NASCEU-VOS HOJE UM SALVADOR

(Lc 2, 1-14)

 

1 Naqueles dias, apareceu um edito de César Augusto, ordenando o recenseamento de todo o mundo habitado. 2 Esse recenseamento foi o primeiro enquanto Quirino era governador da Síria. 3 E todos iam se alistar, cada um na própria cidade. 4 Também José subiu da cidade de Nazaré, na Galiléia, para a Judéia, na cidade de Davi, chamada Belém, por ser da casa e da família de Davi, 5 para se inscrever com Maria, sua mulher, que estava grávida. 6 Enquanto lá estavam, completaram-se os dias para o parto, 7 e ela deu à luz o seu filho primogênito, envolveu-o com faixas e reclinou-o numa manjedoura, porque não havia lugar para eles na sala. 8 Na mesma região havia uns pastores que estavam nos campos e que durante as vigílias da noite montavam guarda a seu rebanho. 9 O Anjo do Senhor apareceu-lhes e a glória do Senhor envolveu-os de luz; e ficaram tomados de grande temor. 10 O anjo, porém, disse-lhes: ‘Não temais! Eis que eu vos anuncio uma grande alegria, que será para todo o povo: 11 Nasceu-vos hoje um Salvador, que é o Cristo Senhor, na cidade de Davi. 12 Isto vos servirá de sinal: encontrareis um recém-nascido envolto em faixas deitado numa manjedoura’. 13 E de repente juntou-se ao anjo uma multidão do exército celeste a louvar a Deus dizendo: 14 ‘Glória a Deus no mais alto dos céus e paz na terra aos homens que ele ama!”

 

 

Em Lc 2, 1-5 diz: “Naqueles dias, apareceu um edito de César Augusto, ordenando o recenseamento de todo o mundo habitado. Esse recenseamento foi o primeiro enquanto Quirino era governador da Síria. E todos iam se alistar, cada um na própria cidade. Também José subiu da cidade de Nazaré, na Galiléia, para a Judéia, na cidade de Davi, chamada Belém, por ser da casa e da família de Davi, para se inscrever com Maria, sua mulher, que estava grávida”.

 

São Beda escreve: “Assim como o Filho de Deus, vindo em carne mortal, nasce de uma Virgem, dando a entender quanto Lhe agrada a virtude da virgindade, assim também vindo ao mundo em tempo de paz ensina a buscá-la, dignando-se visitar aos que a amam”, e: “Nasceu Jesus Cristo quando haviam deixado de existir os príncipes dos judeus e havia passado seu império e os imperadores romanos, a quem os judeus pagavam tributo. Assim se cumpriu a profecia que havia anunciado que não faltaria um príncipe da descendência de Judá até que viesse o que havia de ser enviado. Porém César Augusto – no ano quarenta e dois de seu reinado – publicou um edito mandando recensear a todo o mundo para que pagasse tributo, cujo encargo havia confiado a Quirino, a quem nomeou presidente da Judéia e da Síria. Disse depois: ‘Este foi o primeiro recenseamento” (Griego), e também: “Com toda oportunidade se diz o nome do presidente para marcar a época em que teve lugar, porque se inscrevem os nomes dos cônsules nas tábuas dos contratos, com mais razão deve inscrever-se também o tempo da redenção de todos” (Santo Ambrósio), e ainda: “Por disposição superior se fez a inscrição do censo de tal modo que se mandava que cada qual fosse ao povoado donde havia nascido, conforme o que se segue: ‘E todos iam recensear-se, cada qual em sua cidade’. Pelo que sucedeu que Nosso Senhor foi concebido num lugar e nasceu em outro, para evitar assim com mais segurança o furor de Herodes. E prossegue: ‘José subiu também da Galiléia”(São Beda), e: “Augusto deu esse edito por disposição de Deus para servir a presença de seu Unigênito. Porque este edito obrigava à Mãe a ir à sua pátria, que já haviam anunciado os profetas, isto é, a Belém da Judéia. Assim foi dito: “A cidade de Davi, que se chama Belém” (São João Crisóstomo, In diem natalen Christi), e também: “Era também conveniente que desaparecesse o culto de muitos deuses por meio de Jesus Cristo, e que só fosse adorado o único Deus” (Teofilacto), e ainda: “Por isso acrescenta ‘à cidade de Davi’, para anunciar que se havia cumprido já a promessa que Deus fez a Davi (que havia de nascer de sua descendência o rei imortal dos séculos). E prossegue: ‘Como era da casa e família de Davi’. Como José era da descendência de Davi, queria o evangelista dizer que a Santíssima Virgem era da mesma família, porque a lei divina mandava que se casassem os descendentes de uma mesma família, por isto disse: ‘Com Maria, sua esposa” (Griego), e: “Disse, pois, sua esposa, insinuando que não estavam mais que desposados quando se verificou a concepção, porque a Santíssima Virgem não concebeu por obra de varão” (São Cirilo), e também: “Em sentido místico, se recenseia o mundo quando há de nascer o Senhor, porque aquele que aparecia em carne mortal, devia inscrever os seus escolhidos na eternidade” (São Gregório Magno, Homilia in Evangelia, 8), e ainda: “E quando se trata da inscrição temporal, se compreende também a espiritual, não para o Rei da terra, mas para o do céu. Esta profissão de fé é o censo das almas, pois abolido o antigo censo da sinagoga, se preparava o novo da Igreja. Finalmente, para que se compreenda que este censo não é obra de Augusto, mas de Cristo, manda a todo o mundo que se inscreva. Quem poderia exigir o recenseamento de todo o mundo, senão Aquele que tem domínio sobre todo o orbe? Pois o mundo, não do Augusto, mas, ‘do Senhor é a terra” (Santo Ambrósio), e: “Cumpriu perfeitamente o nome de Augusto, porque desejou aumentar os seus, sendo poderoso para aumentá-los” (São Beda), e também: “Parece que nisto se dá a conhecer a figura de um sacramento a quem o medite com atenção. Porque no censo de todo o mundo foi conveniente que figurasse Jesus Cristo, posto que, como havia de santificar a todos, devia ser contado no censo do universo geral, para pôr-se em comunidade com ele” (Orígenes, In Lucam Hom. 11), e ainda: “Assim, pois, como quando mandava Augusto, e sendo presidente Cirino, iam todos aos seus povoados para inscrever-se no censo, assim agora, mandando Jesus Cristo por meio de seus doutores (os chefes da Igreja), devemos inscrever-nos no censo da justiça” (São Beda), e: “Esta é, pois, a primeira declaração das almas ao Senhor, para quem todas se declaram. Feita não à voz do pregão, mas do profeta que disse: ‘Nações todas batei palmas’. Por último, para fazer ver que o censo se faz com justiça, José e Maria vêm obedecer, isto é, um justo e uma virgem; aquele que havia de proteger ao Verbo e esta que havia de dar a luz” (Santo Ambrósio), e também: “Nossa cidade e nossa pátria são a eterna felicidade, à qual devemos ir, crescendo todos os dias em virtudes. A Igreja Santa com seus doutores, abandonando o trato mundano que é o que significa Galiléia, e subindo à cidade de Judá, que significa confissão e louvor, paga o censo de sua devoção ao Rei eterno” (São Beda).

