Instituto Missionário dos Filhos e Filhas da Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo e das Dores de Maria Santíssima

 

 

013

(Aos Religiosos e Religiosas do Instituto Missionário dos Filhos e Filhas da Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo e das Dores de Maria Santíssima e aos Lanceiros Consagrados. Seminário do Santíssimo Crucifixo, Anápolis-GO, em 28 de setembro de 1997, às 20:00 h.)

 

Humildade

 

Conheçamos em primeiro lugar a definição da humildade: É uma virtude sobrenatural que, pelo conhecimento que nos dá de nós mesmos, nos inclina a nos estimarmos em nosso justo valor e a buscarmos o abatimento e o desprezo.

É uma virtude sobrenatural, isto é, são princípios bons de ação que Deus comunica às nossas almas, sem que façamos esforços por adquiri-los; são dons de Deus. O Pe. Leo J. Trese diz: Pelo seu poder infinito, pode Deus, conferir a uma alma o poder e a inclinação para realizar certas ações sobrenaturalmente boas. Uma virtude deste tipo – o hábito infundido na alma diretamente por Deus – chama-se sobrenatural.

A humildade tem duplo fundamento: a verdade e a justiça: a verdade, faz que conheçamos a nós mesmos tais quais somos; a justiça, que nos inclina a tratar-nos em conformidade com esse conhecimento.

Santo Tomás de Aquino diz que: Para nos conhecermos a nós mesmos, é necessário ver o que em nós pertence a Deus e o que nos pertence a nós, como próprio; ora, tudo quanto há de bom vem de Deus e a Deus pertence, tudo quanto há de mau ou defeituoso vem de nós.

A justiça exige, pois, imperiosamente que se dê a Deus, e a Deus só, toda a honra e glória: Amém! O louvor, a glória, a sabedoria, a ação de graças, a honra, o poder e a força pertencem ao nosso Deus pelos séculos dos séculos. Amém! (Ap 7, 12).

Não há dúvida que alguma coisa boa há em nós, o nosso ser natural e sobretudo  os nossos privilégios sobrenaturais. A humildade não nos impede de os ver e admirar; mas, assim como, quando se admira um quadro, é para o artista, que o pintou, que vai a nossa homenagem, e não para a tela, assim também, quando admiramos os dons e graças de Deus em nós, é a Ele e não a nós mesmos que se deve dirigir a nossa admiração (Tanquerey).

Tanquerey diz que: Devemos, pois, por justiça, amar as humilhações, aceitar todas as afrontas; se nos dizem que somos avaros, desonestos, orgulhosos, devemos convir nisso, porque conservamos em nós a tendência a todos esses defeitos”. E M. Olier assim conclui: “Em qualquer enfermidade, perseguição, desprezo e outra aflição, é mister pormo-nos do partido de Deus contra nós mesmos, e dizer que tudo isso merecemos justamente e ainda mais, que Ele tem direito a usar de todas as criaturas para nos castigar, e que adoramos a grande misericórdia que ele exerce agora sobre nós, pois sabemos perfeitamente que no tempo da sua Justiça nos tratará mais rigorosamente.

 

Jesus e a Humildade

 

Jesus Cristo diz em Mt 11, 29: Aprendei de mim que sou manso e humilde de coração. Santo Agostinho comenta: Ele não nos pede que o imitemos na fabricação do mundo, na criação dos seres visíveis e invisíveis, na realização das obras maravilhosas, mas na humildade de coração. O nosso Salvador é o Mestre da humildade, por isso, Ele se coloca como modelo para que O imitemos. O Bem-Aventurado José Allamano diz: Jesus foi o único humilde verdadeiro, então devemos imitá-lO radicalmente.

O Coração de Jesus é um oceano infinito de virtudes, é um imenso jardim, onde Ele nos convida a entrar e colher a flor perfumada da humildade.

Jesus Cristo revelou a sua humildade em todas as ações. Se operava milagres, recomendava que fossem velados no silêncio; se as multidões, deslumbradas por seus milagres, procuravam proclamá-lo rei, desaparecia e não se deixava encontrar.

