DESPREZADO DESDE A MENINICE

(Lc 2, 11)

  

“Nasceu-vos hoje um Salvador, que é o Cristo Senhor, na cidade de Davi”.

 

 

 

Belém era a terra de Davi (Belém (Beth-Lehem) significa casa do pão. Encontra-se a uns cento e cinquenta quilômetros de Nazaré e a uns sete de Jerusalém).

Ali estava a sua parentela. Situada ao sul de Jerusalém, em tempos de Jesus não era mais que uma aldeia avançada no deserto, fortificada com muros e torres. Os filisteus tinham-na convertido em praça forte e o rei Roboão, filho de Salomão, tinha aumentado consideravelmente as suas defesas. A sua importância, porém, era puramente estratégica. A modesta população vivia uma vida sossegada, dedicada quase exclusivamente ao pastoreio e ao cultivo das poucas terras de labor que, em forma de terraços escalonados, a rodeavam e que com muito trabalho, sobretudo, na época das chuvas, conseguiam defender dos desabamentos constantes. Nestes terraços cresciam romãzeiras, amendoeiras, macieiras, algumas vides e, sobretudo, figueiras e oliveiras.

Contudo, Belém era chamada a frutífera, Efrata, nome patronímico da região. A sua situação, não longe do caminho de montanha entre Hebron e Jerusalém, constituía um bom albergue de fim de etapa para os viajantes.

Era realmente a menor das cidades de Israel (Mq), mas, apesar da sua insignificância, era ilustre na história do povo escolhido. É mencionada pela primeira vez nos Livros Sagrados com motivo da morte de Raquel, mulher de Jacó, que foi sepultada no caminho de Efrata, que é Belém, como diz o Gênesis 35, 19. Mas a sua glória principal era a de ter sido a pátria de Davi, o glorioso chefe de que haveria de descender o Messias.

Nosso Senhor nasceu em Belém.

Uma pobre Gruta, um presépio, um menino sobre palhinhas, uma virgem perfeitíssima e um varão justo de joelhos, em adoração, anjos cantando: Glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens de boa vontade! Eis o quadro de Deus feito homem!

Todos os sinais que o Anjo deu aos pastores para acharem o Salvador já nascido, foram sinais de humildade: “Isto vos servirá de sinal: encontrareis um recém-nascido envolto em faixas deitado numa manjedoura” (Lc 2, 12). Eis o sinal para reconhecer o Messias nascido, disse o Anjo: achareis uma criança, envolta em pobres paninhos, numa estrebaria e deitada sobre a palha numa manjedoura de animais. Foi assim que quis nascer o Rei do céu, o Filho de Deus, porque vinha destruir o orgulho que fora a causa da perdição do homem.

Católico, por que você deseja ser aplaudido e elogiado por todos, sendo que o Deus Eterno, Senhor do céu e da terra foi desprezado desde a meninice?

Cristo Jesus nasceu à noite, enquanto milhares dormiam.

Nasceu longe do aplauso e do elogio de todos.

Nosso Salvador nasceu pobre, numa úmida e fria Gruta.

Nasceu longe do conforto e mordomia.

Católico, siga o exemplo de Cristo Jesus que não buscou o consolo nas criaturas... mas nasceu desprezado... longe de todos... no escuro...

Hoje, infelizmente, milhões de católicos vivem a mendigar o aplauso e o elogio das pessoas... estão prontos a esganar, pisar e matar o próximo, contanto que estejam a “flutuarem” nas alturas. Quanta estupidez!

Nosso Senhor Jesus Cristo foi desprezado desde a meninice; bebamos do seu exemplo.

Imitando a Nosso Senhor, com certeza viveremos em paz, porque o aplauso e elogios das criaturas são palhas levadas pelo vento.

Perde tempo e vive em contínua agonia, aquele que se prostra diante das criaturas para não ser desprezado.

A alma que vive apegada às criaturas é feia e não progride na perfeição.

Quem ama a criatura desce ao mesmo nível que ela, e desce, de algum modo, ainda mais baixo, porque o amor não somente iguala, mas ainda submete o amante ao objeto do seu amor. Deste modo, quando a alma ama alguma coisa fora de Deus, torna-se incapaz de se transformar nele e de se unir a ele.

