POR QUE ME PERSEGUES?

(At 9, 4)

 

 

"Saul, Saul, por que me persegues?"

  

 

Saulo, respirando ainda ameaças de morte contra os discípulos do Senhor, dirigiu-se ao sumo sacerdote (At 9, 1). Foi pedir-lhe cartas para as sinagogas de Damasco, a fim de poder trazer para Jerusalém, presos, os que lá encontrasse pertencendo ao Caminho, quer homens, quer mulheres (At 9, 2).

Estando ele em viagem e aproximando-se de Damasco, subitamente uma luz vinda do céu o envolveu de claridade (At 9, 3). Caindo por terra, ouviu uma voz que lhe dizia: "Saul, Saul, por que me persegues?" (At 9, 4). Ele perguntou: "Quem és, Senhor?" E a resposta: "Eu sou Jesus, a quem tu estás perseguindo. Mas levanta-te, entra na cidade, e te dirão o que deves fazer" (At 9, 5-6).

 

Em At 9, 1-3 diz:  "Saulo, respirando ainda ameaças de morte contra os discípulos do Senhor, dirigiu-se ao sumo sacerdote. Foi pedir-lhe cartas para as sinagogas de Damasco, a fim de poder trazer para Jerusalém, presos, os que lá encontrasse pertencendo ao Caminho, quer homens, quer mulheres. Estando ele em viagem e aproximando-se de Damasco, subitamente uma luz vinda do céu o envolveu de claridade".

 

Edições Theologica comenta: "As autoridades romanas reconheciam a autoridade moral do Sinédrio e inclusivamente permitiam-lhe alguma jurisdição sobre os membros das comunidades judaicas fora das fronteiras da Palestina, como é o caso de Damasco. O seu poder chegava inclusivamente até ao direito de extradição (cfr. 1 Mc 15, 21). A distância entre Jerusalém e Damasco é de 230-250 Km, segundo o itinerário que se escolha. Para homens como Saulo e os seus companheiros, provavelmente providos de cavalgaduras, não oferecia dificuldade e realizava-se em menos de uma semana. A aparição do Senhor deu-se na parte final da viagem, já nas proximidades de Damasco".

"Caminho, Via" (At 9, 2): A palavra hebraica correspondente, significa também o comportamento religioso ou modo de agir diante de Deus: "Aqui designa o estilo de vida cristã e o próprio Evangelho; indiretamente refere-se ao conjunto desses primeiros seguidores de Jesus (cfr. At 18, 25 s; 19, 9. 23; 22, 4; etc.) e a todos os cristãos que viriam depois e que estão a caminho do Céu, e recordam as palavras de Jesus: 'Quão estreita é a porta, e apertada a via que leva à vida! E são poucos os que dão com ela'(Mt 7, 14)" (Edições Theologica), e: "A missão de Paulo consistia em desmascarar a estes judeus perigosos e levá-los presos a Jerusalém. São chamados de 'caminho' (v. 2), termo que reaparecerá em outros lugares dos Atos (cfr. 18, 25-26; 19, 9. 23; 22, 4; 24, 14.22), aludindo ao estilo ou modo de vida que caracterizava a nova comunidade cristã. Era este o caminho que conduzia à vida (cfr. At 5, 20; 11, 18; 13, 48), da que Cristo é o chefe (cfr. At 3, 15)" (Pe. Lorenzo Turrado), e também: "Respirando': as ameaças e desejos de morte contra os cristãos são como o ar que vive Saulo. 'Caminho, Via': 'pertencendo ao Caminho'. Caminho ou Via em hebraico é modo de realizar. Aqui se refere à religião e forma de vida cristã". 'Trazer para Jerusalém, presos': as autoridades romanas davam grande liberdade ao pontífice sobre todos os judeus, ainda os da diáspora. 'Se aproximava de Damasco': segundo At 22, 6 e 26, 13, seria por volta do meio-dia. A tradição situa a aparição a uns 12 Km da cidade, na aldeia de Kawkab ou Kokab. O fato de que chegara andando e conduzido pela mão (v. 8) talvez requer maior proximidade" (Pe. Juan Leal), e ainda: "Damasco: famosa e antiquíssi-ma capital da Síria. Foi conquistada por Pompeu em 66 a. C. e mais tarde ocupada pelo rei árabe, Aretas, por volta do ano 37 d. C., precisamente pouco antes que Paulo aí chegasse (2 Cor 11, 32-33; cfr. vv. 23-25). Existia lá uma numerosa colônia de hebreus, com pelo menos dez mil homens aptos para as armas, segundo José Flávio (Guerra, II, 20, 2), naturalmente com várias sinagogas. Distava de Jerusalém sete ou oito dias de viagem" (PIB).