Toda a vida de Jesus foi uma escola de humildade, principalmente a sua morte na cruz: Humilhou-se a si mesmo fazendo-se obediente até à morte, e morte de cruz (Fl 2, 8).

Muitas pessoas gostam de procurar a humilhação, mas buscam aquelas que gostam ou que não servem mais para prová-las, o que agrada a Deus, não é buscar humilhação, mas sim, aceitar por amor aquelas que aparecem sem serem procuradas, como escreve o Bem-Aventurado Josemaría Escrivá: Não é humilde quando te humilhas, mas quando te humilham e o aceitas por Cristo.

Refletimos sobre os doze graus de humildade segundo São Bento.

1. O temor de Deus, sempre presente aos olhos de nosso espírito, e fazendo-nos praticar os mandamentos: temor dos castigos primeiro, depois temor reverencial, que remata na adoração.

2. A obediência ou submissão da nossa vontade à de Deus; é claro, que, se temos reverência e temor de Deus, faremos a sua vontade em tudo. Esta obediência é sem dúvida um ato de humildade, visto ser a expressão da nossa dependência para com Deus.

3. A obediência aos superiores por amor de Deus. É mais dificultoso submeter-se aos Superiores que ao próprio Deus: de fato, é necessário mais espírito de fé, para ver a Deus nos Superiores, e mais perfeita abnegação, porque esta obediência se aplica a maior número de coisas.

4. A obediência paciente, ainda nas coisas mais dificultosas, suportando as injúrias sem queixumes, ainda mesmo e, sobretudo quando a humilhação vem dos Superiores: para o conseguir, pensar na recompensa celeste e nos sofrimentos e humilhações de Jesus.

5. A confissão da faltas secretas, incluindo os pensamentos, ao Superior, fora da confissão sacramental. É este ato de humildade um freio poderoso: a idéia de que será necessário manifestar as faltas mais ocultas, trava muitas vezes o despenho para o abismo.

6. A aceitação cordial de todas as privações, ocupações vis, considerando-se inferior ao seu oficio.

7. Julgar-se sinceramente, do fundo do coração, o último de todos os homens. É raro este grau; os Santos chegam lá, refletindo que, se os outros tivessem tido tantas graças como eles, seriam melhores.

8. A fuga da singularidade: não fazer nada de extraordinário, mas contentar-se do que é autorizado pela regra comum, pelos exemplos dos antigos e pelos costumes legítimos: querer singularizar-se é, efetivamente, sinal de orgulho ou vaidade.

9. O silêncio: saber calar enquanto nos não interrogam ou enquanto não há uma boa razão de dar o parecer, e ceder aos outros ocasião de falar. De fato, na ânsia de tomar a palavra, há muita vaidade.

10. A moderação no rir. São Bento não condena o rir, enquanto é expressão de alegria espiritual, mas tão somente o riso de má pinta, a gargalhada estridente ou zombeteira, ou a disposição habitual a rir pronta e ruidosamente, que mostra pouco respeito da presença de Deus e pouca humildade.

11. A reserva nas palavras: quando se fala, fazê-lo suave e humildemente, sem gritos, com a gravidade e sobriedade do homem sisudo.

12. A modéstia no porte: andar, assentar-se, estar de pé, olhar moderadamente, sem afetação, a cabeça ligeiramente inclinada, o pensamento em Deus e na própria indignidade de levantar os olhos ao céu.

 

Pe. Divino Antônio Lopes FP.

 

 

Este texto não pode ser reproduzido sob nenhuma forma; por fotocópia ou outro meio qualquer sem autorização por escrito do autor Pe. Divino Antônio Lopes FP.

 

Depois de autorizado, é preciso citar:

Pe. Divino Antônio Lopes FP. “Humildade”.
www.filhosdapaixao.org.br/escritos/palestras/palestra_013.asp

 

Escolher outros Temas