Instituto Missionário dos Filhos e Filhas da Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo e das Dores de Maria Santíssima

 

30 de Outubro

São Frumêncio

Ao tempo da conquista da Palestina por parte dos cruzados (1100), chegaram em Jerusalém uns peregrinos de cor preta, fisionomia desconhecida, vindos de longínquo país africano, homens de civilização ignorada, mas de fé cristã esclarecida. A notícia espalhou-se pela Europa suscitando estupor, maravilha, curiosidade diante desse enigma.

Desde o tempo em que as regiões cristãs da África do Norte tinham sido subjugadas pelos muçulmanos (750), a África não pertencia mais à geografia do Cristianismo. Os peregrinos desconhecidos pertenciam à Etiópia. Os cultores da ciência, manipulando manuscritos antigos, conseguiram refazer as notícias bíblicas sobre a existência duma região com este nome de onde provinham a rainha de Sabá, ao tempo do rei Salomão e o ministro da rainha Candace, que foi batizado por Filipe (At 8, 27).

Quem levou o Evangelho a esta escura região no coração da África foi um simples jovem de nome Frumêncio, que veio a ser seu primeiro bispo. Nascido em Tiro da Fenícia, este menino chegou à Etiópia de maneira inesperada. Com o irmão Edécio, Frumêncio acompanhou um filósofo de nome Merópio, numa viagem em direção às índias. A embarcação, cruzando o mar Vermelho, foi assaltada e só foram poupados da morte os dois moços, Frumêncio e Edécio, que foram levados escravos para Aksum a serviço da corte.

Pelos dotes de inteligência e operosidade ganharam a benevolência do rei que os nomeou altos funcionários do reino e responsáveis pela educação do príncipe herdeiro. Os dois irmãos tinham recebido ótima educação cristã e aproveitaram da situação de privilégio para proteger os mercadores cristãos de passagem pela região, assim como difundir a fé. Tiveram licença para construir uma igrejinha e eles próprios se tornaram catequistas.

Passados quase vinte anos, obtiveram permissão para voltar à pátria e visitar os parentes. Edécio tomou a direção de Tiro, enquanto Frumêncio foi ter com o patriarca de Alexandria, Santo Atanásio, relatando o movimento de conversões conseguido na Etiópia: Era necessário providenciar alguns sacerdotes e um bispo a fim de continuar a evangelização daquela promissora região. Santo Atanásio, ouvindo com admiração o relato de Frumêncio, achou que ninguém podia ser mais digno do que ele para ser nomeado bispo. Investiu-o desta dignidade dando-lhe jurisdição eclesiástica sobre toda a Etiópia. Deu-se isso por volta do ano 350 da era cristã.

Voltou Frumêncio para Aksum, acolhido com alegria pelo povo e aclamado pelos fiéis como “Abba Salama”, isto é, “padre portador de paz”. Continuou com maior zelo e autoridade a pregação do Evangelho, conseguindo a conversão do rei e da rainha com elevado número de indígenas.

O fato ficou documentado na história daquela nação onde foram recentemente encontradas moedas com a inscrição: “Rei Ezama, cristão”.

Quase toda a Etiópia passou a abraçar o Cristianismo que continuou sua ligação com o patriarcado de Alexandria do Egito e foi chamada de Igreja copta. Quando a Igreja egípcia aderiu à heresia monofisita, por volta do ano 460 (heresia que reconhecia uma só natureza em Cristo), então também a Igreja copta da Etiópia, sem quase o saber, ficou envolvida na mesma crença.

É desconhecida a data da morte do bispo Frumêncio, que teve logo grande veneração na Etiópia. A história lhe reconheceu, com justiça, o título de apóstolo e primeiro bispo daquela nação, que ainda hoje lhe tributa gratidão e culto. Sua festa celebra-se no dia 27 de outubro, e nós lhe reservamos este primeiro dia livre no calendário litúrgico.