O Pe. Francisco Fernández-Carvajal escreve: “São Lucas teve um grande interesse em situar o nascimento de Cristo, o acontecimento maior da humanidade, num lugar preciso – em Belém de Judá – e num momento da história determinado: como não dispõe de outra referência, dir-nos-á que nasceu em tempos de César Augusto (imperador de Roma, reinou de 30 a.C a 14 d.C). Em concreto, nos dias em que se promulgou um edito do imperador para que se recenseasse todo o mundo. Este censo foi um acontecimento social e político e era bem conhecido nos anos em que escreve o evangelista.

Existiam razões muito diversas para que a administração do Império quisesse dispor de um censo atual da população. Entre outras, para a cobrança dos impostos. Na Judéia, este primeiro recenseamento foi feito quando Quirino era governador da Síria. Deus serviu-se deste decreto do imperador romano para que Maria e José se encaminhassem para Belém e ali nascesse o Messias, como tinha sido anunciado pelos profetas.

A Virgem compreendeu imediatamente que aquele recenseamento era providencial na sua vida: as palavras do anjo, guardadas no seu coração como um tesouro, moviam-na a meditar as Escrituras de um modo novo, como ninguém antes o tinha feito. A mensagem do anjo iluminava as passagens obscuras ou incompletas do texto sagrado”.

O censo a que se refere o evangelho deve-se, como nele se diz, a uma tentativa geral de recensear a população do Império, pelo menos na sua zona oriental, de acordo com as disposições do imperador Augusto. Nele entravam também os Estados associados, como era o reino de Herodes. Deve ter começado pelo ano 7 a.C., sendo Saturnino governador da Síria, e continuou depois sob o governo de Varo no fim do reinado de Herodes, para concluir nos tempos de P. Sulpício Quirino (ano 6 d.C.) com a mudança de administração. Urgiu-se e extremou-se minuciosamente a sua realização, já que a partir desse momento serviria de referência para o tributo pessoal; isto motivou que os judeus o tomassem mais a sério. Este censo levou, portanto, na Judéia o nome de Quirino, e assim o cita o evangelho, ainda que de fato tivesse começado anteriormente, inclusive alguns anos antes do nascimento de Jesus. O fato de que o evangelho de Lucas o assinale como motivo da viagem desde Nazaré a Belém supõe, com efeito, que se tratava de um censo anterior ao diretamente relacionado com o tributum capitis, visto que afetava igualmente os habitantes da Judéia e da Galiléia (J. González Echegaray, Arqueologia y evangelio, pp. 69-70). Roma, por outro lado, respeitava os censos locais. Por isso o recenseamento seria levado a cabo segundo o costume judaico pelo qual cada cabeça de família ia recensear-se no lugar de origem.

Belém era a terra de Davi. Belém (Beth-Lehem) significa casa do pão. Encontra-se a uns cento e cinqüenta quilômetros de Nazaré, e a uns sete de Jerusalém.

