ESPÍRITO DE CONSELHO

(Mt 10, 19-20)

 

“Naquele momento ser-vos-á inspirado o que haveis de dizer. Pois não sereis vós que falareis, mas o Espírito... falará em vós”.

 

O CONSELHO “é um dom pelo qual, nas dúvidas e incertezas da vida humana, conhecemos o que mais convém à glória de Deus, à nossa salvação e à do próximo” (São Pio X).

Com estas palavras Jesus Cristo ensina o caráter completamente sobrenatural do testemunho que pede aos seus discípulos. O comportamento de tantos mártires cristãos, conservado documentalmente, prova como se cumpre na vida dos fiéis a promessa de Jesus Cristo; é impressionante ao ler esses documentos comprovar a serenidade e a sabedoria de pessoas de escassa cultura, por vezes quase crianças.

A doutrina deste versículo fundamenta a fortaleza e confiança que o cristão deve ter nas situações mais variadas e difíceis da vida, nas quais seja necessário confessar a fé. Não estará só, mas o ESPÍRITO SANTO porá nele palavras cheias de sabedoria divina.

Aos apóstolos, IGNORANTES e SIMPLES, tinha que preocupar-lhes, naturalmente, esta última pregação do Senhor de que haviam de ser apresentados diante dos tribunais. Como iam eles se defenderem contra as acusações, artifícios e esperteza dos juízes? Jesus Cristo lhes previne que não tem porque preocupar-se nem da maneira como hão de defender-se nem das coisas que hão de dizer. Porque o ESPÍRITO SANTO lhes inspirará naquele momento as palavras que hão de dizer e a maneira como hão de responder a qualquer violência ou acusação que for usada contra eles.

De uma maneira mais explícita declara quem é o que lhes comunicará o que hão de dizer naquelas circunstâncias. Será o mesmo ESPÍRITO SANTO quem falará neles. É chamado o Espírito do Pai, insinuando sua processão d’Ele.

O Pe. Manuel de Tuya escreve: “Para essas horas de perseguição e julgamento diante dos tribunais por causa do seu nome, lhes promete uma especialíssima assistência do Espírito Santo. Está claro que esse ensinamento é anterior a Pentecostes. Não sem verdadeiro motivo lhes anuncia esta assistência. Os apóstolos, homens rudes e ignorantes, podiam muito bem temer e acovardar-se diante da luta dialética que teriam que sofrer ao enfrentar-se com juízes e príncipes em seus tribunais. E a isto olha Cristo com a promessa que lhes faz de uma especial assistência que teriam do Espírito Santo ‘naquela hora’, atalhando essa dificuldade ao dizer-lhes: ‘Não vos preocupeis com o que haveis de dizer’ (Mt-Mc), ‘não vos preocupeis como ou que haveis de responder ou dizer’ (Lc). Esta assistência do Espírito Santo aos apóstolos levados diante dos tribunais é formulada por Mt e Mc de tal maneira que parecia que os apóstolos haviam de ser uma espécie de instrumentos físicos e inertes pelos quais o Espírito Santo falaria.  Pois diz que ‘não sereis vós que falareis, mas o Espírito... falará em vós’ (Mt)”.

 

QUEM INVOCA, COM FÉ, O ESPÍRITO SANTO, NÃO SERÁ DESILUDIDO

 

O Espírito Santo não só dá aos fiéis a inteligência dos mistérios de Deus e a verdadeira ciência sobre o valor das criaturas, mas também ajuda a aplicar estes seus ensinamentos às circunstâncias da vida.

Não é fácil ao homem ter sempre presente as verdades da fé, as palavras do Evangelho e aplicá-las com sabedoria aos vários casos da vida cotidiana. Intervém o Espírito Santo: recorda, sugere interiormente, inspira-nos como nos comportar, agir e falar. Justamente por isso é que Jesus recomendou aos apóstolos que não se preocupassem quando fossem levados aos tribunais: “Naquele momento ser-vos-á inspirado o que haveis de dizer. Pois não sereis vós que falareis, mas o Espírito... falará em vós” (Mt 10, 19-20). Se em semelhante circunstância o cristão pode contar com a intervenção do Espírito Santo, não pense que lhe faltará seu socorro nos casos ordinários da vida. Disse Jesus: “Ensinar-vos-á todas as coisas” (Jo 14,26); não, por conseguinte, só as coisas mais importantes e difíceis. Aliás, tudo é importante na vida do cristão, quando se trata não de interesses egoísticos, mas de servir a Deus, de reconhecer e fazer em todas as circunstâncias sua vontade, de aplicar o Evangelho em todos os encontros. O próprio Jesus assegurou que “o Pai do céu dará o Espírito Santo aos que lho pedirem” (Lc 11,13). Quem invoca, com fé, o Espírito Santo, quem é dócil às suas inspirações, atento aos seus apelos íntimos, não será desiludido. Deve, porém, dispor-se à ação do Espírito Santo com muita pureza de consciência, com desapego das ideias pessoais, da vontade própria, pronto a mudar planos e a renunciar às próprias inclinações para obedecer à inspiração interior. “Nega teus desejos – diz São João da Cruz e acharás o que teu coração deseja. Sabes lá se tua inclinação é segundo Deus?”