 

Católico, Saulo que defendia ferrenhamente a Lei de Moisés, considerava os católicos como o maior perigo para o judaísmo; por isso, perseguia terrivelmente a Igreja Católica.

Depois de convertido ele escreve: "Pois sou o menor dos apóstolos, nem sou digno de ser chamado apóstolo, porque persegui a Igreja de Deus" (1 Cor 15, 9). Está claro que a Santa Igreja Católica Apostólica Romana é a IGREJA de Deus.

Hoje, são milhões os "Saulos" que caluniam, xingam e trabalham furiosamente tentando destruir a IGREJA de Deus; mas com certeza "CAIRÃO do CAVALO".

 

Em At 9, 4-6 diz: "Caindo por terra, ouviu uma voz que lhe dizia: 'Saul, Saul, por que me persegues? Ele perguntou: 'Quem és, Senhor?' E a resposta: 'Eu sou Jesus, a quem tu estás perseguindo. Mas levanta-te, entra na cidade, e te dirão o que deves fazer".

 

Edições Theologica escreve: "Cristo manifestou a São Paulo, desde o momento da sua conversão, a identificação entre Ele e os cristãos. É uma realidade que o Apóstolo formulará mais tarde, ao falar nas suas epístolas do Corpo Místico de Cristo (cfr. Cl 1, 18; Ef 1, 22s)".

São Beda comenta: "Jesus não diz: por que perseguem os Meus membros? Mas por que Me persegues? Porque Ele mesmo ainda padece afrontas no Seu Corpo, que é a Igreja. Igualmente Cristo terá em conta as boas ações realizadas com os Seus membros, pois disse: 'Tive fome e destes-Me de comer...' (Mt 25, 35), e explicando estas palavras acrescentou: 'Quando fizestes a um destes meus irmãos menores, a Mim o fizestes' (Mt 25, 40)" (Super Act expositio, ad loc.).

A vocação de Saulo foi extraordinária pelo modo como Deus o chamou, mas o efeito que produziu nele é o mesmo que ocasiona o chamamento específico para o apostolado que Deus faz a alguns cristãos para que O sigam mais de perto. Aqueles que recebem esse dom, escolhidos entre o resto dos batizados - que participam da vocação comum à santidade e ao apostolado, ao receber no Batismo o dom da vocação divina - têm em São Paulo um modelo de resposta.