O Pe. Francisco Fernández-Carvajal escreve: “Ali estava a sua parentela. Situada ao sul de Jerusalém, em tempos de Jesus não era mais que uma aldeia avançada no deserto, fortificada com muros e torres. Os filisteus tinham-na convertido em praça forte e o rei Roboão, filho de Salomão, tinha aumentado consideravelmente as suas defesas. A sua importância, porém, era puramente estratégica. A modesta população vivia uma vida sossegada, dedicada quase exclusivamente ao pastoreio e ao cultivo das poucas terras de labor que, em forma de terraços escalonados, a rodeavam e que com muito trabalho, sobretudo na época das chuvas, conseguiam defender dos desabamentos constantes. Nestes terraços cresciam romãzeiras, amendoeiras, macieiras, algumas vides e, sobretudo, figueiras e oliveiras.

Contudo, Belém era chamada a frutífera, Efrata, nome patronímico da região. A sua situação, não longe do caminho de montanha entre Hebron e Jerusalém, constituía um bom albergue de fim de etapa para os viajantes.

Era realmente a menor das cidades de Israel (Mq), mas, apesar da sua insignificância, era ilustre na história do povo escolhido. É mencionada pela primeira vez nos Livros Sagrados com motivo da morte de Raquel, mulher de Jacó, que foi sepultada no caminho de Efrata, que é Belém, como diz o Gênesis 35, 19. Mas a sua glória principal era a de ter sido a pátria de Davi, o glorioso chefe de que haveria de descender o Messias.

Maria sabia que o seu Filho era também Filho de Davi. Este apelativo converte-se no mais popular dos títulos messiânicos. Os doentes e as multidões repeti-lo-ão com freqüência no curso da vida pública de Jesus. E Ele aceita-lo-á; unicamente acrescentará que é também o Filho de Alguém maior que Davi”.

“Também José subiu da cidade de Nazaré, na Galiléia, para a Judéia, na cidade de Davi, chamada Belém, por ser da casa e da família de Davi, para se inscrever com Maria, sua mulher, que estava grávida”.

Santo Afonso Maria de Ligório comenta: “Havia Deus decretado que seu Filho nascesse, não na casa de José, senão numa gruta que servia de estrebaria, do modo mais pobre e mais penoso, que uma criança pode nascer. Por isso dispôs que César lançasse um edito por meio do qual cada um deveria alistar-se na cidade própria donde trazia a sua origem. – Quando José teve conhecimento do mando, perturbou-se na dúvida se deveria deixar a Virgem Maria em casa ou levá-la consigo, visto que estava próximo a dar à luz. ‘Minha esposa e senhora’, disse-lhe, ‘por um lado não quereria deixar-vos só; por outro, se vos levo, afligi-me o triste pensamento que muito tereis de sofrer numa viagem tão longa, por um tempo tão rigoroso’. Maria, porém, anima-o dizendo: ‘José meu, não temais: eu vos acompanharei, e o Senhor nos ajudará’. – Por inspiração divina e pelo conhecimento da profecia de Miquéias, a Virgem sabia que o divino Infante devia nascer em Belém. Toma, pois, as faixas e os pobres paninhos já preparados e parte com José.

Consideremos aqui as devotas e santas conversações que durante a viagem faziam entre si aqueles santos esposos acerca da misericórdia, da bondade e do amor do Verbo divino, que em breve ia nascer e fazer a sua entrada no mundo, pela salvação dos homens. Consideremos os atos de louvor, de bênção, de agradecimento, de humildade e de amor que aqueles excelsos viajantes praticavam no caminho. De certo sofreu muito a santa Virgenzinha, próximo a dar à luz, tendo de fazer uma viagem tão longa; mas suportou tudo em paz e com amor. Ofereceu a Deus todas as suas penas, unindo-as com as penas de Jesus, que trazia no seio.

Ah! Na viagem de nossa vida unamo-nos a Maria e José e acompanhemo-nos deles, e agora façamos com eles companhia ao Rei do céu, que vai nascer numa gruta. Roguemos aos santos viajantes que pelos merecimentos das penas que então padeceram, nos acompanhem na viagem que estamos fazendo para a eternidade” (Meditações).

 

Em Lc 2, 6-7 diz: “Enquanto lá estavam, completaram-se os dias para o parto, e ela deu à luz o seu filho primogênito, envolveu-o com faixas e reclinou-o numa manjedoura, porque não havia lugar para eles na sala”.

