelo é amor”. Quem ama, zela; quem não zela, não ama. São José Cafasso dizia: “Trabalhemos, trabalhemos, depois descansaremos no céu!” Ele ardia deste ZELO que brota da sede de almas.

Um dos melhores frutos da vida de união e de abandono a Deus é o de manter na alma o fogo do amor; não só do amor divino, mas da caridade para com o próximo... A verdadeira vida interior entrega-nos tanto às almas como a Deus: é fonte de ZELO. Com efeito, quando se ama verdadeiramente a Deus, deseja-se que Ele seja amado, que o seu nome seja glorificado, que o seu reino venha a nós, que a sua vontade se faça em todos. A alma que ama sinceramente a Deus é também devorada de ZELO, porém, pela glória da casa do Senhor.

De fato, que é o ZELO? É um ardor que queima e se comunica, que consome e se espalha; é a chama do amor manifestando-se, no exterior, pela ação. A alma abrasada de santo ZELO não se poupa pelos interesses de Deus, procurando servi-los com toda a energia. E quanto mais ardente é a fornalha desse fogo interior, mais irradia no exterior. Todo cristão que ama verdadeiramente a Deus e a Jesus Cristo, que quer corresponder ao desejo do coração do divino Mestre, deve, portanto, ser animado desse ZELO.

“Sede... diligentes...” Dedicação ou esmero naquilo que realiza... A palavra diligência vem do verbo latino diligere, que significa amar; diligens (diligente) significa aquele que ama. Remédio para a preguiça, a virtude da diligência consiste no carinho, alegria e prontidão (diferente de pressa) com que pensamos no bem e nos dispomos a realizá-lo da melhor forma possível. Diligência é uma habilidade adquirida que combina persistência criativa, esforço inteligente, planejado e executado de forma honesta e sem atrasos, com competência e eficácia, de modo a alcançar um resultado puro e dentro do mais alto nível de excelência.

“Sede... fervorosos de espírito...” Da nossa parte, duas disposições contribuem para nos fazerem receber graça sacramental mais abundante: SANTOS DESEJOS antes de receber os sacramentos, e o FERVOR no momento da recepção.

O FERVOR não fará senão aumentar esta dilatação da alma. Pois, que outra coisa é o FERVOR senão a disposição generosa de nada recusar a Deus, de deixá-lo atuar na plenitude da sua virtude e de colaborar com Ele com toda a nossa energia? Ora, esta disposição cava e dilata a nossa alma, torna-a mais apta às infusões da graça, mais dócil à ação do Espírito Santo, mais ativa em lhe corresponder. Desta mútua colaboração brotam frutos abundantes de santificação.

“... servindo sempre ao Senhor...” Devemos SERVIR a DEUS, não ao mundo, ao Demônio e a carne... e não basta SERVIR a Deus por um determinado tempo, mas SEMPRE.

Está claro que devemos SERVIR ao SENHOR, a DEUS, ao CRIADOR... fomos criados para SERVIR a DEUS.

Não fomos criados para SERVIR o mundo, o demônio e a carne; mas sim, para SERVIR a Deus.

Infeliz da pessoa que despreza o CRIADOR para SERVIR as coisas passageiras, vazias e caducas desse mundo.

Como servir a Deus? 1. Desprezar os prazeres oferecidos pelo mundo e colocar a felicidade em trabalhar somente para o Criador. 2. Evitar todos os males. 3. Guardar com fidelidade seus mandamentos. 4. Fazer as ações de boa vontade. 5.  Fazer todas as coisas, leves e pesadas, com o único fim de servir a Deus. 6. Não buscar consolação em Deus. 7. Servi-lO segundo a perfeição evangélica. 8. Possuir a liberdade de espírito. 9. Bons costumes e virtudes. 10. Com verdadeira caridade.

“Servi ao Senhor...” Isto é, ADORE-O, OBEDEÇA-O...

Não basta SERVIR a DEUS, mas é preciso SERVI-LO com ALEGRIA: “... servi ao Senhor com alegria...”

O LOUVOR a Deus, se é sincero, vem unido à ALEGRIA.

Com ALEGRIA, isto é, com o coração dilatado de AMOR e de ALEGRIA.

