RASPOU-LHES A BARBA E CORTOU SUAS VESTES

(1 Cr 19, 1-5)

 

1 Depois disso, sucedeu que Naás, rei dos amonitas, morreu e seu filho reinou em seu lugar. 2 E disse Davi: ‘Tratarei com bondade Hanon, filho de Naás, porque seu pai tratou-me com bondade’. E Davi enviou mensageiros para lhe apresentar condolências pela morte de seu pai. Mas quando os servos de Davi chegaram ao país dos amonitas, junto a Hanon, para consolá-lo, 3 os príncipes dos amonitas disseram a Hanon: ‘Pensas acaso que Davi pretende honrar teu pai, por ter ele mandado portadores de condolências? Não é antes para explorar, destruir e espionar o país que seus servos vieram à tua casa?’ 4 Então Hanon prendeu os servos de Davi, raspou-lhes a barba e cortou suas vestes à meia altura até às coxas, e depois despediu-os. 5 Informaram a Davi do que tinha acontecido àqueles homens, e ele mandou alguém ao encontro deles, pois estavam muito envergonhados; e o rei mandou dizer-lhes: ‘Ficai em Jericó até que vossa barba cresça de novo, e depois voltareis’”.

 

Pagar o BEM com o BEM. Naás, rei dos amonitas tratou Davi com BONDADE, e Davi que possuía um coração grato decidiu pagar o BEM com o BEM enviando condolência para Hanon, quando o seu pai Naás faleceu. Davi não se esqueceu da atitude BONDOSA de Naás. Feliz da pessoa que possui um coração cheio de gratidão!

Condolência (estado de quem se condói; sentimento de pesar; compaixão; pena e pêsames).

Devemos pagar o BEM com o BEM... e o MAL com o BEM: “A ninguém pagueis o mal com o mal; seja vossa preocupação fazer o que é bom para todos os homens... Não te deixes vencer pelo mal, mas vence o mal com o bem” (Rm 12, 17. 21), e: “Não pagueis mal por mal, nem injúria por injúria” (1 Pd 3, 9), e também: “Vede que ninguém retribua o mal com o mal; procurai sempre o bem uns dos outros e de todos” (1 Ts 5, 15), e ainda: “Com efeito, preocupamo-nos com o bem não somente aos olhos de Deus, mas também aos olhos dos homens” (2 Cor 8, 21).

Como é importante confortar as pessoas nas horas difíceis, principalmente na morte de um ente querido. A condolência ajuda, mas a oração e um bom conselho fortalecem mais um coração triste.

Davi não se esqueceu da BONDADE do rei Naás: a gratidão é a virtude das almas nobres.

Milhões de pessoas ingratas se esquecem com facilidade do bem realizado pelo próximo... são pessoas mesquinhas... caricaturas de cristãos: “A ingratidão é própria de corações sem sentimentos” (Santa Teresa dos Andes, Obras Completas).

O ingrato possui a “memória curta”... “curtíssima”... “esquece” em um segundo todo o bem que lhe foi feito e trata com desprezo e azedume o seu melhor benfeitor.

Davi NÃO FOI até onde estava Hanon, mas enviou MENSAGEIROS no seu lugar: “E Davi enviou mensageiros para lhe apresentar condolências pela morte de seu pai (Naás, pai de Hanon)(1 Cr 19, 2). Se uma pessoa está impossibilitada... mora longe... está enferma... está muito ocupada... e não pode confortar pessoalmente o próximo com orações e com bons conselhos nas horas difíceis, não deve se desculpar nem ficar indiferente... mas deve enviar “MENSAGEIROS” (uma pessoa preparada, telefonar, mandar uma carta, enviar um e-mail, telegrama...). É na hora do sofrimento que conhecemos os verdadeiros amigos: “O amigo ama em todos os momentos” (Pr 17, 17).

O VENENO da FOFOCA e da MALEDICÊNCIA surge pelo caminho: “Mas quando os servos de Davi chegaram ao país dos amonitas, junto a Hanon, para consolá-lo, os príncipes dos amonitas disseram a Hanon: ‘Pensas acaso que Davi pretende honrar teu pai, por ter ele mandado portadores de condolências? Não é antes para explorar, destruir e espionar o país que seus servos vieram à tua casa?’” (1 Cr 19, 2-3).

