IMITE O DIVINO INFANTE

(Ef 5, 1)

 

“Tornai-vos, pois, imitadores de Deus”.

 

 

Católico, vire as costas para o mundo e suas máximas e IMITE o Menino Deus.

 Aproxime-se da Gruta de Belém e prostre diante de Nosso Senhor; contemple o Divino Infante e prometa imitá-lO.

 

1.° Obrigação de imitar o Menino Deus

 

 Como qualquer rei tem direito de dizer a seus vassalos: “Segui-me, marchai sob a minha bandeira”, o Rei Jesus pode clamar a todos desde o seu berço: “Eu sou o vosso monarca, segui as minhas pegadas”. Quando Etai ouviu Davi insistir com ele para que não o acompanhasse ao exílio, respondeu-lhe o súdito fiel: “Viva o Senhor e viva o rei, meu soberano! Para onde quer que vades, à morte ou à vida, seguir-vos-á o vosso servo” (2 Sm 15, 21). Assim cada um de nós deveria dizer a Jesus: “Santo Infante, príncipe da paz, Rei da glória! Quero acompanhar-vos do presépio ao sepulcro; em toda parte em Belém, no Egito, em Nazaré, no Calvário; quero caminhar sobre as vossas pegadas, imitar as vossas virtudes”. “Te seguirei para onde quer que vás” (Mt 8, 19).

O Salvador, mesmo em sua infância, foi-nos dado por Mestre como o proclama Isaías: “Sim, os teus olhos verão aquele que te instrui” (Is 30, 20). Os antigos judeus, diz o apóstolo, foram ensinados pelos profetas; mas hoje o Pai celeste quer doutrinar-nos por meio de seu Filho (Hb 1, 2). Mas esse Filho, como Verbo eterno, seria um doutor demasiado sublime para o nosso fraco espírito; eis por que ele se encarna, se torna menino como nós e se coloca ao alcance de nós. Oh! Ternura da caridade divina! Ei-lo a instruir-nos desde o seu nascimento e a falar-nos ao coração por suas inspirações. Escutemo-lo com toda a docilidade.

Sejamos, sobretudo, atentos à sua conduta; porque, como nosso modelo, prega-nos especialmente por seu exemplo. O presépio, sobre que repousa, os paninhos que mal o defendem do frio, as lágrimas que derrama, tudo nos exorta a praticar, como Ele, o desapego, a resignação, a mortificação e a penitência. Não cessemos de contemplá-lo no estábulo em que a nós se oferece. O Pai celeste diz a cada um de nós: “Olha e faze segundo o modelo que te foi mostrado” (Ex 25, 40).

Uma gruta – um presépio – um menino sobre palhinhas – uma virgem perfeitíssima e um varão justo de joelhos, em adoração – anjos cantando: Glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens de boa vontade! – Eis o quadro de Deus feito homem!

Um Deus que quer começar a sua infância num estábulo confunde o nosso orgulho... já prega com exemplo o que mais tarde havia de pregar à viva voz: Aprendei de mim que sou manso e humilde de coração.

Católico, imite o Divino Infante, viva escondido n’Ele; arrancando do seu coração o desejo de se aparecer.

Noite bendita! Hora solene, a mais solene que houve, nem há de tornar a ver o mundo! Momento único na história da humanidade!

Noite bendita, em que nasceu o Sol de Israel! Hora solene, em que apareceu na terra o Deus de Abraão, Isaac e Jacó, revestido da natureza humana. Momento único, pois não conta o mundo outro assinalado por um fato semelhante!

Quando nasce?

À meia-noite, quando todos dormiam, quando ninguém o esperava, quando os homens, cansados uns do trabalho, outros dos divertimentos, se entregavam ao sono... Não quis ser aplaudido por ninguém.

Católico, imite o Divino Infante; expulsando do seu coração o apego às coisas terrenas.

Nasce pobre porque deseja que nós o recebamos em nossa casa, que o vistamos, que o abriguemos do frio, que lhe preparemos um berço.

Onde nasce? – Numa gruta úmida e fria, num alpendre desabrigado, onde falta o conchego do lar doméstico, um berço fofo, o asseio – tudo!

Amável Infante, esclarecei minha inteligência e abrasai de amor o meu coração. Assim compreendereis que para ser o súdito fiel de um rei como vós não me basta respeitar-vos, mas devo ainda marchar em vosso seguimento e triunfar convosco dos inimigos da minha salvação. — Concedei-me a graça de ouvir-vos como a meu Mestre e de abafar em mim os preconceitos do século para conformar-me às vossas máximas. — Estou resolvido a contemplar-vos muitas vezes no presépio, como a meu divino modelo, que ensina a combater em mim o orgulho e a sensualidade, a reprimir a vaidade, a pretensão, a vanglória, e a mortificar as exigências da natureza sempre ávida de grandeza, de bens sensíveis e prazeres terrestres.

 

2.° Virtudes a imitar em Jesus Menino

 

Embora o Menino Deus seja um modelo universal para todos, procuremos, sobretudo, copiar d’Ele a predileção que sempre teve pela vida humilde e oculta, vida tão oposta à nossa sede desordenada de aparecer e exibir-nos. Que prodígio ver esse Rei da glória, esse Mestre por excelência soterrar desde o berço os tesouros de sabedoria e ciência, que possuía em toda a eternidade! Em vez de vir ao mundo em uma cidade célebre e de reunir ao redor de sua pessoa todos os sábios da terra para instruí-los, o Verbo encarnado, o esplendor do Pai, nasce numa gruta desconhecida, no silêncio e nas trevas da noite; e é aos mais simples, aos pastores, e não aos grandes, aos eruditos do século, que ele revela a sua vinda, que deve regenerar o universo. Oh! Mistério da humildade, como és admirável e como nos obrigas a querermos antes ser ignorados, esquecidos, desprezados dos homens, do que expor a nossa alma ao perigo da vanglória resplandecendo no meio deles.