Devemos SERVIR ao DEUS, fonte da verdadeira alegria e alegria infinita, com o coração cheio de felicidade.

Deus não quer pessoas carrancudas, mal humoradas e com o semblante carregado em seu serviço... devemos nos doar completamente ao Criador e com muita alegria: “Deus ama a quem dá com alegria” (2 Cor 9, 7).

Santo Agostinho escreve: “Servi ao Senhor, com alegria’. A servidão é repleta de amargura. Os escravos servem murmurando. Não tenhais medo de servir a este Senhor. Não será com gemido, murmuração, indignação. Ninguém será vendido, pois suavemente fomos resgatados. É enorme felicidade, irmãos, ser escravo nessa grande casa, não obstante os grilhões... ‘Servi ao Senhor, com alegria’. Perto do Senhor, a escravidão é livre; escravidão livre, porque se serve com caridade, não por necessidade... a verdade te fez livre; faça-te escravo a caridade...”

São João Bosco escreve: “Dois são os artifícios que o demônio costuma usar para afastar o cristão do caminho da virtude. O primeiro é fazer crer que, para servir Deus, é preciso levar uma vida melancólica, longe de todo divertimento e prazer. Quero ensinar um plano de vida que o faça feliz e, ao mesmo tempo, conceda conhecer quais são os verdadeiros divertimentos e encantos, de tal forma que possa dizer como Davi: ‘Servi ao Senhor com alegria’ (SL 99, 2)’”.

Sirvamos ao Senhor com ALEGRIA, porque a sua recompensa é grande.

Quem SERVE a Deus com ALEGRIA nunca está SATISFEITO, porque sabe que somente Ele merece o seu amor. E se sente cansado, não fica acomodado, mas busca força em Deus para SERVI-LO com maior perfeição e alegria.

“... alegres por causa da esperança...” O amor de Deus causa em nós, junto à alegria interior, uma grande fortaleza e tenaz perseverança. Como consequência, “sofre-se a tribulação com gozo e esperança porque sabe-se que o que foi prometido em troca é um bem muito maior” (Pseudo-Ambrósio).

“... fortes nas tribulações...” Mas em Jesus Cristo ressuscitado e glorificado, a ESPERANÇA do Cristão atinge o céu. Tal ESPERANÇA é que lhe infunde a coragem de enfrentar não só as adversidades comuns da vida, mas também, se necessário fosse, as perseguições e até o martírio. Ameaças, perigos, adversidades não intimidam quem pôs toda a ESPERANÇA em Deus, pois sabe que Deus pode fortalecê-lo com a própria força divina.

“... perseverantes na oração”. Vigiai... rezando em todo tempo (Lc 21, 36). Perseverai na oração e vigiai nela, com ações de graças (Cl 4, 2). Há entre vós alguém que sofre? Reze! Alguém alegre? Cante salmos (Tg 5, 13). Tanto no Antigo como no Novo Testamento, a Sagrada Escritura está cheia de semelhantes apelos à perseverança na oração. Para quem tem fé viva, é a oração a respiração da alma, é sua atmosfera habitual, sem a qual não pode viver, como não pode viver o corpo sem ar.

 

Pe. Divino Antônio Lopes FP (C)

Anápolis, 07 de fevereiro de 2015

 

 

Bibliografia

 

Sagrada Escritura

Bem-aventurado José Allamano, A Vida Espiritual

São Josemaría Escrivá, Cristo que passa, 82

Clemente de Alexandria, Quis dives salvetur, 21

Pe. João Colombo, Pensamentos sobre os Evangelhos e sobre as festas do Senhor e dos Santos

Santo Afonso Maria de Ligório, A selva

Santo Agostinho, in Ps. 118, serm. 28; Contra Adimant., c. 13

Robilant, Vita del Ven. G. Cafasso

Bem-aventurado Columba Marmion, Jesus Cristo: Ideal do monge

Adolfo Tanquerey, Compêndio de Teologia Ascética e Mística

Edições Theologica

Pseudo-Ambrósio, Comentário da Epístola aos Romanos

Pe. Gabriel de Santa Maria Madalena, Intimidade Divina

 

 

 

 

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Pe. Divino Antônio Lopes FP. “Sede luzeiros”

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