JESUS QUIS NASCER CRIANÇA

(Lc 2, 12)

 

“... encontrareis um recém-nascido...”

 

 

Considerai que ao fim de tantos séculos, depois de tantas súplicas e suspiros, o Messias, a quem os santos Patriarcas e Profetas não tinham sido dignos de verem, o Suspirado das gentes, o desejo das colinas eternas, o nosso Salvador, já veio, já nasceu e já se deu todo a nós: “Nasceu-nos uma criança; foi-nos dado um filho” (Is 9, 5).

Nasceu, pois, numa natureza perfeita e verdadeira de homem o verdadeiro Deus, todo no que é seu e todo no que é nosso.

Tendo-se, pois, cumprido os tempos pré-ordenados para a redenção dos homens, Jesus Cristo, Filho de Deus, penetrou nessa parte inferior do mundo, descendo da morada celeste, sem deixar a glória do Pai, vindo ao mundo de modo novo e por um novo nascimento. Modo novo, porque, invisível por natureza, tornou-se visível em nossa natureza; incompreensível, quis ser compreendido; Ele, anterior ao tempo, começou a estar no tempo; Senhor do universo, tomou a condição de servo, velando o brilho de sua majestade; Deus impassível, não se dignou ser homem passível; imortal, aceitou submeter-se às leis da morte. Nascimento novo esse pelo qual Ele quis nascer, concebido por uma virgem, nascido de uma virgem, sem que um pai misturasse a isso seu desejo carnal, sem que fosse atingida a integridade de sua Mãe.

Católico, por que veio Jesus Cristo para o mundo?

Veio para salvar a nossa alma imortal.

Ele, o Deus Eterno, veio para te salvar. Você se preocupa com a salvação de sua alma ou vive nesse mundo como se Deus não existisse? Como se não existisse um julgamento após a morte nem eternidade?

Lembre-se católico de que a vida passa... tudo morre... ninguém ficará para semente.

Seja sábio! Abra o seu coração para Nosso Senhor e trabalhe fervorosamente para salvar a sua alma imortal.

Salvar a alma, tornar-nos santos... eis o principal negócio da nossa vida. Ser rico, honrado, prezado, servido, isto não tem valor algum e será antes um perigo, uma grande desgraça de ser ocasião a que peque ou nos leve a descuidar-nos da nossa salvação... pois com a morte acaba tudo.

Com efeito, que nos valerá perante Deus, ter feito fortuna, alcançado posição de destaque e de influência no mundo, ou gozado de todos os bens da vida, se não fizemos para o céu, se não amamos e servimos a Deus, nosso verdadeiro fim?

Nosso Senhor nasceu para nos salvar, não vivamos como se Ele não existisse.

O Filho de Deus se fez pequenino para nos fazer grandes; deu-se a nós, a fim de que nós nos demos a Ele; veio mostrar-nos o Seu amor, a fim de que nós Lhe respondamos com o nosso. Façamos-Lhe acolhida afetuosa, amemo-lO e recorramos a Ele em todas as nossas necessidades.

São Bernardo de Claraval diz: “As crianças gostam de dar o que se lhes pede. Jesus veio como criança, para nos mostrar todo inclinado e propenso a comunicar-nos os seus bens”.

Em Cristo: “Estão encerrados todos os tesouros” (Cl 2, 3),  e: “O Pai tudo tem posto em sua mão” (Jo 3, 35).

Cristo Jesus é a Fonte da verdadeira Riqueza, quem se aproxima d’Ele se torna rico de todos os bens: “Quem só quer Deus, é rico de todos os bens” (Santo Afonso Maria de Ligório).

O católico que abandona a Nosso Senhor para seguir o mundo e suas máximas é pobre e miserável.

De que adianta possuir as riquezas passageiras, se não possui a Riqueza Eterna?

Cristo nasceu para nos fazer grandes, por isso, não dividamos o nosso coração com as criaturas, mas o entreguemos todo a Ele. Amemos a Nosso Senhor sobre todas as coisas e recorramos a Ele quando surgirem  dificuldades.  

Procuremos conhecer Jesus, o amigo íntimo de nossas almas. N’Ele encontraremos em grau infinito a ternura de mãe, consolo no sofrimento, força para cumprir os deveres. Olhemos a Nosso Senhor no presépio, na cruz e no sacrário. Ali nos diz o quanto nos amou.

Nosso Senhor nasceu para nos salvar, mas é tratado com desprezo, frieza e indiferença por milhões de católicos.