Não será justamente por isso que o Menino Deus, nosso Mestre, tanto amou a solidão? Nascido num estábulo abandonado, ao falar a uma alma, inspira-lhe o amor do insulamento: “Leva-lo-ei à solidão e falar-lhe-ei ao coração” (Os 2, 16). Mostra-nos assim o desejo ardente de ver-nos inteiramente desapegados, separados de tudo, a fim de ser ele só o nosso pensamento, o único objeto das nossas afeições. Sempre, pois, que perdemos inutilmente o nosso tempo nas conversações com as criaturas, afastamo-nos da vontade do nosso rei, de nosso Mestre, de nosso modelo, que nos quer inteiramente para si.

Ora, para sermos inteiramente de Jesus, é necessário que, a seu exemplo, renunciemos a nós mesmos. “Ele nunca procurou a si próprio”, diz o apóstolo (Rm 15, 3). Jesus apaga-se ao ponto de não ter mais vontade própria, embora seja o Deus onipotente que governa o universo! — Ah! Quando submeteremos como Ele o nosso espírito, o nosso coração, todo o nosso ser até quanto aos nossos menores desejos, às intenções e aos desígnios do Pai celestial, sem lhe fazermos nenhuma resistência?

Jesus, Verbo encarnado, a vós compete operar em mim essa completa transformação, conceder-me o amor à vida oculta, à vida retirada do mundo, à vida de renúncia a mim mesmo e a tudo que não é para vós! Para cooperar com a vossa graça nesse trabalho de todos os dias, quero: 1.° Persuadir-me de que nada me é mais honroso do que marchar sob o vosso estandarte, ó Rei imortal, e que viver oculto convosco excede em brilho a todas as glórias da terra; - 2.° Ser sempre recolhido a fim de ouvir a vossa voz e meditar a vossa doutrina, ó Mestre incomparável, que vos comprazeis em instruir-nos no silêncio e na solidão interior; - 3.° Esforçar-me para praticar a oração contínua, meio tão eficaz de vos estudar a fundo, ó meu divino modelo, e de obter forças para imitar vossa completa abnegação.

Imitemos o Menino Deus que nasceu na solidão... Cantemos a Ele de coração.

Oh! Feliz nascimento aquele, quando a Virgem Mãe, fecundada pelo Espírito Santo, deu à luz a nossa salvação, e o Menino, Redentor do mundo, mostrou sua face divina! Cantai no mais alto dos céus, cantai, Anjos todos! Todas as potências do universo cantem os louvores de Deus! Nenhuma língua se cale, todas as vozes se unam a esta alegria. Eis: aquele que os vates cantavam nos séculos antigos, que as verazes páginas dos profetas anunciaram, o prometido de outrora, apareceu! Louvem-no todos os seres do universo!

Imitemos o Menino Jesus, porque somente Ele nos dá a verdadeira paz.

Ó doce Menino de Belém, fazei que eu possa aproximar-me, com toda a alma, deste profundo mistério do Natal. Infundi no coração dos homens aquela paz que eles procuram, talvez com tanta dificuldade e que só vós podeis dar. Ajudai-nos a conhecer-nos melhor e a vivermos fraternalmente como filhos do mesmo Pai. Descobri vossa beleza, vossa santidade e vossa pureza. Despertai em nosso coração o amor e o reconhecimento pela vossa infinita bondade. Uni a todos na caridade, e dai-nos a vossa paz celeste.

Abramos o nosso coração para o Menino Deus! Ele é modelo perfeito.

Aquele que adoram os Anjos está lá nas pobres palhas. Posso duvidar de Seu amor tão bem provado neste belo dia? Humilde Jesus, meu modelo, eu serei ovelha fiel, seguir-te-ei levando minha cruz, não escutando senão Tua voz!

Amemos, imitemos a Nosso Senhor e trabalhemos pela Sua glória. O mundo não merece o nosso amor.

Se nos agrada o serviço de Cristo, se aspiramos militar  sempre sob as suas ordens, armemo-nos com as armas de Cristo, vigiemos, sejamos sóbrios, vençamos o demônio e detestemos os vícios.

Tomemos, portanto, o jugo, em nada pesado e em nada áspero da Verdade que nos guia e imitemos na humildade aquele a cuja glória queremos ser configurados.

Infeliz do católico que deixa de imitar o Deus Eterno para seguir as trevas.

 

      

Pe. Divino Antônio Lopes FP.

Anápolis, 10 de dezembro de 2008

 

 

Bibliografia

 

Bíblia Sagrada

Pe. Alexandrino Monteiro, Raios de Luz

Aurélio Prudêncio, Inni della giornata, p. 139

Bem-aventurada Elisabete da Trindade, Obras Completas

São Leão Magno, Sermão do Natal do Senhor

Pe. Luis Bronchain, Meditações para todos os dias do ano

São Pedro Crisólogo, Sermão de Natal

Bem-aventurado João XXIII, Breviário, p. 384

Santo Afonso Maria de Ligório, Meditações

 

 

 

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