Quando nos ESFORÇAMOS para realizar o BEM, com certeza, encontramos OBSTÁCULOS e DIFICULDADES pelo caminho... principalmente fofocas, calúnias, invejas, maledicências, ciúmes, mentiras... fazer o BEM custa! O BEM se realiza com sacrifício e no meio de muitas perseguições e provações: “É preciso passar por muitas tribulações para entrarmos no Reino de Deus” (At 14, 22), e: “A tal ponto que sois o nosso orgulho entre as Igrejas de Deus, por causa da vossa perseverança e da vossa fé em todas as perseguições e tribulações que suportais” (2 Ts 1, 4), e também: “Decidimos, contudo, confiados em nosso Deus, anunciar-vos o evangelho de Deus, no meio de grandes lutas” (1 Ts 2, 2).

Davi quis CONFORTAR e CONSOLAR Hanon que chorava a morte do seu pai, mas encontrou uma “MURALHA” pela frente... “MURALHA” chamada má-lingua: “De fato, com a língua podemos proclamar o bem e falar com edificação, rezar e cantar os louvores de Nosso Senhor... Mas podemos usá-la também para proferir palavras ociosas, ou seja, nem úteis nem convenientes, palavras contra a caridade, como: críticas, murmurações, calúnias; palavras contra a verdade, exagerando as coisas ou referindo-as de maneira inexata; palavras de vaidade, de soberba...” (Bem-aventurado José Allamano, A Vida Espiritual, capítulo 25), e: “A calúnia é um dos piores pecados contra o oitavo mandamento, porque combina um pecado contra a verdade (mentir) com um pecado contra a justiça (ferir o bom nome alheio) e a caridade (falhar no amor devido ao próximo). A calúnia fere o próximo onde mais dói: na reputação. Se roubarmos dinheiro a um homem, este pode irar-se ou entristecer-se, mas, normalmente, acabará por refazer-se dessa queda. Quando manchamos o seu bom nome, roubamos-lhe algo que todo o trabalho do mundo não lhe poderá devolver. É fácil ver, pois, que o pecado de calúnia é mortal se com ele prejudicamos seriamente a honra do próximo, ainda que seja na consideração de uma só pessoa e mesmo que esse próximo não tenha notícia do mal que lhe causamos” (Pe. Leo J. Trese, A fé explicada, cap. XXI), e também: “A língua de um maledicente envenena todas as ações boas e põe às claras todas as más. É ela que, tantas e tantas vezes, espalha sobre uma inteira família manchas que passam dos pais aos filhos, de uma geração à outra, e que jamais se apagarão. A língua maledicente chega a rebuscar nos túmulos dos mortos; remexe as cinzas daqueles pobres infelizes, fazendo reviver, isto é, reavivando seus defeitos que estavam sepultados com eles no túmulo” (São João Maria Vianney).

Os príncipes dos amonitas fizeram FOFOCA para Hanon não receber com bondade os mensageiros de Davi: “Pensas acaso que Davi pretende honrar teu pai, por ter ele mandado portadores de condolências? Não é antes para explorar, destruir e espionar o país que seus servos vieram à tua casa?’”

Quanto BEM é deixado de ser realizado por causa da má-lingua (fofocas, mentiras, calúnias, difamação, maledicência e detração).

Milhões de pessoas deixam de realizar o BEM porque gemem sob o peso das más-línguas. Todas as portas são fechadas para elas com a chave da má-lingua: “Esta má fama, além de ferir a pessoa atingida, torna-se um empecilho que lhe dificulta a prática do bem” (Pe. Francisco Faus, A Língua).

Hanon deu mais atenção às más-línguas do que para a bondade de Davi: “Então Hanon prendeu os servos de Davi, raspou-lhes a barba e cortou suas vestes à meia altura até às coxas, e depois despediu-os” (1 Cr 19, 4).  Também os que ocupam altos postos agem com imprudência e precipitadamente. Hanon não quis saber quem estava correto e com a verdade, e agiu sem analisar as palavras dos FOFOQUEIROS.

Quantos assassinatos, guerras, separações de casais, inimizades, brigas, violências... acontecem hoje, pelo mundo, por causa dessas decisões precipitadas diante das FOFOCAS, CALÚNIAS e MALEDICÊNCIAS!  É preciso agir com prudência para não agradar as más-línguas.