 

Santo Ambrósio escreve: “São Lucas explicou brevemente o modo, o tempo e ainda o lugar em que Jesus Cristo nasceu segundo a carne, dizendo: ‘E sucedeu que, achando-se ali, chegou a hora do parto”, e: “Também o Senhor se dignou encarnar no tempo em que imediatamente pode ser inscrito no censo de César, submetendo-se assim à servidão por nossa liberdade. Nasce em Belém não só para manifestar seu distintivo de rei, mas também pelo sentido oculto deste nome” (São Beda), e também: “Também é unigênito, segundo a divindade; primogênito, segundo a acepção humana. Primogênito, segundo a graça, e unigênito, segundo a natureza” (Idem.), e ainda: “Ali não houve quem recebesse o Menino... A Mãe envolve o Menino nos panos, e serve de mãe e de matrona, pelo que foi dito: ‘E envolveu-o em panos” (São Jerônimo, contra Helvidium), e: “Aquele que veste o mundo com tanta variedade de adornos é envolto em pobres panos, para que possamos receber a primeira roupa. As mãos e os pés d’Aquele que fez todas as coisas são ligados para que nossas mãos estejam sempre dispostas a realizar o bem e nossos pés a caminhar pelo caminho da paz” (São Beda), e também: “Oh! Admirável tortura e extremada penúria, a que se vê submetido o que governa o universo! Desde o princípio se apropria toda a pobreza e a enriquece” (Griego), e ainda: “E se vê em um duro presépio Aquele a quem o céu serve de assento, para poder oferecer-nos as alegrias do reino dos céus” (São Beda), e: “Encontrou o homem embrutecido em sua alma e por isso foi colocado num presépio como alimento para que, transformando a vida bestial, possamos ser levados a uma vida conforme com a dignidade humana, tomando, não o feno, mas o pão celestial” (São Cirilo), e também: “O que se senta à direita do Pai se acha em lugar pobre e desabrigado, para preparar-nos muitas mansões na casa de seu Pai” (São Beda).

Santo Afonso Maria de Ligório escreve: “Quando um rei faz a primeira entrada numa cidade do seu reino, que manifestações de veneração se lhe preparam! Quantos arcos de triunfo! Prepara-te, pois, ó Belém venturosa, para receberes dignamente o Rei do céu; fica sabedora que entre todas as cidades és tu a ditosa que ele escolheu para nascer na terra, a fim de reinar depois no coração dos homens...

Chegada a Belém, Maria entendeu que se aproximava a hora do parto. Avisou a São José, e este diligenciou achar agasalho em uma casa dos habitantes de Belém, a fim de não ter de levar sua esposa à hospedaria, lugar pouco conveniente para uma tenra donzela. Ninguém quis atender-lhe o pedido, e é bem verossímil que da parte de alguns fosse taxado de insensato por trazer consigo a esposa próximo ao parto em tempo noturno e de tanta afluência de povo. – Para não ficar durante a noite no meio da rua, viu-se afinal obrigado a levar a Virgem Maria à hospedaria pública, onde já muitos pobres se tinham alojado para a noite. Mas como? Também dali foram expulsos e foi-lhes respondido que não havia lugar para eles. Havia ali lugar para todos, também para os mais indignos, mas não para Jesus Cristo. – Contemplemos quais devem ter sido os sentimentos de São José e de Maria Santíssima, vendo-se desprezados e repulsos de cada um.

A estalagem de Belém foi figura daqueles corações ingratos que dão acolhida a tantas criaturas miseráveis e não a Deus. Quantos há que amam os parentes, os amigos, até os animais, mas não amam Jesus Cristo e nenhum caso fazem de sua graça e de seu amor...

Vendo-se repulsos de toda parte, São José e a Bem-aventurada Virgem saem da cidade a fim de achar fora dela ao menos algum abrigo. Os pobres viandantes caminham na escuridão, errando e espreitando; afinal depara-se ao pé dos muros de Belém com uma rocha escavada em forma de gruta, que servia de estábulo para os animais. Disse então Maria: José, meu esposo, não precisamos ir mais longe; entremos nesta gruta e deixemo-nos ficar aqui. – Mas como? Responde São José; não vês, minha esposa, que esta gruta é tão fria e úmida que a água escorre em toda parte? Não vês que não é uma morada para homens, senão uma estrebaria para animais? Como queres passar aqui a noite e dar à luz? – Contudo é verdade, tornou Maria, que este estábulo é o palácio real onde quer nascer na terra o Filho eterno de Deus.

Que terão dito os anjos vendo a divina Mãe entrar naquela gruta para dar à luz! Os filhos dos príncipes nascem em quartos adornados de ouro; preparam-lhes berços incrustados com pedras preciosas, e mantilhas preciosas; e fazem-lhes cortejo os primeiros senhores do reino.

E ao Rei do céu prepara-se uma gruta fria e sem lume para nela nascer, uns pobres paninhos para cobri-lo, um pouco de palha para leito, e uma vil manjedoura para o colocar...

Quando Maria Santíssima entrou na gruta, pôs-se logo em oração. De súbito vê uma refulgente luz, sente no coração um gozo celestial, abaixa os olhos, e, ó Deus! Que vê? Vê já diante de si o Menino Jesus, tão belo e tão amável, que enleva os corações. Mas treme e chora... Em seguida, a Santa Virgem, movida de compaixão maternal, levanta com respeito o amado Filho, aquece-O com o calor de seu rosto e do seu peito. Tendo-O no colo, adora o divino Menino como seu Deus, beija-Lhe os pés como a seu Rei, e beija-Lhe o rosto como a seu Filho e procura depressa cobri-lO e envolve-O nas mantilhas” (Meditações).