“Que homem pode conhecer os desígnios de Deus? Quem pode penetrar nas determinações do Senhor?” (Sb 9,13). Seus desígnios são insondáveis e seus caminhos inacessíveis (Rm 11,33). Não pode o homem conhecê-los nem compreendê-los. Mas bem-sabidos são pelo Espírito Santo e, embora não os descobrindo completamente, pode guiar o fiel pelos caminhos de Deus e fazê-los perceber a sabedoria infinita oculta em cada acontecimento. É a dor sempre mistério para o homem; só o Espírito Santo pode nos fazer entrever seu valor, infundir em nós a ciência da cruz, inspirar que atitude tomar perante o sofrimento. Em outras circunstâncias também é difícil enxergar qual seja o querer divino, qual a solução ou escolha mais agradável a Deus, como poderemos harmonizar deveres contrastantes e a qual deles dar a precedência. Até mesmo os conselhos de pessoas prudentes não conseguem resolver certas perplexidades. Cumpre então invocar, com mais insistência, o Espírito Santo. Não pode falhar seu CONSELHO, pois é o próprio CONSELHO de Deus. Foi dado aos fiéis, justamente para iluminá-los e guiá-los pelos caminhos do Altíssimo. “A unção que dele (Cristo) recebestes permanece em vós... ensina-vos todas as coisas, é verdadeira e não mentirosa; permanecei assim firmes como vos ensinou ela” (1 Jo 2,27); tem o apóstolo João, aqui, a intenção de falar do dom do Espírito Santo com que foi o cristão ungido no batismo, participando da unção de Cristo profetizada por Isaías e confirmada pelo próprio Jesus: “O Espírito do Senhor está sobre mim; por isso me ungiu” (Lc 4,18).

O batizado, que vive na graça, não pode duvidar da presença nele do Espírito Santo e de sua assistência; entretanto, poucos são os que aproveitam plenamente dele. O motivo pode ser a falta de docilidade ou também certo resíduo do espírito do mundo, que impede a atuação dos dons do Espírito Santo. Declarou Jesus que o mundo não pode receber o Espírito da verdade (Jo 14,17); entenebrecido pelas paixões, não pode conhecê-lo nem acolher seu influxo. Só na medida em que se liberta o cristão de todo vestígio do espírito mundano, torna-se capaz de reconhecer e seguir os impulsos do Espírito Santo.

 

Oração

 

Como posso aproximar-me de vós, ó Espírito Santo? Habitais numa luz inacessível e sois toda luz, ciência e esplendor; eu, ao contrário, vivo numa região de trevas e sou a própria ignorância e grosseria.

Entretanto, ó divino Espírito... invoco-vos com inteira confiança para ser por vós iluminado... Descobri-me as grandezas divinas, os divinos mistérios, a fim de que os adore e reconheça. Descobri-me as insídias do demônio e do mundo, a fim de que as evite e jamais nelas caia; descobri-me ainda minhas misérias, minhas fraquezas, meus erros, meus preconceitos, minhas obstinações, os artifícios de meu amor próprio, a fim de que os deteste e corrija. Mas, ó luz benéfica, iluminai, sobretudo, minha alma para que conheça o que quereis  de mim; fazei que bem compreenda o encanto de vossas atrações e de vossa graça, e tudo o que devo fazer para merecer os benéficos influxos de vossa bondade, a fim de que a eles corresponda com plena fidelidade. Sustentai-me, para que vos seja fiel até a morte.

 

Pe. Divino Antônio Lopes FP (C)

Anápolis, 09 de junho de 2014

 

 

Bibliografia

 

Sagrada Escritura

Pe. Gabriel de Santa Maria Madalena, Intimidade Divina

Pe. Manuel de Tuya, Bíblia comentada

São João da Cruz, Escritos

São Pio X, Catecismo Maior, 917

P. Aurillou, Escritos

Pe. Juan Leal, A Sagrada Escritura (texto e comentário)

Edições Theologica

 

 

 

 

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Pe. Divino Antônio Lopes FP. “Espírito de conselho”

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