Paulo VI descrevia assim os efeitos que essa vocação específica produz no interior daquele que é chamado: "O apostolado é (...) uma voz interior inquietante e tranquilizante ao mesmo tempo, uma voz doce e imperiosa, uma voz incômoda e ao mesmo tempo amorosa, uma voz que, coincidindo com circunstâncias imprevistas e com grandes acontecimentos, se converte num determinado momento em atraente, determinante, quase reveladora da nossa vida e do nosso destino, inclusivamente profético e quase vitoriosa, que no fim faz desaparecer toda a incerteza, toda a timidez e todo o temor e simplifica - até a tornar fácil, desejável e feliz - a resposta do nosso ser, na expressão dessa sílaba que revela o segredo supremo do amor: sim, Senhor, diz-me o que tenho de fazer e eu procurarei fazê-lo, eu o farei. Como São Paulo, derrubado às portas de Damasco: que queres que eu faça? A raiz do apostolado penetra nesta profundidade: o apostolado é vocação, é eleição, é encontro interior com Cristo, é abandono da própria e pessoal autonomia à Sua vontade, à Sua presença invisível; é uma certa substituição do nosso pobre coração inquieto, volúvel e por vezes infiel, mas ávido de amor, pelo Seu, pelo coração de Cristo que começa a latejar na criatura que escolheu. Então desenvolve-se o segundo ato do drama psicológico do apostolado: necessidade de expandir-se, a necessidade de fazer, a necessidade de dar, a necessidade de falar, a necessidade de transmitir aos outros o próprio tesouro, o próprio fogo (...). O apostolado converte-se em expansão contínua de uma alma, em exuberância de uma personalidade possuída por Cristo e animada pelo Seu Espírito; converte-se na necessidade de correr, de trabalhar, de intentar tudo o que é possível para a difusão do Reino de Deus, para a salvação dos outros, de todos" (Hom. 14-10-1968).

O Pe. Lorenzo Turrano escreve: "O fato teve lugar provavelmente no ano 36. Saulo e seus companheiros estavam já perto de Damasco (cfr. At 22, 6). Era pelo meio-dia (cfr. At 22, 6; 26, 13). De repente uma luz fulgurante os envolve e caem por terra (cfr. At 9, 4; 22, 7; 26, 7; 26, 14). É de acreditar, ainda que o texto bíblico explicitamente não menciona, que a viagem era a cavalo, não a pé, e, portanto, a queda fora grande e violenta. Surge então o impressionante diálogo entre Jesus e Saulo: 'Saulo, Saulo, por que me persegues?  Quem és, Senhor?' (cfr. At 9, 4-6; 22, 7-10; 26, 14-18). Parece, a julgar pela frase de Jesus 'duro é para você recalcitrar contra o aguilhão' (Cfr. 26, 14), que, num primeiro momento, Saulo tratou de resistir à graça, como cavalo que se dá coices ante as picadas, mas logo foi vencido e exclamou: 'Que farei, Senhor?' (cfr. 22, 10; 26, 19). Sem dúvida, este modo de proceder do Senhor em sua conversão influiu  grandemente nele, para que logo em suas cartas insistisse tanto em que a justificação não é efeito do nosso esforço ou das obras da Lei, mas sim, puro benefício de Deus (cfr. Rm 3, 24; 1 Cor 15, 10; Gl 2, 16; 1 Tm 1, 12-16; Tt 3, 5-7). Também a pergunta 'Por que me persegues?' Fez-lhe pensar em alguma misteriosa compenetração entre Cristo e seus fiéis, que o impulsionará a formular a maravilhosa  concepção do Corpo místico, traços notáveis de sua teologia (cfr. 1 Cor 12, 12-30; Ef 1, 22-23; Cl 1, 18). Não há dúvida que São Paulo nesta ocasião viu realmente a Jesus Cristo em sua humanidade gloriosa. Ainda que o texto bíblico não diz de modo explícito, claramente o deixa entender, quando contrapõe a Saulo e a seus companheiros, dizendo que estes 'ouviram a voz, não viram a ninguém' (cfr. At 9, 7). O mesmo São Paulo, falando sem dúvida desta visão, dirá mais tarde aos Coríntios: 'Não sou apóstolo? Não vi Jesus, nosso Senhor?' (1 Cor 9, 1); e mais adiante: '... apareceu a Cefas, logo aos Doze... ultimamente, como a um aborto, apareceu também a mim' (1 Cor 15, 5-9). Nota-se que essas aparições aos apóstolos eram reais e objetivas (cfr. At 1, 3; 10, 41), logo também a de Paulo, coisa, além disso, que exige o contexto, pois se é que algo valiam essas parições para provar a ressurreição de Cristo, é unicamente na hipótese de que este apareceu com seu corpo real e verdadeiro", e: "Caindo por terra': assim caiam os profetas quando recebiam uma visão (Ez 1, 28; 43, 3; 44, 4; Dn 8, 17; 10, 9). Saulo: forma helenizada do arameu Saul. Pela passagem 26, 14 sabemos que o Senhor lhe falou em arameu. Me persegues: a perseguição contra os cristãos é continuação da de Cristo. O que se faz aos discípulos pelo nome de Jesus é como se fizesse ao Mestre. Base muito universal em todo o Evangelho. Tudo o que é feito a nós Ele toma como seu em virtude da solidariedade que existe entre os membros e a Cabeça. Também o toma como juiz, que há de dar a cada um o que é seu" (Pe. Juan Leal).