O Rei dos reis é pouco amado. Quem pensa n’Ele? Quem se lembra do que fez pela salvação do mundo? Pensa-se em levantar uma estátua a um imperador, a um rei, a um estadista que talvez perseguiu a Igreja, matou os pobres, demoliu os templos e despovoou os claustros. Pensa-se em fazer uma apoteose  a um herói que volta da campanha, talvez mais onerado de crimes do que de vitórias. Projetam-se festejos estrondosos para a celebração do centenário de um escritor que fez profissão de ateu: e quem pensa no Libertador do gênero humano? Quem pensa em levantar imagens ao Rei do céu, que veio conquistar-nos o reino da glória e libertar-nos do cativeiro do demônio? Quantos nem sequer sabem o nome d’Aquele que os salvou? Pobres infelizes! Quanta ingratidão!

Católico, por que buscar luz, força, conforto e perdão longe do Nosso Salvador?

Ele é o Deus Eterno. N’Ele encontramos tudo aquilo de que necessitamos.

Se desejamos luz, Ele veio para nos iluminar.

Se queremos força para resistir aos inimigos, Ele veio exatamente para nos confortar.

Se queremos o perdão e a salvação, Ele veio para nos perdoar e nos salvar.

Se queremos, finalmente, o dom supremo do divino amor, Ele veio para abrasar-nos o coração.

É, sobretudo, para este fim que se fez criança. Quis aparecer no meio de nós tanto mais amável, quanto mais pobre e humilde, quis tirar-nos todo o temor e ganhar o nosso amor.

Além disso, Jesus quis vir pequenino para ser de nós amado com amor não somente de apreço, senão também de ternura. Todas as crianças sabem ganhar o afeto de todos aqueles que as vêem; mas quem não amará com toda a ternura a um Deus feito criancinha, necessitado de leite, tiritante de frio, pobre, humilhado, abandonado; a um Deus que chora e está gemendo numa manjedoura sobre a palha? Isso fez São Francisco de Assis exclamar: “Amemos o menino de Belém! Amemos o menino de Belém! Vinde amar a um Deus feito criança, feito pobre, e tão amável que baixou do céu para se dar todo a vós”.

Aproximemos de Cristo Jesus, Bondoso Senhor, e rezemos com , humildade e confiança.

Ó meu Jesus, tão amável e de mim tão desprezado, baixastes do céu, a fim de nos remirdes do inferno e Vos dardes todo a nós, e nós, como temos podido desprezar-Vos tantas vezes e virar-Vos as costas? Ó Deus, os homens mostram-se tão agradecidos às criaturas! Se alguém lhes faz qualquer favor, se alguém vem de longe a visitá-los, se se lhes dá alguma demonstração de afeto, não podem esquecê-lo e sentem-se obrigados a retribuí-lo. E depois são tão ingratos para Convosco, que sois o seu Deus, que sois tão amável e que por seu amor não recusastes dar o Sangue e a Vida.

Mas, ai de mim, que tenho sido para Convosco pior do que os outros, por ter sido mais amado de Vós e mais ingrato a Vosso amor. Se tivésseis concedido a um herege, a um idólatra... as graças que dispensastes a mim, ele teria se tornado santo, e eu Vos tenho ofendido. Por piedade, esquecei as injúrias que Vos tenho feito. Mas, Vós já dissestes que quando um pecador se arrepende, não mais Vos lembrais de todos os ultrajes recebidos: “Eu sou o que apaga as tuas transgressões por amor de mim, e já não me lembro dos teus pecados” (Is 43, 25). Se em outro tempo não Vos amei, para o futuro não quero senão amar-Vos. Vós Vos destes todo a mim e eu Vos dou toda a minha vontade; com esta amo-Vos, amo-Vos, amo-Vos; quero repeti-lo sempre: amo-Vos, amo-Vos. Repetindo isto quero viver, e assim quero morrer, exalando o espírito com estas doces palavras nos lábios: Meu Deus, amo-Vos. Desde o primeiro instante em que eu entrar na eternidade quero começar a amar-Vos com um amor contínuo que durará sempre, sem que eu possa ainda deixar de Vos amar.

Entretanto, ó meu Senhor, meu único Bem e meu único Amor, resolvo antepor a Vossa vontade a qualquer querer meu. Ainda que me oferecessem o mundo inteiro, não o quero. Não quero mais deixar de amar a quem tanto me tem amado; não quero mais dar desgosto a quem merece da minha parte um amor infinito. Ajudai-me, ó meu Jesus, com a Vossa graça, a realizar este desejo.

 

Pe. Divino Antônio Lopes FP.

Anápolis, 04 de janeiro de 2009

 

 

Bibliografia

                   

Bíblia Sagrada

Pe. Alexandrino Monteiro, Raios de Luz

São Leão Magno, Sermão do Natal do Senhor

Secretariado Nacional da Defesa da fé, Leituras da Doutrina Cristã

São Pedro Julião Eymard, Escritos e Sermões

Santo Afonso Maria de Ligório, Meditações

Santa Teresa dos Andes, Cartas

 

 

 

 

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