Maria chorando
 

 

ARRASTOU PARA A TERRA A REDE

(Jo 21, 11)

 

“Simão Pedro subiu então ao barco e arrastou para a terra a rede, cheia de cento e cinquenta e três peixes grandes; e apesar de serem tantos, a rede não se rompeu”.

 

 

“Simão Pedro subiu então ao barco”. Com certeza foram outros apóstolos com ele, porém São João nomeou somente a São Pedro, como cabeça que era. Em Mt 13, 47ss a pesca com rede figura o reino dos céus; em Mt 4, 19 figura a missão dos apóstolos. Pode-se solidamente pensar que São João vê na rede cheia o êxito da missão apostólica dirigida por São Pedro. Os 153 peixes figuram a pesca milagrosa prometida aos discípulos e sucessores.

Os Santos Padres e os Doutores da Igreja comentaram com frequência este episódio em sentido místico: a barca é a Igreja cuja unidade está simbolizada pela rede que não se rompe, o mar é o mundo, Pedro na barca simboliza a suprema autoridade na Igreja, o número de peixes significa o número dos escolhidos.

Outro autor comenta que São Pedro subiu no barco porque, possivelmente, era o dono do mesmo... subiu e arrastou a rede para a terra com 153 grandes peixes. Quer dizer com isso que eram os melhores peixes.

Outro autor ainda diz que as circunstâncias da pesca milagrosa são simbólicas: o mar é o mundo; a barca é a Igreja; os pescadores são os apóstolos; as redes, a pregação do Evangelho e os peixes, a universalidade dos fiéis.

“... e arrastou para a terra a rede”. Em São João 21, 6 diz que os Apóstolos não conseguiam ARRASTAR a rede por causa do peso; agora já diz que São Pedro sozinho conseguiu ARRASTÁ-LA. Como se explica isso?

São Cirilo de Jerusalém e Eutímio comentam: “É provável que não foi somente Pedro, mas os demais apóstolos foram ajudá-lo. Porém, somente Pedro foi nomeado porque era o primeiro, ou porque foi o chefe naquele trabalho, ou porque obedeceu com maior prontidão ao desejo de Jesus Cristo; sendo o primeiro a subir no barco e puxar a rede para a terra, como havia sido o primeiro a aproximar do Senhor jogando-se do barco”.

São Gregório Magno e Ruperto comentam: “Se somente Pedro arrastou a rede, com certeza foi com a ajuda divina. Agora Pedro, isto é, o sucessor de Pedro, tem mais poder e autoridade na Igreja que todos os demais sucessores dos restantes dos apóstolos”.

Sobre o número dos peixes, 153; São Cirilo de Jerusalém, Leôncio, Teofilacto e Eutímio, acreditam que o número centenário, por ser perfeito, significa a quantidade inumerável dos gentios que haviam de crer, e o número cinquenta, que é a menor metade, o número dos judeus que se fariam cristãos, que seria bem menor. E os três outros, o mistério da Santíssima Trindade, em que todos haviam de crer.

Santo Agostinho comenta: “Não significa que somente cento e cinquenta santos haverão de ressuscitar para a vida eterna, mas milhares deles pela graça do Espírito Santo... Todos, pois, que possuem essa graça são figurados pelo número”. São Beda segue o que comenta Santo Agostinho.

São Gregório Magno escreve: “Não carece de grande mistério este número, porém a profundidade de tão grande segredo exige a vossa atenção. Não colocaria tão exatamente o Evangelho esta quantidade, se não a julgasse cheia de mistério. Sabemos que no Antigo Testamento todas as obras se ordenam pelos preceitos do Decálogo; porém, no Novo Testamento a virtude da mesma operação se dá aos fiéis multiplicados pela septiforme graça do Espírito”. Teófilo Alexandrino ou Antioqueno pensa da mesma maneira.

Eusébio Emiseno diz: “Que são esses cento e cinquenta e três peixes, senão todos os batizados e fiéis?”

“... a rede não se rompeu”. Nesse trecho São João vê um segundo milagre; a mão de Jesus Cristo que sustenta com todas as forças: “Eu estou com vocês”.

Esta rede que não se rompe é o símbolo da caridade. Na primeira pesca, diz Santo Agostinho, a rede se rompeu, porque representava a universalidade dos que acreditam em Jesus Cristo, isto é, o corpo e a alma da Igreja; porém, aqui se figura, nestes grandes peixes, os que pertencem à alma da Igreja, vivificados pelo Espírito Santo e formando uma unidade de amor em Cristo e com Cristo. São grandes, porque destes é o reino dos céus, nele o menor é maior que todas as grandezas da terra (Mt 11, 11); são muitos, porque qualquer que seja a teoria sobre o número dos que se salvam, sem dúvida, serão milhões os que levará consigo Jesus Cristo ao céu; e a rede não se rompe, porque a caridade de Deus é indivisível; porquanto, o amor que se separa de Deus não é caridade. Não só é indivisível, mas é a máxima força que une os espíritos; porque, onde está o amor da caridade, ali está Deus, que dá coesão (harmonia) a todas as coisas.