O Pe. Alexandrino Monteiro escreve: “Como nasce? Como homem! Com lágrimas nos olhos, com dores no tenro corpinho, com frio em todos os membros, com falta de tudo! Nasce como servo e não como rei, nasce na humilhação, nasce com toda a sua divina grandeza encoberta.

Nasce no tempo o que foi gerado desde toda a eternidade, feito carne o Verbo divino, feito mortal o Eterno!

Nasce a Vida sujeita à morte, a Luz escurecida com as trevas dos nossos pecados, o Sol eclipsado com o véu da nossa natureza!

Nasce Infante o Criador do universo, envolvido em faixas a Riqueza do céu, reclinado num presépio o que tem seu trono sobre os serafins!

Como nasce? Abandonado!

É Senhor e ninguém o respeita! É Deus e ninguém o adora! É Rei e ninguém lhe vai prestar homenagem e render vassalagem! É o Salvador do mundo, e quem busca n’Ele a salvação?

Nasce pobre porque deseja que nós o recebamos em nossa casa, que o vistamos, que o abriguemos do frio, que lhe preparemos um berço.

Onde nasce? – Numa gruta úmida e fria, num alpendre desabrigado, onde falta o conchego do lar doméstico, um bercinho fofo, o asseio – tudo!

É isto possível? Não será um sonho tudo que estou vendo? – Oh! Não! É a verdade pura, é uma realidade!

Disse o apóstolo São João que o verbo divino veio ao mundo e os seus não O receberam (Jo 1, 11). E como o haviam de receber e adorar como seu Deus, se Ele veio debaixo de tão rigoroso incógnito, tão disfarçado e tão semelhante aos homens?

Algum motivo havia de ter Deus para assim nascer. E teve-o! Deus não queria vir ao mundo com o estrondo que acompanha e soleniza o nascimento dos grandes da terra. Se Ele viesse cercado com toda essa grandeza, os humildes receariam chegar-se à sua presença, e até seria odiado por aqueles que olham para os grandes como para inimigos. Ora, o seu fim era atrair a todos os homens ao seu amor, assim grandes como pequenos, a fim de a todos procurar a salvação. Por isso fez-se menino, fez-se pobre, fez-se humilde, para que todos se aproximassem d’Ele.

- Quando nasce?

- A horas mortas da meia-noite, quando todos dormiam, quando ninguém o esperava, quando os homens, cansados uns do trabalho, outros dos divertimentos, se entregavam ao sono.

Não esperou que fosse dia para nascer, a fim de não ser visto e conhecido. Nasceu de noite para que despertando a humanidade com o raiar da aurora, encontraste já nascido o Sol de Israel, que lhe vinha trazer a salvação.

Nasceu nas trevas, porque vinha ser a luz do mundo, o Sol esplendoroso que vinha dissipar as sombras que passavam sobre os homens desde que o paraíso se fechou!

Nasceu de noite, para mostrar que era bem escura a noite em que vivia todo o gênero humano, e que essa noite ia ter o seu fim com o amanhecer do solene dia da redenção.

Nasceu de noite; mas ainda assim quis ter quem o adorasse. Foi aos pastores, que vigiavam os seus rebanhos, que os Anjos anunciaram a vinda do Salvador. Não foram à corte de Herodes, nem aos grandes da Judéia, nem aos Césares de Roma, porque, ainda que para todos nascia, eram os pobres e os humildes os que mais agradavam a seus olhos.

- Por que nasce?

- Porque nos ama! Nasce por nós, porque deseja a nossa felicidade, porque nos quer em seu reino fazer participantes de sua mesma glória.

Nasce por nós a fim de que nós renasçamos para Ele, morrendo para o mundo, para o nosso amor próprio, para as nossas faltas.

Nasce pobre para que nós, com seu exemplo, nos animemos a deixar as riquezas e comodidades da vida.

Nasce no mais completo abandono, para que nós tenhamos por melhor que o nosso nome seja desconhecido, do que ande na boca de todos e para que vendo-nos desprezados dos homens, nos consolemos com seu exemplo.

Nasce na humilhação, para que aprendamos a calcar aos pés o orgulho”.

Já nasceu o Messias, Filho de Deus e nosso Salvador.

Santo Ambrósio escreve: “Ele fez-Se criança (...) para que tu pudesses ser homem perfeito: Ele foi envolvido em paninhos para que tu fosses livrado dos laços da morte (...). Ele desceu à terra para que tu pudesses subir ao Céu; Ele não teve lugar na pousada para que tu tivesses no Céu muitas mansões. Ele, sendo rico, fez-Se pobre por nós – diz São Paulo (2 Cor 8, 9) – para que vos enriquecêsseis com a Sua pobreza (...). As lágrimas daquele Menino que chora purificam-me, aquelas lágrimas lavam os meus pecados” (Expositio Evangelii serc. Lucam, ad. Loc.), e: “Oxalá Jesus ache em nossos corações lugar para nascer espiritualmente. Devemos aspirar a que Cristo nasça em nós, que é como dizer que nós devemos nascer para uma  nova vida, ser uma nova criatura (Rm 6, 4), guardar aquela santidade e pureza de alma que nos foi dada no Batismo e que foi como um novo nascimento” (Edições Theologica).