 

Católico, Cristo Jesus perguntou a Saulo: "Saulo, Saulo, por que me persegues?"

Ele lhe disse: "Quem és, Senhor?"

Jesus lhe respondeu: "Eu sou Jesus a quem tu persegues".

E Saulo lhe respondeu com aquelas maravilhosas palavras: "Senhor, que queres que eu faça?" (At  22, 10). Era como se já dissesse: "Sim, ó Senhor, eu te reconheço por meu Deus, entrego-me a ti sem reserva, estou disposto a fazer tudo quanto quiseres!" (Bem-aventurado José Allamano).

Sendo São Paulo um homem cheio de energia e coragem, Nosso Senhor lhe terá dito: "Servir-me-ei desta energia, desta força de vontade!"

E de perseguidor da Santa Igreja, transformou-o no maior apóstolo. A partir daí, Saulo não foi mais Saulo, mas Paulo.

Católico, não está na hora de você perguntar também a Nosso Senhor: "Senhor, que queres que eu faça?"

São Paulo tornou-se um apóstolo CORAJOSO. Por que você, católico, é tão MEDROSO? "Cada dia erguia-se mais alto, cada dia mais ardente, e, ameaçado de perigos, lutava com vigor sempre novo" (São João Crisóstomo, Homilias).

Ele se mantinha FELIZ no meio de terríveis perseguições. Por que você, católico, se LAMENTA tanto? "Realmente, em meio às insídias dos inimigos, narrava feliz as vitórias contra todos os ataques; e em toda a parte, flagelado, coberto de injúrias e maldições, compunha cânticos como se celebrasse festas triunfais, gloriava-se e dava graças a Deus" (Idem).

São Paulo desprezava as GLÓRIAS dos homens para viver unido a Cristo Jesus. Por que você, católico, anda a MENDIGAR os aplausos das criaturas falsas? "E o que estava acima de tudo, gozava do amor de Cristo; com isto julgava-se o mais feliz dos homens; sem isto, não queria ser amigo de nenhum rei ou príncipe; mas, com este amor, preferia ser o último dos castigados, a estar, sem ele, entre os maiores e mais elevados em dignidade" (Idem).

Ele não se INTIMIDAVA diante dos perseguidores. Por que você, católico, deixa de PROGREDIR na santidade por medo das línguas maldosas? "Assim não se importava com as coisas visíveis, como se costuma desprezar a erva apodrecida. Tinha por mosquitos os próprios tiranos e as pessoas ferventes de raiva. Quanto à morte, aos tormentos e mil suplícios, tinha-os na conta de brinquedos de crianças, contanto que lhe permitissem sofrer algo por causa de Cristo" (Idem).

Católico, não fique estacionado na PREGUIÇA e no COMODISMO, mas CORRA no caminho da SANTIDADE, sem jamais olhar para trás: "Lembra-te, meu filho, que diariamente temos de crescer na virtude, pois não ir para frente significa voltar atrás" (Santa Catarina de Sena, Carta 212).

 

 

Pe. Divino Antônio Lopes FP.

Anápolis, 19 de agosto de 2008

 

 

 

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Pe. Divino Antônio Lopes FP. "Por que me persegues?"

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