Outros autores comentam que a rede não se rompeu graças a AJUDA de Jesus Cristo.

Eusébio Emiseno comenta: “Bons peixes eram estes que não romperam a rede, e maus os hereges e cismáticos, que rompem cada dia as redes do Evangelho”.

Outro autor ainda comenta: a virtude dos apóstolos, ainda que fraca e semelhante à rede, todavia, fortalecida pela graça de Cristo, bastaria para pescar uma grande quantidade de homens e trazê-los ao Evangelho. A rede é a Igreja Católica e a quantidade de peixes é a multidão de fiéis. Significa, pois, que a Igreja católica, mesmo estando cheia de fiéis, não se romperá, mas passará pelo mar, isto é, pelas grandes dificuldades da vida... passará salva e íntegra nas mãos dos apóstolos, isto é, nas mãos dos que a governam, até a praia... a praia é o céu.

 

PARA PERSEVERAR ATÉ O FIM, É PRECISO PEDIR A VIRTUDE DA FORTALEZA PARA NOSSO SENHOR.

 

A virtude sobrenatural da fortaleza, a ajuda específica do Senhor, é imprescindível (necessária) ao cristão para que possa vencer os obstáculos que se apresentam diariamente na sua luta interior por amar cada dia mais a Deus e cumprir os seus deveres. E esta virtude é aperfeiçoada pelo dom da fortaleza, que torna mais fáceis os atos correspondentes.

A virtude da fortaleza, aperfeiçoada pelo dom do Espírito Santo, não suprime a fraqueza própria da natureza humana, o temor ao perigo, o medo à dor, à fadiga, mas permite superá-los graças ao amor. Precisamente porque ama, o cristão é capaz de enfrentar os maiores riscos, ainda que a sua sensibilidade manifeste repugnância em ir para frente,  não só no começo, mas também ao longo de todo o tempo da prova ou enquanto não tiver alcançado aquilo que ama.

No entanto, o que o Senhor espera de nós é o heroísmo nas pequenas coisas, no cumprimento diário dos nossos deveres. Todos os dias temos necessidade do dom da fortaleza, porque todos os dias temos necessidade de praticar esta virtude para vencer os caprichos pessoais, o egoísmo e a comodidade. Por outro lado, devemos ser firmes num ambiente que muitas vezes se mostrará contrário à doutrina de Jesus Cristo, a fim de vencermos os respeitos humanos e darmos um testemunho simples mas eloquente do Senhor, como fizeram os Apóstolos.

Devemos pedir frequentemente o dom da fortaleza: para vencer a relutância em cumprir os deveres que custam, para enfrentar os obstáculos normais em qualquer existência, para aceitar com paz e serenidade a doença, para perseverar nas tarefas diárias, para dar continuidade à ação apostólica, para encarar os contratempos com espírito de fé e bom humor.

Devemos pedir esse dom para ter essa fortaleza interior que nos ajuda a esquecer de nós mesmos e a estar mais atentos àqueles com quem convivemos, para mortificar o desejo de chamar a atenção, para servir os outros sem que o notem, para vencer a impaciência, para não ficar remoendo os problemas e dificuldades pessoais, para não explodir em queixas perante as contrariedades ou a indisposição física, para mortificar a imaginação afastando os pensamentos inúteis.

Necessitamos da fortaleza para falar de Deus sem medo, para nos comportarmos de modo cristão, ainda que entremos em choque com um ambiente paganizado, para fazer uma correção fraterna quando for preciso... Precisamos de fortaleza para cumprir em toda a linha os nossos deveres.

Quando se sabe estar bem perto do Senhor, o dom da fortaleza encontra nas dificuldades umas condições excepcionais para crescer e firmar-se: “As árvores que crescem em lugares sombreados e livres de ventos, enquanto externamente se desenvolvem com aspecto próspero, tornam-se fracas e moles, e facilmente qualquer coisa as fere; mas as árvores que vivem no cume dos montes mais altos, agitadas pelos muitos ventos e constantemente expostas à intempérie e a todas as inclemências, atingidas por fortíssimas tempestades e cobertas por frequentes neves, tornam-se mais robustas que o ferro” (São João Crisóstomo).

 

Pe. Divino Antônio Lopes FP (C)

Anápolis, 10 de maio de 2014

 

 

Bibliografia

 

Sagrada Escritura

Pe. Manuel de Tuya, Bíblia comentada

Edições Theologica

Pe. Juan de Maldonado, Comentário do Evangelho de São João

Dom Isidro Gomá y Tomás, O Evangelho explicado

Santo Agostinho, Escritos

Pe. Francisco Fernández Carvajal, Escritos

Eusébio Emiseno, Escritos

Ruperto, Escritos

São Gregório Magno, Escritos

São Cirilo de Jerusalém, Escritos

Teofilacto, Escritos

Leôncio, Escritos

Eutímio, Escritos

São João Crisóstomo, Escritos

Pe. Juan Leal, A Sagrada Escritura (texto e comentário)

 

 

 

 

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Pe. Divino Antônio Lopes FP. “Arrastou para a terra a rede”

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