A má-lingua é causadora de grandes males: “Quando pomos freio na boca dos cavalos, a fim de que nos obedeçam, conseguimos dirigir todo o seu corpo. Notai que também os navios, por maiores que sejam, e impelidos por ventos impetuosos, são, entretanto, conduzidos por um pequeno leme para onde quer que a vontade do timoneiro os dirija. Assim também a língua, embora seja um pequeno membro do corpo, se jacta de grandes feitos! Notai como um pequeno fogo incendeia uma floresta imensa. Ora, também a língua é um fogo. Como o mundo do mal, a língua está posta entre os nossos membros maculando o corpo inteiro e pondo em chamas o ciclo da criação, inflamada como está pela geena” (Tg 3, 3-6). Antes de serem EXPULSOS, os mensageiros de Davi foram PRESOS, RASPARAM-LHES a barba e CORTARAM suas roupas à meia altura até às coxas... foram terrivelmente humilhados!

A FOFOCA foi contra Davi, mas o que aconteceu com os mensageiros dele mostra o que acontece com uma pessoa quando é caluniada: 1.º Foram expulsos. Quem é caluniado é desprezado por todos... é “expulso” por todos: “O tingido pela má-lingua, em muitos casos, ficará sendo ante a opinião dos outros o homem desonesto, a mulher falsa, o médico irresponsável ou o advogado picareta” (Pe. Francisco Faus, A Língua). 2.º Foram presos. Quem é caluniado fica preso”, isto é, dificilmente conseguirá um local de trabalho e boas amizades: “Como pode gozar de autoridade moral um pai desprestigiado pela difamação aos olhos dos seus filhos ou um professor entre os seus alunos?” (Idem.). 3.º Rasparam-lhes a barba e cortaram suas roupas. Quem é caluniado fica desonrado e prejudicado diante do próximo... sua honra é “raspada” e “cortada”...  suas palavras não  tem crédito; todos olham para ele com desconfiança e desprezo: “Maledicência e calúnia destroem a reputação e a honra do próximo. Ora, a honra é o testemunho social prestado à dignidade humana. Todos gozam de um direito natural à honra do próprio nome, à sua reputação e ao seu respeito. Dessa forma, a maledicência e a calúnia ferem as virtudes da justiça e da caridade” (Catecismo da Igreja Católica, 2.479).

Davi teve COMPAIXÃO e CARIDADE para com os mensageiros: “Informaram a Davi do que tinha acontecido àqueles homens, e ele mandou alguém ao encontro deles, pois estavam muito envergonhados; e o rei mandou dizer-lhes: ‘Ficai em Jericó até que vossa barba cresça de novo, e depois voltareis’” (1 Cr 19, 5).

Como já foi falado, a FOFOCA foi contra Davi. Mas esse trecho mostra como deve ser a atitude de pessoas VERDADEIRAS e CARIDOSAS para com os caluniados. 1. Davi mandou alguém ao encontro deles. Não podemos desprezar as pessoas caluniadas, mas devemos ir ao encontro delas para apoiá-las, consolá-las e fortalecê-las com orações e bons conselhos. 2. ... pois estavam muito envergonhados. Devemos ajudá-las a erguerem a cabeça, dizendo para as pessoas desconfiadas que foi tudo calúnia. 3. ... e o rei mandou dizer-lhes: Ficai em Jericó até que vossa barba cresça de novo, e depois voltareis. Aqui se trata de limpar totalmente a honra do próximo, mesmo que ele tenha que se retirar por um tempo do local onde mora ou trabalha... é preciso deixar a sua “barba” crescer, isto é, a sua honra estar limpa... e fazer-lhe uma nova “veste”, isto é, que seja “revestido” de confiança, crédito e segurança: “Toda falta cometida contra a justiça e a verdade impõe o dever de reparação, mesmo que seu autor tenha sido perdoado” (Catecismo da Igreja Católica, 2.487).

Disse Davi aos mensageiros: “... e depois voltareis” (1 Cr 19, 5). Como é bom ajudar as pessoas caluniadas a voltarem para o local onde moravam ou para o local de trabalho com a honra limpa. Os seus nomes estavam na sarjeta... na lama; e agora estão limpos e prontos para recomeçar: “Todos gozam de um direito natural à honra do próprio nome, à sua reputação e ao seu respeito” (Catecismo da Igreja Católica, 2.479).

Não podemos nos desesperar diante das injustiças, calúnias, fofocas, mentiras, maledicências... mas devemos esperar sempre no Senhor, e Ele nos ajudará: “O mal que fez lhe cairá sobre a cabeça, recairá sobre seu crânio a violência! Mas eu darei graças a Deus que fez justiça, e cantarei salmodiando ao Deus altíssimo” (Sl 7, 17-18).

 

Pe. Divino Antônio Lopes FP (C)

Anápolis, 31 de julho de 2015

 

 

 

 

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Pe. Divino Antônio Lopes FP. “Raspou-lhes a barba e cortou suas vestes

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