“... e ela deu à luz o seu filho primogênito...”

“Filho primogênito”: A Sagrada escritura costuma chamar primogênito ao primeiro varão que nasce, seja ou não seguido de outros irmãos (cf, p. ex., Ex 13, 2; 13, 13; Nm 15, 8; Hb 1, 6).

Edições Theologica comenta: “Este sentido também se dava na linguagem profana, como consta, por exemplo, numa inscrição datada aproximadamente do ano do nascimento de Cristo e encontrada nos subúrbios de Tell-el-Jeduieh (Egito) em 1922, em que se diz que uma mulher chamada Arsinoe, morreu ‘nas dores do parto do seu filho primogênito’. De outro modo, como explica São Jerônimo na epístola Adversus Helvidium, 10, ‘Se só fosse primogênito aquele a quem se seguem outros irmãos, não lhe seriam devidos os direitos de primogênito, segundo manda a Lei, enquanto os outros não nascessem’, o que é evidentemente absurdo, já que a Lei ordena o ‘resgate’ dos primogênitos dentro do primeiro mês depois do seu nascimento (cf Nm 18, 16)”.

Por outro lado, Jesus Cristo é primogênito num sentido profundíssimo que ultrapassa toda a consideração natural e biológica. Assim, São Beda, resumindo uma longa tradição dos Santos Padres, expõe esta profunda primogenitura de Cristo com as seguintes palavras: “Na verdade o Filho de Deus, que Se manifesta na carne, é numa ordem mais alta não só Unigênito do Pai segundo a excelência da Sua divindade, mas também primogênito de toda a criatura segundo os vínculos da Sua fraternidade com os homens; desta (da primogenitura) diz-se: ‘Porque aos que Ele (Deus) conheceu de antemão, também os predestinou para que cheguem a ser conformes com a imagem do Seu Filho, a fim de que Ele fosse primogênito entre muitos irmãos’ (Rm 8, 29). E daquela (da Sua condição de Unigênito) diz-se ‘e vimos a Sua glória, glória como de Unigênito do Pai’ (Jo 1, 14). Assim, pois, é Unigênito pela Sua substância da Deidade, e primogênito pela assunção da humanidade; primogênito da Graça, Unigênito na natureza. Daí que seja denominado irmão e Senhor: irmão, porque é primogênito; Senhor, porque é Unigênito” (In Lucae Evangelium expositio, ad loc.), e: “Se alguém, de acordo com os Santos Padres, não confessar  própria e verdadeiramente como Mãe de Deus a Santa e sempre Virgem e Imaculada Maria, uma vez que concebeu nos últimos tempos, sem sêmen, por graça do Espírito Santo, própria e verdadeiramente o mesmo Verbo Divino, que nasceu do Pai antes de todos os séculos, e incorruptivelmente O gerou, permanecendo intacta a sua virgindade após o parto, seja condenado” (Concílio de Latrão, ano de 649).

 

Em Lc 2, 8-14 diz: “Na mesma região havia uns pastores que estavam nos campos e que durante as vigílias da noite montavam guarda a seu rebanho. O Anjo do Senhor apareceu-lhes e a glória do Senhor envolveu-os de luz; e ficaram tomados de grande temor. O anjo, porém, disse-lhes: ‘Não temais! Eis que eu vos anuncio uma grande alegria, que será para todo o povo: Nasceu-vos hoje um Salvador, que é o Cristo Senhor, na cidade de Davi. Isto vos servirá de sinal: encontrareis um recém-nascido envolto em faixas deitado numa manjedoura’. E de repente juntou-se ao anjo uma multidão do exército celeste a louvar a Deus dizendo: ‘Glória a Deus no mais alto dos céus e paz na terra aos homens que ele ama!”

 

