DOIS LADRÕES CRUCIFICADOS

(Mc 15, 27)

 

“Com ele crucificaram dois ladrões, um à sua direita, o outro à sua esquerda”.

 

É preciso considerar aqui a HUMILDADE de Nosso Senhor Jesus Cristo em ter aceitado ser crucificado entre DOIS LADRÕES com tanta ignomínia; e é de acreditar que escolheram os piores bandidos que estavam na prisão, outros tais como Barrabás, para que se cumprisse o que fora d’Ele profetizado, “que foi contado entre os malfeitores” (Is 53, 12). E para ponderar mais esta HUMILDADE, é preciso erguer os olhos e contemplar sua infinita DIGNIDADE, considerando como Ele é o Verbo Eterno que está como no meio das divinas Pessoas, e o mesmo que esteve no monte Tabor transfigurado entre Moisés e Elias, e Ele que é a pedra angular que une os povos: hebreu e gentio... e que no dia do juízo estará sentado no trono de sua Majestade, no meio de bons e maus, tendo os bons ao lado direito e os maus ao esquerdo. Este Senhor, pois, é o mesmo que está neste monte Calvário, no trono da cruz, no meio de dois ladrões, desprezado e injuriado como se fosse um ladrão. Ele, Jesus, nos dá um maravilhoso exemplo quando formos colocados no meio de pessoas perversas e contados no número dos malfeitores. Suportemos essa provação contemplando o exemplo de Jesus, Deus vivo, que sofreu tudo para nos salvar.

O Pe. Juan Leal comenta: O ser crucificado entre dois ladrões é uma nova humilhação para Jesus Cristo, intencionada ou não.

Santo Afonso Maria de Ligório explica: Ó Deus, que assombro havia de causar ao céu ver o Filho do eterno Pai crucificado entre dois ladrões. Já Isaías o havia profetizado: E ele foi posto no número dos malfeitores (Is 53,12). São João Crisóstomo, considerando Jesus na cruz, exclama cheio de admiração e amor: Vejo-o como médio no céu entre o Pai e o Espírito Santo; vejo-o no monte Tabor entre dois santos, Moisés e Elias, e como, pois, vê-lo crucificado no Calvário entre dois ladrões? Mas assim devia ser, porque, segundo o decreto divino, ele devia morrer para satisfazer com sua morte os pecados dos homens e salvá-los, conforme o predissera Isaías: E foi julgado como malfeitor e carregou com os pecados de muitos (53,12). Escreve o mesmo São Lucas que dos ladrões crucificados com Jesus Cristo, um permaneceu obstinado e o outro se converteu.

O Pe. Luis de La Palma escreve: Era impossível afastar de seu pensamento aquele lugar terrível: o Calvário. Anteviu sua crucifixão: completamente despido, rebaixado como um marginal no meio de dois ladrões, suspenso por mais de três horas, insultado pelos inimigos e desamparado pelos amigos.

O Pe. Juan de Maldonado comenta: Por que Jesus Cristo fora crucificado entre dois ladrões? São Marcos nos dá a razão: para que se cumprisse a profecia de Isaías 53, 12. Esta causa moveu Deus, porém,  Pilatos não moveu, porque era profano e não pensava em cumprir as profecias. Outra causa impeliu Pilatos... foi o desejo de esconder sua própria maldade e iniquidade. Se houvesse crucificado somente a Jesus Cristo, poderia acreditar que o fazia pelos malvados pedidos dos judeus e não por justiça. Porém, crucificando-O com os dois ladrões, que todos davam por merecidamente condenados, pensaria o povo que a semelhança da pena supunha em Cristo igual culpabilidade. Não é improvável que os mesmos judeus solicitaram que fosse crucificado com os ladrões para que tivesse morte mais ignominiosa e humilhante.

E por que crucificaram Jesus Cristo entre dois ladrões? Porque assim o determinou o conselho e o humano capricho dos judeus. Para demonstrar que Nosso Senhor era o capitão daqueles bandidos e para aumentar sua ignomínia. Era costume que o chefe dos bandidos fosse assassinado entre os mesmos e no lugar mais alto. O Senhor foi colocado entre os pecadores para salvá-los: um acreditou n’Ele, outro continuou blasfemando.

O Pe. Luis Bronchain explica: Tendo o Redentor tomado sobre si os crimes do gênero humano, tornou-se de certo modo o pecador universal, levando o opróbrio de todos os pecados do mundo. Assumiu, pois, todas as consequências. Não só foi crucificado como o último dos escravos, mas morreu entre dois criminosos e dois crucificados, isto é, suspensos na cruz, entre a maldição do céu e da terra. Eis o Deus que São Paulo chama inocente, imaculado, segregado do pecado e mais elevado do que os céus (Hb 7, 26). Ele foi colocado entre dois bandidos detestados, como se lhes fora igual e considerando-os como irmãos, dando assim a entender que não viera para os justos, mas para os pecadores (Lc 5, 32).

Já no Calvário começa o julgamento a que Jesus submeterá todos os filhos de Adão. Colocado entre dois bandidos, parece fazer a separação dos justos e dos pecadores. Dirige-se ao bom ladrão como aos ELEITOS no fim dos séculos: Vem, bendito do meu Pai, possui o reino que te está preparado desde o princípio do mundo, pois que hoje mesmo estarás comigo no paraíso. Ao outro, colocado à sua esquerda, dá a sentença reservada aos condenados: Retira-te, maldito, para o fogo eterno. A humildade arrependida é, pois, o caráter dos ELEITOS, e o orgulho obstinado é o dos escravos de Satanás.Quem quiser pertencer ao Salvador e partilhar a sorte do ladrão penitente, deve se humilhar como ele. Jesus Cristo prefere a humildade dum pecador ao orgulho dum inocente.

 

ORAÇÃO: Ó humildade de um Deus! Ó caridade do Redentor! Para facilitar-nos a confissão dos nossos pecados, Ele se fez de certo modo pecador conosco e parece declarar-se de fato o último e o mais criminoso de todos. Felizes os que, como o bom ladrão, confessam humildemente as suas iniquidades e pedem perdão ao Salvador!Ai, porém, dos orgulhosos, que, semelhantes ao ladrão impenitente, recusam confessar as faltas e se irritam contra Deus a quem ofenderam, porque os aflige para curar e salvar. Amém!

 

Pe. Divino Antônio Lopes FP (C)

Anápolis, 24 de fevereiro de 2015

 

 

Bibliografia

 

Sagrada Escritura

Pe. Ramón Genover, Meditações Espirituais para todo o ano

Pe. Juan Leal, A Sagrada Escritura

Pe. Luis de La Palma, A Paixão do Senhor

Pe. Juan de Maldonado, Comentário de São Mateus

Santo Afonso Maria de Ligório, A Paixão do Senhor

Pe. Luis Bronchain, Meditações para todos os dias do ano

 

 

 

 

Este texto não pode ser reproduzido sob nenhuma forma; por fotocópia ou outro meio qualquer sem autorização por escrito do autor Pe. Divino Antônio Lopes FP.

Depois de autorizado, é preciso citar:

Pe. Divino Antônio Lopes FP. “Dois ladrões crucificados”.

www.filhosdapaixao.org.br/escritos/comentarios/quaresma/comentario_quaresma_013.htm