Aquele que ama verdadeiramente a Deus, sente alegria em ser desprezado pelas criaturas.

Católico, os profetas já tinham predito que o nosso Redentor devia ser saciado de opróbrios e tratado como o homem mais vil do mundo. Quantos desprezos não teve Jesus de sofrer da parte dos homens! Foi qualificado de ébrio, de mágico, de blasfemo e de herege: “Veio o Filho do Homem, que come e bebe, e dizeis: ‘Eis aí um glutão e beberrão, amigo de publicanos e pecadores” (Lc 7, 34), e: “... àquele que o Pai consagrou e enviou ao mundo dizeis: ‘Blasfemas!’, porque disse: ‘Sou Filho de Deus!” (Jo 10, 36).

E depois, quantas ignomínias sofreu Jesus na Sua Paixão! Foi abandonado por seus próprios discípulos, dos quais um O vendeu por trinta dinheiros, outro negou tê-lO jamais conhecido. Foi levado pelas ruas preso e amarrado como um malfeitor, açoitado como um escravo, qualificado de insensato e de rei de burla; foi esbofeteado, coberto de escarros, e finalmente fizeram-no morrer suspenso numa cruz, em meio de dois ladrões, como se fosse o maior criminoso dos homens. Assim, diz São Bernardo de Claraval: “O mais nobre de todos foi tratado como se fosse o mais vil de todos”. Acrescenta, porém, o Santo: “Ó meu Jesus, quanto mais humilhado e desprezado Vos vejo, tanto mais amável Vos fazeis e amado”.

Se quiseres ser santo, esforçai-vos por imitar a vida humilde e desprezada de Jesus Cristo na Gruta de Belém.

Prepara-te para sofrer nesta miserável vida muitas adversidades e vários incômodos; porque assim estará Ele contigo onde quer que esteja; e na verdade acharás a Jesus em qualquer parte que te escondas.

Habituai-vos a ver antes, de manhã, tudo o que durante o dia possa contrariar o vosso amor próprio, e disponde-vos a sofrê-lO em paz por amor de Jesus Cristo, que tem sofrido coisas mais graves por vosso amor. Seria de grande proveito praticardes o excelente conselho que o Pe. Torres dava a seus penitentes: “Rezai todos os dias um Pai-Nosso e uma Ave-Maria em louvor da vida desprezada de Jesus Cristo, e oferecei-vos a sofrer não somente em paz, senão também com alegria, por amor d’Ele, todos os desprezos e contrariedades que vos queira enviar, pedindo ao mesmo tempo o auxílio para lhe serdes fiel”.

Ó meu Dulcíssimo Salvador, por meu amor abraçastes tantos desprezos, e eu não pude sofrer uma palavra injuriosa sem pensar logo em vingança! Eu que tantas vezes tenho merecido ser pisado aos pés dos demônios no inferno. Estou envergonhado de comparecer à Vossa presença, pecador e orgulhoso como sou. Senhor, não me repilais da Vossa presença, como tanto merecia. Dissestes que não desprezais um coração contrito e humilhado. Arrependo-me de todos os desgostos que Vos tenho causado. Perdoai-me, ó meu Jesus, não Vos quero mais ofender. Vós, por meu amor, sofrestes tantas injurias; por amor de Vós, quero também sofrer todas as injúrias que me serão feitas. Amo-Vos, ó meu Jesus, desprezado por minha causa, amo-Vos, meu Bem, acima de todo outro bem. Ajudai-me a amar-Vos sempre e a sofrer todas as afrontas por Vosso amor.

 

 

Pe. Divino Antônio Lopes FP.

Anápolis, 02 de janeiro de 2009

 

 

Bibliografia

 

Bíblia Sagrada

Pe. Francisco Fernández-Carvajal, A Vida de Jesus

Tomás de Kempis, Imitação de Cristo

Pe. Alexandrino Monteiro, Raio de Luz

São João da Cruz, Obras Completas

Santo Afonso Maria de Ligório, Meditações

 

 

 

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Pe. Divino Antônio Lopes FP. “Desprezado desde a meninice”
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