Santo Ambrósio escreve: “Consideremos como a providência divina se cuida em afirmar a fé. Um anjo instrui a Maria, um anjo instrui a José e um anjo instrui aos pastores, de quem se diz: ‘Estavam vigiando naquela região uns pastores”, e: “Um anjo havia aparecido a José em sonhos. Por outro lado, apareceu aos pastores de uma maneira visível, como a homens mais ignorantes. O anjo não foi, pois, a Jerusalém, nem buscou aos escribas e fariseus, porque estavam corruptos e atormentados pela inveja. Porém, os pastores eram simples e observavam a antiga lei dos patriarcas e de Moisés” (São João Crisóstomo, In Cat. Graec. Patr.), e também: “Em todo o Antigo Testamento não encontramos que os anjos apareciam com freqüência aos patriarcas. Esta graça devia estar reservada ao tempo em que nasceria entre as trevas a luz para os de coração reto” (São Beda, Homilia in Nativ. Dom.), e ainda: “Sai do seio de sua Mãe, porém, resplandece como se estivesse no céu; repousa num presépio na terra, porém, brilha como a luz do céu” (Santo Ambrósio), e: “Manifesta também o tempo em que teve lugar este nascimento dizendo: ‘Hoje’; o lugar, quando disse: ‘Na cidade de Davi’; e os sinais, ao acrescentar: ‘E servirá de sinal’, etc. Eis aqui como os anjos anunciam aos pastores o nascimento do Pastor principal, que nasce e se manifesta como um cordeiro no estábulo” (Griego), e também: “A infância do Salvador nos é dada a conhecer com freqüência pela voz dos anjos e pelos testemunhos dos evangelistas, com a finalidade de que grave mais profundamente em nossos corações o que tem feito por nós. E deve notar-se que o sinal do nascimento do Salvador não é a púrpura de Tiro, mas os pobres panos que o envolviam; não o encontramos em berços douradas; mas num presépio” (São Beda), e ainda: “Porém, se a nossa vista aparecem humildes os panos, admiremos o concerto dos anjos. Se menosprezamos o presépio, levantemos um pouco os olhos e olhemos essa estrela nova no céu anunciando ao mundo o nascimento do Senhor. Se cremos nas coisas vis, cremos também nas coisas admiráveis. Se discutimos o que é humilde, veneremos o que é alto e celestial” (São Maximino, In Sermone Nativitatis, 4), e: “Em sentido místico, a aparição do anjo aos pastores quando estão acordados e a claridade divina que os rodeou, significam que aos que sabem guiar com solicitude seu fiel rebanho, a graça divina resplandece sobre eles com mais abundância” (São Gregório Magno, Homiliae in Evangelia, 8), e também: “Aqueles pastores do rebanho representam, pois, os doutores e diretores das almas fiéis. A noite durante a qual velavam sobre o rebanho, representa os perigos das tentações... Velam com muita razão os pastores sobre o rebanho quando nasce o Senhor, porque nascera Aquele que disse: ‘Eu sou o bom pastor’, e se aproximava o tempo em que este mesmo pastor havia de atrair as suas ovelhas que andavam errantes, aos pastos da vida eterna” (São Beda, In Homil. in Nativ. Dom.), e ainda: “Se aprofundarmos mais o sentido, diremos que os anjos eram como os pastores encarregados de conduzir as coisas humanas. E como cada um destes fazia sua guarda, apareceu o anjo depois de nascido o Salvador e anunciou aos pastores que havia nascido o verdadeiro Pastor” (Orígenes, In Lucam, 12), e: “Noutro tempo se mandava ao anjos para castigar, como quando foram enviados aos israelitas, a Davi, aos sodomitas e ao vale dos que choram. Porém, agora, pelo contrário, cantam na terra dando graças ao Senhor, porque se dignou manifestar sua vinda aos homens” (São João Crisóstomo), e também: “Também louvam ao Senhor porque põem as vozes de seus cantos em harmonia com nossa redenção” (São Gregório Magno, Moralia 28, 4), e ainda: “Desejam também paz à terra aos homens, acrescentando: ‘E paz na terra aos homens’ porque, havendo nascido o Salvador segundo a carne; respeitam como companheiros agora aos que desprezaram antes como enfermos e abatidos” (São Beda), e: “Esta paz, pois, foi feita por Jesus Cristo: Ele mesmo nos reconciliou com Deus e com o Pai, perdoando nossos pecados e pacificando aos dois povos em um só homem, e formando um só redil dos habitantes do céu e da terra” (São Cirilo), e também: “A justiça corresponde à boa vontade” (Santo Agostinho, De Trinitate, 13, 13).

Pensamos que Maria Santíssima ficaria muito tempo a contemplar o seu Filho, olhando para Ele no silêncio da noite. Depois, O colocaria nos braços de São José, que sabe bem que é o Filho do Altíssimo, a quem deverá cuidar e proteger, e ensinar-lhe um ofício. Toda a sua vida estará centrada neste Menino indefeso. Eles sabem que começou para a humanidade uma nova idade: a era cristã, a do Messias, seu Filho.

O Pe. Francisco Fernández-Carvajal escreve: “Jesus, Maria e José estavam sós. Mas Deus buscou para acompanhar a Sagrada Família uns pastores simples e humildes, que não se escandalizaram ao encontrar o Messias numa manjedoura, envolvido em panos.

Por conseguinte, os judeus daqueles tempos incluíam os pastores entre os pecadores e publicanos, devido a que, pela sua ignorância, eram pouco cumpridores das prescrições da Lei de Moisés. Por isso não eram admitidos como juízes nem como testemunhas (Sanhedrín, 25b).

Aos pastores daqueles arredores já se tinha referido o profeta Isaías: o povo que caminhava nas trevas viu uma grande luz. Nesta primeira noite, só neles se cumpre a profecia. Vêem uma grande luz: a glória do senhor envolveu-os de claridade. Não temais, diz-lhes um anjo, pois venho anunciar-vos uma grande alegria, que o será para todo o povo: hoje, na cidade de Davi, nasceu-vos o Salvador, que é o Cristo, o Senhor.

E deu-lhes um sinal: um menino envolvido em panos e deitado numa manjedoura. Não podia ser um sinal mais simples, mas para eles bastou. Talvez o anjo lhes indicasse também o caminho para chegar à gruta.

Este anúncio segue-se imediatamente ao relato do Nascimento. Sem dúvida São Lucas quer dar-nos a entender que entre estes dois fatos não mediaram mais que umas poucas horas. Jesus, pois, tal como o celebramos, parece que nasceu de noite (na Noite boa), pois também de noite teve lugar a aparição do anjo aos pastores”.

O anjo anuncia que o Menino que nasceu é o Salvador, o Cristo, o Senhor. É o Salvador porque veio redimir-nos dos nossos pecados (cf Mt 1, 21). É o Cristo, isto é, o Messias prometido tantas vezes no Antigo Testamento, e que agora está recém-nascido entre nós cumprindo essa esperança antiga. É o Senhor, com o que se manifesta a divindade de Cristo, visto que com este nome quis Deus ser chamado pelo Seu povo no Antigo Testamento. E este nome tornar-se-á corrente entre os cristãos para designar e invocar Jesus, e assim confessará a sua fé a Igreja para sempre: ‘Creio (...) num só Senhor Jesus Cristo, Filho único de Deus (...)’.

Edições Theologica comenta: “O anjo, ao dizer-lhes que o Menino tinha nascido na cidade de Davi, recorda-lhes que este era o lugar destinado ao nascimento de Davi (cf Sl 110, 1-2; Mt 22, 42-46).

Cristo, porém, é não só Senhor dos homens, mas também dos anjos. Daí que estes se alegrem pelo Nascimento de Cristo e Lhe tributem esta adoração: ‘Glória a Deus nas alturas’. Mais ainda, como os homens são chamados a participar na mesma felicidade eterna que os anjos, estes exprimem a sua alegria acrescentando no seu louvor: ‘E paz na terra aos homens do Seu agrado”.

São Gregório Magno escreve: “Louvai o Senhor pondo as vozes do seu canto em harmonia com a nossa redenção; já nos vêem a participar na sua mesma sorte e congratulam-se por isso” (Moralia, 28, 7), e Santo Tomás resume a razão de que o Nascimento de Cristo fosse manifestado por meio de anjos: “Necessita de ser manifestado o que de si é oculto, não o que é evidente. O corpo do recém-nascido era manifesto; mas a Sua divindade estava oculta, e, portanto, era conveniente que se manifestasse aquele nascimento por meio dos anjos, que são ministros de Deus; por isso apareceu o anjo rodeado de claridade, para que fosse evidente que o recém-nascido era ‘o esplendor da glória do pai’ (Hb 1, 3)” (Summa Teológica, III, q. 36, a. 5 ad 1).

“Eis que eu vos anuncio uma grande alegria...”

Santo Afonso Maria de Ligório escreve: “O nascimento de Jesus Cristo trouxe alegria geral ao mundo inteiro. É ele o Redentor desejado durante tantos anos e com tamanho ardor, que por esta razão foi chamado o Desejado das gentes, o Desejado das colinas eternas. Eis que já veio, nascido numa gruta estreita. Façamos que o anjo nos anuncie o mesmo gozo que anunciou aos pastores, e que nos diga: ‘Eis que eu vos anuncio uma grande alegria...’

Que festejos não se organizam num país, quando nasce ao rei seu filho primogênito! Muito mais devemos nós festejar o nascimento do Filho de Deus, que veio do céu para nos visitar, movido unicamente pelas entranhas da sua misericórdia.

Nós nos achávamos em estado de condenação, e eis que Jesus veio para nos salvar.

Eis ai o Pastor, vindo para salvar da morte as suas ovelhas, dando a vida por amor delas” (Meditações).

Os anjos não falaram de uma pequena ou superficial alegria, mas de uma grande alegria. Cristo Jesus é a verdadeira alegria.

Quem possui Cristo Jesus no coração vive mergulhado na mais pura felicidade: “Sou a pessoa mais feliz. Já não desejo nada porque meu ser está saciado com o Deus-Amor” (Santa Teresa dos Andes, Carta 110), e: “Estar sem Jesus é terrível inferno; estar com Jesus é doce Paraíso. Se Jesus estiver contigo, nenhum inimigo te poderá ofender. Quem acha a Jesus acha um tesouro precioso, ou antes, um bem acima de todo o bem” (Tomás de Kempis, Imitação de Cristo, Livro II, cap. VIII).

“Glória a Deus no mais alto dos céus e paz na terra aos homens que ele ama!”

Edições Theologica comenta: “Este texto pode ser traduzido de duas maneiras, que não se excluem. Uma é a que figura na presente tradução, que equivale à tradução litúrgica portuguesa do Missal: ‘Paz na terá aos homens do Seu agrado’. A outra seria: ‘E na terra paz aos homens de boa vontade’. Em última análise, o que diz o texto é que os anjos pedem paz e reconciliação com Deus, que procedem não dos méritos dos homens, mas da misericórdia gratuita que o Senhor quer usar com eles. Ambas as traduções se completam uma à outra, porque quando os homens correspondem à graça de Deus, não fazem senão cumprir em si próprios essa boa vontade, esse amor de Deus por eles”.

 

Pe. Divino Antônio Lopes FP.

Anápolis, 18 de dezembro de 2007

 

 

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Pe. Divino Antônio Lopes FP. “Nasceu-vos hoje um Salvador”.
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